Seguir o blog

domingo, 30 de agosto de 2015

A SECA TORTURA E MATA

O dia começou com os jornais noticiando só coisas feias como, por exemplo,  o estágio em que se acham os processos da operação Lava Jato conduzida com mão de ferro pelo Juiz Sérgio Moro, que já mandou para o Xilindró duas dúzias de roedores do Tesouro Público.
Fora isso, os jornais continuam destacando as diversas crises que ora, nós, pobres mortais brasileiros, amargamos. Mas crise mesmo, das grandes, é a de sem-vergonhice que assola o País de ponta a ponta.
Na TV, hoje, vi para minha alegria, a bem humorada Inezita Barroso chamando pra cantar no palco os seus violeiros. Na mesma telinha ouvia-se a chamada para o filme em que ela era a personagem central: Mulher de Verdade.
Ainda no mesmo canal, o 2, o Boldrin proseava com os integrantes do Trio Gato Com Fome.
Bela prosa em torno de Raul Torres.
O Gato Com Fome está lançando seu primeiro CD, que traz apurado repertório baseado na obra musical de Torres.
Mas voltando às mazelas do nosso cotidiano,  uma foto na primeira página do Estadão era estampada com o propósito de nos chocar pela irresponsabilidade dos homens que nos governam.  A foto substituía mil palavras, como no jargão jornalístico.
A foto em questão mostrava animais pastando no que fora há bem pouco tempo o reservatório da Cantareira.  Imediatamente lembrei das diversas crises hídricas que endoida o povo mais simples do  Nordeste, que secularmente têm tangido populações inteiras de um lado para outro, como o poeta popular Patativa do Assaré muito bem registrou na sua clássica toada  A Triste Partida, em que conta a fuga de uma família de nordestinos para São Paulo.
A foto estampada no jornal me trouxe  outras imagens geradas pela solidão assassina da seca secular também tratada na canção Maringá, do poeta Joubert de Carvalho. Essa canção, lançada em julho de 1932 pelo cantor Gastão Formenti, conta de uma bela retirante chamada Maria do Ingá e nasceu a pedido do político paraibano José Américo de Almeida, integrante do governo Vargas.
A irresponsabilidade dos governantes nas suas três esferas, é chocante; tão chocante quanto a foto publicada hoje na primeira página do Estadão.
São Paulo está vivendo a sua pior seca desde 1924.
Não custa lembrar que o Imperador D. Pedro II, chocado com a tragédia provocada pela seca no Ceará, jurou que venderia, se preciso fosse, até a última pérola da Coroa.  Milhares e milhares de nordestinos sucumbiram diante da seca e diante do Rei que, na verdade, nada fez para impedir que morresse gente, gado e até passarinho.
Em 1915, portanto há exatos cem anos, levas de retirantes tangidos pela seca saqueavam os estabelecimentos comerciais de Fortaleza (Ce).
Dado o noticiário do dia, recordo o escritor Rômulo Nóbrega dizendo da tragédia que hoje continua a viver o Nordeste profundo, o Nordeste pé no chão, o Nordeste descalço, faminto, esquecido pelo poder público ou pelas autoridades de que, a rigor, cuidam mais é mesmo de interesses próprios.
Rômulo é Campinense.  Ele conta que Campina Grande (Pb), vive com racionamento de água há meses e que a situação é gravíssima em vários municípios paraibanos.  Ele me pergunta:
- Você já ouviu falar em Stênio Lopes?  Pois bem, do Dr. Stênio (1916-2010) escreveu um livro em que relata os problemas provocados pela estiagem e assume uma espécie de máxima que diz “Não haverá futuro para Campina Grande sem a transposição de águas do Rio São Francisco”.
Pois é, as águas do Velho Chico estão sendo desviadas para Pernambuco, Paraíba... A troco de bilhões.

Tomara que nessa empreitada não haja problemas que a operação Lava Jato identifique.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

SÃO PAULO DE TODOS NÓS




Terminando agosto, fim de mês, o Capeta se afastando...
Segundo o folclore, no que há no folclore, fica-se sabendo que agosto “é o mês do cachorro louco”.
Para muita gente, o mundo acaba ou acabou em agosto.
O Brasil todo, a exceção de São Paulo, enlutou-se com a morte do caudilho gaúcho Getúlio Vargas, na manhã de 24 de agosto de 1954.
Eu tinha dois anos de idade e não vou morrer nunca, pelo menos da forma acontecida com Getúlio e narrada minuciosamente por cordelistas do nordeste- de-meu-Deus-do-céu.
Getúlio, aliás, foi o presidente da nossa República mais cantando em verso e prosa até hoje.
Foi também num mês de agosto que o Brasil exasperou-se com a renúncia inexplicável do mato-grossense Jânio Quadros.
Uma vez entrevistando Jânio, perguntei a razão que o levou a renunciar a presidência da República. Ele soltou uma risada que reboa até hoje nos recônditos invioláveis da minha memória. A sua risada estrepitosa, emendei:
- Presidente, o Sr. é um grande ator!
Ouvindo o rádio, fiquei sabendo que o Brasil hoje é habitado por 204 milhões de pessoas e São Paulo figura como  o estado mais populoso, com 44 milhões.
No tempo de Jânio não havia nem 15 milhões de brasileiros aptos a votar. Hoje, somos cerca de 120 milhões. Mas tanto ontem como hoje é enorme o número de brasileiros judiados, analfabetos, sem rumo nem prumo, perdidos, desprovidos de educação e distantes, também, da cultura que forma uma nação.
Ontem a Câmara Municipal de São Paulo , representando o povo, homenageou em sessão solene, um dos mais visíveis artífices da cultura popular, Téo Azevedo, 72 anos, mineiro de Alto Belo.
Téo Azevedo é compositor e violeiro. No seu alforje de cantador se acham mais de 80 mil fonogramas por ele produzidos. Ele é o artista com o maior número de músicas próprias gravadas em disco.
A primeira música que Téo gravou foi de cunho religioso, Deus te Salve Casa Santa. Isso, em 1965; ou seja, a exatos 50 anos.
Onde estão os responsáveis do Guiness Book, para registrar as façanhas do mais novo Cidadão Paulistano?
Eu abri a sessão falando de crises e crises históricas que o Brasil tem vivido desde o século 16. A sessão foi encerrada, hora e meia depois, com Téo Azevedo cantando a canção São Paulo de todos Nos, dele e de Peter Alouche.
  






https://www.youtube.com/watch?v=zOViTnEHrGI











quinta-feira, 27 de agosto de 2015

TÉO AZEVEDO, CIDADÃO PAULISTANO

Neste ano de 2015, completam-se exatas cinco décadas que o mineiro de Alto Belo Téo Azevedo entrou, pela primeira vez, em um estúdio de gravação que resultou num acetato com a cantiga Deus Te Salve Casa Santa, adaptada do folclore português. Essa gravação perdeu-se na poeira do tempo e daquela data até hoje, Téo entrou milhares e milhares de vezes em centenas de estúdios espalhados em Minas, São Paulo etc.

Eu conheci Téo Azevedo quando ele tinha 33 anos de idade. Naquele tempo, eu era repórter da Folha.

Nos últimos 38 anos, tornamo-nos amigos e parceiros musicais.
Téo pôs melodia em pelo menos uma trintena de poesias, várias delas gravadas por intérpretes de reconhecido talento, entre os quais ele próprio.

Uma de nossas composições (Clarissa) chegou a ser inserida no filme Saudade do Futuro de produção franco-brasileira.

Hoje, a Câmara Municipal de São Paulo confere a Téo Azevedo o título de cidadão paulistano.

Eu já passei por essa maravilhosa experiência.

A solenidade de entrega do título de Cidadania a Téo Azevedo tem início previsto para às 19 horas. Eu estarei lá formando a mesa e saudando o homenageado.


Vamos lá?

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CRISES, COISAS E HOJE

Agosto, gosto.
No calendário dos dias, meses e anos, fica-se sabendo que agosto é o mês de grandes acontecimentos.
No Brasil, o 5 de agosto marca a fundação da cidade que desde o começo dos anos de 1930, leva o nome de um cidadão chamado João Pessoa.
O dia 11 lembra o dia que D. Pedro criou a faculdade de direito no Brasil. O 24, nos lembra a tragédia que foi a morte de Vargas; dia seguinte, outra tragédia marcou profundamente a vida brasileira: a renúncia de Jânio.
Hoje 26 estávamos, eu e o editor da revista Kalunga, Manuel Dorneles, conversando exatamente sobre Vargas e Jânio quando, de repente,  chega o historiador José Ramos Tinhorão.
Tudo se passa aqui, no Instituto Memória Brasil.
E a conversa seguiu por aí.
Crises, crises, crises.
Ora, a República começou com a derrubada do Imperador.
Deodoro foi tirado da cama em pijamas para assumir a República.
Não demorou muito Floriano assumiu o poder e mandou muita gente ao paredão e depois também sumiu. O tempo o emparedou. O Hermes chegou, São Paulo em guerra: 24, 32...
João Pessoa se junta a Getúlio Vargas para, em campanha, assumirem a Presidência.
No meio do caminho, João Pessoa é morto a tiros em Recife. E aí Getúlio perde e golpeia o Brasil assumindo à revelia dos votos nas urnas o comando do País.
E aí, hein? Isso é crise ou não é crise?
E ainda teve: 32...
Em 1939 (ou 37?), Getúlio dá outro golpe dentro do golpe e cria o Estado Novo.
Bom, a 2ª Guerra começa em 39 e termina em 45.
Em 1945, além de entrar em guerra, o Brasil entrou em parafuso.
E aí, em 1954, Getúlio dá um tiro no peito e transforma aquele dia em noite: luto de ponta a ponta do Brasil, menos São Paulo que não chorou.
São Paulo não chorou, porque Getúlio fez São Paulo chorar em 32.
E aí chegou JK, chegou JQ e chegou também Jango.
E a noite mais escura do Brasil chegou exatamente com a deposição de Jango em 1964.
Essa noite durou 21 anos.
E aí, Diretas, Tancredo...
Essa história de crises dura muito tempo, vem desde o macaco desceu do galho e achando que tinha duas pernas, pulou, pulou, pulou e cá estamos nós, achando que a crise está começando agora.
E essas lembranças históricas vêm e são compartilhadas com Dorneles –nome que a mãe deu ao Manuel em homenagem a Vargas.
E presentes nessa conversa no IMB, Tinhorão, Celia, Celma...
A história está na memória, na boca do povo.

Viva o Brasil!

domingo, 23 de agosto de 2015

NÃO, INEZITA NÃO MORREU

Sem ter muito que fazer, ontem à noite liguei a televisão e, para a minha alegria, ouvi a minha querida Inezita Barroso chamar a seu palco para cantar a paraguaia Perla.
Perla!
Perla é meio soprano, como Inezita.
Que beleza ouvir Perla cantar Las Cositas de Nuestra America!
A última vez que vi Perla foi em Campo Grande, MS, cantando para mim. Eu entendi que era para mim que ela estava cantando naquele começo de noite em terras mato-grossenses.
Inezita é incrível!
Sem ter muito que fazer, hoje de novo liguei a televisão, e para a minha surpresa, deparei-me com Inezita chamando a seu palco Pereira da Viola.
Antes de Pereira cantar tocando, apareceram na telinha grupos musicais de São Luís do Paraitinga e de Mogi das Cruzes cantando e dançando em louvor ao Divino E.S.
Eu conheço esses grupos.
O Paranga, de São Luís, em ação toca em qualquer coração.
Lindo!
Em Mogi, a grupos de Congada, Marujada, e Moçambique.
Pois é, ai estar uma bela parte do folclore que herdamos de Portugal.
O povo de Portugal foi o que mais nos deu por tudo que de nós levaram.
A riqueza cultural do Brasil tem tudo a ver com Portugal.
Você, que me ler sabe que em Portugal a uma belíssima cidade chamada Baião?
Viva Inezita Barroso.

sábado, 22 de agosto de 2015

O POVO É SÁBIO

O POVO É SÁBIO


Quem já não ouviu falar que “agosto é mês de desgosto”?
Pois é, esta é só uma das milhares e milhares de frases carimbadas pela boca do povo.
E esta aqui: “quem cochicha, o rabo espicha”.
Claro, esta serve para todos nós peregrinos do céu e da terra: “quem tem boca vai à Roma”.
Tem outra que diz: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo”. Aliás, outro dia uma amiga me contou que certa vez inventou de bater boca com uma senhora que o tempo parece ter esquecido de levar e boca vem e boca vai, as duas findaram por se desentenderem completamente. A amiga então lhe dirigiu essa velha frase do folclore. Resposta:
-Você tá pensando que eu sou o que, uma cavala?
A minha amiga riu muito e apaziguadora apenas disse:
-Eu estou lhe provocando só porque eu gosto de ouvir a senhora falar, e como fala!
Hoje é o Dia Internacional do Folclore, que os países civilizados certamente comemoram.   
A palavra folclore é uma palavra que ainda não tem nem duzentos anos. Ela surgiu da curiosidade de um arqueólogo inglês chamado William John Thoms (1803–1885).
Um dia, Thoms enviou uma longa carta à redação da revista de Atheneu, de Londres. Nessa carta ele demonstrava toda a curiosidade que nutria em torno das coisas que o povo fala e faz. Coisas que têm a ver com anedotas, histórias infantis, cantigas, rezas mágicas, pragas e tudo mais que tem a marca anônima e indelével do povo.
Pois bem, o conjunto de todas essas coisas vindas, surgidas, criadas, por obra e graça do popular, têm a ver com folk-lore, de origem anglo-saxônica. Em tradução livre e espontânea: folclore vem a ser nada mais nada menos do que ciência do povo.
O meu querido Luiz da Câmara Cascudo detestava a expressão folk-lore.
Cascudo –que bela palavra como sobrenome para um ser tão importante para o Brasil- foi um dos nossos mais importantes e o mais prolífico estudiosos do saber popular. Deixou cerca de 150 títulos publicados, dos quais cerca de 10 ou 15 podem se achar por aí.
Aprendi muito com o mestre Cascudo. O folclore é de fato uma ciência de suma importância para a compreensão da vida. Toda inteligência passa pelo saber do povo.
Há uns cinco séculos, outro cidadão inglês e também de nome William, no caso, Shakespeare, inventou de passar todo seu tempo a escrever histórias; histórias. Do povo para o povo.
Pois bem, grosso modo, podemos afirmar que toda obra de Shakespeare é baseada no tesouro em que se encerra a sabedoria popular. E o que fez Shakespeare, antes e depois, fizeram outros grandes nomes da literatura e música que não morrem. Bach, também fez isso, por exemplo.
O folclore é tão importante que até faz parte do imaginário de mestres da música erudita como o húngaro Béla Bartok (1865-1945).
Em 1923, Bartok decidiu compor uma obra em homenagem às cidades que deram o nome de Budapeste. E de sua mente privilegiada saiu a Suíte das Danças. Nessa música o autor expõe, a partir do imaginário, o que seria na sua visão, folclore.
Entre nós, brasileiros, Tom Jobim, Zé Dantas, Luiz Gonzaga e tantos e tantos, foram céleres beber na fonte imorredoura da sabedoria do povo.
Asa Branca e Assum Preto são boas amostras disso, cá entre nós.
Viva o folclore brasileiro!

     


terça-feira, 18 de agosto de 2015

COISAS DA VIDA

Chovem mensagens de parabenização pela entrevista publicada domingo passado no Caderno 2 do Estadão: Memória visual. Agradeço. Foi uma espécie de desabafo, regrado à esperança, muito bem captado pela sensibilidade dos repórteres Júlio Maria e Gabriela Bilo. Falei, falei, falei a respeito do mundo que nos cerca, da política, dos políticos e da dor.

A dor foi embora no correr dessa fala. Dor de falta, dor que sobra, dor misturada com tristeza pela falta, traição e abandono de uns e outros que parecem não valorizar os olhos da cara. Uma amiga, do campo da Psicologia, disse-me que estou de “luto”. Interessante essa observação.

Somos coisinhas especiais da Criação. Amor e solidariedade são combustíveis que nos movem na movediça areia da vida. Um povo sem esperança é um povo perdido, é uma nação perdida que forma um País sem crédito no espelho do mundo.

Dor que dói, aquela que vem das profundezas da alma, machuca e ensina. Pra que reclamar, não faz sentido reclamar. Aliás, eu digo assim nestes versos em sextilhas:  

         Muita gente reclama
         Reclama sem precisão
         Reclama por reclamar
         Pois reclama sem razão
         Não é o caso de perguntar
         Por que tanta reclamação?

         Eu perdi a minha vista
         Mas não da vida à visão
         Eu hoje vejo tudo
         Com os olhos do coração
         E o que eu não via antes
         Vejo com a imaginação
        
         Não dá para reclamar
         De muitas coisas na vida
         Pois ela nos prega peça
         Na chegada e na partida
         Uma caixinha de surpresa
         É o que é a nossa vida

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SÃO PAULO NÃO TEM HINO

São Paulo e Rio de Janeiro foram fundadas em 1554 e 1565, respectivamente, pelos primeiros jesuítas que chegaram à nossa terra. A terra carioca foi capital nacional entre 1621 e 1815.
Por muito tempo tentou-se criar uma certa rixa  entre a população das duas cidades. Bobagem. É verdade que São Paulo cresceu mais depressa, recebendo grandes levas de migrantes e imigrantes a partir do século 19. Espanhóis e italianos foram os primeiros.
 A presença nordestina em São Paulo e no Rio de Janeiro se intensificou e é marcante até hoje.
A “rixa” entre São Paulo e Rio de Janeiro, se houve, terminou em 1965, quando os cariocas comemoraram o quarto centenário da cidade. Na ocasião, o conjunto musical Demônios da Garoa faturou o 1º lugar no concurso musical promovido pela prefeitura da cidade. Música premiada: Trem das Onze, do paulista de Valinhos, Adoniran Barbosa. Detalhe: Trem das Onze foi gravada em agosto de 1964.
Anos antes, em 1954, a programação comemorativa aos quatro séculos de fundação de São Paulo foi toda recheada de artistas do Rio, entre eles, mestre Pixinguinha (1897-1973).
Há cerca de duas décadas, a Rede Globo, em São Paulo, desenvolveu pesquisa para saber da população qual a música de sua preferência: deu na cabeça Trem das Onze.
Essa história eu conto em detalhes no livro Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa.
Exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo
Essa história eu também contei num debate com Paulo Vanzolini (1924-2013) e Eduardo Gudin  promovido como parte da programação Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, que ocupou por uns três ou quatro meses um bonito espaço no Sesc Santana.
Essa exposição contou a história de três mil músicas que têm a cidade de São Paulo como tema.
Você sabia que ainda não há um hino oficial para a cidade de São Paulo?
Por várias ocasiões, escrevi a respeito da importância de um hino oficial para a cidade. Cheguei até a sugerir o título São Paulo de Todos Nós, de Peter Alouche e Téo Azevedo.

Pois bem, o estado de São Paulo tem hino escrito pelo poeta Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi. Ouça:

E dentre os demais estados brasileiros, tem um que também não tem hino: Minas Gerais.
 Você estará errado se acreditar que Oh! Minas Gerais, canção de origem napolitana, é o hino oficial dos mineiros.
Por três vezes, governos em tempos diferentes promoveram concursos para escolha de hino do Estado. Em vão.
O hino que muita gente crê ser o oficial do estado, Oh! Minas Gerais (abaixo), traz o nome do pernambucano Manezinho Araújo e do mineiro José Duduca Morais. 


domingo, 16 de agosto de 2015

AS MÃOS TÊM OLHOS...


Texto do repórter Júlio Maria informa, hoje,  em matéria de capa do Caderno 2 do Estadão, que a vida me reservou o mistério da surpresa.
Sim, estou cego.
O descolamento de retina, depois de várias intervenções cirúrgicas no Hospital das Clínicas e em outros lugares, levou-me ao mundo da escuridão.
Sim estou cego, mas não vejo nisso nenhum problema. O problema é a adaptação nesse novo mundo ao qual ingresso com a ajuda de amigos queridos e da equipe da Associação Brasileira de Assistência a Pessoa com Deficiência Visual, mais conhecida como Laramara.
O pior, já passou.
Verdade que morri nove vezes e nove vezes ressuscitei; agora, como a Fênix, das cinzas estou ascendendo.
Vez ou outra, de João Pessoa, Vital Farias me telefona  para saber como estou.
Vez ou outra, de Teresópolis, Vandré  me telefona para saber como estou.
Quase sempre, esses telefonemas são de longa duração.
Pelo menos uma vez por semana, José Ramos Tinhorão e Célia e Celma me visitam para saber como estou. E entre uma cachacinha e outra, Tinhorão me diz um monte de coisas interessantes a respeito deste nosso  Brasil tão ruído e corroído  por  ratos de plantão. E conversamos e conversamos.
Célia e Celma são ótimas no fazer chá da tarde.
Também com alguma frequência tenho a alegria de receber Papete, Osvaldinho da Cuíca, Téo Azevedo, Luiz Wilson  e os rapazes do Tri Gato com Fome.
Com essas pessoas, eu me sinto em festa.
E como se não bastasse, ainda tem Luiz Guerrero que me leva, quase sempre atropelando as minhas falas, até a Laramara.
Na Laramara, tenho me sentido em casa.  
Até aqui aprendi que posso ver através das mãos, das pernas, dos pés, pelo pensar e pelo ouvir das vozes que até mim chegam.
Eu perdi a luz dos meus olhos, mas ganhei a nova vida que me levará aos caminhos do bem fazer e educar e aprender; aprender para ensinar; aprender para educar.
O resumo disso é Cidadania.
E pensar que a gente reclama de tanta coisa...Se chove, a gente reclama. Se faz sol, a gente reclama.Se faz frio, a gente reclama. Se faz calor, a gente reclama.

A gente reclama de tudo
Reclama sem precisão
Reclama por reclamar
Por reclamar sem razão
A vida é muito boa
Ora, chega de reclamação!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

ARMAS E PÃO & CIRCO

O capeta anda solto no Palácio da Dilma, no Senado do Renan, na Câmara do Cunha, no STF e em todo o canto.
Oito dentre dez brasileiros temem morrer assassinados.
A morte há muito foi banalizada o Brasil.
Agora mesmo ouço no rádio a notícia de mais uma chacina ocorrida em bairros de Osasco, uma das 39 cidades da chamada Grande São Paulo. A chacina resultou em 20 mortos e seis pessoas gravemente feridas, internadas em hospitais da região.  
Entre os mortos, trabalhadores, pais de família.
E por que essas pessoas morreram?  
Essas pessoas morreram, não só pelo fato de estarem vivas, mas porque precisavam ser mortas por algozes que certamente permanecerão impunes, pois assim se sentem desde sempre.
A impunidade na vida brasileira é fato comum, que praticamente nem chama mais a atenção de ninguém.
Isso tem a ver com cultura, com cultura popular?
A cultura popular é a digital de um povo, eu já disse.
Cultura popular é tudo o que é feito pelo povo anônimo de um país.
O capeta inverteu as virtudes, os valores que enriquecem o cidadão.
Num conto de Machado, o capeta diz que a ira, por exemplo, é uma das mais importantes “virtudes” que o ser humano poderia ter e que sem ela, sem a fúria de Aquiles, não existira a ilíada de Homero.  Um horror, não?
Para o capeta, a venalidade – outra ‘qualidade’ para o rei dos infernos - “é o exercício de um direito superior a todos os direitos”, por isso o homem pode, antes de vender a alma, vender a própria palavra, a opinião, a fé e o voto.
O que o Renan teria vendido para cair no colo da presidente da República?
E o que estaria movendo Cunha para detonar a República através da sua representante maior, Dilma?
Ontem, no Palácio do Planalto, um representante de movimento popular disse, em discurso, que se faz necessário ir às ruas domingo 16 armados para enfrentar quem estiver contra seus interesses.
Meu Deus! Felizmente, vivemos no sistema democrático em que a ordem está garantida na Constituição, e na Constituição está claro que cabe às Forças Armadas cuidarem da paz do País.
Mas o que violência tem a ver com cultura popular?
Num país onde a educação e a cultura são atiradas na lata de lixo, o que se pode esperar?
São muitas as crises que vivemos.
Somos um país com o maior número de impostos e um dos mais caros do mundo.
Cabemos na máxima “do pão & circo”.
Cerca de 12 milhões de brasileiros, mesmo vendo com os olhos da cara, são incapazes de distinguir um “ó” de uma roda. Além desses analfabetos totais há mais algo em torno de 25 milhões de analfabetos que leem sem saber o que estão lendo. São os tais “analfabetos funcionais”. O capeta está solto e o circo sem lona, com os palhaços nus, sem graça.
Para o País andar é preciso que os cidadãos trilhem pelo caminho da educação e cultura.
Sem educação e cultura, a nação continuará pobre.
Há uns sete ou oito anos, fui convidado para encerrar um seminário no Congresso Nacional. Aproveitei a ocasião para repetir o que sempre repeti nos meus programas de rádio e televisão, ou seja: que a educação e a cultura podem ser enriquecidas com a música no currículo escolar. Dois anos depois, projeto nesse sentido foi aprovado no Senado e promulgada pelo presidente Luiz Inácio da Silva (acima). Detalhe: essa lei, porém, não está sendo respeitada porque, segundo dizem “não há pessoas capacitadas para ensinar a matéria”.

Ouça:


E o avião, era de quem?

Há um ano e meio, exatamente, um avião subia aos céus do Rio de Janeiro para despencar com toda violência possível na terra de Santos. A bordo estava o presidenciável Eduardo Campos e um punhado de assessores. Ninguém escapou. Os estragos foram grandes, inclusive para o PSB. Hipocritamente Lula, Dilma, Aécio e outras sumidades da vida nacional choraram lágrimas de crocodilo. Coisas do Hermógenes. Campos estava sendo “trabalhado” para ser a salvação da lavoura. As mídias o colocavam como um sujeito reto etc e tal. Pessoalmente, eu o achava esquisito.  Meses antes da tragédia, eu almocei com ele e Ciro Gomes num restaurante em São Paulo. Falei de cultura popular, da importância disso para o País. Falei até de uma conterrânea sua, a cantora e compositora Anastácia. Disse-lhe da importância dela para a música popular. Ele disse que não sabia quem era. Foi minha vez: Por que a secretaria de Cultura do seu estado, Pernambuco, não publicava um livro a seu respeito, por exemplo? E, como todo político, prometeu que alguém entraria em contato com ela e comigo. Até hoje!

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

VEREDAS DO PLANALTO

Dia desses fui dormir com a notícia de que dona Dilma se reunira com vinte e poucos governadores, para discutir os destinos do Brasil e de si própria. Falou-se de apoio político e coisas que tais.  E se ouvi bem, ouvi também uma palavra mágica: travessia.
Pensei, atravessar o quê?

Pensando bem, faz sentido atravessar... Atravessar um tempo difícil, uma situação difícil, uma doideira qualquer. E é o que estamos vivendo: uma doideira.

A palavra travessia dita de modo quase desesperado, me fez lembrar uma situação interessantíssima, que foi o primeiro encontro de Diadorim e Riobaldo, personagens do clássico nacional Grande Sertão: Veredas, do mineiro, de Cordisburgo, João Guimarães Rosa (1908-1967).

Cheguei a imaginar, em sonho, que Dilma era Diadorim; Riobaldo, o povo; e nessa representação toda, a canoa era o Governo.

E aí acordei rindo, meio cantarolando a velha marchinha carnavalesca que diz:
   “Se a canoa não virar, olé, olé, olá;
   Eu chego lá...”.

No primeiro encontro de Diadorim e Riobaldo, Riobaldo é convidado por Diadorim para atravessar o mar de água do São Francisco. A canoa, feita de madeira de lei, era daquelas que ao virar leva para o fundo das águas os seus ocupantes. No caso, Riobaldo não sabia nadar. E por não saber nadar, pediu arreglo a Diadorim, que foi perguntado se não tinha medo.  A resposta foi mais ou menos esta: “E devera de ter?”

Diadorim, descobre-se nos finais da história, que é uma mulher, uma bela mulher. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

QUEM JÁ NÃO OUVIU UMA HISTÓRIA DE PESCADOR?

O que mais dói, uma mentira de homem, mulher ou menino?
Todo tipo de mentira dói, mas dói menos a inventada e contada por uma criança.  E por
pescador.
Quem já não ouviu uma história de pescador?
José Dias não era pescador, era um desses personagens inventados pela imaginação de um dos nossos maiores escritores, Machado de Assis (1839-1908).
Um dia, nos fins da primeira parte do século 19, José Dias bate à porta em uma fazenda e cura com remédios adquiridos sabe-se lá onde, um feitor e uma escrava. E não cobra nada dos pacientes e nem do seu dono, pai de Dentinho.
Dentinho, como todo mundo sabe ou deveria saber, vinha a ser Dom Casmurro.  
Ilustração de Luciano Tasso para a obra Meus romances de cordel.
Dias acaba por morar na fazenda do pai de Dentinho. Um dia, com a consciência pesada, resolve dizer que não era médico coisa nenhuma, mas sim um charlatão; e que escolhera esse caminho por ser o menor caminho que encontrara para ajudar quem dele necessitasse.  Dito isso, foi perdoado.
Quer dizer, há mentiras curiosas, engraçadas, que não fazem mal e não levam a nada; e quando leva, leva para o bem do outro.
Mentira de pescador faz mal?
Mentira de criança faz mal?
E mentira de homem e mulher, quando especialmente a mulher ou homem mente para tirar proveito próprio em prejuízo de uma sociedade, por exemplo?
Pois é, o Brasil vive numa embatucada: perdoar ou não perdoar, eis a questão.
A Democracia é um sistema político que, nas origens, foi criada para o bem de todos.
Quem não dá bola à lei e comete crime, qualquer crime, deve pagar pelo que fez ou faz, é ou não é?
Muita gente não dá bola às leis. Getúlio Vargas, por exemplo, dava de ombros e dizia que a lei era para os inimigos, “para os amigos, tudo”.
Mentir é coisa grave.
A mentira leva à degradação.
Detalhe: José Dias era daqueles que opinavam com  obediência.
Por falta de opinião, jamais morrerei. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

MENTIR É COISA FEIA...

O banco de dados construído pela sabedoria popular é riquíssimo e acessível a todo aquele que decida ou deseja aprender.
Aprender será sempre uma decisão brilhante.
Quando determinada situação é grave, diz-se: “o mar não tá pra peixe”. 
No caso, a referência é o tubarão.
Mas é o caso de também dizer que em mar revolto até tubarão sucumbe.
A política costuma gerar grandes e insaciáveis tubarões; mas tubarões, por maiores e mais perigosos que sejam também sucumbem em águas revoltas.
O alimento dos tubarões quase sempre está nos campos minados da corrupção construídos pela mentira.
A mentira, quando não mata, aleija.
Certa vez, mestre Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), brincando, me disse ser a mentira uma coisa feia. “Mas é tão bom mentir!”.
Mas é claro que ele estava pilheriando, ‘tirando uma’, como se diz no jargão popular.
Mentir brincando, de brincadeira, claro que pode. O que não pode é mentir de verdade, como fazem tantos políticos desta nossa terra tão judiada pelo mal da sacanagem, canalhice, da corrupção... Mas mentir até ‘profissionalmente’ é algo tão corriqueiro no Brasil quanto aspirar o ar poluído das ruas.
Dilma mentiu.
Por mentir, enganar e destruir o sonho de tanta gente, a presidente da República no seu segundo mandato corre o risco de pagar um preço alto pelo que fez, ou seja: mentir, mentir, mentir.
Mentir, como disse Cascudo, é uma coisa muito feia.
Por isso, está se desenhando mais uma grande manifestação popular, prevista para o próximo domingo. Essa manifestação tem a ver com as crises diversas que temos enfrentado. 
Hoje os integrantes da CPI do BNDES apresentarão o cronograma de trabalho.
Nessa cumbuca, tem coisa. Mas, que prevaleça a verdade!
A vida pede que tenhamos meta e respeito ao próximo. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

VOU-ME JÁ!

Enquanto lá na América do Norte Barak Obama tenta convencer seu Congresso e eleitores da importância e necessidade de se firmar  o acordo nuclear com o Irã, por razões diversas; o sádico ditador  da Coréia do Norte, Kim Jong-un pinta e borda assustando o mundo com gestos e caretas. Aqui, por essas bandas, políticos viciados em corrupção, que são muitos, pulam miudinho feito calango em frigideira fervente, tementes que as garras da lei os alcance.

O mundo ferve.

Há bombas nucleares nos depósitos de Israel, Rússia e mais uma meia dúzia de países...
Diante disso tudo, a ‘maquininha de fazer doido’, que é como chamava a televisão mestre Stanislaw Ponte-Preta, ainda nos oferece alguns motivos de alegria, como, por exemplo, o programa Viola, Minha Viola.

Até parece que Inezita nem foi embora. Ela estava ótima ontem na telinha da TV Cultura, mostrando Daniel cantando Disparada, de Vandré, e duplas do gabarito de Zé Mulato e Cassiano, amigos nossos lá das quebradas do Planalto.

E por falar em Planalto, deixa pra lá.

Assis Ângelo e Silvio Santos
Ainda na programação dominical da ‘mardita’ telinha, o filósofo popular Silvio Santos continua bombardeando a plateia feminina com aviõezinhos no valor de até cento e cinquenta reais. E, entre uma brincadeira e outra que o dono do SBT faz com suas ‘Silvetes’, desafia seus convidados a responderem perguntas que podem lhe render, no conjunto, até meio milhão de reais... E com seu inefável sorriso ele, ao chamar os comerciais, diz:

– Vou-me já!

Que coisa a nossa língua, hein?


Na programação dominical do SBT não há crise, crise nenhuma para os telespectadores.  Mas houve uma vez, que Silvio detectou problemas políticos/econômicos em São Paulo, pelo menos. Foi quando ele concorreu ao cargo de governador do Estado. 

domingo, 9 de agosto de 2015

TEM PAI QUE É MÃE



Há pais que são mães
E mães que são pais
Registra a história
Desde os tempos coloniais

Na Babilônia um menino
Na argila desenhou
A imagem do seu pai
A figura que mais amou

O simbolismo do menino
Entre nós permanece
Multiplicando a esperança
No amor que fortalece

Neste 2º domingo de agosto, países como a Argentina, Itália e Rússia, além do Brasil, comemoram o dia de todo pai, inclusive eu.
A referência à Babilônia dos versos que teci acima, tem razão de ser. Mas foi há uns dois mil anos depois que, na América do Norte, um cara ficou viúvo e com a incumbência de criar seus seis pimpolhos, entre os quais uma donzela que ao virar adulta reconheceu a dura tarefa de criar filhos. A garota confeccionou algo como um cartão e nele escreveu palavras de elogio ao pai, lembrando que ele ao cria-la e aos seus irmãos desenvolveu também a função da mãe.
A ideia dessa jovem levou outros filhos a parabenizar o pai num dia do mês de junho.
Isso, ali pela 1ª década do século passado.
Em 1972, o Presidente norte-americano Richard Nixon oficializou a data e o mercado de consumo aplaudiu.
Pelo menos nisso, ficamos à frente dos gringos do Norte.
No Brasil, o Dia dos Pais está fazendo 60 anos.
O meu pai se chamava Severino e a minha mãe, Maria. 

O meu pai e a minha mãe
Me criaram com carinho
Ensinando a respeitar
Quem cruzasse o meu caminho   












POSTAGENS MAIS VISTAS