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domingo, 6 de novembro de 2022

HÁ 120 ANOS NASCIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

"Democracia é a forma de governo em que o povo imagina estar no poder".
A frase aí é do jornalista, contista, cronista e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.
Drummond, que nasceu no dia 31 de outubro de 1902, deixou uma obra de grande importância para a cultura literária brasileira. Preocupava-se com as questões sociais do seu tempo e não omitia-se nas questões de cunho político. Mesmo sem disputar nenhum cargo eletivo, tinha ampla visão sobre o que ocorria na Câmara e no Senado. E nas ruas. Em todo canto. Foi, aliás, chefe de gabinete do deputado Gustavo Capanema (1900-1986).
Capanema, que era mineiro como Drummond, foi o primeiro e mais longevo ministro da Educação (e Saúde Pública).
No livro Rosa do Povo (1945) Drummond aponta em versos os problemas reais que o Brasil vivia à época, incluindo os reflexos da 2ª Guerra Mundial.
O crítico austríaco Otto Maria Carpeaux (1900-1978), amigo do romancista surrealista Franz Kafka (1883-1924), classificou Drummond como “o poeta público”.
O primeiro livro de Carlos Drummond, Alguma Poesia, foi lançado à praça em 1930 por iniciativa dele próprio que bancou os custos editoriais para uma tiragem de apenas 500 exemplares. Fez o mesmo que fizera, em 1912, o paraibano Augusto dos Anjos.
Eu, de Augusto, teve tiragem igual ou inferior ao livro de Drummond.
Drummond é por muita gente considerado um modernista.
Em 1922, Carlos Drummond de Andrade tinha 20 anos e alguns textos publicados no jornal Diário de Minas, do qual seria redator chefe. Entre esses textos os contos se achavam Rosarita (1919) e Joaquim do Telhado (1922). Não eram grandes coisas.
 

 
Os seus primeiros e mais conhecidos poemas são No Meio do Caminho e Quadrilha.
No Meio do Caminho, publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia, ano 1 nº 03, SP, é este:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


Particularmente, eu gosto muito da obra de Carlos Drummond. Acho fundamental, pra quem gosta do que é bom, o texto De Notícias e Não Notícias Face a Crônicas. Esse texto eu o li por volta de 1975. Está no livro Reunião, cuja primeira edição data de 1969.
Também de extremo bom gosto é o poema A Máquina do Mundo, que se acha no livro Claro Enigma (1951), inspirado no último dos dez Cantos do épico camoneano Os Lusíadas (1572).
Drummond foi um autor múltiplo, de textos encantadores. Na poesia, nem sempre seguia a métrica. Gostava de versos livres, brancos. Era um prosador poético. Eu o entrevistei num dia qualquer de dezembro de 1979. O texto foi inserido numa edição especial do extinto suplemento Folhetim, do paulistano Folha de S.Paulo, que punha em discussão a literatura brasileira da década de 70. Saiu no dia 13 de janeiro de 1980.
Comecei falando da visão social e política que o mineiro Drummond tinha. Falei da sua passagem pelo gabinete de Capanema (governo Vargas; 1930 - 1945). Esqueci de dizer, porém, que ele teve uma passagem rápida pelas fileiras do Comunismo, cooptado que foi pelo Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes.
Lembro que perguntei a Drummond o que achava do Partido dos Trabalhadores, PT, que estava se formando. E ele: "Homem de partido é partido".
Uma vez no Pasquim saiu matéria dando conta de que Lula resolvera ler o poeta. Título: Estamos Salvos! Lula vai ler Drummond.
E não custa dizer: vários poemas de Drummond foram musicados e como tais gravados em disco. Num desses o clássico José na voz do pernambucano Paulo Diniz. A gravação original foi lançada em 1972, há exatamente 50 anos.
 

No ano do centenário de nascimento de Drummond foi inaugurado, em Copacabana, um monumento em sua homenagem. Em bronze. Os óculos que ilustram o monumento já foi roubado 13 vezes. A última em abril deste ano de 2022.
Carlos Drummond de Andrade morreu no dia 17 de agosto de 1987, no Rio.

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.
Colagem do cartunista Fausto Bergocce.

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