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sábado, 5 de março de 2022

BLOCOS DE CARNAVAL, A ALEGRIA DO POVO


Foram os invasores portugueses que trouxeram o Carnaval para o Brasil. À época, o Carnaval não era como o Carnaval que hoje conhecemos. Entrudo era assim chamado.
Na biblioteca pública da cidade portuguesa do Porto, encontrei muitas referências sobre o Entrudo.
Era um horror o Entrudo, uma brincadeira de extremo mau gosto. Até mijo e merda eram atirados nas pessoas.
Dom Pedro I, no primeiro momento identificado curiosamente como “anarquista”, gostava do Entrudo. Incentivava o Entrudo.
No Brasil, o Entrudo durou até 1930 ou 40. Por ali.
O Entrudo foi abolido do Carnaval quando começaram a surgir as primeiras escolas de samba. A primeira, Deixa Falar, delineou-se como tal em 1928. Um dos seus fundadores foi o compositor Ismael Silva (1905-1978).
Antes da primeira escola de samba, surgiram cordões, ranchos e blocos.
Os cordões e ranchos já não existem no Brasil e em lugar nenhum no mundo.
Atualmente há mais de 500 blocos carnavalescos, no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, o número de blocos carnavalescos chega à casa dos 700.
O Bola Preta, carioca, existe há mais de 100 anos.
Tanto no Rio quanto em São Paulo, há blocos de Carnaval surgindo todos os anos.
Um dos blocos cariocas mais novos, digamos assim, é O Rabugento.
O Rabugento é um bloco que surgiu pra encher o saco de muita gente, como geralmente o são todos os blocos. Os blocos são a alegria do povo.
Em 2010, o Rabugento ocupou ruas e avenidas do Rio com uma belíssima letra (e música) assinada pelo porralouca carnavalesco Manoel Gomes, autointitulado O Audaz. A letra:

BLOCO DO RABUGENTO 2010
ENREDO: OS RABUGENTOS DA CULTURA
AUTOR: MANOEL GOMES, O AUDAZ


I
Nós somos o Rabugento,
O bloco que não tem frescura,
E vamos homenagear
Os rabugentos da cultura

IIGente que não se curvou
Ao que o Rei mandou
E fez valer sua vontade
E, por manter essa coragem,
nossa homenagem
se faz em nome da verdade

III
O velho Nelson percebeu
A burrice da unanimidade
Os idiotas da objetividade
E arrasou com o senso-comum (mais um?)

IV
Nas quatro linhas do gramado
ninguém piava com saldanha
Que cometeu grande façanha
desafiando o ditador

V
Oswaldo Nunes e Satã
Brigavam com afã
Comendo macho na porrada
Valente essa rapaziada
sem medo de nada
Que em nossa História despontou

VI
Bezerra, porta-voz do morro.
Com seu “sambandido”
O candidato execrou
Intérprete era Jamelão
Que não se conformava
Com a palavra “puxador”

VII
E também tem o Tinhorão
Que sempre disse não
A toda influência gringa
E o Rabugento com sua ginga
Entra na avenida
No maior descaramento
denunciando as pilantragens
E as sabotagens
Da indústria do entretenimento


O jornalista e historiador José Ramos Tinhorão (1928-2021), foi o grande homenageado — E que homenagem! — naquele ano de 2010. Até uma camiseta foi feita em seu louvor.
Tinhorão entrou pra história como uma das mais brilhantes inteligências do nosso País. Antes dele, costumo dizer, que não havia uma bibliografia da nossa música popular. Ele a fez.
Os blocos de carnaval pululam alegremente no Brasil. São milhares.
Em 2010 surgiu na Capital paulista o Urubó.
Urubó “é o urubu da Freguesia do Ó”, define rindo, sarcasticamente, o cantor, compositor e instrumentista Jarbas Mariz. Ainda ele:

“O Urubó é o meu bloco do coração. Nasceu na Freguesia do Ó, Zona Norte da Capital paulista e faz um verdadeiro carnaval com marchinhas e canções de todas as épocas: Mocotó, Passoca, Carioca, Pedro, Carol, Odo, Rodrigo e tantos e tantos amigos do bloco, são a alegria mais completa do nosso Carnaval. Em 2020, mais de 100 mil foliões dançaram, pularam no nosso bloco”.

Na madrugada última madrugada de segunda para terça-feira, Jarbas concluiu mais uma belíssima música em homenagem ao bloco de sua predileção: NESSE CARNAVAL
Para Jarbas a pandemia provocada pelo novo Coronavírus pouco ou quase nada interferiu “na nossa alegria".
Pra Jarbas, “não seria ou será uma pandemia de meia tigela que iria, ou irá, acabar com a nossa festa”.
Eu, por mim, defino a pandemia provocada pelo novo Coronavírus como uma merda.
Em 2016, 3 anos depois de a luz dos meus olhos se apagarem, compareci ao estúdio da rádio CBN para falar a respeito do nosso Carnaval e origens. Ouça: 
 
 
O cartunista paulista Fausto Bergocce fez uma pintura muito especial para esta coluna. Sinto-me honrado.

LEIA MAIS: CARNAVAL SEM POVOHISTÓRIA DOS VELHOS CARNAVAIS

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