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domingo, 3 de setembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (42)

ASSIS ANGELO: Foi namoro e paixão à primeira vista que você teve pelo personagem Vira Lata ao ler o roteiro do Magrão?
LÍBERO MALAVOGLIA: Não foi amor à primeira vista, não. Quando li as primeiras cenas, achei que tinha muito sangue correndo e que talvez não fosse pra mim esse trabalho. Só
depois, quando tentei fazer é que vi que eu podia sim, representar uma violência real da nossa sociedade. O sangue correu como a tinta. Sou grato por ter sido convidado pelo Magrão para essa co-criação aventureira, erótica e jornalisticamente denunciante de realidades fortes, e por ter conhecido o Carandirú.

ASSIS: Conte do mergulho que você deu para trazer à tona, para o nosso imaginário, esse tão fustigante personagem.
LÍBERO: Eu queria muito fazer quadrinhos. Era o que eu mais conhecia. Minhas influências eram bem variadas, super-heróis, piratas rebeldes do Pacífico, samurais, muito cinema… muita fantasia. Aí conheci o Magrão e seu personagem trazendo minha arte para toda uma temática social de desigualdade, racismo, injustiça e maldade que existe aqui, no Brasil, bem à nossa volta (Um pouco antes havia ocorrido os massacres da Candelária no Rio e o do Carandirú em São Paulo). Tudo isso era temperado com muito, mas muito mesmo, erotismo e tinha ao fundo um universo mágico-espiritual e misterioso que falava de nossas raízes. Uma oportunidade! Esse mergulho me levou a conhecer depois, uma realidade social fortíssima; a vida dentro de uma penitenciária e também a viajar dentro da minha imaginação e aí sim, me apaixonei pelo filhote.

ASSIS: Dá pra comparar o Vira Lata com outros personagens de histórias em quadrinhos do Brasil ou de fora do Brasil?
LÍBERO: Acho que ele é uma mistura de Corto Maltese, Lobo Solitário e Batman, mas
não qualquer Batman (que agora tem uma infinidade deles), o Batman “Ano Um“, Miller e Mazzuchelli que ainda é o mais real, noturno e mais “ justiceiro fora da lei“ (estou falando de quadrinhos). No Brasil, talvez algum cangaceiro do Flávio Colin, não sei.


ASSIS: Na sua visão, quem são os maiores roteiristas e quadrinistas do nosso País? Estamos com saudade do Vira Lata…
LÍBERO: Li tanta HQ de fora que sou obrigado a dizer que talvez eu não conheça tão bem a produção nacional, mas acho o Colin importante com seu traço único e temas nossos. Falando de traço, tem essa tradição do humor. J. Carlos, Jaguar, Ziraldo … e claro, Los 3 amigos, Glauco, Angeli e a Laerte genial. Sei também de uma grande produção alternativa que a internet possibilitou nos últimos anos para muitos autores, muitos vindos de comunidades e isso é muito bom. E tem o João Pinheiro, muito bom!

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