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domingo, 1 de janeiro de 2023

20 DIAS QUE SACUDIRAM O BRASIL (3)


Para piorar a situação de Collor e seus asseclas surgiu, através das páginas de Isto é (revista semanal com grande índice de leitura no País), um humilde motorista nordestino do Rio Grande do Norte de nome Francisco Eriberto Freire França, falando com desenvoltura e propriedade da perigosíssima ligação entre PC Farias e a secretária do próprio Fernando Collor, Ana Acioli. Isso no dia 28 de junho de 1992. Para complicar foi inventada, no princípio de agosto, uma tal "operação Uruguai" (denunciada pela ex-secretária da ASD Empreendimentos Ltda., Sandra Fernandes de Oliveira), com a pretensa finalidade de justificar a origem de alguns milhões de dólares conseguidos sabe Deus onde. Paralelamente a tudo isso, já pululavam os "fantasmas" de PC em inúmeras agências bancárias do País e na imaginação criativa do povo brasileiro. Até folhetos de cordel o tema rendeu, além de sambas, pagodes, canções e até uma minissérie de televisão (Marajá, da TV Manchete).

Desesperado com tantas denúncias, Collor só faltava arrancar os cabelos (logo ele que sempre gostou de andar com a cabeleira arrumadinha). E haja gel! Durante um jantar na casa do deputado Onaireves Moura (PTB-PR), no dia 16 de setembro, o presidente Fernando Collor ainda abriu a boca e soltou impropérios de todo tipo contra Deus e todo mundo. Na ocasião, sobraram pesadas farpas para o desaparecido deputado Ulysses Guimarães, que foi injustamente chamado de "esclerosado, senil, decrépito" e acusado de ser "um bonifrate dos interesses econômicos de São Paulo".

Era o sinal da loucura, do desespero de Collor.

Para encerrar essa triste e lamentável história, o povo resolveu ir às ruas — os estudantes adoraram — e forçar um basta contra o descalabro que já enojava a Nação inteira. A Câmara aprovou o pedido de impeachment (processo por crime de responsabilidade cuja pena principal é a perda do cargo) feito formalmente no dia 12 de setembro pelos presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Marcello Lavanere Machado e Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, respectivamente.

Era o fim, não havia mais jeito.

O destino do Sr. Fernando Affonso Collor de Mello foi selado no dia 29 de setembro, dia de histórica votação na Câmara dos Deputados. Mas, atenção, é erro grave imaginar que os únicos ladrões (e/ou corruptos) que infestam o Brasil atendem só por Collor e sua cara-metade de aventuras, PC Farias ( até agora, junho de 1993, PC foi indiciado em 34 inquéritos policiais; seu sócio, Jorge Bandeira, foi enquadrado nove vezes em 19 artigos do Código Penal Brasileiro).

Comecemos, agora, a narrativa da incrível história dos 20 dias que mudaram os rumos deste País. Quer dizer, mudaram mas os escândalos, como a indústria da seca (que anualmente rende US$ 1 bilhão aos espertalhões de plantão), os roubos e as safadezas de todos os tipos continuam aí. Quer dizer, rigorosamente continuamos na mesma, sem saber direito para onde ir. Nesse ponto, basta darmos uma olhadela despretensiosa em volta para constatar que os usineiros, por exemplo, vão muito bem, obrigado, com suas usinas falidas mas com bens materiais incalculáveis, entre os quais mansões "hollywoodianas" no Brasil e no exterior, fazendas, carros, iates, aviões etc. e, ainda por cima, recebendo benesses do governo Itamar a toda hora e a todo instante. Quem diria, hein?

Mais uma coisa: a burguesia é uma senhora gorda e aética que costuma ficar sempre do lado de quem ganha, seja em que situação for. Portanto o povo que se cuide, pois nem sempre — está definitivamente provado — depois de uma grande tempestade reina a santa e sagrada calmaria tão ansiosamente esperada por todos.

Saravá!

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