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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

VIVA MPB, TINHORÃO E CUÍCA!

Sócrates, Cefálos, Pireu, Polimarcos,
Vandré tem um medo danado da morte, Tinhorão acha graça dela e ainda tira sarro, brinca sacaneia, e faz o mesmo com a velhice, declarando: "Ser velho é uma merda!"
No Livro 1 de A República de Platão Sócrates está deixando a cidade junto com o irmão, Glaucón, quando é interceptado por um escravo que diz querer o seu amo, Polimarcos, que fique. Em resumo: Sócrates atende o pedido de Polimarcos e vai a sua casa, onde encontra o pai do Cefálos, seu amigo, Cefálos passa a falar sobre a velhice e diz não ter saudade dos tempos da juventude. Ele enaltece a idade, a velhice. É um diálogo e tanto.

Tinhorão é um barato. Esse cara nasceu em Santos e foi batizado com o nome de José Ramos, simplesmente. Meninote, ali pelos 9 anos, foi morar com os pais no Rio de Janeiro. Cresceu, estudou e fez os cursos de Direito e Jornalismo. Nos fins da década de 1950, começou a destacar-se nacionalmente. Nos anos 60 e 70 passou a despertar a atenção de todo mundo. De Tom Robin inclusive, que o esculhambava. E também de Taiguara, Caetano e outros medalhões da chamada MPB que chiavam ao ler seus textos. Mas ele tem passado intacto pelo tempo, pelo menos aparentemente. Agora nesse 7 de fevereiro, Tinhorão está completando 91 anos de idade. Eitah! Não quer festa, não quer badalação nenhuma a sua volta. “Esse, pra mim, sempre foi um dia como outro qualquer”.
No correr da vida profissional, José Ramos Tinhorão publicou mais de 30 livros e tornou-se o mais importante estudioso da nossa história musical e de costumes. Talvez escreva ainda um livro sobre a licenciosidade na poética brasileira, incluindo cordéis. Eu e o amigo Rômulo Nóbrega estamos enchendo-lhe a paciência nesse sentido. “Se isso acontecer, será o último”, diz com uma risadinha sacana o velho de guerra Tinhorão.
Elis Regina (1945-1982) gravou música tirando sarro de Tinhorão, ouça: https://www.youtube.com/watch?v=WdcJqMsuYHU, o mesmo fez, mais recentemente a Filarmônica de Pasárgada, ouça: https://www.youtube.com/watch?time_continue=55&v=cwi4WIj6mkw.
Quem também apaga velas e come bolinho neste mês, à guisa de aniversário, é o sambista paulistano Osvaldinho da Cuíca (ai na foto). Ele nasceu no dia 12 de fevereiro de 1940.
Osvaldinho ganhou o apelido Cuíca por causa do instrumento que escolheu para tocar a vida. Ele tem grande admiração por Tinhorão. Tanto que a sua trajetória musical sofreu desvio por influência de Tinhorão.
Gregos e troianos tascaram o pau e, paralelamente, homenagearam e continuam homenageando Tinhorão. Para a história não ficar desequilibrada compus um batuque pra o Cuíca. Este:

Em São Paulo tem batuque
Digo e provo, sim senhor!
E muita gente bonita,
Demonstrando seu valor

Osvaldinho da Cuíca
Do pandeiro e do tambor
É um grande ritmista
Do batuque, professor!

Mas pra ele tanto faz
O pandeiro ou o tambor
Importante no batuque
É o que vem da sua cor

O batuque vem de longe
Vem da alma, vem da dor
Vem dos olhos, vem das mãos
E dos pés do dançador

Todo mundo bate palmas
Pra quem é batucador
Quem batuca também dança
Ao som livre do tambor

Osvaldinho da Cuíca
Também é batucador
Ele toca ele encanta
Abraçado a bom tambor

Osvaldinho da Cuíca
Do batuque é professor...



Este texto foi publicado no newsletter Jornalistas e Cia. Abra:

MORRE UM NOME NASCE UM MITO

Pra morrer basta estar vivo, segundo dito popular, mas precisava ser agora? Justamente com Boechat?
Ricardo Boechat, ouço no rádio, acaba de trocar a terra pelo céu, de onde veio.
Eu não privei da sua amizade, não trabalhamos juntos, mas o respeitava muito como todo o Brasil, aliás.
Diariamente eu ouvia as críticas e ponderações de Boechat na Band FM, logo cedo. Ele era uma espécie de metralhadora giratória. E acertava, quase sempre, o alvo. O alvo eram os bandidos de colarinho branco, os políticos, empresários sacanas. Quando errava o alvo, justificava-se. E como o mais humilde dos humildes seres da terra, não pensava duas vezes para corrigir-se, pedir desculpas em público etc. Só por isso, mas não só por isso, tinha o meu respeito e a minha admiração.
Éramos nascidos no mesmo ano: 1952. Portanto Boechat despediu-se deste mundinho de josta aos 66 anos de idade.
Ricardo Boechat nasceu por acaso na embaixada brasileira, em Buenos Aires. O seu pai era diplomata, justifica-se.
Boechat começou a carreira no Diário de Notícias, RJ, nos anos de 1970, colaborando na coluna de Ibrahim Sued (1924-1995), depois passou por um monte de jornais e tv, e escreveu livros como Copacabana Palace - Um hotel e sua história. Esse livro foi publicado em 1998. Curiosidade: Um dia a rainha do baião, Carmélia Alves (1925-2012) perguntou-me se eu não lhe poderia apresentar Boechat. Perguntei a razão: "Ele é maravilhoso, quero casar com ele". Carmélia foi crooner do Copacana Palace e destaque no livro de Boechat.
Boechat nunca soube disso, certamente.
Boechat não era comunista nem anarquista, era um democrata, uma pessoa que torcia para o Brasil andar nos trilhos. Dizia-se ateu, mas depois de ver com seus próprios olhos a beleza do Rio de Janeiro do alto do Cristo Redentor disse, nos microfones da Band: "Acho que a partir de agora passo a acreditar em Deus". Ele era contra o voto obrigatório.
Puta que pariu! Com tanto cabra safado espalhado por ai, por quê Boechat foi o escolhido, hoje, de Deus? Vai ver está faltando opinião por lá...
Hoje cedo, antes de dar uns pulos na academia de ginástica ouvi Boechat pela ultima vez falando que tinha de falar, criticamente claro, sobre o descaso dos poderosos de plantão diante das catástrofes e tragédias previstas como a de Mariana e Brumadinho. E não esqueceu de dizer que Brumadinho está, aos poucos, deixando as primeiras páginas dos jornais e revistas. E tascou o pau, como tinha de tascar, no incêndio previsível no chamado ninho do urubu. O assunto que vitimou os jovens flamenguistas rendeu este post:

https://www.facebook.com/radiobandnewsfm/videos/homenagem-aos-jogadores-do-flamengo/807769076242102/



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