
Eu era repórter da Folha num ano qualquer dos 70, mais para o fim da década, quando a conheci.
Eu a entrevistei para o suplemento Folhetim, sem saber direito a sua história.
E fui sincero ao dizer-lhe que não sabia.
Ela abriu aquele sorriso conivente e tranquilizador de mãe e me conquistou ao dizer que ninguém falava dela, que eram poucos os repórteres que escreviam sobre ela etc.; portanto nada mais natural que eu não conhecesse a sua história, e que por conta disso eu ficasse tranquilo, que ela entendia etc. e tal.
Ufa!
Algo parecido ocorreu entre mim e Gilberto Freyre.
Só que Freyre disse que me daria entrevista só quando eu lesse toda a sua obra.
Ele escreveu muito, publicou muitos livros. E por não ter conseguido ler tudo que escreveu, eu jamais o entrevistei.
Luís da Câmara Cascudo, estudioso e mais fiel intérprete da alma brasileira, foi comigo tão compreensível quanto Clementina de Jesus.
Até hoje não li todos os seus livros – cerca de 170; mas nem por isso deixou de me atender na sua casa em Natal, no Rio Grande do Norte.
Aprendi com os três.
Clementina nasceu no dia 7 de fevereiro de 1901 e lançou o primeiro disco cantando pérolas, junto com Aracy Côrtes, em 1965. Seu descobridor foi Hermínio Belo de Carvalho, que uma noite conheci no extinto bar/restaurante Vou Vivendo (em homenagem a Pixinguinha), que pertencia a cantor e compositor Eduardo Gudin.
CARNAVAL
A dupla de artistas Dodô e Osmar contribuiu enormemente com o carnaval baiano. Dodô e Osmar amplificaram guitarras. A barulheira que hoje por lá se ouve – e em todo o País, também - é deturpação do que a dupla fez. Uma pena, não é? E tudo, lá, começou em 1942. Armandinho, filho de Osmar, conta: "Eles compravam o cavaquinho e o violão e quebravam a parte oca, ficavam só com o braço, e botavam um corpo feito de madeira de jacarandá e um captador. Até que resolveram fazer isso usando sebo maciço. A guitarra baiana antigamente não tinha identidade, não tinha o peso da guitarra elétrica. A que usamos hoje não é adaptada, a de Armandinho tem um pedal próprio embutido. Antes elas usavam captadores de outros modelos, era um problema. Os modelos tinha um campo harmônico pequeno, o som era estridente. Hoje ficou mais grave e robusto. O pau elétrico foi um divisor de águas, inventaram uma nova forma de tocar”