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Ouça o álbum completo: MEU FORRÓ
LEIA MAIS: JORGE RIBBAS, UMA HISTÓRIA CIDADÃ
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Oliveira de Panelas com Roberto Carlos e Otacílio Batista |
"Preto e imponente. O Cristo Redentor ficou assim há pouco. Uma ação de solidariedade que me emociona. Mas quero, sobretudo, inspirar e trazer mais luz à nossa luta. Agradeço demais toda a corrente de carinho e apoio que recebi nos últimos meses. Tanto no Brasil quanto mundo afora. Sei exatamente quem é quem. Contem comigo porque os bons são maioria e não vou desistir. Tenho um propósito na vida e, se eu tiver que sofrer mais e mais para que futuras gerações não passem por situações parecidas, estou pronto e preparado."
Bom, costumo dizer que nós, humanos, não temos e dificilmente teremos salvação.
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Assis e Capiba |
Em 2014, uns tais de Filipe Escandurras e Magno Santana fizeram uma coisa chamada Lepo Lepo. Um grupo especializado em porcaria musical, Psirico, gravou e encheu o bolso de grana. A coisa ficou nas paradas do rádio durante intermináveis três ou quatro meses. O cara do Psirico não cantava, gemia ou grunhia num suposto ato sexual. Mas não houve censura. Aliás, anote: se não gostar do que ouve no rádio e vê na TV, mude de rádio, de canal ou desligue.
No carnaval baiano de 2023 o grande sucesso foi uma josta chamada Zona de Perigo, interpretada por um cara que faz tempo se acha na crista da onda, Léo Santana.
A interessante letra de Zona de Perigo, dada a sua beleza e profundidade filosófica, precisou da colaboração integral de seis intelectuais ora de reconhecida fama: Adriel, Rafa, Ivees, Fella, Pierrot e LuKinhas.
O ritmo de Zona de Perigo é resultado da mistura incrível de arrocha, pisadinha, funk, suor e peido, como certamente diria o despachado e sem papas na língua Capiba.
O pernambucano Capiba, autor de belíssimos frevos, rebatendo jovens músicos de sua época dizia que "Som universal é peido!".
Aproveito pra compartilhar com vocês um pedacinho, só um pedacinho, da interessantíssima música Zona de Perigo: "Sensacional o jeito que ela faz comigo/ É fora do normal, estou na zona de perigo/ ...Essa bebê provoca, a bunda dela pulsa/ ...E vem sentando gostosinho pro pai...".
Se bunda pulsa, bunda pensa.
Pergunto: isso é arte?
A banda Blitz faturou legal com o carimbo de proibição que a censura da ditadura militar lhe deu.
Tom Zé: talento à toda prova |
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Acompanhei tudo através de audiodescrição |
Roberto Minczuk, direção musical
Ailton Krenak, concepção geral
Cibele Forjaz, direção cênica
Denilson Baniwa, codireção artística e cenografia
Simone Mina, codireção artística, cenografia e figurino
Livio Tragtenberg, assistente musical
Ligiana Costa, dramaturgismo
Aline Santini, design de luz
Vic von Poser, design de vídeo
João Malatian, assistente de direção
David Vera Popygua Ju, Peri (ator)
Zahy Tentehar, Ceci (atriz)
Solistas dias 12, 14, 17 e 20
Atalla Ayan, Peri
Nadine Koutcher, Ceci
Rodrigo Esteves, Gonzales
Solistas dias 13, 16 e 19
Enrique Bravo, Peri
Débora Faustino, Ceci
David Marcondes, Gonzales
Elenco único (todas as récitas)
Lício Bruno, Cacique
Andrey Mira, Don Antonio
Guilherme Moreira, Don Alvaro
Carlos Eduardo Santos, Ruy
Orlando Marcos, Pedro
Gustavo Lassen, Alonso
Corifeus
Luaa Gabanini
Raoni Garcia
Augusto Ortale Trainotti
ORQUESTRA E CORO GUARANI DO JARAGUÁ KYRE’Y KUERY
AVAKUE (Homens): Naldo Karai, Claudio Vera, Adilson
Vera, Lourival Tupã, Lenilson Karai, Jovelino Karai, Dario Tataendy,
Guilherme Vera Mirim, Joaci Karai, Felipe Vera, Juca Kuaray, Messias
Karai, Pedrinho Karai, Juscelino Karai KUNHANGUE
(Mulheres): Jaqueline Jaxuka, Silvana Ara, Priscila Para, Marines Poty,
Patricia Kerexu, Layne Jera, Marilda Yva, Maricela Yva, Ciara Ara
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Assis em uma entrevista com Nelson Gonçalves |
Não dá pra comparar as músicas de duplo sentido de ontem com as de hoje. As de hoje não são nem de duplo sentido, são claramente explícitas, sem valor literário.
O cantor, compositor e redator de programas de Chico Anísio, o pernambucano Arnaud Rodrigues, falava de putaria de modo tão sutil que parecia ingênuo. A expressão "puta que pariu", por exemplo, ganhou algo como não-sei-o-quê Paris. Ele procura imprimir graça quando canta um flagra que a sogra lhe deu quando se achava nu e pronto pra transar com sua mulher. Noutra música ele tenta fazer graça quando a mulher se abaixa para apanhar um sabonete no banheiro.
Hoje, no rádio, os humoristas se divertem e divertem os ouvintes falando de putaria com toda tranquilidade possível. O programa A Hora do Ronco, no ar diariamente no começo da manhã via Band FM, é amostra clara disso.
Programas das FMs Nativa e Imprensa tocam bastante músicas sem graça nenhuma e de baixo calão, nos ritmos de plástico ou algo que o valha. Forrós de péssimo nível e sofrências transformadas em sertanojo.
É de se lembrar, aqui, a obra do cantor gaúcho Nelson Gonçalves.
São inúmeras as músicas que falam das amarguras dos cornos, das prostitutas, cabarés, constante no repertório gonçalviano.
Instigado pessoalmente, Nelson era terrível. Um despudorado sem limite.
Não encontrei dificuldade nenhuma quando lhe fiz perguntas relacionadas a sexo. A entrevista saiu na extinta revista Privé, em 1982, sob o título "Com uma mulher sou bom: com duas, melhor; com três, sou ótimo!".
Confira a entrevista:
De autoria de David Nasser e Herivelto Martins é o tango Estação da Luz, que o famoso cantor gaúcho eternizou. Fala da vida difícil das mulheres fáceis.Outro gaúcho, Lupicínio Rodrigues, também falou na sua obra de cabaré, prostituição e dor de corno. Clássica é uma de suas canções, Vingança. Começa assim: "Eu gostei tanto/Tanto quando me contaram/Que a encontraram/Bebendo e chorando/Na mesa de um bar...".
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Presidente Lula ao lado da ministra da cultura Margareth Menezes, no lançamento da Lei Paulo Gustavo |
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A cegueira não pode motivo para a Justiça condenar inocentes |
...Mulher é bicho esquisito
Todo o mês sangra
Um sexto sentido maior que a razão
Gata borralheira
Você é princesa
Dondoca é uma espécie em extinção...
Também censurada foi Lança Perfume, que todo mundo conhece de trás pra frente. O corte ocorreu ali onde a compositora escreve:
... Me vira de ponta-cabeça
Me faz de gato e sapato
Me deixa de quatro no ato
Me enche de amor...
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Cacá e Josafá em frente a rádio Grande Serra de Araripina |
Morreu hoje 9 em Araripina, PE, o radialista Josafá da Costa Reis.
"Josafá foi um dos pioneiros do radialismo da nossa cidade. Nasceu em 1939. Começou na rádio Cultura de Araripina. Senti muito o seu passamento", diz pesaroso o cantor e compositor arapinense Cacá Lopes.
Josafá da Costa Reis morreu no começo da manhã. Seu corpo será sepultado ainda hoje.
Cacá Lopes fala do amigo radialista num folheto que publicou em 2017, A Primeira Rádio. Leia:
Cultura de Araripina
A antiga rádio local,
Gerente Arnaldo Laje,
Locutores do dial
Orlando e Gilvan Gomes
Falavam pra o pessoal.
Josafá Reis nessa época
Já fazia locução,
Sua audiência atingia
Pouco mais de um quarteirão,
Na rádio comunitária
Pioneira da região.
Gilvan o proprietário
De uma amplificadora,
Movida à luz de motor
Chamada de Difusora,
Esse antigo equipamento
Da cultura é propulsora.
A Voz de Araripina
Era o nome oficial,
O som dos alto-falantes
Fanhoso meridional,
Nas ruas e nas esquinas
Programa sentimental.
Quem viveu uma ditadura militar terá sempre o que dizer.
Os militares, apoiados pelos poderosos civis de plantão, tomaram de assalto a nossa Democracia. Foi na virada de 31 de março de 1964.
Os brasileiros ainda dormiam quando os primeiros blindados invadiram as ruas da capital fluminense.
Além de prisões, torturas, desaparecidos e mortes, o governo dos generais, na marra, calou a boca de todo mundo. Os artistas foram os primeiros a serem silenciados.
Os chamados artistas "cabeça" como Chico, Caetano, Gil e Vandré foram imediatamente perseguidos. Trajando roupas femininas Vandré conseguiu na surdina escapar e exilar-se mundo afora, primeiro no Chile.
Artistas chamados "bregas" como Odair José e até Genival Lacerda não escaparam da sanha dos militares.
O forró Severina Xique Xique, de João Gonçalves e do próprio Genival, já estava bombando nas rádios do Nordeste quando a bem comportada família cearense botou o bedelho no meio e fez de tudo para que a música fosse oficialmente vetada. Isso em 1975.
Em 1973 a Censura caiu de pau na peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra. As músicas da obra, quase todas, foram mutiladas.
Na canção Não existe Pecado ao Sul do Equador (abaixo), que anos depois seria gravada por Ney Matogrosso, o corte ocorreu nos versos "Vamos fazer um pecado safado/Debaixo do meu cobertor". Bobagem.Bobagem também ocorreu em 1982, quando os idiotas da Censura vetaram as duas últimas faixas do lado B do LP de estreia dos roqueiros da banda Blitz. As faixas vetadas, Cruel Cruel Esquizofrenético Blues e Ela Quer Morar Comigo na Lua em que constavam as expressões "puta que pariu" e "bundando", além de um trocadilho besta feito em torno da palavra "peru", saíram propositadamente arranhadas impossibilitando sua audição natural.
Isso ocorreu, como se vê, três anos antes do ciclo militar expirar. Curiosidade: em 1983 as duas faixas vetadas do LP da Blitz foram lançadas à praça num compacto simples. Sem problema nenhum. E também nenhum problema ocorreu quando lançadas em fita K7, em 1982.
Essa história ganhou as páginas do livro As Aventuras da Blitz, em 2009, e dez anos depois o documentário Blitz, o Filme.
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Cacá Lopes com sua maleta de cordéis |