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domingo, 12 de novembro de 2017


VIVA AUGUSTO, O POETA DA VIDA!


O que se ouve e se vê no rádio e na televisão hoje no Brasil é notícia que não presta sobre crimes de todos o tipos, de corrupção a homicídios.
Segundo as estatísticas, cerca de 60 mil pessoas são assassinadas anualmente no Brasil e outras 60 mil são vítimas das ruas, avenidas e estradas, de motoristas loucos, irresponsáveis, que não dão bola à vida alheia e nem à própria. E matam por matar.
As delegacias de polícia e presídios do País estão abarrotadas de culpados e inocentes. Cerca de 50% das pessoas que estão presas, sem acusação formal, estão enquadradas no item penal que fala de "preventiva".
A maioria ou boa parte dos que estão presos é, na linguagem chula, "pé de chinelo". 
Esse panorama, de presos pobres, está mudando desde três anos atrás, quando se iniciou a operação Lava-jato.
Nunca como nos dias atuais tantos figurões de colarinhos brancos foram pegos com mãos na botija. Gente de cabedal, importante, que olha o povo de cima pra baixo, com o nariz arrebitado. Ê, lelê!
Pôxa, mas não era sobre isso que eu ia falar aqui. 
Bem, eu queria começar este texto dizendo que chega a ser triste o fato de ninguém noticiar o aniversário de morte do poeta simbolista-parnasiano Augusto dos Anjos.
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos partiu para a Eternidade no dia 12 de novembro de 1914, dois anos depois de publicar Eu, seu único livro, de modo independente, com produção e impressão pagas com dinheiro que um irmão lhe emprestou.
Meu amigo, minha amiga, você sabe o que há em comum entre Augusto dos Anjos, paraibano, e o piauiense Firmino Teixeira do Amaral, além de poetas? 
Augusto e Firmino morreram com 30 de anos de idade. Mais jovem e tão importante quanto os dois, só o sambista carioca Noel Medeiros Rosa, que morreu com 26 anos, 4 meses, 3 semanas e 2 dias.
Noel Rosa ficou conhecido como o Poeta da Vila e deixou obras como Palpite Infeliz, lançada por sua grande intérprete, Aracy de Almeida:



Poeticamente, poderíamos classificar o já classificável Augusto como um poeta parnasiano, mas na sua obra também dá pra perceber com clareza traços fortes do Simbolismo. E uma coisa curiosíssima: Augusto também tem a ver com Romantismo, sim senhor!
Domingos José Gonçalves de Guimarães (1811 - 1877) é considerado o inaugurador da poesia romântica no Brasil.
Em 1836 Guimarães publicou Suspiros Poéticos e Saudades. Esse livro é considerado o marco da poesia romântica. É muito bonito. E ali entre as páginas 34, 40, 50, tem Augusto dos Anjos puro.
O primeiro poema de Augusto dos Anjos foi Saudade, que escreveu em 1900.
Entre os tantos belos poemas de Augusto, há Versos Íntimos. Nesse poema ele fala algo sobre homens e feras e da necessidade do homem também ser fera. Confiram:

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca que te beija!


E beleza por beleza ouçam essa menina, cuja idade não sei, mas dá um tom muito especial ao poema acima:


Eu tinha ali uns treze, quinze anos de idade quando, na escola, alguém me disse que Augusto lecionara no Liceu Paraibano. Pois é, eu estudei lá. E aí, não sei porquê, o nome Augusto ficou na minha mente e não demorou muito o achei numa livraria, num sebo talvez. Fiquei doido ao ler Eu. Depois disso, bons anos depois, descobri Schopenhauer, Nietzsche, por indicação de um amigo querido que não sei por onde anda: Gemy Cândido, autor de um dos mais completos estudos sobre o nosso poeta. Esse estudo, Fortuna Crítica de Augusto dos Anjos (1981), resultado de uma enorme pesquisa.
Viva Augusto dos Anjos!
Ah! Augusto dos Anjos casou, teve um filho morto e entrou para a história da crítica como o Poeta da Morte. É isso.









WAACK E RACISMO

O preconceito, a discriminação e o racismo andam lado a lado, juntos como irmãos siameses. São terríveis. 
No começo, bem no começo, o Brasil era habitado por índios que falavam inúmeras línguas, sendo a mais conhecida, o Tupi. E aí vieram os portugueses e outros povos de terras distantes... que acabaram com os índios e suas línguas, escravizando-os. Corria o ano de 1500 quando Cabral aportou na Costa baiana.
Entre 1539 e 1542 começaram a desembarcar em Salvador, Recife e São Luís, os primeiros negros caçados a laço na África. 
Conta a história que 5,2 milhões de africanos foram obrigados a trabalhar no Brasil até o advento da abolição, em 1888.
Europeus, negros e índios se misturaram, resultando no que somos hoje: uma população fortemente miscigenada, cantada em verso e prosa.
Depois da escravidão negra veio a escravidão branca, geral, praticada ainda hoje sob a batuta do capitalismo selvagem.
É comum a imprensa noticiar casos de exploração humana, no Brasil e em boa parte do mundo.
Pois bem, a Imprensa e redes sociais têm noticiado rumoroso caso envolvendo o apresentador de tevê William Waack. "Isso é coisa de preto", ele teria dito ao ser incomodado por um buzinaço ocorrido diante da sede do governo norte-americano, há um ano. Esse comentário, gravado por um ex-funcionário da Globo, foi tornado público na madrugada do último dia 8.
Se Waack disse o que dizem ter dito, é lamentável.
A escravidão é uma coisa horrorosa, independentemente da cor da pele. E muito já se falou sobre isso e certamente muito ainda se falará.
O preconceito, a discriminação e o racismo são males que devem ser combatidos por todo mundo, em todo canto e em todos os tempos. No Brasil é crime que dá cadeia.
Será que a Globo afastou Waack para provocar polêmica e aumentar a atenção dos telespectadores para a nova novela das nove, O Outro Lado do Paraíso? Aliás, nesse folhetim global há uma personagem que fica doida da vida ao saber que seu filho está apaixonado por uma empregada doméstica negra -"Eu não vou ter um neto preto", declara . A personagem não se diz preconceituosa, diz querer apenas o melhor para o filho. 
A Globo já enfocou várias vezes o racismo em suas novelas. Quem não lembra da Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães?
O tema também foi muitas vezes abordado pelos compositores de música popular. Quem não lembra de Nega do Cabelo Duro, de Lamartine Babo?
Outros títulos da MPB que foram lançados há quase cem anos pela indústria fonográfica: Pai João de Almirante e Luiz Peixoto; Abolição de Wilson Batista e Orestes Barbosa, Geme Negro de Synval Silva e Ataulpho Alves; Olha o Jeito desse Negro, de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy e Terra Seca, samba de Ary Barroso (ouça abaixo com Ângela Maria), entre outras.



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