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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

CAYMMI, O CANTOR DOS ORIXÁS

Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
A saudar Iemanjá
Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
A saudar Iemanjá
Escrevi um bilhete a ela Pedindo pra ela me ajudar
Ela então me respondeu
Que eu tivesse paciência de esperar
O presente que eu mandei pra ela
De cravos e rosas vingou
Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou
Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou


O baiano de Salvador Dorival Caymmi (1914-2008) foi o primeiro artista da nossa música popular a compor e a cantar a Orixá feminina Iemanjá, a rainha do mar. Ou dos mares.
Iemanjá é homenageada em dias diferentes no Brasil: 2 de fevereiro, 15 de agosto, 8 e 31 de dezembro.
A homenagem que mais junta gente é em Salvador, BA, no dia 2.
Na Capital cearense, Fortaleza, Iemanjá recebe louvores no dia 15 de agosto.
Na Paraíba, Pernambuco, São Paulo e em outros lugares, o dia dessa entidade é 8 de dezembro.
No Rio de Janeiro o dia escolhido é o último do ano.
A 1ª vez que Caymmi fala numa música sobre Iemanjá, tida como a mãe de todos os Orixás, data de 1939. Título: Caminhos do Mar.
Essa é uma história linda e comprida. IEMANJÁ, RAINHA DOS MARES
O samba Dois de Fevereiro, gravado originalmente em 1957, é um dos muitos clássicos da discografia de Caymmi.
O ilustre baiano deixou uma obra riquíssima, mas não custa lembrar que essa obra foi iniciada, e encerrada, no Rio de Janeiro.
Bom tocador de violão e dono de uma belíssima voz, Dorival Caymmi trocou Salvador pelo Rio com o propósito de ganhar a vida como desenhista e pintor.

Terminava a década de 30, em pleno reinado do rádio, quando chegou ao Rio um novo compositor, praticamente desconhecido do público carioca, que se acompanhava ao violão em músicas de sua autoria. Chegou e vencer, porque não tardou que o povo soubesse de cor as suas canções de linda melodia, que cantavam a Bahia natal do autor no que tinha de mais característica e sedutora. Era Caymmi que tomava o Rio de Janeiro de assalto e logo o país. Os êxitos se contavam pelo número de músicas que ele lançava em rápida sucessão, revelando desde então o compositor inspiradíssimo e versátil que se tornaria mais tarde conhecido internacionalmente, notando-se em suas canções a preponderância do motivo “mar de pescadores”, a refletir a vivência do artista, “um homem do cais da Bahia”, segundo sua própria definição.

(Do livro Cancioneiro da Bahia, Editora Record, 1978)


Como artista plástico, Caymmi teria um grande futuro. Desenhava e pintava muito bem. DORIVAL CAYMMI E CARLOS LACERDA: 100 ANOS
Até hoje não existe, a rigor, ninguém que interprete tão bem a obra de Caymmi como o próprio Caymmi.
Foi um artista bom que só.
Quem quiser saber detalhes da vida e obra do mestre da música de Salvador, recomendo que leia a biografia Dorival Caymmi - O mar e o Tempo, de Stella Caymmi (Editora 34, 2001).
A letra em que o artista fala de Iemanjá pela primeira vez, é esta:

Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

O canto vinha de longe
De lá do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar

O corpo todo estremece
Muda cor do céu do luar
Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar

Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos os caminhos do mar

O pescador que conhece
as historias do lugar
morre de medo e vontade
de encontrar

Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá

TIETÊ, UM RIO COM LÍNGUA DE FORA

Água do meu Tietê,Onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras,
Soturnas sombras, enchem de noite de tão vasta
O peito do rio, que é como si a noite fosse água,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O ólio das águas recolhe em cheio luzes trêmulas,
É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas,
Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes,
Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas,
Luzes e glória. É a cidade... É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo,
Está negro. As águas oliosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte.
É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens,
Onde me queres levar?...
Por que me proíbes assim praias e mar, por que
Me impedes a fama das tempestades do Atlântico
E os lindos versos que falam em partir e nunca mais voltar?
Rio que fazes terra, húmus da terra, bicho da terra,
Me induzindo com a tua insistência turrona paulista
Para as tempestades humanas da vida, rio, meu rio!...

(A Meditação Sobre o Tietê, poema de Mário de Andrade, composto entre 30 de novembro de 1944 e 12 de fevereiro de 1945)

O atual ocupante da cadeira presidencial envergonha todos os dias o Brasil e o mundo. Quando abre a boca, o mal cheiro toma conta do ar.
Ele fala, fala e diz só besteira.
Visando seu inimigo governador de São Paulo, disse mais uma besteira atingindo, mais uma vez, o povo.
A sua última fala, ontem 2, foi sobre o importantíssimo rio Tietê, de muitas histórias.
Disse o inqualificável portador da faixa presidencial que viu em São Paulo a transposição do Tietê, numa referência zombeteira à transposição das águas do São Francisco.
Essa é uma fala lamentável sob todos os aspectos, principalmente quando parte de um presidente eleito pelo voto universal.
O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, em Minas. Tem 2.830km e é uma das inúmeras riquezas do nosso País.
O rio Tietê, Rio Grande na língua Tupi, tem 1.136km e passa por 62 municípios. Seu berço é Salesópolis, município distante 117km da Capital paulista. Em Salesópolis, suas águas continuam claríssimas, mas à medida que vai correndo, vai recebendo todo tipo de lixo. Quando chega em Guarulhos, recebe mais de 700 toneladas de tudo quanto não presta. E na Capital, o volume de porcarias ultrapassa 1.100 toneladas. Isso tudo, todos os dias.
Sim, claro, o Tietê está com a língua de fora.
Há poucos dias publiquei um especial sobre São Paulo no newsletter Jornalistas&Cia. Nesse especial, inseri pequenos depoimentos de personagens ligados, de um modo ou de outro, à Capital paulista. Um desses personagens, Bill Hinchberger, escreveu:

I Love that Dirty Water
Em 1991, como correspondente de The Financial Times, fui convidado para fazer parte de um grupo minúsculo de jornalistas, quase todos brasileiros, que se encontraria com o governador Luiz Antonio Fleury Filho. O governador anunciou um empréstimo então recorde do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a despoluição do Rio Tietê. Fiz uma matéria relativamente extensa para aquele grande jornal inglês. Tanto dinheiro para um projeto ambiental era inédito.
Depois, Fleury prometeu beber água do rio no ano 2005. Nada disso. Em 2007, em parceria com a TV PUC São Paulo, recorri quase todo o rio, desde a fonte (onde, sim, eu bebi um copo de água) até lá longe, no interior, onde o rio finalmente voltava a desfrutar a vida.
Acompanhei uma peça de teatro flutuante dentro da cidade de São Paulo, uma iniciativa que simbolizava a importância cultural do rio para a metrópole. Ao pousar em Guarulhos no final do ano, vindo de Paris, para minha primeira visita desde o começo da pandemia, vi a triste realidade: milhões de dólares e duas décadas depois, o rio continuava morto.
O título acima vem da música de mesmo nome pelo conjunto The Standells, gravada em 1966: THE STANDELLS - DIRTY WATER
Os roqueiros cantavam o Rio Charles, de Boston. Naquela época, quem caía no rio da cidade de Boston era encaminhado para o hospital. Hoje você pode nadar no Rio Charles. Até quando esperar para a volta do Tietê?
 
O São Francisco é personagem de muitas histórias e músicas. O rio Tietê, também.
 

SÃO PAULO EM PROSA, VERSO E MÚSICA (11)

São Paulo Esquina do Mundo, samba pop de Assis Ângelo/Jarbas Mariz 


São Paulo Ponto Chic, 

Viaduto, correria, carros, 

Anhangabaú, Ipiranga, Butantã, 

A garoa dos nortistas 

Pacaembu, Morumbi – gol!!! 

 Vida corinthiana, 

Nos hotéis de mil estrelas, 

Viva Deus, povo do Brás, 

Quanta gente, quanta idade, 

Da Mooca à Liberdade 

São Paulo, São Paulo

 São Paulo, São Paulo esquina do mundo (bis) 

São Paulo, São Paulo São Paulo de todo mundo 

Dos poetas romanticamente 

De Vanzolini à Inezita, 

Que bonito, São Paulo 

De um, de dois, de mil, 

Dos poetas romanticamente 

De Adoniran à Geraldo Filme,

 Que bonito, São Paulo 

De um, de dois, de mil 

São Paulo esperança 

De negro, de branco, de rico 

São Paulo, São Paulo São Paulo, São Paulo esquina do mundo (bis)

 São Paulo, São Paulo de todo mundo...

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Acorda Brasil, samba-enredo de Osvaldinho da Cuíca/Serginho/Namur


No ar.... 

Nosso grito de alerta 

O Bixiga desperta, a cantar 

Acorda Brasil

 É chegada a hora de mudar 


Divina Luz Dos deuses da mitologia 

Clareia... Me conduz a exaltar 

Um anjo que desceu lá na favela 

E hoje traz pra passarela 

Um lindo sonho a realizar 

Viver...

 É amar a esperança 

Lutar E deixar como herança

 Um mundo melhor mais feliz

 Educando as crianças... 

Do nosso País Bate coração 

Bate feliz quando “ti vê”

 É um presente carinhoso 

Do saudoso poeta pra você 

Quero a paz... 

Que a brisa beija e embalança 

Eu quero é mais 

Respeito com nossas crianças 

Numa sinfonia triunfal 

Ver o bem vencer o mal

 Vai-Vai feliz é carnaval

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Declaração de Amor a São Paulo, poema de Assis Ângelo

São Paulo da rapaziada do Brás. 

São Paulo dos passeios, das charretes. 

São Paulo dos segredos e mistérios do Pátio do Colégio e do Mosteiro de São Bento. 

São Paulo das zoadas, rezas e silêncios; dos sambas e batuques dos negros forros. 

São Paulo-babel de todas as cores, sotaques e culturas que se expressam nas falas e gestos. 

São Paulo do Butantã e das cobras e lagartos do poeta Vanzolini. 

São Paulo de Nóbrega e Anchieta; de Tibiriçá e Bartira; de João Ramalho e Borba Gato...

 São Paulo do Patriarca, Bom Retiro, Itaquera, Itaim. 

São Paulo da Saúde, Jaguaré, Penha, Tatuapé. 

São Paulo da Liberdade, Aclimação e Mooca... 

 São Paulo da Fiesp, Bovespa e mais-valia; do cansaço, da correria... 

Ah, São Paulo! Bela e infinita... Deusa, Deus, rainha do pobre e do rico. 

São Paulo do Solar da Marquesa, do Largo de São Francisco, do Masp, USP e dos mirantes a se perder de vista. 

São Paulo dos heróis sem berço e dos profetas e loucos do marco zero da Sé. 

São Paulo dos anjos tortos, caídos, perdidos no breu da noite. 

São Paulo das trevas, cortiços e favelas. 

São Paulo dos lampiões, dos bondes camarão e da garoa fina, finda. 

São Paulo guerreira, das entradas e bandeiras. 

 Ah, São Paulo! Menina-mulher pura e pecadora, durona e conciliadora. 

Esfinge à frente do próprio tempo! No teu leito de vida e morte, 

São Paulo, mão e contramão se chocam contra o irreal e a razão... 

Palitos de aço e concreto te ferem o céu do teu pulmão, que chora poeira, óleo e carvão... 

 São Paulo, São Paulo... 

Em ti, por ti, joões e marias se atiram às cegas na eterna luta pela vida, e ao fim e em uníssono, de todas as formas, todos dizem: 

 Te amo!

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Habitat 

Paulo Garfunkel 


Nascemos aqui, meu irmão e eu. 

Fazer o quê?

 Tanto Brasil pra nascer, tanto mar, tanto céu. 

E a gente deu de aterrissar neste lugar: Babel.

 O horizonte, um paredão.

 Eu e meu irmão, só mais dois “cidadão”. 

Entre outros tantos irmãos e outras tantas irmãs.

 Passando o bastão, nesta corrida vã. 

Sob um véu de fuligem, na vertigem do Tempo. 

Mas se o tempo é voraz, São Paulo é veloz. 

São Paulo é a cara de cada um de nós.

 Avenida São João – de Pratinha, Jean e Paulo Garfunkel

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