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domingo, 21 de janeiro de 2018

BRASIL, UM PAÍS DA IGNORÂNCIA

Assis  e Cortez (D) no Instituto Memória Brasil (IMB)
O potiguar de Currais Novos, José Cortez, fundador da Cortez Editora, foi atingido pela crise econômica que se estabeleceu no Brasil gravemente há um ano e pouco.Perdeu a livraria, mas não a esperança de produzir e viver. Ele é daquelas pessoas que bebem no poço da esperança, que nunca seca.Felizmente.
Pois bem, como empresário do ramo editorial  no País, Cortez é direto: "as pessoas estão cada vez mais lendo menos livros".
O tema vem à tona, por uma razão pura e simples: fica-se hoje mais tempo diante da telinha da TV e do computador , incluindo celular, segundo pesquisas divulgadas por aí afora.
Os sinais de ignorância são visíveis, não é mesmo?
O Enem 2017 registrou 4, 72 milhões de candidatos. Desse total 309.127  receberam  zero daqueles enormes, grandões. Do total de inscritos, apenas 53 candidatos receberam a nota máxima de 1000 pontos.Vejam: apenas 53!
O tema da redação que resultou em tantos milhares de zero, foi oportuníssimo por se tratar de interesse geral e social. O tema foi: Desafio para a formação educacional de surdos no Brasil.
O total de pessoas que apresentam algum tipo de deficiência no nosso país é, segundo dados da última pesquisa IBGE (2010), chega a casa de 40 milhões. Nessa mesma pesquisa, foram identificados aproximadamente  9 milhões de surdos moderados e total.
Eu digo que o tema Enem 2017 foi oportuno por uma razão:para chamar atenção do grave problema social que são as deficiências nas pessoas do Brasil e do mundo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), garante que há 42 milhões de surdos nos 4 cantos do nosso planetinha que tanto  judiamos.
Vivemos uma tragédia, e não uma tragédia grega. A nossa tragédia é uma tragédia brasileira, brasileiríssima.
A tragédia que vivemos é total, vai desde o desemprego à falta de especialização profissional. E aqui nem me refiro aos deficientes auditivos, visuais, etc.. Convivemos também com mais de 12 mihões de analfabetos totais, ou seja, o cidadão que não é cidadão, e nem sabe o que é isso, tampouco distingue um "o" de roda de caminhão.E tem mais, temos o analfabeto funcional, cujo total chega a 30 milhões. Você sabe o que é um analfabeto funcional? é aquele que até consegue obter um diploma universitário, mas é incapaz de raciocinar sobre um texto.
O paulista de Taubaté, Monteiro Lobato (1882-1948) dizia que " quem lê mais, sabe mais" e que " um país se faz com homens e livros". E se lemos tão pouco e nos interessamos tão pouco pela cultura, pelos rumos do país que nascemos, que país podemos ter amanhã?
O poço da ignorância em que vivemos é profundíssimo ou não é?
O austríaco Stefan Zweg (1881-1946), que morreu em Petrópolis- RJ, escreveu um livro bastante interessante: Brasil, um país do futuro, mas essa é outra história.


A CUÍCA QUE FALA, CHORA E RI É DE OSVALDINHO

Osvaldinho da Cuíca, André Domingues e Assis Ãngelo na verdadeira rede social.

Todo tempo é tempo de falar ou escrever sobre os artistas incluindo cantores e compositores que engrandecem a terra brasileira. E temos muito que plantaram e colheram respeito traduzido em homenagens. Foram-se já muitos, mas muitos outros ainda permanecem plantando obras na história do Brasil. Do Brasil musical, do Brasil cultural, do Brasil do branco, do preto, do pobre, das gentes.
Osvaldo Barro, que o Brasil e boa parte do mundo conhece pelo diminutivo de Osvaldinho com o sobrenome do instrumento que reinventou, a cuíca, é um dos grandes artistas que enobrecem a cultura popular. Ele é paulistano, do bairro do Bom Retiro, nascido num dia de carnaval em 1940. E corintiano!
E você sabe, meu amigo, minha amiga, quem é André Domingues?
André Domingues é pesquisador da cultura musical popular, paulistano, que hoje vive numa cidadezinha baiana bem longe da capital Salvador, chamada Teixeira de Freitas.
Em 2009 Domingues, junto com Osvaldinho, publicou um livro de extrema importância para a compreensão do samba fincado em São Paulo, do rural ao batuque. Esse livro tem por título Batuqueiros da Paulicéia.


Osvaldinho da cuíca enveredou pelo mundo do samba ali pelos finais da década de 1950. Ele já gravou com todo mundo, dos bons aos melhores sambistas. E não só de São Paulo. Fora a cuíca que reinventou, ele tem centenas de composições gravadas por meio mundo. Só de sambas de enredo puxados na avenida ele tem uns 30. E há pouco pôs na praça um disco com 11 faixas reunindo alguns desses sambas. Esse disco tem como título Sambas Enredo: História de Uma Vida. Nessa coletânea há verdadeiras pérolas como Na Arca de Noel Rosa, faixa 4 e Cuíca de Ouro, faixa 10, de R. do Cavaco, Thiago, Juninho e Nunes, em homenagem ao próprio Osvaldinho. Em 2008 a Escola de Samba Vai-Vai ganhou o carnaval com Acorda Brasil, faixa 8.





Em Teixeira de Freitas, André Domingues dá aulas de artes na Universidade. Ele já anda por lá há bons pares de anos e não pensa voltar à Paulicéia. Porém, anteontem, 19, ele esteve comigo cá no bairro de Campos Elíseos onde moro, ele e Osvaldinho. Foi um papo e tanto, que durou até o começo da madrugada de ontem. O registro desse belíssimo encontro pode ser conferido aí em cima, numa rede bem melhor do que a rede social que balança por aí que em vez de ligar, desliga as pessoas. Desliga, envenena e aliena.
E pra fechar, que tal ouvir Osvaldinho num solo de cuíca? A cuíca de Osvaldinho fala o que tem de falar, ri quando acha que deve e chora pela loucura em que está se transformando a política nacional. A propósito, Osvaldinho tem andado decepcionado e triste como o quê. Tem dado muito chute em pau de barraca.





ANDRÉ DOMINGUES


André Domingues é crítico musical e hoje leciona no curso de Artes da Universidade Federal do Sul da Bahia, na cidade de Teixeira de Freitas, no extremo sul do estado. Antes mesmo de se graduar em Filosofia, pela Unicamp, começou a publicar críticas e reportagens sobre música popular na imprensa paulista. Essa paixão foi levada para a academia nas posteriores pesquisas de mestrado e doutorado em História Social, na USP, dedicadas a temas como a obra de Dorival Caymmi ou a formação de vanguardas populares na MPB. É autor dos livros Os 100 Melhores CDs da MPB (Sá Editora, 2004) e Caymmi Sem Folclore (Editora Barcarolla, 2009), além de assinar com o mestre Osvaldinho da Cuíca o livro Batuqueiros da Paulicéia (Editora Barcarolla, 2009), de que tratou este blog.

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