Seguir o blog

sábado, 1 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (3)


Muitos cordelistas, também chamados de poetas de bancada, optam pelo anonimato ou pseudônimo ao escreverem histórias nas quais inserem palavras, frases e versos de baixo calão. Mas há também autores que publicam este tipo de história com nomes que corriqueiramente os identificam perante o seu público. São muitos os casos. Entre esses Mestre Azulão, Erotildes Miranda dos Santos, Abrão Batista, Cícero
Lins de Moura, Manoel Monteiro, Gonçalo Ferreira da Silva, Alípio Bispo dos Santos, Manoel Caboclo e Silva.
É vasta a produção de histórias picantes na poética de cordel e da dita literatura erudita em que se destacam nomes de brasileiros como Olavo Bilac, Jorge Amado, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, sem falar no primeiro de todos: Gregório de Matos Guerra (1639-1696).
O português Bocage, por extenso Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805), fez piadas e versos picantes. E põe picante nisso! É dele a história A Mulher do Amigo, adaptada para quadrinhos e publicada no formato de folheto. Nessa história rola um triângulo amoroso, do tipo capaz de enrubescer até poste. Curiosidade: Bocage foi preso sob a acusação de, digamos, libertino. Isso em 1797. Os versos que o levaram à cadeia diziam:

Pavorosa Ilusão de Eternidade
Terror dos vivos, cárcere dos mortos;
D'almas vãs sonhos vão, chamado inferno;
Sistema de política opressora...


Gozador em todos os sentidos, Bocage escreveu um soneto intitulado Epitáfio. Termina assim:

… Aqui dorme Bocage, o putanheiro
Passou a vida folgada e milagrosa
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro


Em 2022 a editora BoiTempo publicou uma antologia do poeta intitulada Da Erótica. A organização da obra é do crítico literário e estudioso dos textos de Marx, José Paulo Neto.
Mas voltemos aos nossos compatriotas, que usam a putaria para se expressar. O campo é minado, mas não tem como reconhecer a graça originária fixada em letras de forma nos folhetos de cordel. Mestre Azulão, ora veja, paraibano um dos criadores da Feira de São Cristóvão, RJ, escreveu e publicou O Poder que a Bunda tem. Engraçadíssimo.
O pernambucano José Francisco Borges, o J. Borges, é cordelista e xilogravador dos mais conhecidos e premiados no Brasil e mundo afora. É dele a bela xilo A Chegada da Prostituta no Céu e o cordel A Filosofia do Peido, cuja primeira estrofe é essa:

Vários poetas escreveram
O valor que o peido tem
Eu achei muito engraçado
O peido é feito um trem
Tanto apita como ronca
Na hora que o peido vem…

POSTAGENS MAIS VISTAS