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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

MAIS UMA ESTRELA NO CÉU: LUCAS EVANGELISTA

 

Pouco antes de sair de casa, ontem a noite, para prestigiar o lançamento de um livro na cidade onde mora, Fortaleza, o craque do traço e do cordel cearense, Klévisson Viana, deu de garra do telefone pra me ligar e disse: "Compadre Assis, nosso amigo, Lucas Evangelista, morreu".
Só não caí de mim porque estava absorto, ouvindo a leitura de mais um dos tantos livros que curto no dia a dia.
Eu conheci Lucas, cordelista e poeta repentista, durante apresentação num palco do I Festival Internacional de Trovadores e Repentistas, realizado em agosto de 2008, no sertão meridional do Ceará.
Klévisson juntou amigos e com eles acaba de escrever e publicar um folheto em homenagem ao grande e expressivo artista da nossa cultura popular: Lucas Evangelista.

LEIA:


HOMENAGEM AO MESTRE LUCAS EVANGELISTA

(Obra Coletiva)


A poesia entristecida

Chora a morte de um artista

Referência em nossa arte

Um genial cordelista 

E a musa mandou mensagem

Pra prestarmos homenagem

A Lucas Evangelista.


Artista que o povo tem

Um carinho especial 

Foi ele autor consagrado

De ‘A Carta do Marginal’ 

O Brasil todo conhece

Tem respeito e enaltece 

Seu talento magistral.


No seio de sua gente

Foi artista consagrado

Era Mestre da Cultura 

Do Ceará, nosso Estado

Nas páginas da poesia

Cordel, livro e antologia

Pra sempre será lembrado.


Pra Canindé, todo ano

Ia para romaria 

Na Festa de São Francisco 

Mostrava sua poesia

Cheia de belos roteiros 

Para encantar os romeiros

Com brilho, encanto e magia.


Sabia escrever histórias 

Bem ao agrado do povo

Para toda ocasião 

Tinha sempre um cordel novo 

Grande artista popular 

Fazia rir e chorar

Ganhando palmas e aprovo.


Quem desconhece as histórias 

Do nosso cancioneiro,

Tenta negar o passado,

Escrevendo outro roteiro,

Despreza nossa cultura

E joga a Literatura 

De Cordel num atoleiro.


Essa ilusão transitória

É o abrigo tumular

De quem, mesmo vivo, morre

Sem nada de bom deixar.

Portanto, mudando o tom,

Afirmo que se algo é bom,

Nada consegue matar.


João Lucas Evangelista,

Nosso bluesman nordestino,

Deu voz a quem voz não tinha,

Fez da sua obra um hino.

Nas cruzadas dos martírios,

Converteu espinho em lírios,

Foi senhor do seu destino.


Legou cordéis e baladas

Numa monumental saga,

Como um rio caudaloso

Que as ipueiras alaga;

Partiu, porém, permanece,

Seu legado prevalece,

Pois nem o tempo o apaga.


Lucas da Bíblia nos fala

Sobre Cristo o galileu,

Evangelista é aquele

Que um evangelho escreveu,

Nosso Lucas, cordelista

O nome de evangelista 

Colocou no nome seu.


Crateús no Ceará 

Foi sua terra querida,

Deixou seu berço natal

Para o mundo fez partida,

E fez com força inaudita 

Nossa poesia escrita

Ter fama reconhecida.


Lucas foi artista múltiplo

Foi músico e cordelista,

Grande mestre da cultura,

Escritor e repentista,

No Brasil em qualquer parte

Não há quem supere a arte

De Lucas Evangelista.


Assim como toda vida

Tem o seu ponto final

Lucas parte nos deixando

Uma saudade imortal,

Aqui deixou sua história,

Foi para o trono da glória,

A Corte Celestial.


O Lucas Evangelista 

Foi um grande inspirador 

Além de ser cordelista

Foi poeta cantador 

Mestre da nossa cultura

Que lutava com bravura 

Dignidade e fervor .


Aqui na Terra ele foi 

O menestrel da canção 

Escrevia seus cordéis 

Com bastante inspiração

Foi um vate valioso 

Um poeta primoroso 

De toda sua geração. 


Nosso cantador querido 

Para outro plano partiu, 

Mas sabemos que sua arte

Por todo o mundo expandiu

Conquistar toda uma gente 

Através do seu repente  

Nosso Lucas conseguiu.


O mundo dos Cordelistas 

Acordou entristecido 

Com a notícia que o Mestre 

Lucas havia morrido.

João Lucas Evangelista 

Foi um grande Cordelista,

Famoso e reconhecido!


Ao Lucas Evangelista 

Segue o póstumo tributo.

Meu mestre você será 

Vate sem substituto. 

Partiu pro reino Celeste 

E hoje este discípulo veste

O triste manto do luto!


João Lucas Evangelista 

Foi um grande menestrel 

Criou histórias e músicas,

Na arte fez seu papel.

Feito um grande timoneiro 

Rodou o Brasil inteiro 

Divulgando seu cordel.


Hoje a musa do cordel,

Vestiu seu traje de luto,

Pois Lucas Evangelista,

Poeta versátil, astuto.

O Mestre imortal, decano

Foi versejar noutro plano,

Num elevado reduto!


Um vate quando nos deixa

Voltando a casa do Pai

Deixa imensa saudade,

Mas sua história não vai

Assim nosso cordelista

João Lucas Evangelista

Sua lembrança não sai.


Percorreu nosso Brasil

Essa importante figura

Do Nordeste ao Sudeste

Lucas com literatura

Tocava linda canção

Levando assim emoção

De maneira bem segura.


Fez da arte o seu viver

Emocionando o povão

Com "Carta de um Marginal"

Bem feita composição

Mostrando a realidade

Da tal marginalidade

Que envergonhava a Nação.


Foi chamado pelo Pai

Pra sua Santa Morada

Lá no Céu, Evangelista,

Cumprirá nova jornada

Viverá novo rojão

E cantará seu baião

De forma bem animada.


Partiu um grande poeta

Mestre no verso e viola

Levou consigo um ensino

Que não se ensina em escola

Levou a chuva e o tostão

Mais um Mestre do sertão

Levou cheia sua sacola.


Com nome forte e profundo

Discípulo do salvador

Lucas, o Evangelista

Lavrou a terra com amor

Plantando sua poesia

Fez chover paz e harmonia

Com seu pinho de valor.


Despedimo-nos chorosos,

De Lucas Evangelista,

Poeta, compositor,

Violeiro, repentista,

Da arte, divulgador,

Folheteiro, cantador

E afamado cordelista.


Autor de ‘Um tostão de chuva’,

De “A carta de um marginal”,

“Foronfonfom”, “Mototaxi”,

Legado exponencial!...

Sem sequer se despedir

Partiu para residir

Na pátria celestial. 


Muito vasta e conhecida,

Sua produção reluz, 

Sendo merecidamente

Aclamado como um dos

Aedos de maior claque

E um dos nomes de destaque

Das artes de Crateús.


Um exemplo de amigo,

Probo chefe de família, 

Semeador de amizade,

Aparador de quizília.

Em Crateús foi nascido,

Mas tornou-se conhecido

Quando morou em Brasília.


O bardo abraçou a sorte

Como vira-mundo, errante;

Foi nas feiras nordestinas

Uma presença marcante

Com sua lira primorosa

Na fase áurea e saudosa

Do poeta itinerante.


Por esse Nordeste imenso

De feira em feira atuou,

E nas praças da Ceilândia

Diversas vezes cantou.

Lá ainda tem família,

Pois o poeta em Brasília

Por doze anos morou.


Nas feiras, com sua Kombi,

Ele chamava atenção

Cantando suas toadas,

Tocando seu violão,

Ouvindo as canções bonitas

Pra comprar cordéis e fitas

Juntava uma multidão.


Entre as canções mais tocantes

Nascidas de sua pena

Cito “Filho de cigano”,

E, de comovente cena,

“Canção do sentenciado”

E outro clássico afamado

Que é “Lembrança de Helena”.


É grande a lista de títulos

De cordéis que publicou.

Cinco LPs, muitas fitas

E CDs também gravou;

Viveu pra se eternizar,

Sua arte singular

Nossa cultura marcou.


Foi Lucas Evangelista 

Grande mestre da canção 

Divulgador incansável 

Da popular tradição

Com sua arte soberana

Cantou sobre a lida humana 

Em cada composição.


Em "Carta de um marginal"

Expos uma triste história 

Assim eternizou um 

Exercício de memória 

A dor de um excluído,

Um malfazejo e sofrido,

Versando uma vida inglória.


Andarilho da poesia 

Com suas letras e voz

Lucas foi fonte fecunda

Jorrando versos à foz

Inspirou, foi referência,

Um vate de excelência 

Grande exemplo para nós!


Deixa saudades o Mestre 

De violão ritmado,

Porém na Corte Celeste

O Sarau "tá preparado!"

Pra celebrar sua vida

A sua missão cumprida

E o seu imenso legado!


Herdando o nome do santo

Que a palavra ‘desdobra’

O poeta Evangelista

Com as rimas de sua obra

Em sua vida fecunda

De poesia profunda

Mostrou talento de sobra. 


A inspiração veio cedo

Dos antigos menestréis

Violeiros, cantadores

Que declamavam cordéis

E as historias dos seus pais

Bem guardadas nos anais

Galopa ainda corcéis.


À cultura popular

Deu asas e deu alento

Conseguiu com sua arte

Garantir o seu sustento

Foi do romance ao forró

Até em cobra deu nó

E conseguiu seu intento.


Parte com missão cumprida

Sua obra ficará

No ‘rela bucho’ ou cordel

Muito além do Ceará

Viaja como Asa Branca

Sua rima alegre e franca

Sempre lembrada será.


Meus versos fazem homenagem

A um mestre da tradição,

É Lucas Evangelista,

Da cultura e do sertão.

Cantou com alma e viola,

Rima que encanta e consola,

Nos tocando com emoção.


Nas praças fez poesia

De Crateús para o mundo.

Sua voz e seu repente

Ecoaram tão profundo.

Que até no céu seus cantares

São eternos, nos altares,

Como um legado fecundo.


Foi um mestre de talento,

Na viola ao improvisar.

Nos folhetos e cantigas,

Fez o povo se encantar.

Na sua arte divina,

Cada verso se destina

A nunca se apagar.


Sua lira continua

Brilhando na imensidão.

E nós, que aqui ficamos,

Guardamos sua emoção.

Lucas vive na memória,

Imortal pela história,

Eterno no coração.


Um grande prazer na vida

Foi conhecer Evangelista

Um cantador de viola

Que nunca perdeu de vista

Levar pelo mundo afora

A alegria a toda hora

Era um poeta ativista.


Conheci Evangelista

Pela José de Alencar

Sua belina e radiadora

Fazia o povo parar.

Pra degustar do seu verso

Que atingia o universo

De um sublime poetar.


A bênção, poeta Lucas,

Nosso Mestre da Cultura

Que levou sertão afora

Com tanta desenvoltura

A cultura popular

Que só tem neste lugar

Por ser terra de bravura...


Como um trem, com longo apito,

Deslizando sobre o trilho

Partiu o poeta Lucas

E Crateús perde um filho.

Foi um poeta impoluto,

A poesia está de luto

E o cordel perdeu o brilho.


As folhas verdes da mata

Da Caatinga nordestina,

Que já nas primeiras chuvas

Vertem água cristalina

Choram por Evangelista,

Poeta e grande artista

De rima afiada e fina.


João Lucas Evangelista

Foi um poeta gigante.

Seu cantar ultrapassou

A fronteira mais distante.

Na viola ou no papel

Seu poema de cordel

É marca muito importante.


Mas, Lucas Evangelista

Encanto-se, não morreu.

Teve recital no céu.

Como a musa prometeu,

A alegria foi completa

Com a chegada do poeta

Uma grande festa deu.


Ninguém viveu a cultura

Do jeito que ele viveu

Na sua época o cordel

Ficou mais forte e cresceu 

O poeta de Crateús

Foi mostrar para Jesus 

A rima do verso seu.


E por isso digo eu,

Digo sem pestanejar,

Nesta arte tão bonita

Da gente vivenciar

Que Lucas Evangelista 

Deixou como cordelista

Um nome pra respeitar.


Lucas nasceu com a viola

Desenhada na sua mente

Cresceu e desenvolveu

O verso como semente 

No terreno que plantou

A poesia se espalhou

Com a viola e o repente.


Tive o prazer de aplaudir

Este grande repentista

Agora foi para cima

Nosso amigo cordelista.

Deixando a sua história 

Presa na nossa memória 

No nosso quadro de artista.


Mestre Lucas foi um vate 

Do nosso tempo atual; 

Um Aedo – nosso Orfeu...

Referência nacional 

No romance de cordel

Excelente menestrel 

Na canção tradicional. 


A “Carta de um Marginal” 

Ficou sem o seu autor 

Nós ficamos sem o mestre,

No peito tristeza e dor!

Quem seus cordéis cantará?

Nas feiras do Ceará 

Tá faltando um tocador.


Quem irá cantar a dor 

Daquele povo sofrido...?  

O inverno; a invernada 

Ou o sertão ressequido 

Ou mesmo ler um cordel

Narrando história fiel 

Do último fato ocorrido? 


Aqui, de peito partido

Sou eu quem registra o fato... 

Da partida do herói 

Que destino tão ingrato! 

Bastante triste fiquei

Mas pra vida eterna, eu sei, 

Ninguém assina contrato...


Lucas será “sempre vivo”,

Pois além de seus talentos

Também gerou quatro filhos,

Sua prole, seus rebentos,

Gente que ama a cultura,

Sua geração futura,

Frutos de dois casamentos.

Lucilane, Luciléa,

Linda Léa e Márcia Linda,

Estes filhos, com certeza,

Farão a linhagem infinda.

Sua vida foi completa

E a memória do poeta

Viverá bem mais ainda!


FIM


Autores: Mestre Geraldo Amâncio Pereira, Evaristo Geraldo da Silva, Paulo de Tarso, Paola Tôrres, Dideus Sales, Julie Oliveira, Paiva Neves, Pádua de Queiroz, Gerardo Pardal, Vânia Freitas, Rosinha Miguel, Tião Simpatia, Rouxinol do Rinaré, Rafael Brito, Marco Haurélio, Arlene Holanda e Klévisson Viana

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