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domingo, 2 de setembro de 2012

LEMBRANDO MÁRIO CHAMIE

Passamos nós ou o tempo?
Ontem revi um amigo que há muito não via: Ives Gandra da Silva Martins, intelectual hoje no seu estágio mais apurado de criação e entendimento do tempo que passa, ou passamos.
E toda vez que o vejo, sempre sou presenteado por uma penca de novos livros de sua autoria.
E dessa vez não foi diferente; acrescida de mais uma novidade: ele acaba de entrar para o Livro dos Records, via RankBrasil, pela façanha de escrever sua rotina em poesia em quatro volumes, a que intitulou de Meu Diário em Sonetos (editora Pax & Spes, São Paulo).
Os quatro volumes são resultado de um autodesafio a que se propôs, depois de ganhar um daqueles livrinhos em branco que amigos os costumam nos dar nos fins de ano. E foi assim que ele, sem prejuízo nas tarefas do dia a dia como um dos mais reconhecidos e aplaudidos tributaristas do País, escreveu em 2010 365 poemas na forma de sonetos.
O bom desses raros encontros é que nossas conversas se estendem, girando por temas diversos.
E foi assim ontem quando fiquei sabendo que o poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário gaúcho Carlos Nejar é um dos nomes cotados para receber o próximo Nobel de Literatura, não só por História da Literatura Brasileira (da Carta de Caminha aos Contemporâneos), de 2011, mas pelo conjunto da obra iniciada em 1960, com o livro de poemas Sélesis (Ed. Globo).
História da Literatura Brasileira é um volume de mais de 1.100 páginas, no qual se acha tudo o que diz respeito significativamente à literatura e a literatos brasileiros, incluindo gêneros e movimentos como o Concretismo dos irmãos Campos e a Práxis do paulista de Cajubi Mário Chamie; passando pela Geração de 45 que tantos bons nomes gerou, incluindo o próprio Ives.
Especialmente na vertente poética, Chamie foi um autor que enriqueceu sobremaneira a literatura brasileira.
Ao lançar a sua poesia-práxis, entre 1958 e 1960, ele mexeu em casa de aripuá, isto é: mexeu profundamente com a estrutura poética criada e defendida pelos Campos.
Lavra-Lavra (Massao Ohno, 1962) foi o seu livro mais polêmico.
Mexendo nas estantes, me deparei com alguns livros seus.
Na dedicatória de um deles (Intertexto: a Escrita Rapsódica – Ensaio de Leitura Produtora), datada de 17 de janeiro de 1998, ele não recomenda e nem deixa de me recomendar sua leitura: “Se quiser ler, leia. Uma coisa é certa: prometo continuar seu amigo”.
Noutro, no dia 26 de novembro de 2002, ele escreve: “Irmão em poesia e afeto, aceite o meu abraço, devoto e admirado”.
E continuamos amigos até que o tempo nos separou, no dia 3 de julho de 2011.
A seu respeito, na solene noite de posse como membro da Academia Paulista de Letras, Ives Gandra, depois de lembrar que a poesia de Mário foi traduzida para o inglês, francês, italiano, alemão, árabe, tcheco, russo e espanhol, o saudou dizendo que a sua poética simplesmente era "indomável", dona de um espaço muito próprio, “fonte imprevisível de significações, cabendo ao poeta, em sua práxis, revelar seu integral poder de expressão”.
E antes de desejar as boas-vindas ao novo acadêmico, Ives lembrou o que escrevera Gilberto Freyre:
“Seu verbo incisivo é unicamente seu. Não apresenta parentesco com o de nenhum outro poeta. É uma expressão nova em língua portuguesa. Em Mário Chamie, a criatividade se apresenta tão dele – e tão-somente dele – que é como se as palavras, ou relações entre palavras, nascessem com ele, como fossem de todo inventadas”.
Viva Mário!

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