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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

CORDEL NO SESC


Embora ainda haja preconceito sobre a literatura de cordel, devo dizer que a literatura de cordel é um tipo de literatura rica em conteúdo e, por isso mesmo, importantíssima para o Brasil.
A literatura de cordel é coisa antiga.
Os primeiros folhetos contendo história em poesia foram publicados provavelmente em Portugal a partir do começo do século 16. Gil Vicente (1465-1536), quero crer, foi o pioneiro nesse tipo de literatura em Portugal, pelo menos. Seus primeiros textos foram escritos em Espanhol. 
O folheto de cordel também germinou no sul da França e também na Alemanha.
O cordelismo, nos seus primórdios, se fez presente no México, Chile e outros países de língua latina. No Brasil, a literatura de cordel chegou logo depois da chagada da família real em 1808.
O primeiro autor a publicar versos em folheto foi o paraibano Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), segundo nos diz mestre Luis da Câmara Cascudo (1898-1986).
O segundo autor a publicar histórias em folhetos foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918).
Silvino e Leandro eram paraibanos, nascidos na Serra do Teixeira.
Agora há pouco falamos sobre isso na unidade do Sesc, ali na 24 de Maio, centro paulistano.
Comigo estiveram o bom baiano Marco Haurélio e o inspirado Moreira de Acopiara (foto acima).
O ponto da conversa era Leandro Gomes de Barros e o Cego Aderaldo, que nasceu em 1878 e partiu para a Eternidade no dia 29 de Junho de 1967.
Aderaldo foi o cego repentista mais importante do Brasil.


ADERALDO CANTADOR


Neste mundo ainda tem
Muito cego apaixonado
Cantando a vida em verso
De modo improvisado
Como o tempo todo fez
O bardo Cego Aderaldo

Aderaldo foi exemplo
De poeta e cidadão
Enxergava muito longe
Sem nos olhos ter visão
E lutava a boa luta
Com as armas do coração

E lutava! E cantava!
Com uma rabeca na mão
Enaltecendo a Natureza
E os filhos da Criação
Como os peixes do mar
E as aves de arribação

Era incomparável
No seu tempo de repente
Estava em todo o canto
Cantando sempre contente
Brincando com a rabeca
E fazendo verso prá gente

E não via com os olhos
Ele via com a mente
Ele era especial
Sensível, inteligente
E mais do que ligeiro
No gatilho do repente

O repente é arte
É alma da Cantoria
É a via que transforma
Tristeza em alegria
E leva todo mundo
Ao mundo da fantasia

Um mundo fabuloso
Bonito, encantado
De violas repentinas
Por poetas habitado
E onde sempre estará
O grande cego Aderaldo!

Bom tocador de rabeca
E doutor em verso rimado
Foi primeiro sem segundo
No verso metrificado
E nunca fugiu à luta
Toda vez que foi chamado

Lutou com Patativa,
Sinfrônio e Oliveira
Rogaciano e Pinto
E também com Zé Limeira
Aderaldo foi um marco
Na porfia brasileira

Ele chegou, ele partiu
Deixando verso plantado
Verso de toda cor
Para um dia ser lembrado
É por isso que eu digo
Viva o cego Aderaldo!





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