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sábado, 12 de agosto de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (38)

 

O que separa a licenciosidade da pornografia e sexo explícito?
Em 2005, o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa (1937-2023) esteve em Berlim,  Alemanha, apresentando a peça Guerra no Sertão. Baseada no livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, na história adaptada por Corrêa aparecem personagens vivenciando o dia a dia da região de Canudos. E aí tem putaria, sexo e tal.
Boa parte da imprensa alemã não gostou do que viu. O diário Bild, em matéria de página inteira, pergunta o que os problemas dos brasileiros têm a ver com orgias. O diretor da peça respondeu:

“O desejo da orgia vive em cada cultura e em cada pessoa. O teatro pode contribuir para libertar esse desejo”.
Disse mais:
“Trata-se do ímpeto de liberdade das sociedades isoladas. Mas eu vejo isso só do ponto de vista político, econômico ou militar. Trata-se da libertação das origens humanas que isolamos em nós”.

As tragédias marcam, comumente, os roteiros operísticos. Sempre foi assim, mas também foi assim no campo do erotismo, da safadeza. Wagner (1813-1883) usou e abusou de personagens eróticos na ópera Parsifal (1882).

Mozart (1756-1791), em Don Giovanni (1787), não mede palavras pra pôr na boca de seus personagens. É um depravado, sexualmente incansável, o personagem título da obra. Seu fiel criado, Leporello, a certa altura diz:
— Senhora, este é o catálogo das mulheres que o meu patrão amou... Na Itália, seiscentas e quarenta, na Alemanha, duzentas e trinta e uma, cem na França, noventa e uma na Turquia, mas na Espanha já são mil e três. Entre elas, camponesas, criadas, citadinas, condessas, baronesas, marquesas e princesas. Há mulheres de todas as classes, de todos os tipos e idades [...] Da loura costuma elogiar a gentileza, da morena a constância, da grisalha a doçura. No inverno prefere a gordinha, no verão a mais magrinha. A alta é majestosa, a pequena é encantadora. As velhas, conquista só pelo prazer de pôr na lista. A sua paixão predominante é pela jovem principiante. Não lhe interessa que seja rica, feia ou bela, pois desde que use saias, já se sabe o que ele faz…
Verdi (1813-1901), o grande Verdi, também ocupou espaço no mundo operístico com a temática em pauta. Em Rigoletto, tem uma hora em que o personagem Duque de Mântua diz: “esta ou aquela, para mim são todas iguais [...] as mulheres são volúveis como plumas ao vento, mudam de ideia e de pensamento”.
E a Carmen, hein?
Georges Bizet, o autor, optou por uma tragédia.
Muitas revistas em quadrinhos abordam narrativas operísticas e não operísticas no Brasil e mundo afora.

Fotos e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.

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