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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

ACERVOS, SEBOS, LIMBO E LIXO


O que é que tem haver Jorge Lobo Zagallo com Ignez Magdalena Aranha de Lima? No rigor, nada. Em linha aberta, tudo.
Zagallo ganhou tudo que um craque de futebol poderia ganhar.
Ignez, também. Só que com outro nome: Inezita Barroso.
Portanto, em linha gerais, Zagallo e Inezita têm tudo em comum: foram dois craques, um do futebol e o outro, no caso outra, da música. E como uma coisa puxa outra ...
Lembrei-me de Inezita ao ouvir, há pouco ela cantando o samba canção Ronda, de Paulo Vanzolini (1924 – 2013)
, que a levou pela primeira vez às paradas de sucesso. Isso, em novembro de 1953. Eu tinha um ano e dois meses de idade.
Eu conheci de perto Inezita Barroso (1925-2015). Conversávamos muito, eu com ela lá em casa e ela comigo na casa dela. Entre um uísque e outro, muitas histórias...
Quando decidi contar a sua história no livro A menina Inezita Barroso (Cortez editora, 2011), fiquei sabendo por ela mesma da primeira decepção que teve na vida. Ela era muito jovem, contou-me. E recém casada, pegou um jipe e foi Brasil a fora conhecer o Brasil nas suas minúcias, nos seus detalhes, nas suas contradições, belezas e encantos. Meses depois, e depois de cantar pela primeira vez num teatro, em Recife, voltou à Capital Paulista e apresentou para seus diretores da Rádio Record o resultado de suas andanças pelo nordeste, especialmente. Eram muitas anotações.
“Sabe o que eles me disseram sobre essas pesquisas?”, perguntou-me e antes que eu respondesse qualquer coisa, ela emendou: “Nada, não disseram nada, não deram importância nenhuma e eu achei aquilo um horror, um descaso enorme. Fiquei triste e voltei para casa chorando”.
E sabe o q eu foi que Inezita fez, meu amigo minha amiga? Ela chegou em casa ainda triste chorando muito, sentou-se diante da lareira, ascendeu a lareira e jogou tudo lá dentro.
A história da cultura popular brasileira é, em geral, uma história triste, cheia de tristezas, cheia de decepções. Isso desde sempre. E isso poderia ter acontecido com as pesquisas do herói paulistano, como Inezita, Mário de Andrade (1893-1945). As pesquisas do Mário têm importância até hoje, como importância têm as pesquisas que o carioca Heitor Villa Lobos (1987-1959) fez com relação às cantigas infantis que ele colheu no nordeste, especialmente na Paraíba.
Os pesquisadores, os historiadores que se embrenham no mundo da cultura popular, no Brasil, estão sumindo e sendo substituídos pelo irresponsável Dr. Google.
Muitos acervos têm se perdido nos sebos da vida, ao longo da história. Alguns, muito poucos, têm como destino espaços que empresas da iniciativa privada abrem; outros, bem...
O que será do acervo do Instituto Memória Brasil hein?
O instituto Memória Brasil, IMB, já tem mais de quarenta anos de história. No seu acervo há pelo menos 150 mil itens, incluindo discos de todos os formatos e gêneros etc. etc. etc.
Eu, que o construí, entrevistei milhares de artistas de todos os campos da vida cultural do Brasil. Há muita coisa inédita nesse acervo, incluindo inéditos de Paulo Vanzolini, da própria Inezita, muita coisa, muitas entrevistas com Waldir Azevedo (1923-1980) etc.
Pergunto o óbvio, mas sou mesmo de perguntar: Para onde vão os acervos da cultura brasileira?
 Para lembrar Inezita CLIQUE: 




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