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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

SECOM PROMETE COMBATER FAKE NEWS

A Secretaria de Comunicação do Governo Federal, Secom, acaba de criar um cargo que visa combater a onda de notícias falsas. Até aí, tudo bem. Porém, há um porém.
O novo cargo ainda não foi preenchido, mas chama atenção pela peculiaridade do título: coordenadora da Coordenação de Políticas para a Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação da Coordenação-Geral de Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação do Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão da Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Pois é, parece piada. É piada.
Daqui desejo sorte e sucesso ao titular da Coordenação de Políticas para a Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação da Coordenação-Geral de Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação do Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão da Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

JOSÉ NÊUMANNE NO PAIAIÁ

O jornalista paraibano José Nêumanne Pinto está lançando um novo livro de poesias: Antes de Atravessar (Ed. Ibis Libris).
Nêumanne foi entrevistado sábado 25 pelo radialista Carlos Silvio. Acompanhe a entrevista, clicando:

ISAURINHA GARCIA, 100 ANOS. ISSO DÁ FILME! (2, FINAL)

As cantoras Dalva de Oliveira, Isaura Garcia e Aracy de Almeida

Três anos depois de ser aprovada num programa de calouros da Record, comandado pelo radialista Otávio Gabus Mendes (1906-1946), gravou o seu primeiro disco, pela extinta Columbia, no formato de 78RPM o samba Pode Ser?, de Geraldo Pereira e Marino Pinto; e o choro Chega de Tanto Amor, de Mário Lago.
Isaurinha Garcia, como Dalva de Oliveira, cantou tudo quanto foi ritmo. Baião inclusive.
Ouça Baião no Braz.
Em 1979, a Personalíssima foi entrevistada no programa FM Inéditos, da rádio Eldorado. A entrevista foi ótima. A respeito, escreveu o historiador José Ramos Tinhorão:
… Acompanhada apenas por um violão — contou sua vida com alegre sinceridade, e cantou com paixão algumas várias músicas que os interesses de estúdio nunca lhe haviam antes permitido gravar. Sem o saber, Isaurinha Garcia estava produzindo ali, ao vivo, naquela hora, um raro documento de verdade e de beleza.
No seu texto de contracapa do LP, Tinhorão concluiu:
O resultado dessa obra de carinho e competência técnica de Aluízio Falcão e da Eldorado postos a serviço da glória devida a uma das mais originais intérpretes femininas da música popular brasileira em todos os tempos, é um disco raro e único: resume uma carreira, conta uma vida e permite ouvir, para sempre, uma voz do povo destinada a ficar acima das modas e do tempo. A mágica voz nacional do Brás de Isaurinha Garcia.
Isaurinha já chegou a ser tema de um musical, estrelado pela atriz Rosamaria Murtinho (Isaura Garcia
— O musical, 2003) e de um livro escrito por Lulu Librandi (Mensagem — A Isaurinha Garcia, 2013).
Isaurinha teve pouquíssimas participações no cinema.
No filme Garotas e Samba, de Carlos Manga (1957), ouve-se Isaurinha cantar a marchinha Garrafa Cheia, de Adoniran Barbosa, Benedito Lobo e Antônio Rago. Sim, ela bebia legal. E orgulhava-se da boca suja de palavrão que tinha. Dizia que o seu repertório de palavras de baixo calão era só comparável ao repertório de Aracy de Almeida e Emilinha Borba.
Aracy, não custa lembrar, foi a melhor intérprete das músicas de Noel Rosa.
Da sua discografia constam cerca de 300 títulos. Entre esses Carinhoso de Pixinguinha e João de Barro.
Já está mais do que na hora de algum diretor de cinema levar à telona a vida dessa artista nascida no bairro paulistaníssimo do Brás.
Este ano, comemora-se 100 anos do nascimento de Isaurinha Garcia.
Ano que vem, 100 anos do nascimento de Paulo Vanzolini.
Depois, em 2025, é a vez de comemorarmos o centenário de Inezita Barroso.

 
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

ISAURINHA GARCIA, 100 ANOS. ISSO DÁ FILME! (1)

Ei, vem cá: você já ouviu falar de uma mulher chamada Vicentina de Paula Oliveira?
Não, sei que você não sabe quem foi essa Vicentina.
E se eu disser que essa Vicentina atendia pelo nome de Dalva de Oliveira, hein?
Meu amigo, minha amiga: você já ouviu falar de uma mulher chamada Isaura Garcia?
Hummm... Tá. Isaurinha Garcia. Isso mesmo, ela.
Dalva de Oliveira nasceu no interior paulista, numa cidade chamada Rio Claro, a pouco mais de 170 km da capital de São Paulo. Ano: 1917.
Isaurinha Garcia, paulistana do Brás, nasceu no dia 26 de fevereiro de 1923.
O que diachos tem a ver Dalva de Oliveira com Isaurinha Garcia, além de ambas terem nascido num mesmo século no Estado de São Paulo?
Isaura era filha de um italiano com uma brasileira. Pobre. Simples, humilde. Casal que queria tudo de bom para a filha, naturalmente. História essa: tinha 13 anos a menina Isaura quando participou de um programa de calouros na rádio Cultura. 1937. Foi gongada. No ano seguinte saiu-se vitoriosa num outro programa de calouros, interpretando um samba de Assis Valente intitulado Camisa Listrada, na Rádio Record.
Pela Record Isaura, que viraria Isaurinha, chegaria a se aposentar.
A história é longa e cheia de altos e baixos. Baixíssimos. Baixarias, na verdade.
Isaura deixou a casa dos pais ainda na primeira adolescência. Tinha uns 14, 15 anos. Fez isso por achar-se apaixonada por um bam-bam-bam da radiofonia paulistana, com quem viveu durante 18 anos. Isso não quer dizer que ela tenha sido exclusiva dele. Disse-me uma vez, às gargalhadas.
Isaurinha Garcia foi uma mulher marcante, tão marcante quanto a sua voz: ia do baixo ao alto.
Sabe amigo, amiga, daquelas pessoas que nos encantam derrepentemente?
Assim era Isaurinha cheia de obviedades surpreendentes: cantava com verdades, interpretando com intensidade as letras das canções que lhe chegavam às mãos.
O poeta mineiro Drummond talvez a chamasse de gauche e não erraria.
Isaurinha quando se apaixonava, apaixonava-se por completo. Sem medo. "Ele batia em mim, na cara. Pá!".
Referia-se ao músico pernambucano Walter Wanderley (1932-1986).
Quando ela uma vez a mim disse isso, e é certo que a outros jornalistas também, foi naquela maneira meio rindo. Gargalhando, mas um gargalhar meio triste, falso, de quem engole dor de maneira forçada. Dava pra ver.

Mulheres guerreiras, como a gente diz hoje, são mulheres como Isaurinha Garcia. Sofreu, mas viveu com intensidade. Disse uma vez que se tivesse muito dinheiro ajudaria a todo mundo, principalmente as putas. "Eu amo as putas. Todas".
Teve Isaurinha três maridos e muitos amantes. Ela: "Eles me traíam e eu dava o troco".
Dalva de Oliveira teve três maridos e nenhum amante.
Isaurinha Garcia teve apenas uma filha. Dalva, com seu primeiro e mais turbulento marido teve dois filhos.
Dalva de Oliveira é um marco da música popular brasileira no tocante à voz. Foi a nossa maior cantora da música popular. O seu timbre vocal ia do contralto ao soprano. Inimitável.
Isaurinha Garcia, a Personalíssima na acertada definição de Blota Júnior (1920-1999), foi de fato uma cantora que marcou época em 50 anos de carreira.Não precisa ir longe na memória, mas quem gosta de música bonita vai se amarrar, como se dizia lá pelos anos 80. É de 1945 seu primeiro sucesso musical: Mensagem, de Aldo Cabral e Cícero Nunes.

ROBINHO DEVE SER PRESO POR ESTUPRO

 À presidente do STJ, Maria Tereza de Assis Moura, cabe decidir pela homologação da condenação por estupro o ex-jogador de futebol Robinho. O caso aconteceu na Itália e foi a Justiça italiana que condenou o ex-integrante da seleção brasileira de futebol a uma pena de nove anos de cadeia. 

Robinho se acha no Brasil. 

Há poucos dias Maria Tereza recebeu da Justiça italiana o pedido de homologação da pena. 

Historicamente o Brasil nunca extraditou brasileiros para cumprir pena no exterior. 

É 100% provável que a Justiça brasileira mande prender o estuprador. Pode demorar alguns meses para que isso aconteça, mas acontecerá. 

É opinião quase geral de que lugar de estuprador é na cadeia.

Estupro é coisa séria, gravíssima e deve ser punida no rigor da lei. 

Daniel Silva, também ex-integrante da seleção brasileira de futebol, continua preso na Espanha. Nesse país ele foi acusado de estupro. 

Cumpra-se a lei. 

sábado, 25 de fevereiro de 2023

SIMONAL: IMAGEM REABILITADA

Wilson Simonal foi um dos cantores mais emblemáticos do nosso pa-tro-pi. Nasceu no dia 26 de fevereiro de 1939. Pois bem, em vida Simonal deu no que falar.
Dono de uma voz e um balanço incomparáveis, Simonal começou a carreira artística gravando um compacto simples. Isso em 1961. Dois anos depois, pela ODEON, gravou seu primeiro LP: Tem algo mais.
Vejam só: o primeiro LP de Simonal foi lançado há exatos 60 anos.
O sucesso acompanhou Simonal a vida inteira. Ou quase durante a vida inteira, pois num ano da década de 70 foi acusado de ser informante da engrenagem policial da repressão. E sua carreira, a partir daí, entrou em parafuso. E ele também.
No ano qualquer dos 90 combinei, por telefone, entrevista com Simonal. Ele topou, mas não deu tempo, três ou quatro dias depois do combinado, morreu. Dissera-me que iria contar tudo sobre as acusações sofridas.
Em 2003 a imagem pública de Wilson Simonal foi reabilitada pela Comissão dos Direitos Humanos da OAB por nada ter sido encontrado contra ele nos arquivos policiais. Luta da família. Isso gerou um documentário. Acompanhe: 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

PUTIN CONTINUA MATANDO NA UCRÂNIA... ATÉ QUANDO?

 
Guerra serve pra matar gente, fazer herói e vilão.
E pra enriquecer a indústria bélica. Sempre foi assim e assim certamente, infelizmente, sempre será.
Nós humanos não nascemos para nos salvar. É do jogo, para desespero das pessoas que querem simplesmente viver.
Já entrou no calendário mundial o dia 24 de fevereiro do ano da pandemia da Covid: 2022.
Foi naquele 24 de fevereiro que o mundo foi surpreendido pela invasão da Rússia na Ucrânia. Até agora já morreram cerca de 350 mil pessoas, incluindo mulheres e crianças. E idosos. É o que dizem as agências de notícias.
Putin, o dono da Rússia, foi o responsável pela invasão que estarreceu o mundo civilizado.
A Covid-19 matou milhões de pessoas. Só no Brasil, 700 mil. Quer dizer, o dobro dos mortos pela guerra na Ucrânia.
Já faz dias que o presidente Luís Inácio Lula da Silva, pressionado pelo presidente norte-americano Joe Biden, recusou-se a entrar na guerra Rússia x Ucrânia. A ele foi pedido toneladas de balas para a resistência ucraniana contra-atacar as forças de Putin. Disse não. E ao dizer não, Lula sugeriu que fosse formado um bloco para negociar a paz. A ONU topou. É isso.
Por não ter cá muito o que fazer, fiz este poeminha:
 
Todos sabem muito bem
Que o mundo anda mal
Girando um tanto torto
No seu eixo natural

É caso muito sério
De difícil solução
Pode tudo se findar
À base de explosão

Como rastro de pólvora
Feito só para matar
As guerras se multiplicam
No campo, na serra, no mar

Aviões atiram bombas
Aleatoriamente
Destruindo meio mundo
E matando muita gente

Tudo isso sob as ordens
De um ser que planta o mal
De um ser que quer fazer
Nova guerra mundial

Pare enquanto é tempo
Chega de tanto terror
Em fuga o povo chora
Pedindo paz e mais amor

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

GERMANO MATHIAS AGORA É SAUDADE

Hoje é quarta-feira de cinzas
Zombou de todo meu amor, Levou
A alegria colorida
A festa já se acabou
E o que sobrou foi somente despedida...
 
Fui pego ontem 22 de surpresa. Um amigo, Peter Alouche, pelo telefone disse: "Morreu Germano Mathias. Foi à pouco, horas atrás".
O cantor, compositor e ritmista Germano Mathias, paulistano do Pari, se achava internado num hospital de São Paulo se recuperando de uma pneumonia. Não deu. À tarde, partiu. Tinha 87 anos. Ia fazer 88 no próximo dia 2 de junho.
Clique para visualizar
Germano Mathias participou de filmes (abaixo) e até uma novela, no SBT.
A carreira desse artista iniciou-se em 1954, quando gravou a primeira música e seu grande sucesso: Minha Nega na Janela.
Conheci de perto Germano. Eu o entrevistei várias vezes, inclusive no programa que eu apresentava na Rádio Capital: São Paulo Capital Nordeste. Aliás, deste programa ele era freguês.
No dia 10 de fevereiro de 1992 publiquei entrevista de página inteira com Germano no jornal D.O. Leitura (ao lado). 
Ele era engraçado e fazia o diabo tocando samba numa latinha de graxa. Com a boca imitava o som de um trombone de vara como ninguém. Cantava muito bem. Voz única, sincopada. Ganhou prêmios e tudo o mais.
A última música que gravou foi Já foi Meu Carnaval. Ouça:
 
 
 
E VEJA: 
 
 
 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

TRAGÉDIA, CARNAVAL E CINZAS


A água que tem despencado do céu vem deixando um rastro de mortes, em vários pontos do país.
Em São Sebastião, bela cidade localizada ao norte do litoral paulista, com cerca de 100 mil habitantes, entrou em parafuso no último fim de semana. Foram cerca de 700mm em 24 horas, de sábado para domingo. Isso quer dizer que choveu cerca de 700 litros de água num espaço de um metro quadrado. É volume grande, coisa feia do modo como caiu.
Até agora, no momento em que dito estas benditas linhas, equipes de salvamento retiraram 48 corpos que se achavam encobertos por lama e destroços diversos. Há notícia de que pelo menos 40 pessoas continuam desaparecidas. É grande o número de desabrigados.
Forças políticas estão juntas, unidas, trabalhando na tentativa de salvar gente e minimizar a situação.
O prefeito de São Sebastião é o PSDBista Felipe Augusto.
O governador Tarcísio Freitas, do Republicanos, está de mãos dadas com o prefeito. Juntando tudo, o presidente Lula está garantindo recursos necessários para reconstruir a cidade. Assim é que deve ser, independentemente de siglas e ideologias políticas.
Helicópteros do Exército, da Aeronáutica e da Polícia Militar de São Paulo estão fazendo o que é possível fazer, segundo diz o governador.
Amanhã 23 um navio de grande porte da Marinha, com 300 leitos e mais de 20 médicos, aportará na região para receber feridos.
Diante dos problemas provocados pela chuva, o Carnaval do litoral Norte paulista foi cancelado.
São Sebastião, o mais antigo município da região, recebeu esse nome em homenagem ao santo do dia. Nesse dia, 20 de janeiro de 1502, navegava pelas proximidades o italiano Américo Vespúcio. Curiosidade: Vespúcio morreu num dia como o de hoje, 22 de fevereiro, quinze dias antes de completar 58 anos de idade em 1512, na Espanha.
Os primeiros habitantes de São Sebastião foram os índios tupinambás.
Na Capital paulista a vencedora dos desfiles foi a Mocidade Alegre, com o samba-enredo Yasuke. 
Na disputa pelo primeiro lugar, a Mancha Verde perdeu por um décimo.
A vida continua, nessa quarta-feira de Cinzas.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

NOTA 10 PARA A EXPEDITA DE LAMPIÃO!

Confesso que vibrei nesta madrugada ouvindo na TV o desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, com seus 3 mil componentes divididos em 24 alas, além de 5 carros alegóricos. Num deles, o último, brilhava impoluta a única filha reconhecida como tal de Lampião, Expedita Ferreira.
Dizer mais o quê?
As escolas de samba são, no geral, colírio para os olhos das gentes de todo o canto.
Cá no meu canto já estou torcendo pela escola que levou Expedita Ferreira (ao lado) a desfilar seus 90 anos em cima de um carro alegórico do Carnaval deste ano de 2023, na Sapucaí, RJ.
Lampião é e será sempre uma figura polêmica. Herói ou bandido?
Ainda no correr do desfile dessa madrugada, no Rio, ouvi também entusiasmado a Beija-Flor, com seus 3.500 componentes em 23 alas e 6 carros, o puxador Neguinho da Beija-Flor (e Ludmilla) cantava o belíssimo enredo: Brava gente, o grito dos excluídos no bicentenário da independência.
A independência do Brasil não ocorreu, a rigor, no dia 7 de setembro de 1822. Ocorreu no dia 2 de julho de 1823, na Bahia. É essa a história que a Beija-Flor conta. Uma das heroínas da independência foi Maria Quitéria.

CARNAVAL DE SÃO PAULO

Logo mais as 16h começa a apuração das escolas de samba de São Paulo, no Anhembi.
Quem você acha que vai ganhar, a Mancha Verde?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

ATENÇÃO: FILHA DE LAMPIÃO DESFILA NA SAPUCAÍ, AOS 90 ANOS


Baseados principalmente na literatura de cordel, Antonio Crescente, Gabriel Coelho, Luiz Brinquinho, Me Leva, Miguel da Imperatriz e Renne Barbosa compuseram o enredo do samba O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida, que a escola Imperatriz Leopoldinense leva à Sapucaí lá pelo meio da próxima madrugada 21. O enredo começa assim:

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!


Essa não é a primeira vez que Lampião, de batismo Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), é tema de escolas de samba do Rio-São Paulo e de outros Estados. Cheguei a entrevistar DonaMocinha (1910-2012), última irmã do cabaço Lampa. Essa também não foi a primeira vez que i famoso cangaceiro pernambucano entra no vasto repertório da nossa música popular. Em Portugal ele virou ópera popular, ao lado do também celerado Zé do Telhado.
A Imperatriz Leopoldinense exibirá em destaque a única filha do Rei do Cangaço, Expedita Ferreira Nunes. O enredo ela o aprovou completamente e aceitou naturalmente o convite para desfilar na avenida.
Expedita vai completar 91 anos de idade no próximo 13 de setembro. Está, pois, com 90 anos.
A mulher com mais idade a desfilar numa escola de samba foi a nossa maior cantora lírica da história: Balduína de Oliveira Sayão, na arte Bidu Sayão. Tinha 93 anos de idade quando desfilou pela escola Beija-Flor de Nilópolis, no dia 25 de fevereiro de 1995.
Antes de Bidu ir à avenida, como tema de samba-enredo, desfilou pela Viradouro a humorista e atriz Dercy Gonçalves (1907-2008). Isso em 1991, quando tinha 84 anos de idade.
Essas jovens de idade a mais do que o natural são, de fato, incríveis.
A história do nordeste é tudo a ver com a história de Lampião e Luiz Gonzaga. À propósito, na última madrugada a escola Mancha Verde apresentou-se no sambódromo do Anhembi, SP. Tema: Oxente - Sou xaxado, sou Nordeste, sou Brasil. Fala de Luiz Gonzaga.
Ouça o enredo da Imperatriz Leopoldinense:

LEIA MAIS: MARIA BONITA É CRIAÇÃO DE JORNALISTAS CANGAÇO E CONGRESSO DE CANGACEIROS

FORRÓ NATIVA

Hoje 20 ali pelo meio da madrugada, ouvi os irmãos Expedito e Amorim Filho tecerem loas sobre o trabalho de pesquisa no campo da cultura popular que desenvolvo desde sempre. Os dois, famosos como Mano Novo e Mano Véio, tomaram por base textos que escrevi a respeito da história do Carnaval. Isso no programa que apresentam madrugada adentro e há anos na rádio Nativa FM (93.5). Fico grato aos dois pela deferência e pelas belas palavras a mim dirigidas.
Expedito e Amorim Filho há muito labutam no rádio paulistano. Estive várias vezes no programa Nas Quebradas do Sertão, que apresentavam ao vivo na Velha Bandeirantes. O Nordeste se acha por inteiro na cabeça e no coração desses dois craques a quem os nordestinos de boa cepa devem muito, culturalmente falando.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

CARNAVAIS DAS PANDEMIAS DE ONTEM E DE HOJE (2, FINAL)

Eu sempre procurei ouvir artistas que enriquecem ou enriqueceram a nossa música popular.
Em fevereiro de 1990 publiquei entrevistas no Jornal de Brasília. Foram três. A primeira foi com João de Barro, o Braguinha, autor de clássicos do carnaval. É dele Touradas em Madri. é dele também, junto com Pixinguinha a pérola Carinhoso. A segunda foi com Zé Keti autor da última grande marcha-rancho Máscara Negra, com Pereira Matos. A terceira foi com Nássara. É dele e Haroldo Lobo a marchinha Alá-lá-ô, tornada clássica desde o seu lançamento em 1941.
Uma vez, fazendo pesquisa na biblioteca pública do Porto, deparei-me com uma notícia publicada num velho jornal português dando conta de que as primeiras manifestações carnavalescas no Brasil ocorreram bem no início do século 17. Notícia pequena, curtinha.
Uma notinha aqui, outra ali em jornais encontrados na Biblioteca Nacional dão conta de que o carnaval por aqui surgiu timidamente. Primeiramente em ambientes fechados. Bailes e tal. O primeiro desses bailes acorreu em 1840, no Rio. E foram se multiplicando e chegaram às ruas. O Zé Pereira saiu numa espécie de bloco do Eu Sozinho, batendo bombo.
Em 1899, à compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga coube a façanha de assinar a primeira marchinha de carnaval, Ó Abre Alas, que teria trechos gravados em disco da Casa Edison. A gravação completa porém só seria feita em 1972, pelas irmãs Linda e Dircinha Batista.
A primeira escola de samba de que se tem notícia é Deixa Falar, de 1928. A mais antiga, ainda em atividade, é a Portela que sai este ano de 2023 contando a sua história de 100 anos com o enredo O Azul Vem do Infinito.

Clique na imagem para melhor visualização
Na década de 70 era comum ouvir-se a expressão "som universal". Sempre bem humorado, Capiba mandou ver: "Som universal é peido!".
O carnaval tem sido ao longo do tempo objeto dos mais variados estudos. À respeito, muitos livros já foram publicados. Mas faltava um que tratasse de publicações periódicas, como jornais e revistas. E aí, em 2000, o jornalista e historiador José Ramos Tinhorão (1928-2021) teve publicado pela Hedra o livro A Imprensa Carnavalesca no Brasil, cuja leitura recomendo.
Muitas coletâneas em disco, abordando a temática, também foram lançadas à praça. Entre essas Sempre Carnaval, caixa que traz seis LPs e um encarte contando um pouco da história do chamado “tríduo momesco”.

CARNAVAL DE BILAC

A crônica é um gênero jornalístico surgido na segunda parte do século 19. O jornalista, poeta e contista carioca Olavo Bilac (1865-1918) foi um craque nesse campo. Entre 1898 e 1908, ele publicou semanalmente no jornal Gazeta de Notícias crônicas que seriam publicadas no livro Ironia e Piedade, em 1916. Nesse livro ele publica a deliciosa Carnaval. Começa assim, à pág. 119:
Mascarados, sede bemvindos ! — diz em Romeu e Julieta o velho Capuleto — já houve um tempo em que eu também me mascarava, para murmurar amáveis lisonjas ao ouvido das mulheres bonitas !» Quasi todos os velhos cariocas podem dizer o mesmo, porque no Rio de Janeiro o Carnaval já foi a grande festa da cidade, a festa que congregava no mesmo delírio todas as classes e todas as idades.
Muita gente séria, antigamente, suspirava todo o anno pela chegada d'essa época feliz.
É que havia logares a que não podia ir, sem grave escândalo, o burguez prudente. [...]


Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 18 de fevereiro de 2023

CARNAVAIS DAS PANDEMIAS DE ONTEM E DE HOJE (1)

Assis e Capiba no programa Gente e Coisas do Nordeste


No começo da segunda metade de 1918, a denominada “gripe espanhola” chegou ao Brasil pelos portos de Recife, Rio e São Paulo. Rapidamente a praga pegou. Matou muita gente por cá e alhures. Ao fim e a cabo, pelo menos 500 milhões de pessoas foram a óbito. Isso significou algo como ¼ da população mundial. Muita gente importante pegou essa gripe. O poeta Olavo Bilac morreu disso, em dezembro daquele ano.
O carnaval de 1919 foi uma barbaridade em todos os sentidos. Houve suicídios, estupros, balas...
Este ano de 2023 é, a rigor, o primeiro carnaval pós-pandemia Covid-19.
Evoé!
O carnaval é a festa popular de maior ressonância no Brasil. Foi trazida por portugueses cerca de um século depois de terem nos encontrado na pele dos indígenas. Éramos mais ou menos cinco milhões de almas de etnias diversas. Sobraram poucas. Pilantras de todos os tipos e patentes não se cansam de chafurdar nas terras dos nossos originários, pondo-os numa situação de risco grave, gravíssima, mas essa é outra história.
Carnaval: carne levare, carnivale, carnaval...
Não dá pra cravar com exatidão o mês e o ano em que nasceu o carnaval. Há quem diga que tem origens na Antiguidade. Pagã. Há também quem diga o contrário, ou seja: na Era iniciada com o nascimento de Jesus. Idade Média ou sei lá! O fato é que o carnaval, tal como o conhecemos, surgiu mesmo foi no Brasil.
Em país algum o carnaval é tão colorido e sensual como o carnaval do Brasil. É um carnaval bonito, extraordinariamente bonito, com sotaques e gingas pontuais de norte a sul.
O carnaval no Nordeste tem um quê a mais que outros carnavais do país.
No Sudeste, notadamente no Rio e em São Paulo, as escolas de samba são a grande atração.
Recife, chamada de Veneza brasileira, apresenta um carnaval peculiar e por isso mesmo inesquecível com seus grupos de maracatu e cirandas. Sem falar no famoso Galo da Madrugada com aqueles bonecões representando personagens do bem e do mal que pululam na vida nacional. E tem o frevo.
O frevo pernambucano é alegre, bonito, incomparável.
O pai do frevo sempre foi pra mim o inimitável Capiba, de batismo Lourenço da Fonseca Barbosa. A propósito cheguei a perguntar a Capiba se ele mesmo se considerava o pai desse inebriante ritmo. Rindo disse que não, que não era pai de nada. Mas quisesse ou não, compôs frevos incríveis. Chapéu de Sol Aberto, por exemplo. Esse frevo chegou a dar título a um LP, cuja capa foi ilustrada (vejam só!) por ele próprio.
Há uns 30 anos entrevistei Capiba no programa Gente e Coisas do Nordeste, que eu apresentava na Rádio Atual. Duas horas de papo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ESCOLAS CONTAM HISTÓRIAS DO NORDESTE. PORÉM, A DESEJAR

O desfile das escolas de samba de São Paulo começa oficialmente hoje 17, no sambódromo do Anhembi. 
O Carnaval é uma festa boa, bonita, a mais colorida festa popular do Brasil. A história é longa. A primeira marchinha surge com Chiquinha Gonzaga, em 1899. Um clássico. Uma joia. Antes tinha o Zé Pereira, o Entrudo antes do Pereira. E tudo foi indo, foi indo.
Surgiram as escolas de samba, primeiro no Rio de Janeiro. Deixa Falar marcou época. E foi e foi.
São Paulo imitou o Rio criando suas escolas.
Desde os anos 40 que as escolas têm samba de enredo. Tudo bonito e tal, hoje está tudo meio degringolado.
A Portela, no Rio, comemora seus 100 anos de fundação.
Em São Paulo três escolas escolheram temas até bonitos e bons, mas falharam no seu desenvolver.
A Dragões da Real vai entrar na avenida não contando o que se propôs a contar: a história da fundação de João Pessoa, PB.
A Mancha Verde vai entrar na avenida contando a história do Xaxado, cantiga do cangaceiro Lampião. Ficou meia-boca.
A Pérola Negra vai entrar na avenida homenageando Jair Rodrigues. Começa falando já no título: "Prepare seu Coração"... Vandré não é citado. Ficou assim, assim.
É isso. Confira e tire suas conclusões:





HOJE É DIA MUNDIAL DO GATO. E AÍ?


No calendário nacional e estrangeiro existe dia pra tudo. Dia de santo tal, dia do herói não-sei-quem, dia da independência não sei da onde, Dia da Paz Mundial, que é no dia 1º de janeiro. Existe dia pra tudo. Dia do Samba, Dia do Choro, Dia da Poesia, Dia da Literatura Infantil, Dia disso e daquilo. Até Dia do Gato existe.
Já faz anos que os italianos inventaram o Dia do Gato. Dia lá deles, dos bichanos e dos italianos.
Os italianos criaram o Dia do Gato em benefício do gato, principalmente dos gatos abandonados. A ideia era fazer com que as pessoas tomassem consciência da necessidade de tratar bem o gato e, na levada, todos os animais domésticos.
Diante do exposto até aqui peço licença aos cachorros, quadrúpedes ou não, para saudar o gato. O de botas, inclusive.
No Brasil existem mais de 20 milhões de gatos.
O número de cachorros é superior, mais do que o dobro, ao número de gatos. E nessa leva de gatos, euzinho aqui não se sente incluído. Poderia até estar, mas não.
É necessário que todos tenhamos consciência de ser preciso cuidar de gatos e de outros animais domésticos, com carinho.
Ao adotar o animal doméstico cuidemos deles porque eles também, de certo modo, cuidam da gente.
 
Assis com o livro Gataiada

O Dia do Gato criado pelos italianos virou Dia Mundial do Gato.
Em 2019 o cartunista paulista Fausto Bergocce publicou um livro muito bonito. Esse livro, Gataiada, é uma joia. Nele eu digo uma ou outra coisa. À pág. 39, por exemplo, inspirado num velho sindicalista, comparo gato a gente. Mais ou menos isso: Como qualquer um de nós, gato também é gente.
Pois, pois!
Há muitas histórias de gato.
Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar num cara chamado Edgar Allan Poe?
Pois bem, Edgar Allan Poe (1809-1849) foi jornalista, poeta, contista... É dele o conto intitulado O Gato Preto, que foi publicado originalmente em agosto de 1843. É uma história trágica. Começa com um jovem casal que cuida de um gato. O resto eu não conto. Se quiser saber o final dessa trágica história, tristemente original, leia: O GATO PRETO
Na nossa música popular, o gato é personagem bastante presente. Ouça: 
 


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

AINDA SEM FINAL O CASO NERUDA

Neruda deve estar se remexendo todo no túmulo, 50 anos após sua morte.
A polêmica aumenta: foi assassinado ou vítima de câncer de próstata, no dia 23 de setembro de 1973?
Ontem 15 à tarde o advogado Rodolfo Reyes, que representa a família no processo contra o Estado chileno, garante que os laudos de que dispõe comprovam que no poeta foi injetada uma substância desconhecida.
Depois de exumado, em 2012, no corpo de Neruda foi encontrada uma bactéria conhecida como "Clostridium botulinum", cuja toxina causa botulismo.
Eu não sei bem o que é isso, mas sei que isso mata.
A juíza designada para acompanhar o caso, Paola Plaza, acha insuficientes as informações que lhes chegaram às mãos. E disse em entrevista coletiva: "Não posso assumir a responsabilidade pelo que está circulando na imprensa e se algum dos participantes teve conhecimento prévio".
O sobrinho-neto do poeta, Bernardo Reyes, disse por sua vez que "A conclusão científica não poderá determinar sua associação com um ato homicida. Sem mencionar que até 1973 ainda não havia no país, durante a ditadura, um desenvolvimento de assassinatos com técnicas químicas".
Bernardo Reyes aproveitou a ocasião pra dizer que seus parentes são "porta-vozes arrogantes, que sequer representam a família".
Isso tudo vem à baila depois que o motorista de Neruda, Manuel Arayas, revelou em 2012 que logo após receber a injeção que provavelmente lhe causou a morte, o poeta lhe telefonou para dizer que estava sentindo sintomas estranhos no corpo.
É grande e valorosa a obra do poeta chileno, traduzida em várias línguas mundo afora.
Ditadura é um horror!

PRISÃO PARA BOLSONARO

Enquanto isso o Partido Socialismo e Liberdade, PSOL, encaminha abaixo assinado ao STF pedindo a prisão do candidato a ditador do Brasil, Jair Bolsonaro, que se acha escondido em local qualquer dos EUA. No documento há cerca de 300 mil assinaturas. À respeito diz o deputado federal Guilherme Boulos:

"Bolsonaro anunciou que voltará ao Brasil em março, esperamos que volte mesmo para responder no banco dos réus pelos crimes que cometeu. Além de tudo, ele é muito covarde. Passou quatro anos desacreditando o sistema eleitoral e estimulando o golpismo no Brasil, defendendo AI 5, ditadura, tentando transformar torturador em herói. Nosso pedido é de reparação. Não é vingança, é justiça. Nenhuma ferida cicatriza se não houver reparação. Por isso, viemos entregar as quase 300 mil assinaturas que apoiam o nosso pedido de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, como forma de reforçar o pedido que já fizemos ao Supremo Tribunal Federal. Prisão para Jair Bolsonaro, aos milicianos, aos golpistas".

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

MATARAM NERUDA, NERUDA VIVE!

Pablo Neruda no Pacaembu

Ditadura de esquerda ou de direita não presta. Pra ninguém.
Ditadura militar ou civil não presta em língua nenhuma, nem aqui nem alhures.
Em 1973 o troglodita Augusto Pinochet levou o Chile e a sua população ao buraco mais fundo do país.
As ditaduras foram se multiplicando mundo afora desde sempre. Os anos 60 foram terríveis. Os anos 50 também. Anos 30, no Brasil, foi um horror com Getúlio Vargas que, de modo inexplicável às mentes mais lúcidas, entrou para a história como "o pai dos pobres".
Todo mundo sabe e o mundo todo também que a Rússia de Stalin sucumbiu. Tempos lá do Comunismo.
A China de Mao levou milhões de chineses à sepultura. Um horror!
O Brasil, durante duas décadas foi comandado por generais e juntas militares. Muita gente foi presa, torturada e morta e outras, exiladas.
Um golpe militar comandado por Pinochet derrubou o governo democrático de Salvador Allende no dia 11 de setembro de 1973. O modo que Allende encontrou para se despedir do seu povo e seu mundo foi o suicídio. Não havia escapatória. Era isso ou deixar-se simplesmente ser assassinado pelo ditador de plantão que o substituiu na marra.
Não custa lembrar que o jovem compositor e cantor chileno Victor Jara (1932-1973) foi sequestrado e levado para ser assassinado no Estádio Nacional de Chile. Antes disso seus algozes obrigaram-no a cantar e tocar violão. O artista pegou o violão e começou a tocar e a cantar. Num vapti-vupti, cortaram-lhe as mãos e acabaram com ele com um tiro na nuca.
Doze dias depois do golpe que derrubou Allende, os seguidores de Pinochet conseguiram envenenar o poeta Pablo Neruda.
Neruda, de batismo Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, estava internado num hospital para o tratamento de um câncer de próstata.
Familiares e amigos do poeta não engoliram a versão oficial, segundo a qual, ele teria morrido em consequência da doença que tratava.
Hoje 15 até o final da tarde deverá ser anunciado oficialmente a causa mortis de Neruda.
O poeta Pablo Neruda, que foi diplomata e até senador por seu país, deixou vários livros publicados e um LP intitulado Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada.
Seu principal tradutor no Brasil foi o poeta Thiago de Mello (1926-2022), pai do cantor e compositor Manduka, parceiro de Geraldo Vandré na música Pátria Amada, Idolatrada, Salve Salve.
Em 1971, Neruda recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Antes, em 1945, ele esteve em São Paulo, mais precisamente no Estádio do Pacaembu, declamando poemas diante de pelo menos 100 mil pessoas. História.
Pra lembrar o poeta, ouça:
 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O RÁDIO JÁ TEM SAMBA

Jornalista leva porrada no Rádio, na Televisão, no jornal, em todo canto e desde sempre!
O ex-ministro da ditadura militar Armando Falcão (1919-2010) costumava tratar muito mal nossos coleguinhas. Só dizia o que lhe interessava. Mais das vezes dizia a frase que ficou famosa: "Nada a declarar".
O ex-presidente Bolsonaro, que se acha escondido em algum lugar nos EUA, agredia todos dias jornalistas homens e mulheres. Tinha e tem prazer em fazer isso. É lamentável, sob todos os aspectos. É do mal, não presta.
Na última sexta 10, depois de um encontro com o presidente norte-americano Joe Biden, Lula fez o que nenhum outro presidente da República fez até agora: elogiar jornalistas que o aguardavam num frio da gota serena, em Washington. Disse: "Primeiro, eu gostaria de dar os parabéns a vocês, porque essa função de jornalista deve ser muito complicada... Ficar num frio como esse aqui, esperando pra fazer uma pergunta... Jornalismo é uma profissão que precisa ganhar muito bem. Muito bem!".
Eu gosto do rádio.
O rádio é uma das mídias mais importantes do mundo.
O rádio foi inventado pelo padre brasileiro Roberto Landell de Moura. Já escrevi a respeito: O RÁDIO GANHA HINO EM RITMO DE SAMBA (1) e O RÁDIO GANHA HINO EM RITMO DE SAMBA (2, FINAL).
Comecei a ocupar microfones de rádio em João Pessoa, PB. Corriam os anos de 1970. A experiência, que virou profissão, deu-se na Rádio Correio da Paraíba. Cá em Sampa, ocupei microfones da Atual Jovem Pan, Mulher, Capital, Trianon e tal. 
Com o craque da nossa música Jarbas Mariz, fiz O Samba do Rádio. Ouça:

Uma caixinha mágica
Faz o mundo se ligar
Dessa caixa sai a voz
De quem tem o que falar

Sobre tudo conta a voz
Que tem sempre o que contar
Pra saber o que se passa
Basta fazê-la falar

Ligada a caixa fala
Toca e canta sem parar
Fora isso diz a hora
Pra ninguém se atrasar

Variadas formas tem
Essa bela invenção
Que cabe bem certinho
Até na palma da mão

O autor dessa magia
Foi o padre brasileiro
Roberto Landell de Moura
Famoso no mundo inteiro

 

INSTAGRAM

Estou ficando moderno. Até instagram agora eu tenho. E no pique. Confira, clicando: https://www.instagram.com/assis_angelo/

domingo, 12 de fevereiro de 2023

CARMÉLIA ALVES: 100 ANOS DE VIDA E CARNAVAL (2, FINAL)

Carmélia Alves foi uma mulher incrível. Embora imitasse no início da carreira Carmen Miranda, Carmélia conseguiu destacar-se na música brasileira como uma das maiores vozes. Cantava lindamente. Depois que achou a sua própria voz, o seu timbre, aí ninguém mais a segurou. E não dá para compará-la a ninguém, nem à Dalva de Oliveira ou à Elis Regina. Foi grandona, mesmo! Não à toa tráfegos com extremo desembaraço nos ritmos e gêneros musicais que abundam no nosso país.
Gostava de ler. Érico Veríssimo era um de seus grandes autores. Gostava da música erudita: Bahr, Beethoven…
Não foram poucos os discos que Carmélia gravou. Dezenas, dezenas. Seu repertório é extenso. E cantava onde tinha gente pra ouví-la. Gravou discos em vários países: na Rússia, Alemanha, Itália, EUA, Argentina, Uruguai (onde gravou um belíssimo LP), Portugal, África e tal.
Divulgando o baião e outros gêneros de nossa música, Carmélia apresentou-se em dezenas e dezenas de países com Jimmy a seu lado. Levou a sério o "título" de rainha do baião dado por Gonzaga. Fez muito
sucesso. Músicas que gravou continuam gravadas no inconsciente popular. Exemplos: Sabiá na gaiola, Trepa no Coqueiro
A minha filha caçula Clarissa ama até hoje Sabiá na Gaiola…
E o tempo passou. Passando o tempo, no programa São Paulo Capital Nordeste que eu apresentava na Rádio Capital (AM 1040), num momento só és que eu estou lado a lado, ou no meio, com as rainhas Marinês, Carmélia e Anastácia.
De Gonzaga e parceiros, Carmélia gravou muitas músicas. E de Hervê também, até um LP só com músicas dele. Isso em 1959. Nesse ano, o radialista Cezar Ladeira fez um rádio teatro abordando a vida de Carmélia e Jimmy. Título: Amor de Sua Vida. O único registro desse programa se acha no acervo do Instituto Memória Brasil, IMB, num disco nunca levado comercialmente à praça.
O Brasil precisa dar mais atenção aos seus artistas, não é mesmo?
Carmélia Alves Curvello morreu no Retiro dos Artistas, no Rio, abandonada, no dia 3 de novembro de 2012.
Jimmy Lester morreu no dia 13 de novembro de 1998.
Viva a rainha de todos os baiões, do samba ao frevo!

LEIA MAIS: FESTA NO CÉU COM O REI E RAINHA DO BAIÃOCARMÉLIA DE BAIÃO TAMBÉM ERA DO FREVOREIS DA MÚSICA CANTAM SÃO PAULOAINDA CARMÉLIA ALVES


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

CARMÉLIA ALVES: 100 ANOS DE VIDA E CARNAVAL (1)

A cantora Carmélia Alves
Nascida na quarta-feira de cinzas de 1923, que caiu no dia 14 de fevereiro, a carioca de Bangu Carmélia Alves cantou o Brasil em quase todos os rítmos: cateretê, toada, forró, choro, frevo, xote, sambas canção, sambas de enredo (com Geraldo Filme, em 1969) e até marchinhas de carnaval. Começou cantando samba e até um LP com músicas da bossa nova ela gravou, em 1964.
No auditório da rádio Jornal do Commercio em Recife, PE, fez uma apresentação histórica interpretando baiões e tudo mais. Foi em novembro de 1950. Fez um pot-pourri e saiu na boca do povo. Não demorou e Luiz Gonzaga, que emplacava um sucesso atrás do outro a partir do Rio, a chamou de rainha do baião e até simbolicamente a coroou como tal.
Não custa lembrar que Carmélia gostava de ouvir rádio e de cantar imitando até nos trejeitos a portuguesinha Carmen Miranda.
Carmélia, de batismo Carmélia Alves Curvello, tinha uns 17 anos de idade quando a princípio sem os pais saberem passou a frequentar auditórios e programas de calouros que se multiplicavam nas emissoras de rádio do Rio. Passou em todos até no Estrada de Jacó ou algo parecido, comandado pelo invocado mineiro Ary Barroso.
Em 1943 Carmélia gravou o primeiro disco: um 78rpm com as músicas Quem Dorme no Ponto é
Chofer, de Assis Valente; e Deixei de Sofrer, de Horondino Silva e Buco do Pandeiro. Essa informação não acha na discografia da música brasileira (78rpm) e até onde sei em livro nenhum. Curiosidade: o referido disco foi todo produzido de modo independente com o flautista Benedito Lacerda à frente. Os cantores Chico Alves, Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro e a divina Elizeth Cardoso formaram um coro para acompanhar a brilhante estreante. O disco foi independente, está claro?
Mesmo fazendo bonito nos programas de calouro, Carmélia não conseguiu encantar de imediato os bam-bam-bans das gravadoras.
Carmélia deixou a casa dos pais três meses depois de conhecer o paulista José Andrade Vilela Nascimento Ramos, com quem se casou no dia 27 de junho de 1944. Tempos de guerra e de dificuldades em todo canto, inclusive no Brasil.
Carmélia cantou em quase todos os cassinos do Brasil, antes e depois de ficar famosa.
O presidente à época era o gaúcho Getúlio Vargas, substituído pelo marechal Dutra e por ordem da mulher Carmela achou por proibir o jogo de cassino no Brasil. Fato que mexeu profundamente com a vida dos artistas da época.Eu conheci Carmélia Alves num ano qualquer da década de 1990. Viramos amigos. Ela frequentava a minha casa e eu a dela em Teresópolis, RJ. Fui lá várias vezes. Ora sozinho, ora com o sanfoneiro cearense Cezar do Acordeon, com quem cheguei a dividir parceria numa música em homenagem à Carmélia. Homenagem em vida, né?
Tive ótimos papos com o marido da Carmélia. Vozeirão, voz bonita. Jimmy Lester além de cantar tocava vários instrumentos e produzia shows na vida. Sua carreira como cantor não durou muito. Porque não quis. Gravou bons discos, boas músicas. Gosto de Jangada, canção do maestro Hervê Cordovil e do radialista Vicente Leporace, gravada em 1952. Foi nesse ano em que eu nasci na capital paraibana. Ele trocou sua carreira para dedicar-se a sua mulher. Escreveu e dirigiu vários espetáculos dela no Brasil e no exterior. "Jimmy foi meu único homem. Minha vida com ele foi muito bonita, muito boa. Fomos marido e mulher durante 54 anos", disse-me uma vez Carmélia.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

EU E MEUS BOTÕES (59)

O compositor Paquito
Cumprimentei todo mundo, como sempre faço aqui. Vocês que me leem, sabem disso. "E nós também, claro", interrompeu Barrica.
Bom, pessoal, cadê o Lamp...?
Nem bem acabei de falar o nome desse meu querido botão, eis que o próprio entra trocando as pernas e ao dizer "Bom dia" acrescentou um "Ick!". Na mão direita uma garrafa de Cinzano. "O que é isso, Lampa?", perguntou com estranheza o botão Jão.
Lampa, cabisbaixo, deseducadamente soltou um arroto e sentou-se cambaleante num tamborete. Quase cai. Quebrando o silêncio, disse com a voz engrolada: "É Carnaval!".
Zilidoro levantou-se após dizer "hmmm".
"Seu Assis, já é Carnaval em vários pontos do Brasil. Na Bahia inclusive. Aproveitando a deixa, pergunto se o Sr. sabe quem foi Paquito e o que ele fez para o Carnaval".
Está me testando é? Bom, começo dizendo que Paquito recebeu o nome na pia batismal de Francisco da Silva Fárrea Júnior. Nasceu no Rio no dia 9 de fevereiro de 1915 e morreu novo em 1975. Não sei de quê, mas deixou algumas coisas bonitas como as marchinhas Bigorrilho e Boi da Cara Preta, essa última gravada pelo paraibano Jackson do Pandeiro em 1956.
Lá do canto, no tamborete onde se achava, Lampa entrou na conversa dizendo que Paquito também compôs a marcha Daqui Não Saio. E tentou cantar, enrolando a língua: "Daqui não saio... Daqui ninguém me tira... Onde é que vou morar... O senhor tem paciência de esperar...". 
Todos voltaram os olhos a Lampa, que pra si próprio bateu palmas.
Achei graça e lembrei que era próprio do Paquito fazer letras sobre as dificuldades enfrentadas pelo povo do subúrbio carioca. Também é dele, por exemplo, Tomara que Chova.
"Essa aí eu sei de trás pra frente", gabou-se Biu e sem pedir licença já foi cantando: "De promessa eu ando cheio/Quando eu conto a minha vida/Ninguém quer acreditar/Trabalho não me cansa/O que cansa é pensar/Que lá em casa não tem água/Nem pra cozinhar".
Muito bem pessoal, gostei!
"Seu Assis, a gente vai sair num bloco. Quem inventou esse bloco foi o Mané. Quer ir com a gente?", disse Zoião, já em clima de samba.
O insuspeito Zé, que chegou atrasado e quieto num canto ficou, abriu a boca pra lembrar que hoje, 9 de fevereiro, faz 120 anos do nascimento do mineiro Ary Barroso. "Opa! Como pude me esquecer disso?", confirmou surpreso Zilidoro.
E o Jão de repente lembra que hoje também é o Dia do Frevo, olha só!
Pra encerrar, Barrica perguntou a Zilidoro se ele lembrava que hoje é o primeiro Carnaval sem a presença na telinha da Globo da repórter Glória Maria. Disse que sim e que até recebeu um desenho muito bonito do cartunista Fausto. "Sou amigo do Fausto há muito tempo e eu sei, seu Assis, que ele é também seu amigo. Ele pediu pra lhe mostrar o desenho que ele mandou".
Muito bem, muito bem! Vamos então compartilhar com nossos leitores o desenho do querido Fausto. Ei-lo:

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

E OS MANDANTES DO QUEBRA-QUEBRA EM BRASÍLIA, HEIN?


Hoje 8 faz um mês que aloprados bolsonaristas invadiram Brasília na tentativa insana de provocar um rompimento da lei da ordem. A ideia central era fazer com que as Forças Armadas assumissem um golpe evitando a posse do presidente democraticamente eleito, Luís Inácio Lula da Silva.
O quebra-quebra na Capital Federal começou ali pelo meio da tarde e estendeu-se até de noite com a prisão de centenas de vândalos.
Nas prisões de Brasília ainda se acham trancafiados mais de 900 criminosos bolsonaristas, 653 dos quais já foram devidamente identificados e qualificados na forma da Lei.
Enquanto os criminosos são indiciados, a polícia continua em campo cumprindo decisões legais do ministro Alexandre de Moraes.
A intenção da polícia é identificar todos os vândalos mandantes e apoiadores do quebra-quebra. 
Além de responder à Justiça, os criminosos deverão arcar com os prejuízos contra o patrimônio público por eles mesmos provocados.
Há um mês, uma semana e um dia o governo de Lula tem feito das tripas coração. Ou seja: a buraqueira e a insanidade deixadas por Bolsonaro têm levado o governo a apagar incêndio na Amazônia, literalmente.
É isso.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

FOME É TERREMOTO QUE MATA NO BRASIL

Há terremotos desde que o mundo é mundo. E continuam aqui e acolá a arrastar pessoas à morte, como agora na Turquia e na Síria. Mas não só de terremotos o mundo morre.

Como os terremotos, a fome é uma praga sem cura.

Há muita fome no continente africano e em outros lugares. No Brasil, por exemplo. 

Pois é, no Brasil mais de 30 milhões de pessoas não sabem se vão comer hoje, amanhã ou sei lá!

Gente gananciosa continua metendo a mão no erário das três esferas: municipal, estadual e federal. 

Gente gananciosa, sem espírito ou noção está matando índios e florestas.

Representantes das três armas já se acham na Amazônia prendendo ou botando pra correr madeireiros e garimpeiros que há anos vêm atuando ilegalmente na região. O detalhe é que esses caras estão se juntando em grupos para se apropriar dos mantimentos enviados aos indígenas. 

As forças legais têm muito mapeamento de área. 

Até agora já foram identificadas mais de 1.200 pistas clandestinas para pouso de aeronaves. É o começo do fim para os bandidos da área. Que assim seja!

Enquanto isso, policiais federais continuam cumprindo ordens do ministro Alexandre de Moraes, do STE/STF, no sentido de prender os aloprados bolsonaristas que pretenderam impedir a posse de  Lula como presidente da República. 

Isso tudo também é uma espécie de terremoto no nosso país, né não?


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

CRETINOS TAMBÉM SE MATAM

Idiotas têm nome e, eventualmente, endereço.
Terça passada um bolsonarista raiz ateou fogo ao próprio corpo berrando: "MORTE AO XANDÃO!". Foi no canteiro central da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. E claro, o cretino morreu. Mas de pirraça, não vou dizer o nome dele. Só a idade: 58 anos.
Outros cretinos bolsonaristas se candidataram a cargos eletivos dizendo que se eleitos e Bolsonaro não, renunciariam ao cargo. Caso confirmado foi o de uma deputada de Santa Catarina. Uma prefeita de Mato Grosso chegou a dizer que se Lula subisse a rampa, também renunciaria. E renunciou. É uma tal de Carmelinda.
Enquanto isso, ainda escondido em um lugar qualquer dos EUA, Bolsonaro diz que é italiano segundo a legislação brasileira. É pra rir ou pra chorar? A verdade é que o ex-presidente está com medo de retornar ao Brasil. Claro, tem lá seus motivos. Cana nele!
 
E POR FALAR EM SUICÍDIO...

domingo, 5 de fevereiro de 2023

YANOMAMI: UMA TRAGÉDIA PROGRAMADA

O processo de extermínio contra os indígenas originários do Brasil não é de hoje. Data dos tempos em que europeus por cá desembarcaram. Os primeiros desembarques ocorreram na costa baiana. O ano era 1500.
Diz a história que havia entre dois milhões a cinco milhões de indígenas divididos em pelo menos 1.000 grupos. O maior desses grupos carregava consigo a alma e a língua tupi-guarani.
A Amazônia brasileira é a maior floresta tropical do mundo. A parte que nos toca chega a 4,1 milhões de Km².
Não custa lembrar que a Amazônia fica ao Norte do nosso país. Essa região é ocupada por sete Estados. Além do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A Amazônia está dividida em duas partes: Ocidental e Oriental.
A Amazônia Ocidental é constituída por quatro Estados: Acre, Rondônia, Roraima e, naturalmente, o Amazonas.
Roraima é o Estado onde se acha a maior parte dos Yanomami.
O povo Yanomami foi um dos últimos a manter contato com o homem branco que o está dizimando, ali pela virada do século 19. São cerca de 30.000 indígenas. O seu território, de cerca de 9,6 milhões de hectares, está nas mãos de garimpeiros, madeireiros, narco-traficantes e de outros criminosos, inclusive engravatados com plantão diário em gabinetes da Câmara, Senado e palácios. Noutras palavras: os Yanomami estão abandonados e morrendo de fome, de gripe, de malária e de outras mazelas. Já não caçam, não pescam e nem plantam, pois a terra está contaminada e as águas dos rios envenenadas. Quem bebe adoece e morre que nem os peixes.
A situação atual dos Yanomami é uma verdadeira tragédia. Trata-se de omissão do Estado. Tudo indica que houve plano para pôr fim à vida dos Yanomami. Isso é genocídio.
O crime contra os Yanomami vem de longe, mas foi no governo Bolsonaro (2019-2022) que tudo piorou.
A gravidade do problema ganhou repercussão internacional com a visita do presidente Lula à Roraima, no sábado 21. Isso a partir de reportagem de Eliane Brum, segundo a qual 572 crianças do grupo Yanomami morreram vítimas de desnutrição, malária etc. Um horror!
Na contramão da imprensa estrangeira, a nossa imprensa não tem dado destaque necessário à tragédia Yanomami. O Estadão e o Globo até que têm falado. A Folha, com mais força. A TV Globo, também. Menos mal.
Lenda indígena dá conta de que as árvores sustentam o céu, mas se derrubadas o céu desaba sobre nossas cabeças.
Em 2010 o xamã e líder indígena Davi Kopenawa narrou histórias ao antropólogo francês Bruce Albert, que escreveu o livro A Queda do Céu, lançado primeiramente em francês.
Em 1990, Gianfranco Bolonha reuniu textos de 13 especialistas sobre a questão ambiental no livro Amazônia Adeus.
Livro que também merece atenção é Índios no Brasil, organizado por Luís Donisete Benzi Grupioni.
Na nossa literatura os indígenas aparecem como heróis, mas um tanto subordinados a brancos europeus. Caso de Peri, personalizado num índio da tribo Guarani que se apaixona por Ceci, moça de fino trato e filha de um poderoso português de nome dom Antônio de Mariz.
Ceci e Peri passeiam com desenvoltura nas páginas do romance O Guarany, de José de Alencar. Esse romance, originalmente publicado na forma de folhetim nas páginas do jornal Diário do Rio de Janeiro, virou livro em 1857.
Em 1870 o maestro Carlos Gomes levou o Guarany à cena na maior casa de ópera da Itália: alla Scala, de Milão.
Além de Alencar, outros grandes escritores viram nos indígenas objeto de suas histórias. Exemplos: Bernardo Guimarães, Mário de Andrade, Antonio Callado, Darci Ribeiro.
Bernardo Guimarães, autor do clássico A Escrava Isaura, publicou em 1872 o conto Jupira, que ganharia o palco como ópera em 1900 no Rio de Janeiro. O maestro Francisco Braga (1868-1945), autor da melodia do Hino à Bandeira (letra de Olavo Bilac), foi o regente da história criada por Guimarães.
A questão indígena se acha em todo canto, literalmente. Até em samba de enredo e em marchinha de carnaval.
Em 1959 o maestro Villa-Lobos compôs a belíssima peça Forest of The Amazon. Gravada nos EUA, obteve sucesso mundial.
Dalgas Frisch foi a primeira pessoa a gravar trinados de pássaros da Amazônia, inclusive do uirapuru. Suas gravações viraram discos elogiados pela imprensa internacional e até pelo presidente norte-americano John Kennedy (1917-1963).
A fotógrafa Claudia Andujar inaugura nessa sexta-feira 3/2 exposição sobre os Yanomami, em Nova York. Claudia tem dedicado boa parte da sua vida registrando o dia a dia Yanomami.
A Polícia Federal está investigando os responsáveis por mais essa tragédia indígena.

LEIA MAIS: CANA PARA O GENOCIDA BOLSONARO!O ÍNDIO MERECE RESPEITO…A SOLIDÃO COMO OPÇÃODIA DO ÍNDIO E DE TODOS NÓS, BRASILEIROSÍNDIO NÃO QUER APITOÍNDIOS VIVEM À MÍNGUA

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.
Ilustrações por Fausto Bergocce.

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