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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

EU E MEUS BOTÕES (35)

Chefe...!
"Iiiiihh, lá vem ele de novo", cochichou Biu ao pé do ouvido do irmão Barrica. E Barrica, respondendo quase sem abrir a boca: "Pelo jeito ele gostou de chamar a atenção da gente, quando disse que acompanhou o debate entre os caras e as caras que querem ser presidente do Brasil".
"Chefe! Chefe! O Lula se saiu mal no confronto com o Bulsa, mas agora ele começa a falar pelos cotovelos. Diz que vai criar, ou recriar, um monte de ministérios. Até o do Índio, do Planejamento, dos Direitos Humanos, da Pesca. Uns oito, pelas minhas contas", falou com voz grave o velho Lampa deixando de lado, surpreendentemente, o seu inseparável punhal. E falou o que falou olhando nos meus olhos com aqueles olhos meio amarelados, feios e até temerosos para uns. "O que é que o chefe acha disso? Criar ou recriar ministérios é uma boa, é uma boa para o povo, para nós?", perguntou olhando pausadamente para seus companheiros.
"É! O que é que o Sr. acha do Lula, seu Assis?", entrou na conversa o bom Mané.
"É! O que o sinhô acha disso? O Lula está no lugar certo?", emendou Jão.
Quando eu ia dizer o que acho de Lula e dos demais candidatos, fui interrompido pelo ilustrado Zilidoro: "Acabo de ouvir no rádio a primeira dama, Michelle, falar que vivemos uma tal 'guerra espiritual'. Afe! O que venha ser isso?".
Bom pessoal, é nessa hora que o bicho pega. Todos querem chegar ao poder e pra chegar ao poder fazem tudo, qualquer coisa... Aliam-se a Deus e ao Diabo. Aliás, Deus é o nome mais clamado pelos candidatos e até pelos ateus. Os evangélicos são disputados pau a pau por Lula e Bolsonaro. Mas há um detalhe: Bolsonaro não gosta de mulher, tenha ela a religião que tiver...
"Bolsonaro é viado!", descontrolou-se Barrica. Calma, calma. Política é coisa séria, no mais é condenável qualquer baixaria. Mantemos a linha, o bom diálogo. É isso, pessoal.
"É, é isso mesmo! Lembro de uma fala que muito me marcou. Foi na campanha de Dilma pra sua reeleição. Ela disse que 'em campanha a gente faz miséria'", interrompeu-me Zé. 
Estou acompanhando o que é possível acompanhar nessa campanha dos candidatos aos diversos cargos. O Lula tem falado bastante. Falado o que não falou no debate que a Bandeirantes promoveu domingo 28 passado. O Lampa tem razão, já são uns oito ministérios que Lula promete criar ou recriar. Mas isso é o de menos, o importante é fazer um governo que atenda a todos nós, independentemente da ideologia de cada um. Não custa lembrar que o radicalismo de esquerda ou de direita não faz bem à Nação, seja qualquer nação.
Aparentemente satisfeitos com a minha resposta, Lampa e Zilidoro bateram palma e em uníssono todos disseram: "Muito bem! Muito bem!".
Agora,  eu recomecei: o que não tenho ouvido falar foi a recriação do necessário Ministério da Cultura. Bolsonaro acabou com tudo e pelo jeito ele detesta cultura e de quem não gosta dele...
Atento, Lampa deu de garra do seu punhalzinho e começou a cutucar as unhas, nervoso. Olhou pra mim e para os outros, vagarosamente, e nada disse. Olhou-nos de novo, limpou o punhal na calça e em seguida o enfiou nos quartos. Fez menção de falar, mas não falou. Passou a mão na cara e deu um peido.
De repente todos riram. 
Zoião pediu a palavra e opinou: "O Lampa é uma besta!".
"Besta é a sua mãe!", reagiu Lampa, olhando feio pra Zoião. 
Calma Lampa! O que é isso? Aqui ninguém tem o direito de xingar ninguém, tampouco mãe. Mãe é sagrada. Mãe é um ser sagrado!
Meio envergonhado, naquele seu jeito bruto de ser, Lampa pediu desculpas.
O papo está bom, mas já que indiretamente falei de cultura, não custa lembrar que hoje 31 de agosto faz 27 anos da morte de Agepê, 29 anos da morte de Isaura Garcia e 50 anos da morte da paulista Dalva de Oliveira. A Dalva foi uma das mais belas vozes que já tivemos. Era casada com Erivelto Martins e mãe de...
"Pery Ribeiro! Pery Ribeiro! O Pery foi um grande cara! Um grande cantor, um grande artista!", interrompeu-me exultante o poeta Zilidoro, acrescentando: "E se não estou enganado, hoje 31 é dia do aniversário de nascimento de Jackson do Pandeiro e de Emilinha Borba".
Muito bem, seu Zilidoro. Isso mesmo! E pra encerrar nosso papo lembro que o paulista de Tietê Ariowaldo Pires, o Capitão Furtado, nasceu também no dia 31 de agosto de 1907. Cheguei a entrevistar o Pery Ribeiro. O Pery foi o primeiro artista a gravar Garota de Ipanema. Vamos ouví-lo?

terça-feira, 30 de agosto de 2022

EU E MEUS BOTÕES (34)

Chefe!, começou gritando pra minha surpresa o sempre caladão e arredio Lampa, deixando o seu punhalzinho de estimação de lado. Prosseguiu ele: "Eu acompanhei o debate entre os cabras e duas mulheres que desejam ser presidentes do Brasil. Foi fraco. Não gostei, pois poderia ter sido melhor. Depois li o que o sinhô escreveu a respeito do debate na Bandeirantes. Eu pergunto: o sinhô odeia o Bolsonaro?".
Os demais botões da casa entraram numa espécie de convulsão, surpreendidos com a fala direta e reta do velho Lampa.
Zilidoro depressa pediu a palavra: "Curioso, eu estava com vontade de fazer essa mesma pergunta, porque outro dia li um poema do seu Assis sobre o atual presidente. Não gosto do presidente e gostei do poema que começa falando da irresponsabilidade do presidente que deu banana ao povo e tirou sarro de quem estava sofrendo vítima do novo Coronavírus. Um horror!".
Barrica ficou interessado no poema e pediu que Zilidoro o declamasse. Sem delongas, Zilidoro começou: 

Já não são quinhentas mortes
Já não são quinhentas mil
A desgraça toma corpo
No coração do Brasil

Não são mortes naturais
As mortes de Silvas e Bragas
São mortes provocadas
Por vírus, pestes e pragas

Praga viva inda mata
Homem, menino e mulher
Mata completamente
Do jeito que o Bicho quer

Maldito Coronavírus
Que pega e mata gente
O Brasil está morrendo
Nas garras do presidente

Presidente também morre
De morte matada ou não
Lugar de quem não presta
É lá no fundo da prisão!

A cadeia te espera 
Presidente matador 
Quem apanha hoje é caça
Amanhã é caçador 
 
"Chefe! Mas o sinhô até agora não me disse se odeia ou não o Bulsa, como diz o Zoião: o sinhô odeia ou não esse cabra?", pressionou-me Lampa, a quem imediatamente respondi: Não, não odeio ninguém. Não tenho essa capacidade de odiar. Não odeio ninguém. Quem odeia corre o risco de sofrer como o odiado. Tudo que desejo é que um presidente faça bem à Nação tomando medidas benéficas e necessárias a todos.
Meus botões, todos, disseram "urraaa!".
Biu perguntou-me se eu acompanhei o debate com os presidenciáveis. Respondi afirmativamente, mas concordo com Lampa: foi fraco. Esperava mais.
Zé e Jão disseram que estão inclinados a votar no Ciro. Mané disse também que, talvez, vote no Ciro. "Acho o Ciro muito enrolado, fala uma linguagem meio doida", disse Zoião.
Finalizando, Lampa contou que ouvira há pouco no rádio notícia dando conta de que o Congresso está prestes a decidir a questão sobre eleitores que poderão ou não adentrar à cabine de votação armados. E opinou, com firmeza: "Sou contra! A arma do eleitor é o voto e não um revolver". 
Ante a fala de Lampa, todos os botões se levantaram e bateram palmas. 
E ainda pediram que eu compartilhasse um vídeo intitulado Presidente sem Noção, que fiz há algum tempo. Este:

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

MENTIRAS NO DEBATE


Iniciado pontualmente às 21h, o debate político que reuniu Felipe, Soraya, Simone, Ciro, Bolsonaro e Lula foi bastante proveitoso. Embora meio morno, transmitiu aos telespectadores e ouvintes o pouco que se passa na cabeça dos postulantes ao cargo de presidente da República.
Por instantes, Bolsonaro agitou-se. Fez o que faz com maestria: mentiu do começo ao fim. Sua cara de pau foi visível até ao mais cego dos humanos. O cabra não presta, mesmo.
Lula, mergulhado no passado, em nenhum momento mostrou ideias novas. Faltou clareza, inclusive quando foi questionado sobre atos de corrupção no tempo em que foi presidente. Em determinados instantes agitou-se também, que nem o seu principal adversário ao Planalto. Camaleão.
Simone marcou presença, falando com firmeza. Lembrou que já fora prefeita do lugar onde nasceu. E vice-governadora também. Exibiu ideias, muitas delas direcionadas à mulher. Surreal, em alguns pontos.
A Soraya foi feijão com arroz. Nada acrescentou.
Felipe, boçal, não desistiu em nenhum momento da ideia fixa de privatizar tudo. Até o ensino público. Que coisa!
O paulista Ciro Gomes, firme, exibiu ideias para um eventual governo. Baseou-se o tempo todo nos exemplos que deixou no Ceará, à época que governou o Estado.
O debate promovido pela rede Bandeirantes de rádio e televisão não decepcionou. Grosso modo, foi positivo. 
Dividido em três blocos, o debate teve a mediação de, primeiramente, Eduardo Oinegue e Adriana Araújo; de representantes do "pool" de empresas jornalísticas; de Fabíola Cidral, do UOL e de Leão Serva, da TV Cultura.
Bolsonaro e Lula saíram menores do encontro, que durou cerca de três horas.
Ah! Sim: ao fim do encontro, Bolsonaro fugiu dos jornalistas que o aguardavam à saída da Band.

QUE NÃO HAJA FUJÃO NO DEBATE DA BAND!

Eu e os brasileiros estamos ansiosos para acompanhar o debate entre os principais concorrentes à cadeira de presidente da República neste ano de 2022. Será daqui a pouco, às 21 horas. 
Serão seis os presidenciáveis convidados pela direção de Jornalismo da rede Bandeirantes de rádio e televisão. Estes: Lula (PT), Bolsonaro (PL), Ciro (PDT), Simone (MDB), Soraia (União Brasil) e Felipe (Novo).
A Bandeirantes iniciou a série de debates políticos em 1982. À época, o debate foi entre candidatos ao governo de São Paulo. 
Em 1989, a Band iniciou o debate com presidenciáveis. A mediação coube à competentíssimo Marília Gabriela.
O Brasil está no poço e temos, é certo, boas opções para nos livrarmos de um desastre maior, cujo resultado só Deus sabe.

sábado, 27 de agosto de 2022

A HISTÓRIA DOS JINGLES POLÍTICOS NO BRASIL

Na Música Popular Brasileira se acha tudo, ou quase tudo, do que ocorreu no nosso País desde que nas nossas terras desembarcaram os primeiros dominadores estrangeiros. Falo do primeiro navegador português: Duarte Pacheco, que chegou à costa maranhense na virada do século 15.
Na nossa música popular se acha a fuga de Dom João VI de Portugal para o Brasil.
Na nossa música também se acham as estripulias sexuais de Pedro I, que tinha 35 anos em 1834 quando morreu.
Os mais variados assuntos referentes ao nosso País podem ser encontrados.
Com todas as letras, os dramas de homens, mulheres e crianças escravizados estão na pauta da MPB.
Inclusive a queda de Pedro II, sua partida para o exílio e o golpe militar que levou ao poder o alagoano Deodoro da Fonseca, em 1889.
A partir de 1889 deu-se início a República, cuja primeira parte chamada de velha findou com o golpe que derrubou Washington Luís e impediu que Júlio Prestes assumisse a Presidência, em 1930.
Em 1922, o rádio engatinhava no Brasil.
Em 1929, as pouquíssimas emissoras de rádio recebiam o primeiro disco com um jingle político: Seu Julinho Vem, uma marchinha assinada por Freire Júnior, interpretada por Chico Alves.
O jingle fez um sucesso danado. E o fato é que Júlio Prestes ganhou a eleição com quase 1,1 milhão de votos, quase o dobro recebido por Getúlio Vargas.
Inconformado com o resultado da eleição, Vargas liderou um golpe de Estado apoiado pelos governadores do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba.
Não podemos esquecer que o paraibano João Pessoa formou a chapa de vice de Getúlio.
Eu não entendo uma coisa: por que o golpe de 1930 é chamado de revolução?
Depois do jingle da campanha de Júlio Prestes, muitos outros foram feitos.
Getúlio Vargas ficou no poder durante 15 anos seguidos. Obrigado a renunciar, renunciou para não ser deposto sob armas. Isso ocorreu em 1945. No seu lugar, assumiu o marechal Eurico Gaspar Dutra.
Cinco anos depois, em 1950, mais uma marchinha (Retrato do Velho, de Haroldo Lobo e Marino Pinto; gravado por Chico Alves) ajudaria Getúlio a voltar ao poder. E voltou. E do poder só sairia morto, com um tiro no peito.
Substituiu Getúlio o seu vice, Café Filho.
Corria o ano de 1954.
A cada eleição aumentava o número de jingles.
Ganharam bonitos jingles Prestes Maia, Rogê Ferreira, José Bonifácio, Ademar de Barros, Jânio Quadros e seu vice, João Goulart.
Já na chamada Nova República, que começou com o fim da ditadura militar, os jingles feitos para ajudar Lula e Dilma a ganhar as eleições foram marcantes: Lula-lá e Coração Valente.
O jingle que ainda permanece vivo na memória popular é Varre Varre Vassourinha, Maugeri Neto.

Varre, varre, varre, varre vassourinha!
Varre, varre a bandalheira!
Que o povo já 'tá cansado
De sofrer dessa maneira
Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!
Jânio Quadros é a certeza de um Brasil, moralizado!
Alerta, meu irmão!
Vassoura, conterrâneo!
Vamos vencer com Jânio!


São muitos os artistas famosos que interpretaram e ainda interpretam jingles políticos. Entre esses Luiz Vieira, Jorge Veiga, Luiz Gonzaga (abaixo), Carmélia Alves (abaixo), Dircinha Batista, Isaurinha Garcia, Elizeth Cardoso e até o flautista Altamiro Carrilho.
Roberto Carlos subiu várias vezes ao palco para puxar votos para o empresário José Ermínio de Moraes, à época em que se candidatou ao governo de São Paulo em 1986.
O cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos também deixou sua marca em campanhas políticas. Esteve a serviço, por exemplo, de Fernando Henrique.
Curiosidade: o baião Paraíba, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, surgiu originalmente como jingle político gravado pela primeira vez por Emilinha Borba.
 
 
Dos quase 40 presidentes que o Brasil já teve, oito deles eram vice.
Os vices presidentes que assumiram a Presidência foram Floriano Peixoto, Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.
A campanha política de 2022 já está a todo vapor.
Segunda 22/8, Bolsonaro foi sabatinado no Jornal Nacional, por William Bonner e Renata Vasconcellos. No mesmo jornal de terça 23, o sabatinado foi Ciro Gomes. Na quinta 25, Lula. E sexta 26, Simone Tebet.
Na mesma sexta 26, começou a campanha política no rádio e na televisão.
O primeiro debate reunindo presidenciáveis está marcado para a noite do dia 28, na TV Bandeirantes, mas há dúvidas quanto à presença de Lula e Bolsonaro.
Os jingles de Bolsonaro, Lula, Ciro e Simone são, musicalmente, uma bobagem.
Os responsáveis pela campanha de Bolsonaro foram buscar o sertanojo para embalar bobagens referentes ao candidato. O pessoal de Lula foi buscar o forró de plástico, forró eletrônico. Um horror!
Ciro está sendo representado em jingle na forma de pagode. Ai, ai, ai. Pior: Simone vem com sertanejo feminino.
O que é isso de “sertanejo feminino”?




Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

EU E MEUS BOTÕES (33)

O Biu adentrou na sala da casa correndo, esbaforido. Disse, atropeladamente, que um carro com a bandeira do Brasil e um monte de policiais estava se aproximando. "O que é isso, você está ficando doido?", perguntou Jão. Quase sem fôlego, resfolegando, Biu completou: "Sei não, mas acho que eu ouvi uns pipocos, uns tiros, uma coisa dessa".
O irmão de Biu, que é o Barrica, caiu na risada: "Vai ver que é o Bolsonaro chegando aí pra mais uma motociata".
De fato era o presidente que se aproximava com a sua trupe espalhafatosa para mais uma passeata sobre motos. "Hmmm...", resmungou Lampa de lá do seu canto, lambendo seu punhalzinho de estimação.
Bom, pessoal, vamos ao que interessa: Eu quero saber de vocês o que acharam das entrevistas que a Globo está fazendo com os presidenciáveis.
Zilidoro levantou a mão e disse: "Achei fracas as entrevistas com o Bulsa, Ciro e Lula. Hoje tem a Simone Tebet. À propósito, gostei muito da sabatina a que ela foi submetida na rádio CBN. Foi ontem 25. Disse coisas ótimas. Ela é afinada e diz perfeitamente coisa com coisa".
Mané ouviu a fala de Zilidoro, concentradamente. E disse: "Eu ouvi a sabatina. Coisa de alto nível. Tranquila e objetiva é a Simone". Zé emendou: "E o legal também é que a chapa dela, à presidência, é formada por outra mulher".
Zoião levantou-se do tamborete onde estava sentado e bateu palmas: "Perfeito! E o legal é que a vice da Simone é uma cadeirante chamada Mara Gabrilli, é senadora por São Paulo. Cabeçona!".
Muito bem, gostei do que disseram sobre a vice pretendida de Simone Tebet e o detalhe é que nunca na história do Brasil houve uma chapa formada apenas por mulheres. Vejo isso com bons olhos, mas quero saber também o que acham de Bolsonaro, Ciro e Lula.
Novamente Zilidoro levantou a mão, mas Barrica foi mais rápido e disse: "Na primeira entrevista da série com presidenciáveis no Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcelos pareciam pisar em ovos ao formularem perguntas ao presidente, que a princípio parecia também esquisito...".
Zilidoro interrompeu a explanação de Barrica, dizendo: "Esquisito? O cara é esquisitíssimo, horroroso! O lugar dele é na lata de lixo da história".
"Eu não gostei nem um pouco da entrevista com o Bulsa. Nem amarrado eu votaria nele. Agora quanto ao Ciro... O Ciro é invocado e fala uma fala de difícil compreensão para nós reles mortais", disse enfaticamente o Mané.
Foi a vez de Jão bater palmas, concordando plenamente com o que dissera Mané.
Zoião espichou seu olhar em direção ao Lampa e, sem se conter, falou alto: "Eu concordo com tudo o que foi dito até agora neste nosso ambiente democrático sobre os presidenciáveis. Mas e o Lampa, o que Lampa acha disso tudo?".
Devagarzinho Lampa abriu os olhos, resmungou, enfiou o punhal nos quartos e deu um pulo: "Eu to ouvindo tudo, mas não vi entrevista nenhuma na TV. Aliás nem sei se vou votar. No dia 2 de outubro nem sei onde vou estar, talvez caçando algum feladaputa por aí!".
Calma Lampa, calma, eu disse, aquiete-se homem. Você parece estar sempre com raiva do mundo todo!
Diante da minha fala amigável, Lampa voltou ao tamborete dizendo: "Eu não tenho raiva do mundo, eu tenho raiva é de quem não presta. E esse tal Bulsa, não presta!". 
Zoião deu uma risada e disse: "Lampa gosta é do Lula!".
De novo ocupando o tamborete, Lampa levantou uma sobrancelha e sem querer deu uma piscadela. Tipo tique nervoso. Gargalhada geral. Com a sua cara feia, de bravo, Lampa conseguiu dizer: "E gosto do Lula, eu gosto de gente boa, como o chefe aí".
Quieto, observando tudo, Biu bateu palmas dizendo que o Lampa tem razão: "O seu Assis é gente boa, é dos nossos!".
Meio sem jeito, dei por acabado nosso encontro de hoje.
"Pera! Pera! Pera! Eu tenho uma triste notícia a dar", interrompeu Zilidoro: "Esta semana morreu a artista Marilene, da dupla As Galvão. Confesso que fiquei muito triste e até chorei. As duas eram amigas de outras grandes artistas, como as irmãs Célia e Celma. Se seu Assis permitir, eu gostaria de compartilhar um trecho de apresentação em que elas cantam Beijinho Doce".
Aí está:

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O MUNDO CAIPIRA ESTÁ DE LUTO. MORREU UMA GALVÃO

 
O mundo da viola caipira e da sanfona de alto nível está de luto.
Morreu na tarde de ontem 24, aos 80 anos, a paulista de Palmital Marilene Galvão. O fato se deu no hospital Professora Lydia Storópoli, onde se achava internada há meses, por complicações decorrentes de Alzheimer.
Marilene formava dupla com a irmã Mary desde os 10 anos.
Por muitos anos a dupla Mary e Marilene atendiam por Irmãs Galvão. No correr do tempo passaram a chamar-se As Galvão. 
Mary e Marilene gravaram muitos discos de 78 RPM, LPs e CDs.
Além de cantar, Marilene tocava viola e a irmã, Mary, sanfona.
A melhor gravação da moda Beijinho Doce, de Nhô Pai, é de As Galvão.
Há uns 10 anos produzimos o CD Assis Angelo Apresenta Inéditos de Capitão Furtado e Téo Azevedo. Numa das faixas do disco, entrevisto as duas a respeito do famoso Capitão. Confira:
 

HÁ 61 ANOS, JÂNIO RENUNCIAVA À PRESIDÊNCIA

 
Forças ocultas derrubaram o presidente Jânio Quadros, no dia 25 de agosto de 1961. Foi um choque. 
As tais "forças ocultas" foram o argumento que Jânio deu a sua carta-renúncia. Mas esse argumento não colou, não cola até hoje. 
Certa vez entrevistei o presidente renunciante, ao tempo que ele ocupava a cadeira de prefeito da prefeitura de São Paulo.
A saída de Jânio Quadros da presidência da República abriu espaço para que os militares apeassem do poder o vice de Jânio, João Goulart.
O resto é história.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

REPÚBLICA MONÁRQUICA

Ridículo.
Na verdade, de péssimo gosto foi a ideia de trazer ao Brasil o coração afunhenhado do imperador Dom Pedro I.
Pedro I, a quem foi atribuído o "grito do Ipiranga", tinha 34 anos quando morreu em 1835. Morreu depois de lutar contra o irmão Miguel, na região portuguesa do Porto. E deixou dito, de próprio punho, que gostaria que o seu corpo fosse posto num caixão simples e assim, simplesmente, sepultado.
Quase 200 anos depois de sua morte, Pedro I volta ao Brasil na forma de coração. Vixi!
O filho de Pedro I, Pedro II, foi deposto por um golpe militar e, com isso, começou a República no nosso país.
Com a queda de Pedro II, deu-se início à República, mas o comportamento dos brasileiros parece continuar atrelado à Monarquia.
Desde sempre temos o Rei da Bola (Pelé), o Rei da Voz (Chico Alves), o Rei do Baião (Luiz Gonzaga), a Rainha do Baião (Carmélia Alves), a Rainha do Forró (Anastácia) e o rei disso e o rei daquilo.
Temos até o Rei da Cocada Preta, que é o cidadão que está por cima da carne seca. O bam-bam-bam.
A ideia de trazer o coração de Pedro I é triste, lamentável. Bizarrice pura!
O coração de Pedro I corre o risco de esfarelar-se, despedaçar-se como o coração do gaúcho Getúlio Vargas. A propósito, foi na terça-feira de 24 de agosto de 1954 que o então presidente da República enfiou um tiro no próprio peito. O tiro que matou Vargas acordou o Brasil naquela manhã de 24 de agosto.
E se o coração de Pedro I espatifar-se no chão,  hein?
Afe, que história triste, bizonha, mórbida!

ORGULHO-ME DE SER JORNALISTA

Clique na imagem para ler o edital
A cara da fome é feia. No Brasil e em todo canto. Mas especialmente no Brasil, porque no Brasil diz-se que é o país que alimenta o mundo.
O mundo está morrendo de fome e de outras mazelas. De guerras, inclusive.
Grosso modo poderíamos dizer que somos impolutamente nada.
O Brasil está morrendo de fome.
Outro dia, 2 de agosto, um menino chamado Miguel ligou para o 190 pedindo socorro. 
O número 190 é o número da polícia.
Miguel, de 11 anos, dizia que estava com fome. E a mãe, também.
Esse caso aconteceu em Minas. Tocou o Brasil.
Milhões e milhões de brasileiros continuam passando fome.
Em 1953, o pernambucano cantor Luiz Gonzaga lançou o baião Vozes da Seca. Dele e de Zé Dantas.
Naquele ano, 1953, o Nordeste estava morrendo de fome e de outras desgraças igualmente aniquilantes.
Havia naquele tempo, de Vozes da Seca, 20 Estados no mapa do nosso país. A maioria morrendo de fome.
No Congresso Nacional foi dito à época que a música de Luiz Gonzaga e Zé Dantas era maior do que qualquer discurso que se pudesse fazer sobre a seca arrasante que ocorria no País.
Hoje 23/8 o Jornal O Estado de S.Paulo publicou belíssimo e necessário editorial chamando a atenção dos poderosos do Brasil e do mundo para o problema gravíssimo que hora especialmente o Brasil vive: o da fome.
Esse editorial, Vergonha brasileira, traça com grande firmeza o que hoje o nosso País vive.
Gostaria de ver e de ouvir o que o Congresso Nacional tem a dizer a respeito desse editorial.
Viva a imprensa brasileira!
Luiz Gonzaga morreu no dia 2 de agosto de 1989. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

ÓCULOS PARA CEGOS, HEIN?

Sexta 19, ali pelas 11 horas, fui convidado a conhecer as instalações da biblioteca Louis Braille no Centro Cultural São Paulo. Até lá fui levado por Flor Maria e Cris Alves. Fui muito bem recebido pelas pessoas que cuidam dessa biblioteca. A ideia e o desejo eram testar um equipamento especial, feito em Israel, para possibilitar a leitura de livros a quem não vê. O equipamento tem por nome "óculos-scanner", fabricado pela Orcam.
Os ditos óculos-scanner, chamados também de "óculos inteligentes para cegos", chegaram ao Brasil em 2018, mas até hoje poucas são as pessoas com deficiência visual que tiveram ou têm acesso a eles. Os motivos são vários, mas destaco dois: o altíssimo preço (R$18.000, 00) e na prática sua pouca eficiência. A mim não me entusiasmou, confesso. Como funciona?
Aos óculos é acoplada, numa de suas hastes, pequena câmera. O usuário dá um toque na câmera depois de segurar o livro que deseja ler. A câmera foca a página e dela faz uma foto. Essa foto faz com que a câmera, depois de novamente acionada, leia o texto pretendido. Aí começam as falhas, pois quase sempre a foto sai com má qualidade. A leitura é feita por uma voz robótica, computadorizada. 
A biblioteca Louis Braille do Centro Cultural São Paulo foi criada há 75 anos. No seu acervo há milhares de livros em braille e em audio, à disposição de interessados. Pra tanto, basta fazer um
cadastro. Sete funcionários atendem o público. Quatro dessas pessoas são portadoras de deficiência visual e três videntes.
No linguajar das pessoas portadoras de deficiência visual, videntes são aquelas que não têm problemas visuais. 
À frente da biblioteca Louis Braille se acha Carlos Henrique Gomes Costa, o Caíque.
Caíque é funcionário público e presta serviço na biblioteca há dezoito anos.
Entre as pessoas que me receberam sexta 19, além de Caíque, se achava a baiana Edna, com problemas visuais desde a infância. "Ela não enxergava da vista direita e tinha visão residual na esquerda. O médico disse que sua visão poderia melhorar na puberdade ou poderia perder totalmente esse sentido. Com Edna aconteceram as duas coisas: ela teve súbita melhora da visão no olho esquerdo, mas em seguida perdeu totalmente a visão. Hoje dedica sua vida a colaborar com outros deficientes visuais", conta sua amiga Cris Alves.
Há alguns anos, Edna teve a ideia de criar uma espécie de passeio para videntes, no Centro Cultural São Paulo. Esse passeio, chamado de "Passeio no Escuro", visa promover a sensibilidade de videntes para melhorar a inclusão de quem tem baixa ou nenhuma visão.
Ao fim da visita, que adorei, Edna pediu que  eu declamasse algum poema. E declamei: 
 
 

domingo, 21 de agosto de 2022

JÔ É TEMA DE EXPOSIÇÃO EM SÃO PAULO

Filho único de um paraibano (Orlando) com uma carioca (Mercedes), José Eugênio Soares marcaria a vida cultural brasileira como jornalista, humorista, ator e diretor de teatro (e de cinema), ilustrador dos seus próprios textos para o Pasquim, Veja e outras publicações; apresentador de Talk Show primeiramente no SBT e depois na Globo e, nos últimos anos, até como romancista.
De tudo ou de quase tudo esse José foi e fez, com o pseudônimo de Jô Soares.
Estudou na Suíça e aprendeu a falar e a escrever com fluência meia dúzia de línguas. A ideia inicial era seguir a carreira diplomática, mas a tempo desviou-se do caminho e tornou-se um craque completo no campo da cultura, a partir dos anos de 1950.
Jô gravou alguns discos e escreveu alguns livros, sendo O Xangô de Baker Street (Companhia da Letras; 1995) o mais conhecido, até porque chegou a ser traduzido em várias línguas e virou filme em 2001. Entre os LPs que lançou, se acha o de conteúdo engraçado: A B… E Outras Estórias.
Jô Soares era uma graça.
Para contar de modo bem humorado a história desse intelectual e artista, dezenas de cartunistas se juntaram e puseram de pé no Shopping Center 3 (Av. Paulista, SP) a exposição Um BeiJÔ no Gordo, sob a batuta do presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, José Alberto Lovetro (JAL).
“Jô Soares merece todas as homenagens possíveis por sua importância para o Brasil e seu povo. Os cartunistas brasileiros não poderiam ficar de fora porque o humorista adorava o desenho e também desenhava. No Pasquim publicava textos e ilustrava. Depois virou também pintor. Esta exposição é de seus companheiros de humor gráfico que colocam no papel aquele sorriso maroto, aquela piscadinha especial e o fantástico beijo do Gordo”, é JAL falando.
Jô Soares morreu no último dia 5 de agosto. E nesse mesmo dia JAL mobilizou mais de uma centena de cartunistas para uma homenagem virtual levada à vante pelo pelo G1.
A exposição Um BeiJÔ no Gordo foi inaugurada no último dia 12 e poderá ser apreciada até o próximo dia 28. 
 
Ilustrações de: Paffaro, Gilmar Fraga, Francisco Machado, JAL, Afonso Carlos Fernandes, Manga e Maurício de Sousa (Clique para ver melhor)

Os cartunistas participantes da exposição um BeiJÔ no Gordo, são: Afonso Carlos Fernandes, André Brown, André Camargo, Alex, Alisson Affonso, Armando Marcos, Antonio Claudio D. Teixeira; Baptistão, Bixigão, Bira Dantas, Brum; Camilo Riani, Carol Cospe Fogo, Caó Cruz, Cláudio Atílio; Danilo Scarpa; Fausto Bergocce; Érico San Juan, Edra; Fred, Francisco Machado, Fredson, Floreal; Gilberto Maringoni, Gilmar Fraga, Gilmar, Gisele Henriques, Guilherme Bandeira, Guto Respi; Hippertt; Jal, J.Bosco, Júnior Lópes, Joaquim Monteiro, Jorge Inácio, Jhota Melo; Laudo, Luís; Gustavo; Marcos Guilherme, Manga, Mauricio de Sousa, Olante, Orlando; Ricardo Soares; Seri; Paffaro; Thiago, Toni D'Agostinho, Trilho; Ray Costa.
No dia 28 de novembro de 2016, Jô convidou Maurício de Sousa para o seu programa. Clique: https://globoplay.globo.com/v/5480869/
Com a sua partida, Jô Soares deixou mais de 200 personagens órfãos.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 20 de agosto de 2022

O FORRÓ EM PAUTA

Falar de forró é sempre uma coisa boa.
O forró nasceu em Pernambuco e ganhou forma e conteúdo no Rio de Janeiro, quando Luiz Gonzaga gravou pela primeira vez Forró de Mané Vito. Corria o ano de 1950. Fins.
Durante muito tempo o forró e o baião andaram de mãos dadas, lado a lado.
O baião nasceu antes do forró, em 1946. Naquele ano, o grupo musical 4 Ases e 1 Curinga gravou, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, o marco dessa história: Baião, que começa assim: Eu vou mostrar pra vocês/Como se dança o baião/E quem quiser aprender/É só prestar atenção...
Amanhã 20 e domingo 21, ocorrerá no Centro Cultural Olido (Avenida São João, 473, Centro) o 1º Seminário de Formação em Forró. A ideia foi de Alzira Viana.
A programação de sábado e domingo é a seguinte: 
 

 
Você já acessou o site do Instituto Memória Brasil? Clique: https://institutomemoriabrasil.com.br/

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

EU E MEUS BOTÕES (32)

"Seu Assis, seu Assis! O Sr. viu o Tchutchuca do Centrão partindo pra cima de um youtuber lá no Planalto?", começou a falar exaltado o quase sempre tranquilo Zoião.
Que história é essa de Tchutchuca do Centrão?
Risada geral entre meus aparentemente fiéis botões. "O Sr. não sabe, seu Assis, o que é Tchutchuca do Centrão!?", meteu-se na conversa, eufórico e rindo, Barrica. Seu irmão Biu, soltando uma gaitada, disse: "O chefe tá to-tal-men-te por fora". E Lampa, cutucando as unhas com seu punhalzinho de estimação: "Hmmm, achei graça nessa história, confesso".
Zé e Mané ao mesmo tempo disseram: "Merecido! Merecido!".
Zilidoro, com sua calma franciscana, achou de enfiou seu bedelho no papo: "Essa história de Tchutchuca é, claro, muito engraçada. Mas a expressão não é de hoje. Tchutchuca vem lá de trás, de 1999, quando o grupo de funk carioca Bonde do Tigrão mandou ver nas paradas de sucesso com essa coisa de Tchutchuca...".
Zilidoro nem havia terminado a sua explanação sobre a origem da expressão Tchuthuca, quando Jão quietinho no seu canto, começou a cantarolar:

Vem, vem
Tchutchuca
Vem aqui pro seu Tigrão
Vou te jogar na cama
E te dá muita pressão!

Todos os meus botões começaram a cantar esse malamanhado refrão. Pior: e a dançar. E não teve como não rir. Voltou a dizer Zilidoro: "A expressão tchutchuca foi usada pela primeira vez, no campo da política, em 2001. Naquele ano Roberto Requião e Álvaro Dias disputavam o governo do Paraná. E foi Requião que tirou sarro do Álvaro. Requião ganhou a eleição, mas essa é outra história".
Cá pra nós, mas confesso que me surpreendi com a firme explicação de Zilidoro para a expressão Tchutchuca no campo da nossa política. Tudo bem, mas o que me preocupa é o fato de um presidente da República partir para a agressão contra um cidadão insatisfeito com a sua administração. Sim, claro, ser chamado de vagabundo, covarde e safado não é fácil. Não é fácil para nós cidadãos comuns. Mas para um presidente, representante de umaNação, é diferente.
"Mas o que é que se pode  esperar do Bulsa, um cabra tão destemperado?", perguntou Mané.  
Essa fala do Mané despertou a atenção do Biu: "O que é 'Bulsa'?".
Todo mundo caiu na risada com a pergunta um tanto ingênua de Biu. 
"Bulsa, é Bolsonaro, idiota!", provocou Zoião.
É pessoal, a vida política no Brasil está complicada. É xingamento pra tudo quanto é lado. Até a primeira dama, dona Michelle, andou dizendo abobrinhas contra o Lula e o Lula revidou, dizendo que Bolsonaro está tomado pelo Demônio. "É verdade, é verdade, seu Assis! Muita coisa está por vir, por isso a gente precisa se cuidar", disse Zé. 
Bom, vocês viram a última pesquisa do Datafolha?
Barrica levantou a mão dizendo que sim, que viu, opinando: "O Lula continua na frente, que nem cavalo bom de corrida, mas se não se cuidar pode perder". 
No seu cantinho, de rádio portátil na mão, Jão começou a cantarolar incentivando os coleguinhas de casa a dançar no passo do Tigrão:

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

MORRE JORGE DA CUNHA LIMA


O jornalista, advogado e poeta paulistano Jorge da Cunha Lima morreu ontem, vítima de um câncer, no hospital Sírio Libanês onde se achava em tratamento há alguns dias.
Nascido no dia 14 de outubro de 1931, Jorge era descendente dos chamados "barões do café".
A carreira profissional de Jorge foi riquíssima.
Como jornalista chegou a dirigir o jornal Última Hora, em São Paulo. Foi colaborador do Correio Paulistano, Folha de S.Paulo e Estadão. Foi presidente da fundação Cásper Líbero e da Fundação Padre Anchieta. Ganhou muitos prêmios. Fui assessor de Jorge no tempo em que foi secretário da Cultura do Estado de São Paulo.
O corpo de Jorge da Cunha Lima está sendo velado no Funeral Home (rua São Carlos do Pinhal, 376 - Bela Vista). 

LEIA MAIS: O BRASIL PRECISA DE MAIS JORGES!

HÁ 50 ANOS MORRIA SÉRGIO CARDOSO

Conterrâneo e contemporâneo do cantor e compositor Ari Lobo (1930-1980), que era de Belém do Pará, o ator Sérgio Cardoso nasceu em março de 1925 e morreu, no Rio, RJ, vítima de um ataque cardíaco quando participava em um dos últimos capítulos da novela O Primeiro Amor.
A morte de Sérgio ocorreu no dia 18 de agosto de 1972. Há exatos 50 anos, portanto.
Sérgio Cardoso começou a carreira de ator na Capital fluminense, pouco depois de concluir o curso de Direito. Mas nunca advogou, preferindo brilhar nos palcos brasileiros. E brilhou.
Sérgio Cardoso foi um dos mais importantes atores brasileiros. Em São Paulo, SP, há um teatro com seu nome na rua Ruy Barbosa, Bela Vista.
Sempre é tempo de lembrarmos de figuras que marcaram época na cena brasileira. Sérgio Cardoso é uma dessas figuras que deixaram rastros de estrelas por onde passaram.
Viva Sérgio Cardoso!

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

DIOGO PACHECO, DO ERUDITO AO POPULAR. ADEUS

Eu quase ia me esquecendo, mas a minha querida Anninha da Hora lembrou-me que hoje é o Dia do Pão de Queijo. E disse-me ela, ainda em tom de lembrança, que hoje é também o Dia do Patrimônio Histórico.
Anninha meus amigos, minhas amigas, é asa que me faz voar na vida depois que os meus olhos fecharam-se para as cores.
Hoje 17 pra mim seria um dia como outro qualquer. E noite. 
Anninha me faz vivo, essa minha querida moleca empresta-me os olhos dela para que eu veja vida...
Hoje 17 faz 35 anos que o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade foi pra além de nós. Está no céu.
Eu conheci Drummond. Eu o entrevistei para o Folhetim.
O Folhetim era um suplemento dominical do diário paulistano Folha de S.Paulo.
Ai, ai, ai, por que estou dizendo isso tudo?
A Anninha é uma danada, ela me tira do prumo. Ela diz coisas que esqueço, que esqueci. E hoje 17 eu queria falar da morte, do passamento, de um cara chamado Diogo de Assis Pacheco. Paulistano.
Diogo Pacheco foi um dos caras mais incríveis que tive a oportunidade e a alegria de conhecer. Frequentei a casa dele.
Pacheco era incrível em todos os sentidos. Brincalhão, cheio de graça. Gostava de whisky, destilados, que nem eu. Levou-me a sua casa várias vezes. E numa dessas idas, ocorreu uma desgraça.
O maestro Diogo Pacheco morava bem, e muito bem, num apartamento ali na zona Oeste de Sampa.
Naquele tempo eu fumava. E muito. Pobre de mim.
Na casa do Diogo, um dia estávamos eu e ele ouvindo música na sua sala especial. De música. Coisas incríveis, musicalmente falando. Clássicos de todos os tamanhos, desde Chopin a Mozart.
Aí fumando, fumando, aceso um cigarro caiu num tapete especialíssimo do maestro. Queimou. O maestro ficou doido. Esculhambou-me e fiquei do tamanhinho de nada. E foi ali, a partir dali, que decidi parar de fumar. E parei! De vez!
Diogo Pacheco foi assistente do meu querido amigo cearense Eleazar de Carvalho. E foi Eleazar quem a me apresentou Pacheco, seu assistente na Orquestra do Estado de São Paulo, OSESP (abaixo).
Meu Deus, quanta coisa mais eu poderia dizer sobre Diogo Pacheco!?
Atenção: foi Diogo Pacheco, ali em 1966, que resolveu a polêmica musical do suposto plágio de Disparada, de Vandré. História. E não custa lembrar que o erudito Diogo Pacheco passou a vida tentando popularizar o erudito.
Quando Anninha lembrou-me o pão de queijo, fiquei naturalmente com a boca cheia d'água.
Quando Anninha lembrou-me que hoje é o dia do Patrimônio Histórico, pensei: Será que o Brasil questiona este dia? Não, não... O dia morreu, a noite está chegando ao fim e ninguém em mídia nenhuma falou desse dia tão importante no nosso calendário.
O corpo do maestro Diogo de Assis Pacheco foi sepultado hoje no final da tarde, no Cemitério da Consolação, onde se acham outros corpos da vida brasileira bastante conhecidos como Monteiro Lobato e a Marquesa de Santos.

DEUS E O DIABO NO PALCO POLÍTICO

Na literatura policial é comum o criminoso voltar ao local do crime. Ficção. Mas isso também acontece na vida real. O incomum, no caso, é a vítima voltar ao lugar em que foi vitimada. Bolsonaro, espécie de Cramunhão da cena política brasileira, voltou aonde recebeu uma mal dada facada no bucho: Juiz de Fora, MG.
Ontem 16, oficialmente 1º dia da campanha política de 2022, Bulsa e sua mulher Michelle disseram mais um monte de mentiras nas ruas. Tudo que diziam, os malucos que o seguem batiam palmas e gritavam o tempo todo o nome de ambos. Circo do horror, né não?
A Michelle, esquisitíssima, lá pras tantas hipoteticamente pediu: "Que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro para que não entregue o nosso país, a nossa nação tão amada por Deus, na mão dos nossos inimigos". E acrescentou: "Essa campanha, mais uma vez, é um milagre de Deus. Começou em 2019, quando Deus fez um milagre na vida do meu marido, porque aqueles que pregam o amor e a pacificação atentaram contra a vida dele. Mas Deus é maior, e a justiça será feita".
O maridão Coiso da Michelle, que sempre clama por Deus, disse: "É preciso estar atento. A partir de hoje, mais do que nunca, os que amam o vermelho passarão a usar verde e amarelo, os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos, os que apoiam e louvam ditaduras socialistas se dirão defensores da democracia".
Claro que Bolsonaro, o Bulsa, estava se referindo a seu adversário Lula. Que, por sua vez, disse mandando recado pessoal e direto: "Não acreditou na Ciência, não acreditou na Medicina, não acreditou nos governadores. Bolsonaro, você acreditou na sua mentira porque se tem alguém que é possuído pelo demônio, é esse Bolsonaro, que é um mentiroso".
E todas as bobagens que Bolsonaro disse durante o dia, à noite calou. Calou-se.
Na posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, Bolsonaro parecia um poste. Apagado. Entrou pequeno no ambiente e de lá saiu menor. Menorsíssimo, quase nada. Nada.
Dos 27 governadores, 22 compareceram à posse do novo Ministro do TSE, Alexandre de Morais.
Além dos governadores, prefeitos de várias capitais também compareceram ao evento. Além disso, e desses figurões, estiveram no local quatro ex-presidentes da República e 45 embaixadores representando seus países.
O paulista Alexandre de Morais discursou com muita firmeza enaltecendo a lisura das urnas eletrônicas e a democracia brasileira. Disse: "Somos uma das maiores democracias do mundo em termos de voto popular, estando entre as quatro maiores democracias do mundo. Mas somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia. Com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional".
É certo que Moraes fazia referência à democracia ora vigente nos EUA, França e Inglaterra. 
Ao dizer o que disse, o novo presidente do TSE foi aplaudido de pé. Apenas dois bobalhões não deram bolas ao que estava sendo dito. Importantíssimo.
Esses dois bobalhões eram o presidente da República e o seu filho 02.
Alexandre de Morais disse mais: "A Constituição Federal consagra o binômio 'liberdade e responsabilidade', não permitindo de maneira irresponsável a efetivação do abuso no exercício de um direito constitucionalmente consagrado. Não permitindo a utilização da liberdade de expressão como escudo protetivo para a prática de discursos de ódio antidemocráticos, ameaças, agressões, violência, infrações penais e toda a sorte de atividades ilícitas. Eu não canso de repetir, e obviamente não poderia deixar de fazê-lo nesse importante momento: liberdade de expressão não é liberdade de agressão, de destruição da democracia, de destruição das instituições, da dignidade e da honra alheias".
Além de Bulsa e seu filho inexpressivo, estiveram na posse do novo presidente do TSE Sarney, Temer, Dilma e Lula-lá. Curiosidade: Bulsa e Lula ficaram cara a cara. E Dilma bem perto do seu algoz, Temer, tipo assim cara a cara. Nenhum desses se falaram. Ai, ai, ai... Pareciam moleques intrigados. Mas, enfim, isso é coisa de política. De políticos.
Preparemo-nos para os absurdos  dos absurdos que virão  desde os fins de agora até os fins de setembro.
Digo isso pensando no Cramunhão, que é um dos nomes do Satanás. A propósito, escrevi outro dia o folheto Repórter Entrevista/Piolho do Cramunhão. Um trecho:

... Perguntado se tem pai
Se tem mãe, se tem parente
O Piolho invocado
Respondeu indiferente:
Isso não interessa
O meu caso é papá gente

Pego homem, pego mulher
Pego preto, pego branco
Eu não faço distinção
Sou desse jeito: franco!
Mas de mim poucos escapam
Sou pior do que um cranco

No inferno tem lugar
Pra todo tipo de gente
Alto, baixo, gordo, magro
Feio, burro e crente
Não tenho preconceito
Sequer contra parente

Sou vírus democrático
Mato macaco, leão
Tigre, burro e pato
Fácil, fácil gavião
Pra pegar um cabra besta
Basta ir na contra mão

Dizem que só pego velhos
Mas jovens pego também
São esses os mais fáceis
Pela burrice que têm
Não aceitam ordenamento
E só fazem o que convém

Pego gente sabida
Doutor, intelectual
Pintor, cantor, jogador
Nessa onda mundial
Jamais vão me esquecer
Não é sensacional?...

Quer ler o texto completo desse folheto de cordel? Clique: https://institutomemoriabrasil.com.br/pagina/1471804/reporter-entrevista-piolho-do-cramunhao
 
A Democracia pode não ser o melhor sistema do mundo, mas é o que melhor atende a uma nação.
LEIA:

terça-feira, 16 de agosto de 2022

CIRO, VÍTIMA OU AGRESSOR?

Hoje 16 começa oficialmente, digamos assim, a campanha eleitoral de campo.
A campanha de rádio e TV, eletrônica, começa no próximo dia 26. 
Na verdade, a "campanha" começou desde que Bolsonaro virou presidente em 2018. E não parou de lá pra cá, sempre desrespeitando as regras do Tribunal Superior Eleitoral, TSE.
O desrespeito de Bolsonaro ao TSE é seguido de desdém. Mais: de agressão e de tentativa de descrédito às urnas eletrônicas que - vejam só! - o elegeram presidente e várias vezes deputado federal. 
A mais nova pesquisa do Ipec, ex-Ibope, divulgada ontem 15 pôs Lula na frente da corrida eleitoral à presidência da República com 44 pontos, 12 a mais do que Bolsonaro. Nessa mesma pesquisa, Ciro Gomes aparece com 6 pontos.
A propósito, Ciro Gomes foi o entrevistado de ontem do Roda Viva.
Na Internet o que se lê hoje 16 é que Ciro quebrou o pau com jornalistas que o entrevistavam. Não foi bem assim. Eu assisti o programa da Cultura do começo ao fim. O que ouvi foi o raciocínio do entrevistado sendo quebrado o tempo todo pelo meio, enquanto ele pedia apenas que o deixassem concluir seu raciocínio. Assim, simples.
Claro que o estilo vapt, vupt é marca do Ciro. Marca essa que o tem prejudicado politicamente. É seu jeito, o que fazer?
Na entrevista ao Roda Viva Ciro botou numa mesma cumbuca Bolsonaro e Lula, chamando-os de "corruptos, corruptores e ladrões". 
O detalhe é que na entrevista ao programa da Cultura Ciro não deixou nenhuma pergunta solta ou sem resposta. Respondeu tudo. Repetiu que essa será sua quarta e última tentativa de chegar à presidência da República. Confiram:


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

10 ANOS SEM ALTAMIRO CARRILHO

Altamiro Carrilho, por Fausto
 
Altamiro Carrilho foi um dos maiores flautistas do Brasil e hoje, 15/8, faz exatos 10 anos que ele trocou a terra pelo céu. E desde lá continua nos enchendo de saudade.
A carreira artística de Altamiro foi iniciada em 1938, quando integrou a Banda Lira de Arion. Sua primeira gravação ocorreria cinco anos depois, num disco de Moreira da Silva.
Moreira marcou profundamente a música brasileira, como Altamiro.
A carreira artística de Altamiro ganhou impulso quando foi convidado pelo exímio violonista Américo Jacomino, o Canhoto, com a responsabilidade de substituir o flautista Benedito Lacerda.
Benedito foi um dos grandes parceiros de Pixinguinha.
Altamiro Carrilho apresentou-se em cerca de 50 países. Na Rússia, ele me disse um dia, que chegou a gravar disco. Lá. Um disco que jamais foi relançado no Brasil.
A primeira entrevista que fiz com Altamiro foi para a rádio Jovem Pan e a última, quando eu abri ao público a "ocupação" musical na unidade Sesc de Santana, na Capital paulista, intitulada Roteiro Musical da Cidade de São Paulo. Isso em janeiro de 2012. E foi nesse ano, num dia 15 de agosto, que complicações respiratórias o tiraram do nosso convívio.
Altamiro Carrilho chegou a ser comparado ao craque Pattápio Silva.
Viva Altamiro!

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

CARTA DE SUCESSO


O inverno finalmente chegou ontem 11 na Capital paulista. Sem chuva, mas com um frio de rachar qualquer resistência: 9,5ºC, com sensação térmica de 3ºC.
O frio que chegou à Capital paulista não impediu que milhares de cidadãos e cidadãs de todas as idades e profissões fossem bater palmas e lutar pela preservação da democracia em ato cívico realizado no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, USP, ali no Largo São Francisco.
O ato foi transmitido por emissoras de rádio e televisão em várias partes do País. E até no Exterior, Londres, por exemplo. Tudo via Internet. 
A Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito foi lida em pelo menos 22 dos 26 Estados, mais o Distrito Federal.
O ato pela democracia  foi apartidário. 
Entre os brasileiros que subscreveram a carta, se acham 727 porteiros, 8.973 desempregados, 5.045 enfermeiros, 4.217 motoristas, 6.619 policiais, 519 delegados de polícia, 28.868 engenheiros, 15 mil médicos e 4.231 magistrados, além de candidatos a diversos cargos políticos. Para presidente, inclusive.
Já passa de 1 milhão o número de pessoas que subscreveram a famosa Carta da USP. Sucesso. Com isso quero dizer o óbvio: o dia 11 de agosto de 2022 já é uma data histórica.

ROSA MORENA HOMENAGEIA CLARA NUNES


Assis e Clara Nunes
Admirada por Dorival Caymmi, Batatinha, Riachão, Roberto Mendes, Capinam, Ivete Sangalo e Fatel a cantora paulistana Rosa Morena subirá ao palco da casa de espetáculos Traço de União logo mais às 20h, para desfilar um rosário de músicas do riquíssimo repertório da cantora mineira Clara Nunes.
Hoje 12 Clara faria 80 anos de idade, mas uma má cirurgia para extrair-lhe inconvenientes varizes a tirou do nosso convívio. Isso no dia 2 de abril de 1983, no Rio de Janeiro.
A história de Clara Nunes é uma história bonita, brilhante, daí o título do show de Rosa Morena: Resplandecer. "Resplandecer, significa brilhar intensamente. Frase que perfeitamente se encaixa na trajetória brilhante de Clara Nunes, cujo legado é marcante e inesquecível", diz a cantora paulistana.
Além de cantora, Rosa Morena é compositora e atriz que durante longo tempo brilhou nos palcos sob o comando do diretor José Celso Martinez Corrêa. "Estou vivendo meu melhor momento e o samba de São Paulo é um gênero de que gosto muito, identifico-me com ele", diz Morena.
Eu conheci Clara Nunes num ano qualquer de 1970. Clique: CLARA NUNES, VOZ QUE ENCANTOU O BRASIL
O Traço de União, onde Rosa Morena se apresentará ainda hoje, localiza-se na rua Fradique Coutinho, 1013 - Pinheiros.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

PRISÃO E TORTURA NUNCA MAIS

Brasileiros e brasileiras mobilizam-se a favor da liberdade, da democracia, tão duramente conquistadas por todos nós.
São intoleráveis os ataques contra o Estado de Direito praticados diuturnamente pelo presidente Bolsonaro.
No decorrer do dia de hoje 11, a partir desta manhã, pipocarão manifestos a favor do bem-estar comum. A principal manifestação ocorrerá no salão nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no miolo do Centro Histórico da Capital Paulista. Por volta das 11 horas será lida a carta cívica escrita por professores e alunos da Universidade de São Paulo, USP.
A carta já recebeu mais de 900 mil assinaturas de porteiros, médicos, advogados, jornalistas, artistas atletas e escritores,. Eu mesmo a assinei.
O terror tomou conta do Brasil entre 1964 e 1985, período em que muitos brasileiros foram perseguidos, presos, torturados e mortos.
O presidente Bolsonaro, eleito democraticamente pela população, insiste o tempo todo em desacreditar as urnas eletrônicas e tirar sarro das manifestações populares a favor de todos nós. O Brasil não aguenta mais isso. 
Até agora, hackers cometeram mais de 20 mil ataques na tentativa de derrubar o site com a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito. Em vão. 
A carta feita por professores e estudantes da USP já foi traduzida para o inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.
Viva a liberdade! Tudo pela Democracia!

VISITA DAS BOAS

Moreira, Sebastião, Solenne e Assis, no IMB
Ontem à noite 10 tive a alegria de receber a visita dos amigos Moreira de Acopiara, Sebastião Marinho e da professora universitária Solenne Derigond. 
Moreira de Acopiara é um dos mais inspirados cordelistas do Nordeste. Já escreveu centenas de folhetos e já publicou, até agora, 32 livros. Ele tem 61 anos de idade e é natural do Ceará. Só sobre o Cangaço, Moreira escreveu 42 folhetos.
Sebastião Marinho, presidente da União dos Cantadores Cordelistas e Apologistas do Nordeste, UCRAN, é dos mais inspirados poetas repentistas do nosso País. Tem discos e folhetos lançados. Tem 74 anos de idade e ontem 10 fez uma festa maravilhosa aqui em casa, com a sua viola mágica.
Solenne é professora da Universidade CAEN, na Baixa Normandia, ao norte da França.
Foi, o nosso, um encontro inesquecível.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

ÍNDIO, VIDA E PÁSSARO. TUDO É NATUREZA

Nestes tempos loucos, de tristeza, solidão e desespero; de carestia de respeito ao próximo e violência; de devastação da natureza, do meio ambiente e tudo mais, não custa lembrar que o dia 10 de agosto marca o nascimento do primeiro e mais importante poeta romântico do Brasil: Antonio Gonçalves Dias, maranhense de Caxias.
Gonçalves Dias (1823-1864) era filho de um português e de uma mestiça brasileira, de poucos recursos. Mesmo assim, os pais se esforçaram e conseguiram enviá-lo à Coimbra. Corriam os anos de 1840. Em 44, por alí, Dias retornou ao Brasil com um diploma de Direito debaixo do braço. Não parou em sua terra, foi direto tentar a vida como advogado na capital do Império.
No Rio, atuando como jornalista no Diário do Comércio, logo ganhou fama que cresceu ao publicar o livro Primeiros Poemas.
Meu amigo, minha amiga, você conhece a Canção do Exílio? É assim:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


A Canção do Exílio é o poema mais plagiado da nossa história.
A obra de Gonçalves Dias enaltece o índio, o amor, a vida e os pássaros. Pequena, mas densa. De altíssimo nível e toda distribuída nos livros Primeiros Cantos, Segundos Cantos e Últimos Cantos.
É no Primeiros Cantos que se acha Canção de Exílio.
Pois é, Gonçalves Dias falou muito dos índios brasileiros.
Pouca gente, mesmo quem frequentou ou frequenta os bancos escolares, lembra ou diz de bate-pronto o belo poema Juca Pirama.
Juca Pirama é um poema desenvolvido em dez Cantos. No enredo um jovem tupi aparece passeando nas matas com o pai cego. Um dia, sem o pai, o jovem é capturado por índios inimigos. Antropófagos. Esses índios costumavam comer os inimigos valentes, guerreiros, para deles ganharem força. Era o que pensavam. Os covardes eram humilhados e soltos. O jovem tupi capturado foi enquadrado como covarde. O pai não gostou e entregou o filho aos inimigos, que o devoraram.
Hoje é politicamente incorreto chamar índio de índio.
Gonçalves Dias e José de Alencar estariam fritos e simbolicamente engolidos pelos patrulheiros de plantão.
Téo Azevedo e eu, e também Caetano Veloso, podemos ser considerados politicamente incorretos. Téo e eu compusemos, há uns 20 anos, a música O Índio. Um Índio é a música de Caetano.
José de Alencar, indianista de primeira hora, deixou três livros falando desse assunto. Todos belos. Destaco O Guarani, que em 1870 ganharia uma belíssima versão operística levada à cena no teatro Ala Scalla de Milão, pelo paulista de Campinas Antonio Carlos Gomes.
Dia 9 de agosto é o Dia Internacional dos Indígenas. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas, ONU, em 1995.
A população indígena, no Brasil, não chega hoje nem a um milhão. Pena.
Como Gonçalves Dias, Alencar falou na sua obra de índio, amor, vida e pássaros.
No Brasil existem hoje cerca de 1900 espécies de aves, 240 das quais se acham em processo galopante de extinção.
Desde 2002, o Brasil tem como símbolo o sabiá.
Há vários tipos de sabiás. O que virou símbolo, tem por "sobrenome" laranjeira.
O Sabiá laranjeira é lindo.
Eu gosto de tudo quanto é pássaro. Nunca matei, nem prendi um pássaro em gaiola.
No meu tempo de moleque safado em terras paraibanas, eu fingia caçar com meus pares igualmente safados, moleques. Saíamos armados de baladeira ou bodoque, mas nenhum bichinho da natureza era vítima das nossas eventuais más intenções.
Fui crescendo, fui crescendo e cada vez mais gostando de passarinhos. O beija-flor me encanta.
Catalogados, existem mundo afora cerca de 320 espécies de beija-flor. Só no Brasil, 84. E por não ter o que fazer, fiz:

Voa voa passarinho
Passarinho beija-flor
Leva leva no teu bico
Um beijo pra meu amor

Meu amor está dormindo
Um sono reparador
Voa voa passarinho
E diz a ela por favor
Que sem ela sou jardim
Despetalado, sem cor

O meu sonho, passarinho
Passarinho beija-flor
É viver agarradinho
Nos braços do meu amor



Ilustração por Fausto Bergocce
Na literatura e na música brasileira, os pássaros são personagens frequentes. Os mais visíveis são o Sabiá, a Bem-te-vi, a Asa Branca, Assum Preto, a Acauã.
O baião Sabiá, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, é uma obra-prima.
Em 1995, John Dalgas Frisch e seu filho Christian publicaram uma jóia: Jardim dos Beija-flores, todo em papel couchê.
Dalgas Frisch foi o cara que aventurou-se na Amazônia e gravou centenas de cantos de passarinhos, incluindo o Uirapurú. Essas gravações renderam cinco LPs, compactos e viraram CDs, depois. À época, 1962, o presidente norte-americano John Kennedy (1917-1968) chegou a expressar, por escrito, suas impressões sobre a fabulosa façanha empreendida por Dalgas.
Eu cheguei a levar Dalgas Frisch para entrevista no programa São Paulo Capital Nordeste, que durante anos apresentei na rádio Capital AM 1040. À época, ele estava lançando um bonito relógio de parede com pássaros marcando hora.
Em 1991, o capixaba Augusto Ruschi publicou Aves do Brasil em pranchas ilustradas por Etienne Demonte e Yvonne Demonte. Pérola.
Ruschi (1915-1986) formou-se em engenharia agronômica em 1940. Depois, especializou-se em Botânica. No correr da vida acumulou muitos cursos, chegando a integrar a Academia Brasileira de Ciências.
Antonio Gonçalves Dias morreu afogado aos 41 anos de idade, quando o navio em que viajava naufragou na costa do Maranhão.
Ouça Canção do Exílio, com Paulo Autran:

 
Foto e Reproduções Flor Maria e Anna da Hora

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