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sexta-feira, 14 de junho de 2024

NÊUMANNE AGORA É DO PEN CLUBE DO BRASIL

O jornalista José Nêumanne Pinto continua fazendo-se presente em ambientes literários Brasil afora. É membro da Academia Paraibana de Letras desde 2008, onde ocupa a cadeira Nº 1 de Augusto dos Anjos (1884-1914). 
No último dia 7, Nêumanne foi integrado como membro do PEN Clube do Brasil.
O PEN Clube, Poesia, Ensaio e Novela, existe originalmente desde 1921, na Inglaterra. O órgão tem como objetivo valorizar as letras e autores. 
Abaixo a íntegra discurso de posse do Nêumanne:


Aos mestres, com carinho

Discurso de posse no Pen Clube do Brasil
Rio de Janeiro 7 de junho de 2024

Permitam-me as testemunhas do momento mais glorioso de minha trajetória intelectual dedicá-lo aos meus mestres, com carinho, como era o título do filme de maior sucesso em 1969, quando, ainda aos 18 anos de idade, portanto antes da plena maturidade, desembarquei neste burgo praiano de São Sebastião do Rio de Janeiro, egresso do sertão e após cruzar o cocuruto do Planalto da Borborema em Campina Grande, minha eterna musa.
Destemidos parceiros desta minha aventura social, venho das mais extremas entranhas das brenhas dos sertões que intitularam dois mestres máximos da língua portuguesa no Brasil: o fluminense Euclides da Cunha e o paraibano do Brejo José Américo de Almeida, nascido em Areia.
Saúdo, antes de todos, o presidente deste Pen Clube do Brasil, Ricardo Cravo Albin, que conheci na década de 1970, quando eu me iniciava no jornalismo. À época em que dirigi a redação do Jornal do Brasil, conheci sua maior obra, o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, com cerca de sete mil verbetes e referência na área musical . E passei a acompanhar muitos de seus 2.500 programas radiofônicos na Rádio Ministério da Educação (MEC). Meu amigo Boni registrou em suas memórias o papel fundamental do nosso presidente na ajuda à liberação de programas da Rede Globo proibidos nos anos pesados da ditadura. Ô, Boni, você não acha que nosso presidente faz falta na Academia Brasileira de Letras? Por isso e muito mais, orgulha-me muito vir aqui ser seu aprendiz.
Vim de muito longe. Nasci no vale do Rio do Peixe, nome apropriado por um riacho sem peixe até porque raramente se deixava emprenhar por águas do chamado inverno da fertilidade quando a seca se esquecia de passar por lá. O riacho pertencia a um verdadeiro Rio do Peixe, afluente do Piranhas vindo do Piancó em direção a Mossoró, ao norte nas proximidades da linha do Equador. Quem não tem muita ideia dessa paisagem insólita poderá vê-la no excepcional documentário O País de São Saruê, de Vladimir Carvalho, paraibano de Itabaiana, terra de outro gênio, o maestro Sivuca. Desse filme participaram ainda Paulo Pontes, mestre do teatro, e o poeta maior Jomar Morais Souto com versos ilustrados pelas imagens da Fazenda Acuã, que pertenceu a João Suassuna, pai do celebrado teatrólogo Ariano. Aproveito a citação do filme para declinar o nome do jornalista carioca José Vieira Madeira, que, como chefe da Censura na Polícia Federal em São Paulo, concorreu decisivamente para a liberação do documentário citado e também de peças de Plínio Marcos, em cuja mesa no Paribar, atrás da Biblioteca Mário de Andrade, na Praça Dom José Gaspar, almocei diariamente com com Madeira, J. B. Lemos, do Jornal do Brasil, Gilberto Alves da Cunha, cardeal da Polícia Civil de São Paulo e este escriba que lhes fala às vezes com autora Leilah Assunção e a produtora Ruth Escobar.
Nasci de um casal de primos: meu avô paterno, João Evangelista Moreira Pinto, era meio irmão de minha avó materna, Joaquina Ferreira Pinto. Meu pai, José de Anchieta, era filho único de minha avó paterna, Ana Germano Pinto, terceira esposa de meu avô, que teve outros filhos com outras mulheres, inclusive um fora do casamento. Anchieta Pinto morava na casa do tio e sogro Chico Ferreira, onde nasci de um improvável parto a fórceps num ermo sem pronto socorro nem médico, resultado de uma fortuita passagem do doutor Oswaldo Bezerra Cascudo para tomar café com um compadre quando foi obrigado a usar o aparelho que levava na garupa do cavalo para acudir a outra parturiente na vila de Uiraúna, então ainda distrito do município de Antenor Navarro, antes e depois, como até hoje, São João do Rio do Peixe. Sou primogênito. Minha mãe, Raimunda Ferreira Pinto, Dona Mundica, teria mais cinco filhos, um dos quais perdeu ainda com vida, mas sem tino por culpa do Mal de Alzeimer, com o qual convivemos por dez anos até sua morte, aos 92 anos de idade. Seu primo e amor da vida inteira morreria mais cedo, aos 59, vítima de infarto do miocárdio irrigado por açúcar. Do casal aprendi as lições básicas, que me nortearam a vida inteira. O herdeiro do nome do jesuíta (por sinal, celebrado dois dias após a posse na nossa boda de estanho) só cursara o primário, mas não me lembro de ter flagrado na sua vida inteira um erro de grafia e gramática numa letra desenhada com capricho. Era, então, proprietário de uma bodega nas terras dos sogros. Depois, aventurou-se pelas estradas e pela política. Era caminhoneiro, tinha um Chevrolet jandaia, do qual se orgulhava, para transportar cargas de e para São Paulo, Rio e Codó, no Maranhão. Foi vice-prefeito de Uiraúna, que tinha virado município. Saiu do cargo pobre de Jó, a família passando necessidade, quando foi nomeado agente fiscal das porteiras de acesso da Paraíba ao Rio Grande do Norte pela serra de Luís Gomes, e ao Ceará de Icó, perto do açude de Orós, terra de meu amigo Raimundo Fagner. Orós arrastou o vale do Jaguaribe até o Atlântico desenterrando cadáveres em cemitérios de terra revolvida. Anchieta fundou o Uiraúna Tênis Clube, que não tinha quadra e sediava bailes, antes por ele promovidos no armazém vazio do vizinho Antônio Jacinto. E a banda de música de Jesus, Maria, José. Além do português e da caligrafia caprichada, me transmitiu o respeito ao erário e a ambição da obra bem feita.
Mundica foi fundamental na transmissão do amor pela língua portuguesa, que aprendera com as irmãs dorotéias, francesas, quando estudava na Escola Normal em Cajazeiras, terra do padre Rolim, tido e havido como o sertanejo que ensinou a Paraíba a ler. No dia 18 de maio de 1951, data de seu complexo e doloroso primeiro parto, não registrou a dor, mas o encantamento da maternidade. Perenizou-o no texto manuscrito em Meu Bebê, o Livro das Mamães, de Bastos Tigre, com ilustrações de Acquarone, primeiro prêmio da Academia Brasileira de Letras e publicado pela Editora Minerva, em 1945. Abro com ele a edição de Antes de Atravessar, mais recente coletânea de meus poemas, publicada por Thereza Christina Rocque da Veiga em sua Íbis Editora há dois anos. Por favor, ouçam a lavra de mamãe:
“Chegou o almejado dia 18 de maio, o sol brilhava com maior fulgor e intensidade, à medida que ele declinava no horizonte aproximava-se o grande, o maravilhoso, o magnífico e desejado momento. Foi um verdadeiro contraste: enquanto o sol em alegria derramava sobre a terra os seus últimos raios doirando a cocuruta dos montes, os meus ouvidos ouviam a mais suave e encantadora música, os primeiros vagidos do meu filhinho. Nunca havia experimentado tamanha felicidade, e, possuída da indescritível emoção, estreitava em meus braços um bebê cor de rosa. Que era a sublime concretização dos meus sonhos. Não era feliz somente eu naquela noite, adivinho o que se passava no íntimo de Anchieta, meus pais e irmãos, meus pais, que viram pela primeira vez um filho de sua filha.”
Mudamos para a casa de seus tios e sogros João e Nanita, na “rua”, como se dizia. Dizem que herdei muito de meu avô materno, Chico Ferreira, que tinha o hábito de me sentar em sua perna para acompanhar as nuvens da chuva vinda de Souza, Cajazeiras ou Luís Gomes, cuja chegada em poucos dias ele prenunciava sem errar. Era míope profundo, como o sou desde a descoberta, antes dos dez anos de idade. Lembro-me bem de nossa cúmplice espera da chuva salvadora, mas nunca ele ou eu fomos capazes de prever que água possa cair do céu com prenúncios de desgraça e não de bênçãos da fertilidade vegetal, como resta comprovado no Rio Grande do Sul.
Seu Chico morreu aos 72 anos. Em 1986 publiquei em Solos do Silêncio, editado por Luis Fernando Emediato na Geração Editorial, um dos poucos poemas de minha lavra que guardo na lembrança no meio de minhas falhas de memória. Ei-lo:

“Na casa avoenga”

A nuca cansada apoiada
na palma aberta da mão,
os olhos míopes
do velho Chico Ferreira
escutavam o choro do sertão
no céu sem estrelas
da mais escura vastidão.

um sapo
um grilo
um rês
uma rã

Assim era o serão
na Fazenda Rio do Peixe,
de onde fui vindo.

Todo som que me vier
do bojo da rabeca de Bié,
como chuva na telha
e sabor de leite coalhado
com rapadura rapada
– eta emoção!

Uma noite estava numa festa na casa de meu amigo Luís Sales quando os Seresteiros Urbanos tocaram e cantaram uma linda melodia de meu parceiro Gereba, do grupo Bendegó, sobre este poema, que assim virou letra.
Seu Chico casou-se aos 37 anos, com dona Quinou, de 19 anos, filha do coronel Alexandre Moreira Pinto. Era arrimo de família e alfabetizou-se autodidata.
Morreu quando eu tinha seis anos. Chorei muito em seu velório e até hoje me lembro do cheiro de alfazema, usado no sertão para disfarçar o odor cadavérico. Foi velado na casa de meus pais.
Papai era então caminhoneiro e mamãe tomava conta sozinha da prole. Nas noites de verão muito quente no sertão, Cabrinha desligava o motor às 9 da noite e ela nos reunia na calçada de uma casa maior para a qual mudamos. Sua memória fabulosa nos ditava de cor poemas de seus autores favoritos: Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos e Jansen Filho, entre outros. Minha memória avariada lembra-se até estes meus 73 anos da cadência do baiano Antônio Frederico:
Auriverde pendão de minha terra,
que a brisa do Brasil beija e balança,
estandarte que à luz do sol encerra
as promessas divinas da esperança,
antes te houvessem roto na batalha.
que servires a um povo de mortalha.
Certo dia, vi o filme Bocage, o Triunfo do Amor, de Djalma Limongi Batista, e, ao final, chorei copiosamente, pois o ritmo do genial poeta português e personagem de folhetos de cordel licenciosos era o mesmo de Castro Alves, dito por minha mãe. Durante estes anos todos, desde que os ouvi pela vez primeira na vida, considero “a brisa do Brasil beija e balança” o mais inspirado verso da poesia brasileira de todos os tempos. Concorre apenas com outro poema que minha mãe preferia. O Terceiro Naufrágio de Gonçalves Dias, que introduz a seleta de poemas do romântico maranhense, registra que o considero o maior de todos os poetas brasileiros. Refiro-me à imprecação do velho guerreiro tupi, indignado com o filho que pediu piedade aos guerreiros que o venceram e condenaram à morte para repasto por sustentar o pai idoso. Indignado, este não teve dó nem piedade do filho. Reproduzo aqui uma estrofe do poema:
Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.
Citei-o na introdução à seleta de poemas Meninos, Eu Vi, que, por encomenda do colega de Pen Clube, o doutor em letras e querido amigo Deonísio da Silva, a editora Almedina publicou por ocasião dos 200 anos de nascimento de Gonçalves Dias, nosso vate máximo.
Peço vênia para dar mais um exemplo de versos que decorei naquelas noites quentes na calçada da Rua Nova, em Uiraúna, o soneto “Vandalismo”, de Augusto dos Anjos, que empresta seu nome à cadeira número 1, que ocupo na Academia Paraibana de Letras:

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde o nume do amor em serenatas
Canta a aleluia virginal das crenças.

Da ogiva fúlgida e das colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas, os florões, as pratas.

Como os velhos templários medievais,
Entrei um dia nestas catedrais
E nestes templos claros e risonhos.

E, erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos.

Infelizmente dona Mundica nunca chegou a ouvir ou ler meu poema “Stabat Mater”, em sua homenagem. Então, ela ainda vivia, mas o Alzheimer já a tinha privado de seu mais precioso dom, a memória. Ei-lo publicado agora em Antes de Atravessar:

Stat mater dolorosa, dum pendet filius (João, 19;25)

Stabat mater dolorosa juxta crucem lacrimosa dum pendebat filius
(texto atribuído a frei Jacopone Benedetti da Todi)

Quando eu nascer,
mamãe vai sorrir
aquele sorriso beato
que só as mães sabem dar:
um pouco por se ver,
um pouco por ternura;
um tanto por me ter
e outro por tontura.

Quando eu me criar
(bezerro desmamado),
vou beber e tragar
seu leite morno
- um pouco de proteína,
um pouco de gordura;
um tanto de escassez
e outro de fartura.

Quando eu crescer,
seu coração vai pulsar
ao ritmo de bater
de versos ditos de cor,
um brilho de som
na noite escura:
palavras de candura
rompendo a pausa
da infância vaga.

Enquanto eu viver
(ser despido de lembranças),
ela vai gargalhar
de cada travessura
e vai me punir
por cada travessura.
Terei sua bênção,
sendo sua graça
ou sua tortura.
Se terei!

Quando eu morrer,
esteja ela onde estiver,
aqui no planeta
como no jardim do céu,
minha mãe vai padecer
e vai gemer,
minha mãe vai verter
seu pranto adocicado
e o leite derramado
do peito esfomeado,
sobre o leito esparramado.

E, aí, minha mãe vai renascer
nos filhos que eu tiver,
e vai crescer de novo
nos netos que eu lhe der,
e vai viver pra sempre
nos versos que eu fizer:
cantigas de amor
na terra bruta,
na grama dura,
o infinito grão.

Nesta tentativa de homenagear meus mestres com carinho, introduzo agora o padre Bernardo, que me ensinou a cultivar a lógica dos santos Agostinho, bispo de Hipona, e Tomás de Aquino. Tinha oito horas semanais de latim no Instituto Redentorista Santos Anjos em Bodocongó, Campina Grande, Paraíba. E padre Carlos, que não conseguiu me ensinar a tocar violino, por culpa do pescoço curto, me introduziu nas declinações do latim por um escritor maravilhoso, meu ídolo Caio Júlio César, de quem traduzi De Bello Gallico e para cuja língua verti prosa de minha própria autonomia, como diria Isabel de Castro Pinto.
Saído do seminário, fui aluno do Colégio Estadual da Prata, em Campina. Ali aprendi a amar a língua de Camões, Eça, do José de Alencar de As Minas de Prata e de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, com quem trabalhei na Gazeta de Pinheiros, com a mestra Maria Argentina Brasileiro no primeiro ano científico e com quem tive a suprema alegria de prosear recentemente. Devo-lhe a prática sofisticada da língua em que aprendi a falar e escrever seguindo o exemplo de dona Mundica.
No segundo ano segui o aprendizado da excelência da língua com a professora Francisca Neuma Fechine Borges, que, além disso, deu dignidade acadêmica à discussão sobre a literatura de cordel. Levando-a inclusive para o exterior. Graças ao trabalho desta minha mestra travei conhecimento com a dupla Otacílio Batista e Diniz Vitorino, que, de passagem para participar de seminários universitários em Paris e outras cidades francesas estiveram em minha casa e executaram uma função de poesia popular sertaneja. Nesta época, começo dos anos 1970, travei conhecimento com um dos maiores sucessos desse gênero, Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, de meu colega na redação do Diário da Borborema em Campina Grande, Orlando Tejo, então morando em Brasília e depois em Recife. Graças ao livro de Tejo, na verdade um romance, o rabequista de Tauá, na serra de Teixeira, atravessou o Brasil de cima abaixo e de lado a lado. Embora haja várias dúvidas a respeito da autoria de muitos desses versos, alguns reclamados por Otacílio Batista, outros pelo próprio Tejo, não há dúvida que o repentista surrealista é uma marca da cultura da viola e da rabeca.
Cito uma estrofe autobiográfica extraída do livro de Tejo, primo de William Tejo, que me chefiou na redação do Diário da Borborema.
“Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada,
Cantando nas Escritura,
Saudando o pai da coalhada,
A lua branca alumia,
Jesus, José e Maria,
Três anjos na farinhada”.
Meu querido amigo Antônio Carlos Belchior Fontenelle Fernandes chegou a incluir uma limeirada numa canção de sucesso – “Sujeito de sorte” um mote atribuído por Tejo a Limeira:
“Tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.” No rastro, Emicida também fez sucesso com o verso.
Mas para não me perder em divagações retomo o rumo dos mestres muito amados para destacar o mais original deles, um “prodígio” na definição do poeta e acadêmico Geraldinho Carneiro, cujo pai, Geraldo Carneiro, foi figura exponencial em minha estréia como jornalista.
Geraldo pai era uma espécie de fac-totum do governador de Minas e candidato à Presidência da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, além de parceiro em carraspanas homéricas com o personagem que vou introduzir: Eurícledes Formiga. Geraldo pôs o companheiro de noitadas à mesa com JK, candidato do PSD à Presidência, num comício em Goiânia. No jantar, ao lado do orador, o paraibano de São João do Rio do Peixe elogiou o discurso do pessedista e em seguida contestou: “mas não é seu”. E logo deu a “prova”. dizendo a peça inteira de cor sem omitir uma vírgula. JK só acreditou que Formiga de fato tinha decorado seu discurso quando o boêmio paraibano o disse do fim ao começo. Sim, o homem era um fenômeno de absurda memória fotográfica. Como sobrevivente entre seus muitos amigos acabo de dar testemunho de seus prodígios no nosso sertão do Rio do Peixe, de onde viemos e que agora celebrará o centenário de seu nascimento em 19 de junho de 2024.
Eleito presidente, JK o nomeou chefe do cartório da Justiça Federal, onde lhe fui apresentado pelo poeta negro campinense Arnaldo Xavier, meu amigo de adolescência. Formiga me apresentou ao diretor de redação da Folha de S.Paulo, Cláudio Abramo, no auge de sua fama de maior jornalista brasileiro do século vinte. No dia seguinte estreei como repórter da Local e de lá saí para Jornal do Brasil, Estadão e Jornal da Tarde. E também segui a vocação de radialista, inaugurada na Rádio Caturité da Diocese de Campina Grande e continuada nas rãdios Jovem Pan, Estadão e Eldorado e nas TVs Manchete, SBT e Gazeta. Mas Formiga, discípulo e amigo de Chico Xavier, me seguiria pela vida afora, mesmo após ter desencarnado. Seu filho Quito, quando vereador, me concedeu o título de cidadão paulistano 40 anos depois de eu ter conhecido seu pai e sua mãe, Anabel, que mo indicou então já viúva de Eurícledes. Não exagero ao afirmar que Formiga me fez jornalista em São Paulo quando eu ainda era um teenager do sertão dos rios sem água.
Já não era sem tempo de lembrar Formiga, também foi poeta do mar, embora nascido a 500 quilômetros do pélago profundo.
Aqui lhes trago versos de sal e areia do poeta da lua:
Para falar de amor à minha amada,
ponho tua harmonia nos meus versos;
eles recordam pequeninos búzios,
com tua alma cantando em seus recessos!
Não me é dado saber em quantos portos
ancorei minha nave... em suas quilhas
fulgem as tatuagens de saudades
com as transparências do teu ser ignoto!
Sei apenas que a música da vida
nasce contigo e cresce e envolve o mundo
e o coração-aquário do poeta!
A musa é Anabel, xará de Anabel Lee, que inspirou Egar Allen Poe.
Voltemos, contudo, agora para o amigo de Formiga que me deu o primeiro emprego de repórter num grande jornal, Cláudio Abramo. Este me pôs à sombra de meu eterno chefe, o capixaba J. B. Lemos, outro de meus amadíssimos mestres. Na redação tratou-me sempre como o filho homem que sempre quis ter, mas nunca havia tido algum. Uma vez no escuro abismo dos Andes bolivianos sem saber de onde vinha nem para onde ia, lhe telefonei para me indicar o que fazer. Ele, calmamente, certamente cofiando o bigode, ordenou: “Vire-se!” E me virei. Foi a instrução mais exata que recebi na vida.
Depois, encontrei outro guia numa redação. Ruy Mesquita me chamava a sua sala. Lia um trecho qualquer de um editorial que eu havia escrito. E perguntava: “o que quis dizer com isso?” A contragosto respondia. E ele completava: “e por que não escreveu assim?” Eis aí o mais aconselhável método de orientar um redator desorientado, confuso e complexo. Quando se foram Lemos e Ruy, fiquei mestre de mim mesmo. E errei mais. Muito mais.
Em 1969, ano em que vi Ao mestre com carinho, conheci mestres da vida inteira: o editor Pedro Paulo de Sena Madureira, fundamental na confecção do romance O Silêncio do Delator, que em 2005 ganhou o Prêmio Senador José Ermírio de Moraes da Academia Brasileira de Letras, de 2004, das mãos do filósofo Miguel Reale. Fui saudado por Marcus Vinicius Vilaça, que pontificou: “O passado nos autoriza a recusar anemias no fazimento do presente e na formatação do futuro. O novo nos interessa. A tradição desta Casa não é feita de ancoragem de horas, mas da libertação da palavra. Sem pressa e sem descanso”.
O presidente da Academia Brasileira de Letras era meu amigo Ivan Junqueira, que também conheci na Bruguera da Rua Filomena Nunes. O tradutor magistral de T. S. Eliot traduziu um poema que ocorreu a Jorge Luís Borges quando Maria Kodama estava no Japão e, por acaso, fui a Buenos Aires cobrir para o Jornal do Brasil o julgamento dos ditadores militares e ali conheci Flávio Tavares, autor da obra-prima Memórias do Esquecimento. Lá entrevistei Jorge Luís Borges, autor da magnífica História Universal da Infâmia. Mas nenhum poema novo lhe ocorreu à ocasião. Certa feita, muito depois disso, Ivan revelou, ao apresentar palestra na ABL, que foi parceiro deste pau de arara numa capa do jornal da Condessa em pleno carnaval. Na Bruguera. conheci ainda o poeta e publicitário Nei Leandro de Castro, entre tantos outros ilustres companheiros de trabalho. O chefe da turma era Leonardo Fróes, que depois seria colunista de plantas e jardins e redator da minha equipe no JB. Dia destes localizei-o com a eterna Regina em São Pedro do Rio por um motivo interessante. Sou professo admirador de João Câmara, maior pintor do Brasil e também contista para lá de acima da curva. Depois de ler A Caminho de Querétaro, publicado por dois de meus mestres, com carinho, Christine Ajuz e José Mário Pereira, da Topbooks, comentei isso com Leonardo, de quem Pedro Paulo e eu, na Girafa Editora, publicamos uma tradução dele de Under the Volcano, de Malcolm Lowry, que se passa em Querétaro. Boa ocasião para citar Câmara e Fróes num parágrafo.
Assim como para lembrar como Carlos Leal entrou na minha vida de escritor. Nos anos 1970, no Jornal do Brasil, o inolvidável Mário Pontes me encomendou a crítica do livro de pequenas memórias, como cunhou José Saramago, Antes que me Esqueça, de José Américo de Almeida. Na infância, a miopia profunda e a cabeçorra me valeram dois apelidos: um nem precisa dizer qual é. O outro Zé Américo. Caprichei no escrito. O próprio autor me escreveu um amável bilhete e me entronizou no lugar de seu último amigo de infância no casarão de Cabo Branco, cenário de sua frase “longevidade se consegue com pé na areia”.
Recentemente o professor Marcos Formiga, de São João do Rio do Peixe, me honrou com a encomenda de um texto sobre o livro que considero à altura de ser posto ao lado de Os Sertões, de Euclides da Cunha: A Paraíba e Seus Problemas. Este foi o momento mais honroso de minhas atividades intelectuais. Tudo começou com uma bela edição da Francisco Alves, hoje sob a batuta de Carlinhos. Viva ele, pois.
Em 1974, fui convidado a participar do Encontro Mundial da Comunicação e, por conta disso, almocei uma semana diariamente com Pelé em Acapulco, recentemente destruída pela natureza implacável antes da tragédia do Rio Grande do Sul. Com o Rei, a cuja festa dos 50 anos compareci, a convite de seu geriatra, Eduardo Gomes da Silva, ainda a tempo de aprender em rápido convívio que a máxima simplicidade pode conviver com a glória suprema. Essa lição também foi dada por gênios como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Luiz Gonzaga, Neil Ferreira, Antunes Filho, Tom Cavalcante, Ciro Fernandes, Jacó Pinheiro Goldberg, Ruy Castro, a historiadora Mary del Priore e o crítico mineiro Silviano Santiago, laureado com o Prêmio Camões em 2022, além do artista plástico Raul Córdula Filho. e de Zé Ramalho, meu parceiro em canções como Lua Semente e Do Norte do Norte.
Em 1973, iniciei outra obra da qual me orgulho muito, minha prole. Tenho quatro filhos, os adultos Vladimir, Clarice e Cecília. Deles são meus netos Pedro, Stella, Anna, Giulio e Nolan. O filho caçula é Artur, de meu casamento com Isabel.
Aprendi a escrever com Graciliano Ramos, inigualável na arte da simplicidade profunda. À distância. Não o alcancei em vida quando fui morar no Rio de Janeiro em 1969. Convivi muito pouco com Rachel de Queiroz, que li, primeiro em pílulas na última página da revista O Cruzeiro, que meu pai levava do Rio, além de notícias do Flamengo. No Rio ainda alcancei Rachel de Queiroz. Tratou-me como se fosse o mais aplicado dos discípulos. Na última vez em que a vi, ela estava com a irmã passeando no Jardim Botânico, colhi uma flor para lhe dar e aumentei o fervor por seus textos quando sua simpatia não estava mais a meu alcance. Da infância minhas melhores lembranças mais do que as de Carlinhos de Menino de Engenho eram as do seleiro amargo Zé Amaro, de Fogo Morto, clássico dos clássicos. Nele me divertia sozinho no quarto dos fundos da casa de meus pais na rua Rui Barbosa com Vitorino Papa-Rabo. Teria muito a conversar com Zé Lins do Rego sobre o Flamengo e ele nem chegou a ver Zico jogar. como eu não me deparei com Domingos e Leônidas com a camisa rubro-negra. Nunca vi Garrincha driblar Jordan e até meu ídolo Gerson para rir de minha própria desgraceira.
Faltam aqui dois mestres. Vamos a eles antes que a paciência de vocês se esgote de vez. Meu primogênito, Vladimir, 50 anos, paquerava uma lisboeta e, de volta do Reino Unido para o Brasil parou em Lisboa. Chegou com um presente daqueles que viriam a ser avós maternos de meu neto Pedro, de 21 anos, Vitor e Georgina. Era um volume de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Genial. A melhor obra do Prêmio Nobel José Saramago. Em agosto de 1986, o xará nem tinha recebido o laurel e veio lançar o tal dito cujo livro no Brasil. Encontrei-o no hotel em frente à igreja de Santa Ifigênia, no centro velho da Paulicéia Dilacerada, título maravilhoso de outro amado mestre, o poeta Mário Chamie, de Cajubi, mas com sangue de Damasco de Saulo. Li o seguinte poema no hall do hotel e tudo:


“A Seara de Saramago”

Esta língua é minha semente,
machado de mulato do morro,
pátria de poeta lisboeta.

Esta língua é minha visão,
o sol do soldado caolho,
a mão do soldado maneta.

Esta língua é minha música,
na palavra do padre pregador,
no pássaro do padre voador.

Esta língua é minha mulher
tem cuidados de mãe
no leito da amante.

Esta língua é minha rosa,
tem perfume dos sertões gerais,
tem sabor de vinhos do Porto.

Esta língua é meu cavalo
para subir cidades e serras,
que a brisa do Brasil beija e balança.

Esta língua é fel com mel,
cantigas a palo seco
de ninar o futuro.

Esta língua é meu coração,
na tortura, na paixão
e no sal amargo da purificação.

Esta língua é jóia africana,
ela caça a onça caetana,
ela cruza a légua tirana.

Esta língua é fruto de meu ventre,
mata sede de amizade,
me arma nos bons combates.

Esta língua não é de viver,
língua de navegar e de lamber
e de dançar o tango argentino.

Esta língua é meu berço,
esta língua me conhece,
esta língua é meu caixão.

Ao fim da leitura, Saramago chorou. José Paulinho Cavalcanti, que me fora apresentado por Tancredo Neves, me deu a honra de citar a última estrofe em sua posse na Academia Brasileira de Letras.
Depois da morte de Saramago confidenciei a minha querida amiga Nélida Piñon, que representou a ABL em minha posse na Paraibana, que eu deveria ter sido o primeiro brasileiro a entrevistar Saramago no Brasil. Ela negou: “Foi Millor no Pasquim”. Ela não desconfiava que Lauro Jardim passava certo dia na calçada da Casa dos Bicos em Lisboa, entrou numa sala de fortunas críticas e nelas a de um único brasileiro:. Quanto a Millor, mito que venero, lhe fui apresentado por Fernando Pedreira, que me fez articulista do Jornal do Brasil, quando dirigia a redação, no Antiquário do Leblon. E Boni, aqui presente, testemunhará que o Vão Gogo de minha infância me agradeceu dizendo ser eu a única voz no rádio a falar a língua que sua mãe lhe ensinou.
Ficaram faltando alguns mestres. Como Astier Basílio, que está fazendo doutorado em literatura russa em Moscou seguindo uma indicação deste seu aluno, o único muito mais velho. Astier está lançando livro novo, ora pois. Falo de Eu, como diriam Augusto dos Anjos e Vladimir Maiakóvski, traduzido por ele para uma edição da Arribação do cajazeirense Linaldo Guedes. Como também Jorge Semprún que entrevistei no cofee shop do Hotel Maksoud para falar de minhas adorações por Netacheiev Está vivo e A Segunda Morte de Ramon Mercader. E ainda de Octávio Paz, de cuja entrevista coletiva no Estadão participei, quando trabalhava no Jornal do Brasil.
E, sobretudo, a mestra profissional, a PhD em História pela USP e musa de Antes de Atravessar. Lerei o poema para vocês saberem o quem de fato inspirou esta oração autobiográfica que foi presente do Dia dos Namorados, o qual ora lhes imponho.


“Magister dixit”

Cada passada tua era um caminho aberto! (“O caçador de esmeraldas”, Olavo Bilac)

Com minha mãe, mal saído do berço,
aprendi a ler de carreirinha, como Zeca Diabo,
distinguir algarismos arábicos e fazer contas.
Fui seu primeiro aluno, ela, minha primeira mestra.
De Mundica herdei vida, cara, o amor pela palavra
e a paixão pela poesia e pela leitura.
Com Isabel, assim que partilhei seu tálamo,
aperfeiçoei o que a vida me ensinara de mais útil
para lidar com artimanhas alheias e imperfeições próprias.
A mania que todo surdo tem de falar alto,
o indicador em riste para impor o argumento,
perdigotos inevitáveis na cara do interlocutor,
hábito de interromper em papos íntimos ou formais.
Isabel, a definitiva mestra-escola, me apresenta ao diálogo.
Com ela me aperfeiçoei na arte difícil da conversa,
na qual quase sempre o triunfo leva ao recuo,
permanente aprendizado do legado de Pirro.
Minha mulher é musa bela e inteligente,
não necessariamente nessa ordem, é claro.
Para seduzi-la dei-lhe a obra-prima de Marcel Proust
e ela nem precisou passar do primeiro volume da tradução
para me ensinar rudimentos do texto, que não tinha percebido.
Depois, lhe disse que lera Ulysses, de Joyce, via Houaiss,
mas discordava de quem o julgava o romance dos novecentos.
De minhas leituras no quarto dos fundos de uma casa
nos fundos do Colégio das Damas em Campina Grande, onde ela nasceu,
me deixei fascinar por Eichman em Jerusalém, de Hannah Arendt,
e também por Apanhador no Campo de Centeio, de Salinger.
No primeiro caso, a encontrei pronta para me explicar
a banalidade do mal e as imprudências do desejo.
Ela havia dedicado anos de um curso universitário
lendo, anotando, rabiscando as obras do ídolo de Lafer.
Trouxe preciosidades indispensáveis para discuti-las.
O então namorado, bom aluno perspicaz, mas relapso,
degustava frases, mas fazia pouco da utilidade do registro,
tratando o lido com reverência, mas se deixando levar
por armadilhas da beleza, da música e do ritmo delas.
Quando a conheci, eu tinha abandonado o vício que ela mantém de marcar,
atenção concentrada no escritor, com exagerada confiança na lembrança.
que tornava traiçoeiro e fugidio o que poderia ser necessário lembrar.
No leito conjugal, antes do sono, ela relembra fatos do dia
com lições do cotidiano, que dona Clio a lembra de me lembrar.
Em tais ocasiões, me diz da relevância de alisar as coisas ásperas
para nunca perder a noção dos objetos que tornam o tato prazeroso.
A sabedoria de minha amada aduz que preto, cinza e branco são cores
e que azedo é sabor que não deve ser preterido pelo prestígio do doce,
principalmente para um parceiro diabético, proibido de acumular glicose.
Ela não deixa seu amado perder a noção do peso dos objetos leves
nem fazer de conta que o feio não deve ser sempre preterido ao belo.
Minha mestra, também doutora, com tese defendida e aprovada,
é capaz de me levar a momentos inesperados em locais antes visitados,
como ao me conduzir à livraria Shakespeare and Company. no Sena,
para confirmar a descrição feita por Hemingway; em Paris é uma Festa,
levando-me a comprar Ulysses. saído do prelo da secular primeira edição.
Da mesma forma me conduziu aos jardins de Giverny
para eu contemplar cores de Monet longe do Museu d’Orsay.
Foi como se as tonalidades de plantas e telas tivessem outra natureza
depois de por elas terem passeado as pupilas verdes da filha de Betânia.
Isabel me ensinou a conversar, tudo aprendo desde que a conheci,
o que ouço tenho logo de lhe contar e tudo o que sei faço eco.
Li Grande Sertão: Veredas num quarto dos fundos nos sessenta,
o reli aos pedaços ao longo de minha vida afora,
e. aos 67 anos, o li inteiro na cama para minha mulher.
Era como se tivesse sido a primeira vez, como sempre com ela.
Manuelzão e Miguelim ocuparam nossa relação sem pedir vênia.
Ler para Isabel me apresentou à saga de Riobaldo e Diadorim.
Lições dessa leitura ao leito foram levadas à Academia
em palestra sobre Rosa e Machado, nossos papas.
Minha mulher tem um trato secreto com Cronos,
que indica didática especial com idosos de sua predileção.
Inclusive me, myself and I, eu entre eles.
Nem sempre cumprimos nossos acordos,
como o que inspirou meu poema “Medeia aqui e agora”:
a promessa de nunca procriar,
abandonada quando ela me disse que queria um filho meu.
O nome dele é Artur e herdou da mãe a capacidade de me educar:
ele me instrui mais do que sou capaz de orientá-lo.
Maria Isabel venera a sempre bela e sempre lúcida Clio em sua fé
na história, cujas datas sabe todas de cor, ao contrário de mim,
que nada sei, datas em particular.
Isabel esfria os estrondos de meu temperamento, que me aflige,
e ilumina as sombras de minha resistência, mostrando meu talento
reluzindo como moedas da Bíblia de todos os tempos.
Li Vingança, Não sobre cangaço na infância e na maturidade,
Releio-o aos 71, debruçado num volume que guarda cheiro e calor da dona.
Ela é sacerdotisa da verdade factual e fugidia,
cujo templo repousa em meu coração.
Ajoelho-me a seus pés, contrito com a devoção que merece;
seu posto de onça feroz a vigiar o sono do filhote,
fazendo a sesta no quarto ao lado,
fruto de nosso amor e presente-mor
em qualquer Dia dos Namorados,
quando acende a lâmpada para alumiar
este preito prestado à beleza e à sabedoria,
cujo brilho Fernão Dias contemplará ao ler Bilac
nas trilhas palmilhadas pelos bandeirantes
e desvendadas pelo mar manso dos globos oculares
da mestra-escola que amo neste momento
muito especial de minha juventude tardia.
Isabel me devolve a infância com gosto de quero mais,
resgatada num verso maneiro de um poema de seu Olavo:
“E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem...”

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