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domingo, 24 de setembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (44)

Assis e Tinhorão num ano qualquer dos 80
É tudo muito simples
Mas também é complicado
Viver é um perigo
Pra quem anda descuidado
O casal do Paraíso
Pecou foi castigado...


Adão e Eva Eva e Adão viviam em paz, tranquilos, pulando, se divertindo como ninguém jamais tinha feito. Até porque não havia ninguém, à exceção do casal cá em pauta. Os dois comiam de um tudo: macaxeira, inhame, batata-doce e outros legumes; verduras e frutas de todo tipo. Só uma coisa o Criador, com seus caprichos, pediu que não comessem: uma tal de maçã.
José Ramos Tinhorão, de batismo José Ramos, foi um paulista nascido em Santos no dia 7 de fevereiro de 1928. Estudou Direito e Jornalismo. O tempo o levou a optar pelo Jornalismo. Saiu-se bem. A sua sede pelo conhecimento o levou a devorar todo tipo de livro, incluindo os que tratavam de economia e política. Descobriu Marx muito cedo e cedo virou comunista sem ativismo, pois gostava mesmo era de uma vida calma, do mar e de mulher bonita desfilando por perto. E da boa música popular da nossa terra.
Tinhorão alimentava a certeza de que Marx foi o homem mais importante do mundo. Pra não brigar, aceitava a ideia de que outro homem dividiu sua importância com Marx: Jesus, o Cristo.
Os escritos de Tinhorão seguiam a linha marxista-leninista. Era firme em tudo que dizia da boca pra fora e também nos escritos que produzia para jornais e revistas. Deixou 29 livros publicados, entre os quais um em três volumes (A Música Popular no Romance Brasileiro). Todos imprescindíveis na estante de quem queira descobrir as raízes culturais-musicais do Brasil.
Antes de publicar seus livros, Tinhorão ganhava a vida produzindo textos especiais para periódicos do Rio. Pra valer, como profissional, teve seu primeiro trabalho em Carteira chancelado pelo Diário

Carioca e depois pelo Jornal do Brasil, onde passou a assinar uma coluna sobre música popular. Conheceu grandes jornalistas e escritores como o pernambucano Nelson Rodrigues, que um dia o faria personagem de uma peça transformada em filme (1981) e minissérie (1995) da TV Globo: Engraçadinha, seus Amores e seus Pecados.
Corriam os anos de 58, 59.
Em 1963, José Ramos Tinhorão também assinava textos para revistas como Chuvisco que tinha entre seus editores o gaúcho Tarso de Castro, que na segunda parte dos anos 1970 criaria e editaria o suplemento dominical do paulistano Folha de S.Paulo.
Na revista Chuvisco, Tinhorão publicou um texto que intitulou Gênesis. Já aí mostrava a sua graça refinada com um quê de ironia. Uma das vítimas foi, ninguém mais ninguém menos, Deus. O texto começa assim:

"A história da Criação ainda não está bem explicada. Talvejz devido a pressa (o mundo foi feito em seis dias, apenas) muita coisa custa hoje a ser compreendida, mesmo levando em conta que é muita pretensão do Homem querer julgar a obra de Deus como o Sr. Agripino Grieco julgava a do escritor Ataulfo de Paiva. No entanto, de tanto ouvirmos dizer que os homens foram criados por Deus, por exemplo, uma coisa desde logo não se explica: por que, se o objetivo era criar os homens, o Senhor foi criar também uma mulher?"

Coisa de comunista, não é mesmo?
Não é certo, mas dizem os cristãos que Deus criou todos e tudo mais. Começou num domingo criando o Céu e a Terra. Depois a luz, os mares, peixes e tudo que se bole abaixo e acima de nós. Cometas, estrelas e tal. E nós. Teria dito: "Faça-se o homem". E o homem se fez. Para que nós homens não ficássemos sós, Deus com sua bondade infinita tirou uma das nossas costelas e com ela fez a mulher para nos acompanhar até o Inferno.
A história do mundo todo mundo já contou, de todas as maneiras. Incluindo a origem do primeiro pecado. E é aí que vem a história da maçã e a história da serpente.
Foi Eva que hipnotizada pela serpente decidiu dar de presente uma maçã a seu companheiro?


O cartunista Fausto vê nesse ⁶episódio o coitado Adão como culpado. Sobraria pra quem? Pra uma mulher, Eva é claro.
Enfim, o casal acaba sendo expulso do Paraíso e segue a vida trabalhando pra se sustentar. Ordem do Senhor.
Adão e Eva tiveram uma porrada de filhos, entre eles Abel e Caim.
Enquanto a prole do primeiro casal da história crescia com incestos e outras barbaridades, surgiam desavenças, ódio, ciúme, inveja, assassinato, o escambau. É o que se vê hoje, aliás.
São, no mínimo, curiosas as observações de Tinhorão no tocante à criação do homem e da mulher. Lá pras tantas, ele diz:

"...depois de ter feito a luz, o firmamento, as águas, a terra, as árvores, a lua, as estrelas, as aves e os peixes, o Criador verificou que não havia ninguém para acreditar em Deus. Essa teria sido, pois, a verdadeira razão do Senhor ter feito o primeiro homem "ad similitudinem suam", isto é, tão a sua semelhança, que em pouco tempo os seus descendentes sairiam criando deuses com a mesma facilidade com que Ele havia criado os homens".
Cá pra nós: sempre achei que Tinhorão via muito além do próprio nariz com graça e algo mais.
Quem poderia imaginar que este nosso mundinho um dia iria se complicar mais e mais com a presença do homem e da mulher?

sábado, 23 de setembro de 2023

PRIMAVERA, CALOR E CORRIDA

A Primavera de 2023 acaba de chegar. Chegou exatamente às 3:50h desta manhã. Um calor danado. A quentura do Inverno que acaba de se ir parece aumentar a cada segundo.
Os termômetros em São Paulo devem chegar hoje à marca dos 41 graus.
Os termômetros em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devem chegar aos 46 graus, fora a sensação térmica que não sei de quanto será. Mas, independentemente disso, é preciso brincar e rir enquanto é tempo.
Hoje 23 faz um mês que curti uma mini temporada no A.C.Camargo, ali no bairro paulistano da Bela Vista.
Fazia tempo que eu desejava conhecer as entravas de um hospital. E lá fui eu. A minha espera um robô de movimentos esquisitos e cheio de braços controlado por uma equipe médica liderada pelo Dr. Lucas Fornaziere.
Depois de cair num sono induzido que durou pelo menos quatro horas, levantei-me de onde estava e saí cantarolando a ária d'O Guarani.
Creio que sabedores do que aqui estou a dizer, acrescento à guisa de recomendação: machos covardes tomem coragem e deixem-se tocar pelo médico.
Antes de deixar o bem-bom do A.C.Camargo, perguntei ao Dr. Lucas quantos novos diagnósticos de câncer na próstata são feitos anualmente no Brasil. E ele: "65 mil".
Diante disso tudo, lamento apenas não poder correr à São Silvestre no próximo dezembro.
Se confirmada a temperatura esperada, o Brasil terá quebrado todos os recordes referentes à questão calor.
Rio 40° já era!
Vamos de marchinha?

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A "BANANIZAÇÃO" DA CULTURA POPULAR

Ouvi em algum lugar que hoje 22 é o Dia da Banana. Nacional ou mundial, não sei. Mas o barato é que hoje é o Dia da Banana. E como uma coisa puxa outra, vamos lá: a cultura popular, especialmente a música popular brasileira, está se bananizando com a rapidez de um raio.
Pois, pois.
A nossa música popular começa a ganhar forma na segunda parte do século 19, com os primeiros acordes que identificariam o que passaria a se chamar de choro ou chorinho. O avô dessa história foi o funcionário público Joaquim da Silva Antônio Callado e o pai, muito anos depois, Pixinguinha.
Em 1902 Manoel Pedro dos Santos, o Bahiano, gravaria em disco o lundu Isto é Bom. Foi a primeira música gravada em disco no Brasil e Bahiano desde então faria história como o primeiro cantor profissional do País.
O tempo passou e muitos outros ritmos e gêneros enriqueceram a discografia brasileira. Além do chorinho, vieram o lundu, o maxixe, o samba, o samba-canção, as marchinhas de Carnaval e junina, baião, xote e forró.
O maracatú e as folias de rei deram cor especial aos propriamente tidos folguedos populares.
As festas de São João marcaram época e agora se acham praticamente no limbo, invadidas que foram pelos sertanojos da vida e outras besteiras que degradam a sensibilidade de quem tem o mínimo de bom gosto.
Pois bem, hoje é o Dia da Banana.
A banana foi primeiramente cultivada lá pelos lados da Ásia, séculos antes do nascimento de Cristo.
A história conta que até Alexandre, O Grande, gostava de banana que só, dava tudo por uma banana. A propósito, a banana está de certo modo vinculada a questões pejorativas, de safadeza. Exemplo: "Fulano sentou-se na banana de beltrano". Ou: "Aqui pro'cê ó!". Essa expressão substitui um palavrão.
O gesto chega a ser obsceno. Agressivo. É possível que tenha origem no esticar do dedo, representado como símbolo fálico. Por que digo isso?
Banana é uma palavra de origem árabe e significa, grosso modo, dedo.
Além de ser associada a termos pejorativos, a banana também está aliada a países subdesenvolvidos e corruptos. Não à toa, foi não foi ouve-se ou lê-se aqui e acolá que "o Brasil é um país de bananas", ou "República de bananas".
No começo do século passado, ali pela primeira década, um escritor norte-americano chamado Willian Sydney Porter (O. Henry) escreveu e publicou o livro Cabbages and Kings. Nesse livro o autor cria a expressão "República das bananas". Fazia referência à população de um país fictício na América Central  que era explorada por um governo ditatorial e corrupto. A expressão corre mundo até hoje.
Meu amigo, minha amiga, você sabia que o Estado que mais produz banana é brasileiro? E que esse Estado é São Paulo?
Pois bem. Os municípios paulistas que mais produzem bananas são Registro, Itariri, Eldorado, Miracatú, Sete Barras, Cajati, Pedro de Toledo e Jacupiranga.
São centenas, quase um milhar, os tipos de bananas que se plantam e se colhem no Brasil e mundo afora.
Você sabia também que existe até o Museu da Banana? Esse museu fica em Corupá, SC e foi inaugurado em 2019, meses antes da pandemia provocada pela Covid-19.
A banana tem até dia em São Vicente Ferrer (PE), Jaíba (MG) e Cubatão (SP).
Já foi o tempo em que dava gosto dançar e ouvir música popular.
Em 1937, Braguinha compôs a marchinha Yes, Nós Temos Bananas, gravada por muita gente. Ouça com Almirante:

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A VIDA SEGUE

No nosso calendário de comemorações, o dia 21 de setembro é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. 
A data foi instituída pela Lei 11.133/2005, por iniciativa do Movimento Direitos das Pessoas Deficientes, MDPD.
Não são poucas as pessoas portadoras de deficiência.
Faz 10 anos que perdi a graça de ver com os meus próprios olhos. Mas a cegueira não é o fim:
 

EU E MEUS BOTÕES (69)

A porta da casa foi aberta de supetão, daquele jeito tipo brucutu. Era Lampa, um tanto esbaforido. Sem meias palavras e com o Estadão nas mãos, foi lendo aos solavancos a manchete: "Por fim, o cara a cara com Zelensky. Lula fala com ucraniano sobre guerra e evita tema com Biden". E continuou: "Reunião foi a primeira após divergências sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia. Segundo a diplomacia ucraniana, serviu para quebrar o gelo".
Todos se levantaram batendo palmas, surpresos. Barrica foi o primeiro a falar: "Confesso que desconhecia esse lado do Lampa".
"Que lado?", bufou Lampa irritado: "Eu estudei. Eu também sou gente, portanto qual é a surpresa?".
Silêncio.
"Calma Lampa, calma", pediu com tranquilidade o poeta Zilidoro. "É que você é realmente uma pessoa incrível, Lampa", acrescentou o poeta.
Bom, pessoal. Estou muito satisfeito com todos vocês. Todos somos iguais, embora aqui e ali um brilhe mais do que o outro. O Lampa é autêntico e o seu jeito natural de falar repete-se agora. Ontem terminamos a nossa conversa com ele perguntando a respeito de Lula, que se achava nos EUA...
"Isso mesmo, chefe! Meu conterrâneo Lula estava lá pras bandas dos Stêitis, falando com o gringo que se acha dono do mundo. E devo dizer a quem se surpreende comigo que sou um cidadão comum interessado com tudo que acontece no Brasil e no mundo. Eu leio o jornal, leio revista, ouço rádio, vejo TV e até na Internet eu mexo!", acrescentou.
Muito bem Lampa, o Lula botou em dia a conversa que queria com o Zelensky. Falou de paz, paz e paz. Vamos ver no que vai dar.
"Se der certo, o Lula leva o Nobel da paz", arriscou Jão.
"Olha, até o Jão sabe o que é Nobel", meteu-se irônico Mané. 
Barrica, lembrou que ontem não falei direito sobre o Marco Temporal. Aproveito pra dizer que a questão indígena é uma questão muito delicada e que o tal Marco Temporal não existe, não está na Constituição. E se não está na Constituição não deve ser apreciado e tampouco julgado pelo STF. Como apreciar e julgar algo que não existe? 
Nem bem eu disse isso e Zoião emendou: "Existe só na cabeça dos ricões do agronegócio. Esses fazem tudo e muito mais pra ganhar, pra fazer dinheiro. São uns pobres diabos viciados em dinheiro e poder".
O papo tá bom, mas...
"Não, seu Assis, não. A gente aqui queria saber a sua opinião a respeito da PEC da Anistia Partidária. É uma aberração. Querem ficar livre das multas que chegam a bilhões e bilhões de reais e ainda afunhenhar mulheres e negros com uma cota mínima", interrompeu Zé.
Pois é, você já disse tudo. Até pessoal!
Todos, fazendo graça: Aaaaaah...

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

EU E MEUS BOTÕES (68)

 "Seu Assis!", começou a chamar a atenção de todos o sempre curioso Barrica. 
Calma, pedi. O que te aflige tanto, Barrica?
"Ouço todo mundo falar a respeito da questão indígena...", recomeçou Barrica logo interrompido por seu irmão Biu: "E tem também um negócio chamado Marco Temporal, o que é isso?"
"Seu Assis, eu quero saber a sua opinião a respeito disso tudo", completou Barrica. 
Bom, pessoal. Os povos indígenas se acham no Brasil muito antes de o Brasil ser chamado Brasil. Pela lógica natural, as terras brasileiras são de quem primeiro aqui habitou.
"Então quer dizer que o Brasil ainda é dos índios?", perguntou por sua vez Zoião. 
Pela lógica, sim. Quinhentos anos já se passaram desde que os portugueses puseram seus pés no Brasil e escravizaram indígenas e negros. Os negros foram trazidos forçadamente pelos invasores.
"Portugueses! Os portugueses!", falou gritando o destrambelhado Lampa com o seu punhalzinho na mão. Seus olhos faiscavam.
"Os portugueses pintaram e bordaram por aqui. Fizeram dos povos originários gato e sapato. O mesmo fizeram com os negros trazidos à força da África", contou de modo professoral o poeta de plantão Zilidoro. 
Muito bem, estou orgulhoso de todos vocês...
"Mas eu quero saber, seu Assis, a sua opinião a respeito do Marco Temporal", retomou a questão Barrica. 
Eu acho o seguinte: as terras indígenas são de quem está lá há pelo menos 50, 60, 70 anos. Quer dizer, indígenas e posseiros com registro de posse legal. Agora vamos ver o que o STF decide, pois os debates acabam de recomeçar.
"Seu Assis, gostei muito do texto sobre teatro que o Sr. escreveu ontem", disse Jão chamando pra si as atenções. 
"Eu também gostei!", foi a vez de Zé falar.
O teatro é coisa muito importante. O teatro como arte, claro. É coisa antiga. Vem da China, de séculos antes de Cristo. O Japão aperfeiçoou ali pelo meio do século 14...
"E o teatro do Oprimido, hein?", perguntou Zilidoro acrescentando: "Tem a ver com o educador Paulo Freire?"
Tem, sim. Mas o pai desse gênero teatral foi Augusto Boal. Paulo Freire apenas o inspirou em 64, 65. Mas antes, por volta de 1950, surgiu na França o teatro do Absurdo...
"Seu Assis, aprendi na escola que o maior representante do teatro do Absurdo foi o romeno Ionesco", disse lá do seu canto o quase sempre quieto Mané. 
Muito bem, muito bem, gostei. E alguém sabe aqui quem foram os primeiros grandes teatrólogos brasileiros?
"Muita coisa mudou por aqui com a chegada da família Real portuguesa. Até então só tínhamos as músicas criadas, cantadas e dançadas pelos indígenas. Mas a trupe de D. João VI trouxe piano, violino e outros instrumentos musicais. O teatro veio no embalo, como no embalo veio a Imprensa. Nossos primeiros teatrólogos foram Martins Pena e Arthur Azevedo", exibiu-se todo pimpão o atento Zilidoro. 
"E Lula, e Lula!?", quis saber de mim Lampa.
Agora chega, né?
E todos, ao mesmo tempo: aaaaah!

terça-feira, 19 de setembro de 2023

NO TEATRO A VIDA SE REPETE

Hoje é o Dia Nacional do Teatro.

O teatro é uma das mais belas invenções que o homem já criou. É ele representando a si e a outros. Algo como um espelho em que tudo se reflete, de modo claro ou retorcido. 

O teatro existe desde que o homem, grosso modo, desceu da árvore e passou a seguir ou a inventar os próprios passos.

No Brasil, o teatro passou a ganhar forma no dia 30 de dezembro de 1508. Foi nessa data que em Salvador, BA, que quem pôde viu atores interpretando personagens da peça Auto da Visitação, do português Gil Vicente. 

Eu, se fosse você, iria procurar esse Auto entre tantos outros do criativo Vicente. 

É no teatro que as histórias se repetem, verdadeiras ou não. 

CRIAÇÃO LIMITADA

Eu disse ontem 18 que sem a Internet o mundo se acabaria. Ainda acho, até porque a Internet está pondo o mundo de cabeça pra baixo e levando à dependência homens, mulheres e a meninada de tudo quanto é tamanho e sexo.
Na Internet há uma porrada de plataformas e analfabeto na temática que sou, nada ou muito pouco sei. Na verdade, nada sei. Hmmmm, essa frase...
Agora escuto com certa frequência pessoas falarem sobre algoritmos. 
Algoritmos são "uma sequência de instruções ou comandos realizados de maneira sistemática com o objetivo de resolver um problema ou executar uma tarefa", garante Anninha do alto de sua sabedoria depois de, naturalmente, dar uma bizoiada nessa maquininha doida de decompor mentes frouxas.
Pois bem, ouvi no rádio notícia dando conta de que os algoritmos estão agora limitando até a criação musical. Essa limitação chega, no máximo, à um minuto. Eu disse: um mi-nu-to!
A minha filha Clarissa me contou que os jovens hoje não têm tempo mais pra nada, nem para aprender. Nem para ouvir seja lá o que for. Ela: "O pessoal aí chega a acelerar os vídeos que lhes caem à mão".
É o fim, não?
Fora isso, tudo isso, agora sou eu quem nota que está havendo uma diminuição brutal de leitura de livros, jornais e revistas. Quer dizer, até a leitura de livro está indo pro beleléu.
Voltando à questão do limite de tempo para composição de novas músicas, chego à conclusão que de acordo com a nova "ordem" imposta pelos algoritmos, músicas como Aquarela do Brasil, A Triste Partida, Construção e Faroeste Caboclo não teriam futuro e jamais entrariam na lista de sucesso.
E aí, hein?

OUÇA MAIS: A TRISTE PARTIDA FAROESTE CABOCLO  CONSTRUÇÃO CARINHOSO PRETA PRETINHA AVÔHAI  MULHER NOVA, BONITA E CARINHOSA FAZ O HOMEM GEMER SEM SENTIR DOR  DETALHES

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

O QUE COMEMORAR NO DIA DA TV?

Chatô num estúdio de televisão
Foi num dia como hoje, segunda 18, que o paraibano Assis Chateaubriand inaugurou a TV no Brasil. O mês era setembro, véspera da primavera. O ano, 1950.
No Brasil, o 18 de setembro virou Dia da TV.
O ponto de partida para a TV no Brasil foi a Capital paulista.
Vários aparelhos de TV foram espalhados em pontos estratégicos na cidade. Nome da TV: Tupy, cujas atividades foram definitivamente encerradas no dia 18 de julho de 1980.
Chatô, com sua iniciativa, provocou uma verdadeira revolução nos meios de comunicação.
Com a inauguração da televisão no Brasil, dizia-se à boca larga que o Rádio iria se acabar. Não acabou, multiplicou-se e ganhou respeito. Uma mídia não acabou com a outra, somaram-se.
O número de emissoras no Brasil está ali na casa dos 10 mil.
O número de canais de TV são infinitamente menores. 
A TV Globo, como outros canais de porte, viraram rede cobrindo o território nacional.
Agora, o seguinte: é altamente questionável a qualidade do que vai ao ar tanto na TV quanto no Rádio.
De baixíssima qualidade também são hoje os jornais e revistas, que cada vez mais minguam e migram para uma coisa chamada Internet. Essa coisa é descrita pelos cabeções da vida como "um sistema global de redes de computadores interligadas que utilizam um conjunto próprio de protocolos (Internet Protocol Suite ou TCP/IP) com o propósito de servir progressivamente usuários no mundo inteiro".
As emissoras de rádio e TV também estão ocupando plataformas e plataformas da Internet.
No dia em que a Internet, por motivo qualquer, der um tilte ou um apagão geral, o mundo se acaba.
Em 1997, o baiano e acadêmico da ABL Gilberto Gil compôs e gravou um negócio chamado Pela Internet. Ouça:
 


LEIA MAIS: NAS ONDAS DO RÁDIO (1)  TV 60 ANOS: HÁ RAZÂO PARA COMEMORAÇÃO?  E DEPOIS DA INTERNET, HEIN?

sábado, 16 de setembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (43)

Na vida tudo é muito óbvio. Até costumo dizer que só não vê quem não quer ver.
O sexo é uma obviedade latente e indiscutível. Está em todos nós, em todos os animais. Como animais somos esquisitos, ignorantes, hipócritas principalmente.
O assunto é longo, histórico e polêmico.
Muito já se falou e ainda se falará a respeito de sexo, erotismo e coisa e tal.
Ouço desde sempre que a profissão mais antiga do mundo é a de prostituta.
Muita loucura já foi feita por sexo e em torno do sexo. Isso tem a ver com namoro, casamento, infidelidade e tudo mais que existe no mundo real e no mundo da fantasia envolvendo mulher com homem, mulher com mulher, homem com homem e variantes identificadas na sigla LGBTQIAPN+.
Tudo isso se acha nas Escrituras Sagradas. É só ler.As religiões já nem discutem a questão: proíbem.
A Igreja Católica sequer aceita a união estável entre pessoas do mesmo sexo.
Grandes poetas e romancistas do Brasil e de todo canto têm se debruçado sobre tão instigante tema. Destaque para Gregório de Matos, Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Hilda Hilst, Adelaide Carraro, Cassandra Rios, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Nelson Rodrigues; Pietro Aretino, Oscar Wilde, Henry Miller, Jean Genet, Anaïs Nin, Boccaccio, Sade, Masoch...
E não só esses e outros autores que falam explicitamente de sexo. Há autores, como José Saramago que aqui e acolá encontram tempo pessoal e espaço na sua obra para densa ou levemente desenvolver o assunto. No caso de Saramago considero inadiável a leitura do seu envolvente e fustigante Caim.
Não é só em livros de autores consagrados que o sexo e suas variantes são tão frequentemente abordados, discutidos, polarizados, polemizados.
Até aqui abordamos o sexo nas suas diversas facetas. No escracho, no implícito e no explícito, por aí.
O duplo sentido erótico, sensual, se acha com frequência na música popular e até na música erudita. Ouvir a ópera Don Giovanni, por exemplo. No caso nacional, são muitas as músicas nesse sentido que dão o que pensar e os autores vão de Roberto Carlos a Chico Buarque, Genival Lacerda, Jackson do Pandeiro e até Luiz Gonzaga.
Os folhetos de cordel são pródigos na questão sexo que envolve tudo, inclusive infidelidade. Exemplos: Dicionário dos Cornos, O Encontro de Falcão com um ET Corno, A Desventura de um Corno Ganancioso, A diferença entre o Corno Rico e o Corno Pobre, Relação dos Cornos Brasileiros.
O sexo também se acha, e já falamos disso, nas revistas de quadrinhos como as que fazia o famoso Carlos Zéfiro.
De modo natural e implícito cantoras e bailarinas fazem o diabo nos palcos, nas TVs e nos ambientes da Internet.
O diretor e ator Celso Martinez Corrêa fez estátuas corarem com suas diabruras nos teatros da vida.
Pois é, a coisa é antiga.
Dizem que Cleópatra traía seus machos a torto e a direito. Essa foi a forma que ela encontrou para completar-se no panteão do Poder de seu tempo.
A história registra loucuras ditas e praticadas por Calígula e tantos outros doidos.
No Egito, na Pérsia, na Síria, na Grécia e Roma Antigas cultivavam-se o falo como símbolo da força masculina e da natureza. Pois é, já naquele tempo a mulher ficava em segundo plano. Voltaremos ao assunto.
Bom, macho é o cavalo-marinho que pare.

Fotos e reproduções Flor Maria e Anna da Hora

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

EU E MEUS BOTÕES (67)

Bom dia pessoal, eu disse. O dia ontem foi quente em Brasília. Aqui em São Paulo fez calor e fez frio. No fim de semana vai dar praia.
"Hmmm, que conversa!", estranhou Zóião. Biu completou: "Acho que o chefe está provocando. Vem ele aí com essa conversa mole somente para nos testar".
Eu ri.
Barrica: "Ontem houve notícia de tudo quanto é canto, de Brasília principalmente. Tudo coisa ruim. Em Minas a polícia pegou mandantes de um crime horroroso ocorrido há 19 anos. Estavam soltos". E Biu: "No Rio a criancinha de 3 anos que levou um tiro continua em estado grave".
Zé e Mané, sabe-se lá por quê, não tiravam os olhos de Lampa que, indiferente, danava-se a cutucar as unhas com seu estimado punhalzinho. Mané: "Pois é, no Rio a polícia continua matando. É como se fosse o nordeste de Lampião. Mata-se a torto e a direito".
Jão que a tudo observava, abriu a boca pra dizer que a coisa tá ficando feia pra Bolsonaro. "Ele foi operado e passa bem", disse Mané. "Passa mal, isso sim!", emendou depressa Barrica.
Do seu canto, Zilidoro pediu a palavra pra dizer que "Não é à toa que o cara passa mal, pois se acha em maus lençóis. Ontem o seu ex-ajudante de ordem...".
"Mauro Cid! Mauro Cid!", intrometeu-se Jão. "Pois é, como se não bastasse, esse Cid tão falado abriu o bico pra dizer que ele mesmo foi quem entregou 25.000 dólares nas mãos do seu chefe. E muito mais ainda vai dizer, como seu pai. O Maurão está dizendo à boca pequena que vai remover montanhas, se preciso, pra apresentar provas contra o ex-chefe do filho", completou Zilidoro.
Muito bem, pessoal! Mas pelo jeito vocês não estão sabendo de nada que aconteceu no STF.
"Não senhor, está enganado! Eu acompanhei tudo, tim-tim por tim-tim", protestou Zilidoro passando a mão no rosto e pedindo licença pra tomar um gole d'água. "Eu também, eu também acompanhei tudo!", disseram todos quase ao mesmo tempo. 

Sorri.

E já que todos acompanharam tudo no STF...

"O assunto é de grande importância para nós todos", recomeçou Zilidoro. Biu acrescentou: "Pareceu simplesmente um espetáculo a sessão de ontem e anteontem no STF. Teve até uma advogada que chorou por não terem lhe jogado um tapete vermelho para pisar".
Encerrando nosso papo, Zilidoro pediu licença pra enaltecer o "Dr. Google": "Um advogado, no plenário do STF, confundiu O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry com O Príncipe de Maquiavel. Essa coisa louca ele tirou do Google. Pode? É muita burrice ou não é?".
Inesperadamente, Lampa se levantou olhando pra todo mundo. Batendo palmas, disse: "A burrice também se acha entre os doutores".
Isso foi o suficiente pra o Zilidoro dizer, meio irônico: "Opa! Temos um filósofo aqui!".

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

BRASILEIROS DÃO ADEUS AO BRASIL

Assis e Carmélia
Ouvi hoje no rádio que Portugal é o país com o maior número de brasileiros residentes. É brasileiro de todo canto habitando Portugal. São cerca de 240 mil brazucas por lá.
Dizem que já tem até português perdendo sotaque e falando tal e qual brasileiros. O causador disso pode ter sido ou deve estar sendo o youtuber Lucas Netto, um garotão produtor de conteúdos infantis na Internet. Ai, ai. Mas essa é outra história.
A notícia do rádio dava conta de que pelo menos 30% dos imigrantes residentes em Portugal são de origem brasileira. Dados do ano passado 2022.
Ainda escutei o repórter dizendo que brasileiros morando fora do Brasil chegam ao expressivo número de 4,5 milhões. Os EUA encabeçam a lista dos países que mais acolhem brasileiros: 2 milhões e tarara. 
Incluindo Portugal, se acha nos países europeus algo entorno de 1,5 milhão de brazucas.
Ainda segundo o repórter, os brazucas deixam o país de origem em busca de vida melhor.
Essa notícia me fez lembrar a cantora Carmélia Alves, cujo centenário de nascimento ocorreu no último 14 de fevereiro. Muitas vezes ela me disse que seu desejo maior era trocar o Brasil por Portugal, terra que sempre a viu com bons olhos e a recebia com pompas e tudo mais nos teatros em que se apresentava. Dizia: "Ainda vou achar um velho rico e com ele vou morar em Portugal, terra querida".
Pois é, não deu.
Carmélia vivia praticamente esquecida no Retiro dos Artistas  no Rio. Morreu no dia 3 de novembro de 2012  no Hospital das Clínicas, em Jacarepaguá, RJ. Não deixou filhos nem herdeiros.
Triste e melancólico fim teve nossa Rainha do Baião.
Em 2016, Dimas Oliveira Jr. dirigiu o curta-metragem Carmélia Alves - A Rainha do Baião.  Dê uma espiadinha, não custa:

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

FUGITIVO É PEGO NO DIA DA CACHAÇA



Durante semana e meia o clube dos assassinos covardes comemorou abertamente a fuga espetaculosa do maranhense Danilo Cavalcante, na Pensilvânia, EUA. Essa fuga terminou nas primeiras horas do dia de hoje 13. A caçada contou com helicópteros, drones, matadores da S.W.A.T., cães, cavalos, o diabo.
O fugitivo em questão foi capturado, curiosamente, no Dia Nacional da Cachaça: 13 de setembro.
O Brasil ocupa o 3º lugar no ranking dos países produtores de destilados.
É brasileira a cachaça que ingerimos e exportamos.
Anualmente no Brasil é produzido algo em torno de 1,3 bilhão de litros de cachaça, ou pinga, como todo mundo diz. São Paulo é o maior produtor de pinga do País: 45% do total que se produz no território nacional. Que tal, hein?
Ingerem-se no Brasil a maior parte da cachaça produzida e apenas 1% ou 2% vai pra boca dos estrangeiros e estrangeiras.
Houve um tempo em que os EUA tentaram se apossar patenteando a cachaça que os brasileiros descobriram, mas não lograram êxito. Ali pelo século XVI, a rainha Luísa de Bourbon autorizou a colônia não só a produzir mas a ingerir o inebriante líquido. Foi um porre!
A matéria-prima da cachaça, a cana-de-açúcar propriamente dita, veio da Índia.
Os indianos descobriram a cana-de-açúcar anos antes de Cristo, pelo menos é o que conta a história.
A cachaça já provocou muita alegria e tristeza. E morte.
Foi no século 17 que ocorreu, no Brasil, a chamada Revolta da Cachaça. Foi no Rio, quando poderosos donos de engenho se levantaram contra o governo, por causa dos altos impostos cobrados. Deu tragédia com enforcamentos e tal.
De lá pra cá muita coisa foi feita em torno desse saboroso "veneno", degustado por pobres e ricos; engenheiros, médicos, profissionais liberais em geral. Nem o nosso Lula nega o sabor que a pinga tem. 
Para bons momentos, há sempre uma boa cana à espera de convivas. 
É certo que os americanos estão vibrando com a prisão do agora famoso assassino brasileiro. Pois, pois.
Existem já vários livros contando a história da cachaça. Um desses, O Prelúdio da Cachaça, de Câmara Cascudo, foi publicado em 1968. E muitos outros títulos como O Mito da Cachaça Havana, De Marvada a Bendita, Cachaça: Ciência, Tecnologia e Arte, A Revolta da Cachaça, Cachaça: História, Gastronomia e Turismo, Cachaça, Prazer Brasileiro e Os Segredos da Cachaça: Tudo o que Você Precisa Saber.
Muitas composições musicais também foram feitas para ressaltar os efeitos da cachaça como Pinga Ni MimMovido a ÁlcoolCachaceiroNo Embalo da CachaçaUm Copo de Pinga, Cachaça, A Cachaça, e Marvada Pinga, com Inezita Barroso. Ouça:


terça-feira, 12 de setembro de 2023

VANDRÉ PERTO DOS 100

Geraldo e Assis num encontro
cá em Sampa (05/06/2023)

Hoje 12 de setembro é um dia especial para o cantor, compositor, paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o Vandré. Especial porque é o dia do seu nascimento.
Geraldo Vandré nasceu em João Pessoa e hoje está completando 88 anos de idade. É uma incógnita, o personagem Vandré.
A última apresentação profissional de Geraldo Vandré ocorreu na noite de 13 de dezembro de 1968, em Anápolis, GO. Ao término, ele pegou o boné e deu no pé num carro em direção ao Rio de Janeiro. Passou, assim, a perna nos agentes da ditadura escalados para prendê-lo no dia seguinte antes de um show marcado para o Iate Club de Brasília.
Depois de passar uma pequena "temporada" na casa da viúva do escritor mineiro João Guimarães Rosa, dona Aracy, Geraldo deixou o Brasil em direção ao mundo desconhecido. Primeiro Chile e depois... até Grécia. Retornou em 1973, há exatos 50 anos.
Na Alemanha deixou-se filmar para um belo documentário a seu respeito:
 


LEIA MAIS: CANTOS INTERMEDIÁRIOS DO VANDRÉPorta estandarte, a primeira vitória de Vandré (5/6/1966)VANDRÉ EM ENTREVISTA NA BANDEIRANTESHOJE É DIA DE VANDRÉ, VIVA VANDRÉ!

FUGITIVO É COMPARADO AO CAPETA


Pois é, a fuga continua com o fugitivo dando baile na Pensilvânia e pondo pra dançar seus perseguidores que se acham armados até os dentes.
No céu da Pensilvânia drones e helicópteros assustam pássaros e despertam a curiosidade do mundo em torno da caçada a um brasileiro fugitivo da cadeia Chester County.
Isso tudo me faz lembrar o filme Alcatraz - Fuga Impossível, dirigido por Don Siegel e estrelado por Clint Eastwood. É de 1979 e fez um sucesso danado. Conta a história de dois irmãos assaltantes, John e Clarence Anglin, que depois de presos foram condenados à prisão perpétua e levados à Alcatraz.
Alcatraz é uma ilha da Califórnia, EUA, e foi lá que em 1934 o governo construiu o que foi considerado por todos como o presídio de onde ninguém jamais poderia fugir. Entrou lá, lascou-se. Mas não foi isso que aconteceu, pelo menos com os irmãos John e Clarence. No referido presídio, de segurança "super 
Fausto em Alcatraz
máxima", John e Clarence conheceram o criminoso Frank Morris. Os três se juntaram e "armados" de colheres fizeram buracos na parede das celas e a partir daí alcançaram o teto e depois o mar, a terra e tal.
Foi uma loucura!
Isso ocorreu em 1962 e até hoje nada se sabe a respeito do paradeiro dos audazes fugitivos, embora tenha saído notícia dando conta de que pelo menos os dois irmãos deram as caras num ponto qualquer de Mato Grosso, Brasil. O resto é história.
Em março de 1963, portanto há 60 anos, o governo americano decidiu fechar o presídio por causa dos altos custos de manutenção.
Em 1995 o chargista paulista Fausto Bergocce esteve lá e na cela que "acolheu" o mafioso El Capone fez posse. Hmmm... Sei não, aí tem!
A super caçada ao maranhense Danilo Cavalcante continua na Pensilvânia e redondezas, sem dia nem hora para terminar. O prêmio para quem der dicas para encontrá-lo subiu para US$25.000.
Boa parte da população tem se juntado aos policiais de todas as esferas norte-americanas. A ideia é tirar de circulação o fugitivo brasileiro, o mais rápido possível. 
Andam chamando o maranhense de "capeta dos infernos".
Essa coisa vai terminar não sei como, mas que renderá filme, isso vai!

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

BANDIDO BRASILEIRO DÁ DOR DE CABEÇA NOS EUA

No dia 17 de setembro de 1963 os telespectadores foram surpreendidos com a estreia de uma série intitulada O Fugitivo. Pois, pois. Produção da CBS, já que a 20th Century Fox não deu bola para o projeto.
Eu era moleque na Paraíba e passei a vibrar diante da TV ainda em P&B. Eram fugas sensacionais encetadas pelo personagem-título interpretado pelo ator norte-americano David Janssen. Na telinha era um médico cassado pela polícia sob a acusação de ter assassinado a própria esposa. Preso, foi condenado à prisão perpétua.
A série em pauta teve 120 capítulos e, 60 anos depois, cá estou eu a lembrá-la. E a razão é simples: um brasileiro do Maranhão de 34 anos preso foi condenado à perpétua sob a acusação de ter matado a companheira com quem vivia nos EUA. Esse brasileiro, Danilo Cavalcante, também acusado de assassinato no Brasil está desmoralizando completamente as forças policiais americanas. Hoje faz 12 dias que o cabra está sendo caçado por centenas de policiais municipais, estaduais e federais. Dessa caça participam a S.W.A.T. e cães farejadores. Pelo menos duas dúzias de helicópteros e drones foram incluídos na força tarefa. 
Não há lembrança de que caso igual tenha acontecido lá nos States.
A cada dia passado, o erário americano gasta pelo menos 1 milhão de dólares na caça do agora famoso assassino.
Caso parecido no Brasil ocorreu em Goiás, GO, durante quase o mês todo de junho. O caçado também era um assassino. Nome: Lázaro Barbosa, baiano, 32 anos. Não matou a mulher, mas matou um monte de gente para roubar. Era um latrocida. 
A Bahia continua sendo o Estado mais violento do Brasil e o Maranhão, o mais pobre. Agora pergunto: Danilo terá o mesmo fim que teve Lázaro?
Em 1993, O Fugitivo ganhou uma badalada versão cinematográfica dirigida por Andrew Davis. Recomendo.
David Janssen morreu de um ataque cardíaco aos 48 anos de idade, em Malibu, EUA.

sábado, 9 de setembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (43)

Paulistano do bairro do Brás, da safra de 43, Drauzio Varella estudou na Universidade de São Paulo e lá formou-se em Medicina especializando-se em Oncologia, mas foi combatendo a AIDS entre os presos do Carandiru que ficou nacionalmente conhecido.
Seu trabalho voluntário na Casa de Detenção findou por gerar o livro Estação Carandiru, que virou filme.
E foi para o Carandiru que o Dr. Drauzio Varella levou o Vira Lata, personagem criado pelo roteirista Paulo Garfunkel, Magrão e transposto para a revista desenhada pelo quadrinista Líbero.
Eu pedi e Drauzio não se negou a dar um depoimento sobre a importância do Vira Lata entre os presos. Aproveita pra dizer como conheceu Magrão e Líbero. Leia, vale a pena:

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“Eu conheci o Paulo Garfunkel, o Magrão, através da minha mulher, Regina Braga, que fez uma peça com ele e o Jean Garfunkel, irmão do Magrão. E aí o Vira-Lata caiu nas minhas mãos um dia, era o primeiro número e eu achei muito interessante. Gostei muito do personagem e das ilustrações feitas pelo Líbero Malavoglia. E aí, um dia na cadeia, eu estava no Carandiru nessa época, eu levei uns folhetos de um Congresso Internacional de AIDS e distribui a cadeia. Era bonito, sabe? Um papel de ótima qualidade. Daí conversei com o pessoal da faxina e disse, “como é que o esses folhetos são recebidos aí?” Um deles falou: “ah, doutor... os folhetos são bonitos, mas o pessoal dá uma olhadinha e joga no lixo.

Bom, não é assim que a gente vai atingir essas pessoas. Então, lembrei do Vira-Lata e pensei: quem sabe um gibi? Porque eu via “eles” lendo gibis, especialmente naquelas celas coletivas, naquelas celas do “Amarelo”, por exemplo, para onde iam os marcados para morrer, via o pessoal lendo histórias em quadrinhos. “Pô” quem sabe, essa não é a linguagem pra atingir esse alvo, né? E aí conversei com o Magrão: por que que a gente não faz o Vira-Lata adaptado para a situação de cadeia? Ele gostou muito e conversou com o Líbero e já começou a pensar nas histórias, e a gente definiu quais eram as características principais do herói: ele não usava droga injetável de jeito nenhum, porque na época a cocaína injetável era muito usada nas cadeias e era a principal forma de transmissão do HIV e das hepatites. Segundo lugar, ele era um ex-presidiário, tinha cumprido pena no Carandiru, no passado. De tempos em tempos ele voltava à cadeia para visitar velhos amigos e alguns desses amigos contavam um problema que estavam tendo na rua. E o Vira-Lata saía então, para ajudá-los a resolver esse problema. E aí ele se envolvia em aventuras que tinham basicamente violência e sexo. Só que, e isso era uma característica fundamental do personagem, é que ele não fazia sexo sem preservativo. E na época, o que a gente queria falar na cadeia era exatamente isso, divulgar o preservativo, como parte da vida sexual. E os desenhos eram muito bem-feitos, era um gibi de cenas eróticas fortes.
Eu, quando era menino, tinha um gibi, que era feito pelo pelo Carlos Zéfiro que tinha histórias de sexo, era um Gibi de sacanagem, os “catecismos”. E dizem que o Carlos Zéfiro foi o grande educador sexual dos anos 50 e 60. E o Líbero era um desenhista, lógico, mais preparado do que o Carlos Zéfiro, e as cenas do Vira-Lata eram muito bem desenhadas com uma ilustração ótima. Ele ficou muito conhecido na cadeia, né(?), porque foram criados 7 números. A gente distribuía, à noite de cela em cela, juntava um bando de amigos íamos pra a Detenção e fazíamos a distribuição. A cadeia era muito grande tinha mais de 7.000 presos. A gente distribuía o Vira-Lata e imediatamente eles começavam a ler. Eu acho que esse tipo de personagem que foi popular lá no antigo Carandiru, seria popular hoje também nas outras cadeias. Lógico que teria que ser adaptado para os problemas atuais. Hoje droga na veia não é mais problema nas nossas cadeias. Mas o sexo sem preservativo é, então, se nós conseguíssemos adaptar para a situação atual, porque, afinal, já se passaram aí 30 anos, né(?). Mas eu acho que esse personagem poderia fazer sucesso entre a população carcerária se fosse distribuído pelos presídios todos. Eu fico muito feliz de ter participado do Vira-Lata, com toda historia escrita pelo Paulo Garfunkel, o Magrão e o Líbero Malavoglia fazia aqueles desenhos maravilhosos”.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

VIVA A LITERATURA DE CORDEL!

 
 
Passamos nós ou o tempo?
Independentemente da resposta seja de que jeito for, o fato é que há 20 anos eu inventei de criar um concurso para incentivar e descobrir poetas da chamada Literatura de Cordel.
Eu disse há 20 anos?
Na verdade foi em 2002 que pus na rua o 1º Concurso Paulista de Literatura de Cordel. À época eu estava à frente do departamento de imprensa da Cia do Metropolitano de São Paulo. Foi sucesso, com profissionais e amadores enviando dezenas e dezenas de textos que obedeciam o que pedíamos no edital. O tema era o Metrô e tal. Foram escolhidos por uma banca especial 20 autores. Os três primeiros lugares foram premiados com computadores, impressoras e troféu. Esse concurso resultou na impressão de 200 mil folhetos acoplados em caixinhas especiais e assim distribuídos gratuitamente na rede estadual de ensino de São Paulo.
Em 2003, levamos à praça a 2ª edição do Concurso. O tema ampliamos e os participantes desenvolveram seus textos sobre a importância dos trens metropolitanos, CPTM, além do Metrô. Sucesso. Dessa vez foram publicados 210 mil folhetos, também distribuídos na rede pública de ensino.
Foi uma coisa legal.
Desses dois concursos participaram centenas de autores, porém somente 40 foram premiados e tiveram suas obras publicadas. Clique na imagem ao lado e saiba quem participou.
Há poucos dias o Metrô lembrou desses concursos promovendo uma exposição das capas dos folhetos na estação República. Começou no dia 2 de agosto e terminou no dia 4 de setembro. Mas quem não pôde visitá-la pode acessá-la no site do Metrô: 20 anos dos Concursos Paulistas de Literatura de Cordel
As capas dos folhetos e cartazes de divulgação foram criados pelo cearense Klévisson Viana e a potiguar Nireuda Longobardi.
A título de curiosidade: em 2001 o jornalista Audálio Dantas me chamou pra ajudá-lo a contar a história do cordel no Sesc Pompéia. A exposição ganhou o título 100 Anos de Cordel. Dezenas de cantadores repentistas participaram do evento. Cuidei dessa parte e da parte dos discos com gravações do gênero. Coisa bonita.
Em 2017 o mesmo Audálio me convidou para um depoimento no Centro de Documentação do Sesc. E lá fui eu. Valeu. E viva a Cultura Popular!
Ah! Sim: o tempo voa. 
Participei das comemorações dos 31 anos de existência do programa Globo Rural, que brindou os telespectadores com um especial sobre o cordel. Clique e curta:

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

INTELIGÊNCIA PERIGOSA

 Sem rumo ou rédeas, poderosos e idiotas de má índole estão cada vez mais ousados e complicando a nossa vivência neste mundo velho sem porteira. Isso e muito mais o que ora por aí ocorre.

Os crimes e criminosos se multiplicam em piscar d'olhos. 

O mundo, este mundinho, já virou um inferno pra lá de Dante.

Este mundinho infernal a que me refiro existe há mais de bilhão de anos e o homem há uns 300 mil anos.

Não aprendemos nada e nos transformamos em seres inimaginavelmente terríveis, raivosos, violentos, criminosos, assassinos de nós mesmos. 

A modernagem chegou com a Era Industrial e foi se modernizando, se modernizando, se modernizando e cá estamos num beco explosivo, sem saída.

E chegou a Internet e com ela fomos nos metamorfoseando.

Agora, como se não bastasse, chegamos à catastrófica era da "inteligência artificial". Um horror!

Hoje 7 na Folha ouvi notícia dando conta de que estão tentando destruir a bela imagem do nosso grande Drauzio Varella. Estão imitando até a sua voz e distorcendo seus textos, frases, com o intuito de transformá-lo em garoto propaganda para vender remédios a incautos portadores de tudo quanto é doença. 

O paulistano Drauzio Varella é um dos médicos mais respeitados do Brasil. Tem dedicado a vida pelo bem do próximo. Tem sido assim há mais de meio século. E garante, com todas as letras, que "jamais faria propaganda de medicamentos".

Eu conheci o Dr. Drauzio Varella quando fui convidado pelo SESC para mediar um debate sobre a vida e obra do Dr. Paulo Emílio Vanzolini, pra todos que gostam de boa música Paulo Vanzolini, simplesmente. Foi na unidade Pinheiros, há uns dez anos. Na mesa o  compositor, cantor e violinista Eduardo Gudin, o produtor de TV Fernando Faro, o próprio Paulo e Drauzio Varella. Por que Drauzio? 

O Dr. Drauzio Varella foi aluno de Paulo Vanzolini na Faculdade de Medicina da USP.

No samba Volta por Cima, o autor Paulo Vanzolini ressalta que "Um homem de moral/Não fica no chão...".

Pois é: o Dr. Drauzio Varella é um homem de moral, um brasileiro que nos orgulha sob qualquer aspecto. E fiquemos de olho nessa tal de inteligência artificial. 


terça-feira, 5 de setembro de 2023

UM DIA TODO PARA PENSAR NA AMAZÔNIA

Hoje 5 de setembro é o Dia da Amazônia e o dos Irmãos.
Nada mais natural do que hoje e todos os dias voltarmos o nosso olhar à floresta amazônica.
A Amazônia está sendo destruída pela mão do homem há muitos anos. Até agora já foram destruídos cerca 700.000km². À medida que as árvores caem pela brutalidade e ganância humanas caem por terra a vida e sonhos dos povos originários do Brasil e de toda extensão da mata que passa por nove dos 13 países sul-americanos.
É enorme e rica a biodiversidade amazônica, ambicionada por todos os povos incluindo os ricos.
É óbvio, mas não custa repetir que a Amazônia tem que ser defendida com unhas e dentes pelo governo brasileiro.
A floresta amazônica tem inspirado, ao longo do tempo, poetas, compositores e romancistas do nosso País principalmente.
São inúmeras as músicas sobre a Amazônia.
O primeiro poema sobre a Amazônia gravado em disco no Brasil foi Amazônia, de Cassiano Ricardo. Esse poema foi interpretado por Helena de Magalhães Castro e gravado em 1929 num estúdio da extinta Victor e lançado no ano seguinte.
A primeira música gravada sobre a Amazônia foi a canção Amazonas de Henrique Vogler, Lamartine Babo e J. Menra. Foi gravado em 1929 e lançado em 1930 na voz de Zulmira Miranda. Gravadora Odeon.
O dia da Amazônia deve-se à Fundação da Província do Amazonas, feita por iniciativa do imperador Pedro II. O causo ocorreu, através de decreto, no dia 5 de setembro de 1850.
Sempre e sempre é bom pensar, falar e agir em defesa da Amazônia.
Quanto ao Dia do Irmão... Bom, irmão é irmão. E a convivência entre irmãos nem sempre é o que deveria ser: harmônica.
Caim matou Abel e tal.
O escritor português José Saramago escreveu uma joia a respeito de Caim e Abel.
O escritor brasileiro Machado de Assis nos legou uma beleza de história chamada Jacó e Isau.
E por aí segue a história: os irmãos Karamazov, de Dostoiévski; os irmãos Grimm, que transformaram contos adultos em contos infantis; Meu irmão eu mesmo, de João Silvério Trevisan...
 
 
Na música são muitos irmãos e irmãs que formaram dupla: Célia e Celma, Irmãs Medina, Irmās Pagãs, Irmãs Portela, Irmās Vidal, Irmās Rocha, Irmās Santos, Irmãs Soares, Irmãs Souza, Irmãs Andrade, Irmãs Bianchini, Irmãs Campeirinhas, Irmãs Castro, Irmãs Galvão, Irmãs Ibeji, Irmãs Lacerda, Irmãs Maria, Irmãs Castro, Irmãs Cavalcanti, Irmãs Meirelles; Irmãos Laureano, Irmãos Petra De Barros, Irmãos Tapajós, Irmãos Almeida, Irmãos Alves, Irmãos Amorim, Irmãos Andrade, Irmãos Correia, Irmãos Diogo, Irmãos Divino, Irmãos Franco, Irmãos Kurimori, Irmãos Kurimori, Irmãos Messias, Irmãos Neier, Irmãos Paranaenses, Irmãos Portela, Xerém e Tapuya (irmãos indígenas nascidos numa extinta tribo do Ceará), Irmãos Eymard, Cristian e Ralph, Jacó e Jacozinho, Paulo e Chico Caruso, Paulo e Jean Garfunkel, Tonico e Tinoco...
No começo dos anos de 1970, o governo militar rasgou a Amazônia com o projeto Transamazônica. Um crime. A dupla Tonico e Tinoco gravou uma música falando dessa "coisa". Ouça:
 

LEIA MAIS: O GOVERNO CORRE PRA TRÁSYANOMAMI: UMA TRAGÉDIA PROGRAMADA • DEU MICO!

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

VANDRÉ AGORA EM HEBRAICO

Caminhando, na visão do cartunista Fausto
Em termos de quantidade, a obra do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré é pequena. Se, porém falarmos de qualidade, a obra de Geraldo Vandré é enorme. E consistente.
Das músicas que compôs em parceria a mais famosa é Disparada.
Das músicas que compôs sozinho a mais famosa é Pra Não Dizer que Não Falei de Flores (Caminhando).
Disparada, feita com Théo de Barros (1943-2023), recebeu versões em castelhano, francês, alemão e italiano.
Caminhando, já gravada pelo próprio autor em espanhol, marcou época na boca do povo de vários países. Agora mesmo em Israel, cuja língua oficial é o hebraico.
A maior parte do povo israelense não está gostando das reformas em andamento na esfera do poder Judiciário.
Desde o começo do ano os protestos contra a reforma vêm se multiplicando. Centenas de pessoas já foram presas. Para embalar os protestos, o ator Shalom Korem fez uma versão muito própria  de Caminhando. Essa música de Vandré ganhou, na versão israelense, o título de Você não quer uma omissão como Yom Kippur. Ouça:
 


Manifestando e cantando
A música certa
A gente não quer que um cara corrupto
Permaneça no poder
Ashkenazim, Mizrahim
Tanto na aldeia como na cidade
Manifestando e cantando
Com a garganta cheia
Vamos sair juntos
Porque nós decidimos
Nós não queremos
Outra omissão como Yom Kippur
Os olhos devem ser mantidos abertos
Vamos encarar a verdade
Se não agirmos agora
A ditadura vai assumir
 

domingo, 3 de setembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (42)

ASSIS ANGELO: Foi namoro e paixão à primeira vista que você teve pelo personagem Vira Lata ao ler o roteiro do Magrão?
LÍBERO MALAVOGLIA: Não foi amor à primeira vista, não. Quando li as primeiras cenas, achei que tinha muito sangue correndo e que talvez não fosse pra mim esse trabalho. Só
depois, quando tentei fazer é que vi que eu podia sim, representar uma violência real da nossa sociedade. O sangue correu como a tinta. Sou grato por ter sido convidado pelo Magrão para essa co-criação aventureira, erótica e jornalisticamente denunciante de realidades fortes, e por ter conhecido o Carandirú.

ASSIS: Conte do mergulho que você deu para trazer à tona, para o nosso imaginário, esse tão fustigante personagem.
LÍBERO: Eu queria muito fazer quadrinhos. Era o que eu mais conhecia. Minhas influências eram bem variadas, super-heróis, piratas rebeldes do Pacífico, samurais, muito cinema… muita fantasia. Aí conheci o Magrão e seu personagem trazendo minha arte para toda uma temática social de desigualdade, racismo, injustiça e maldade que existe aqui, no Brasil, bem à nossa volta (Um pouco antes havia ocorrido os massacres da Candelária no Rio e o do Carandirú em São Paulo). Tudo isso era temperado com muito, mas muito mesmo, erotismo e tinha ao fundo um universo mágico-espiritual e misterioso que falava de nossas raízes. Uma oportunidade! Esse mergulho me levou a conhecer depois, uma realidade social fortíssima; a vida dentro de uma penitenciária e também a viajar dentro da minha imaginação e aí sim, me apaixonei pelo filhote.

ASSIS: Dá pra comparar o Vira Lata com outros personagens de histórias em quadrinhos do Brasil ou de fora do Brasil?
LÍBERO: Acho que ele é uma mistura de Corto Maltese, Lobo Solitário e Batman, mas
não qualquer Batman (que agora tem uma infinidade deles), o Batman “Ano Um“, Miller e Mazzuchelli que ainda é o mais real, noturno e mais “ justiceiro fora da lei“ (estou falando de quadrinhos). No Brasil, talvez algum cangaceiro do Flávio Colin, não sei.


ASSIS: Na sua visão, quem são os maiores roteiristas e quadrinistas do nosso País? Estamos com saudade do Vira Lata…
LÍBERO: Li tanta HQ de fora que sou obrigado a dizer que talvez eu não conheça tão bem a produção nacional, mas acho o Colin importante com seu traço único e temas nossos. Falando de traço, tem essa tradição do humor. J. Carlos, Jaguar, Ziraldo … e claro, Los 3 amigos, Glauco, Angeli e a Laerte genial. Sei também de uma grande produção alternativa que a internet possibilitou nos últimos anos para muitos autores, muitos vindos de comunidades e isso é muito bom. E tem o João Pinheiro, muito bom!

SAIBA MAIS:


sábado, 2 de setembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (41)

Eu costumo dizer que o Brasil é rico em tudo: no ar, terra e mar.
Nossas tempestades são grandes e não provocam danos tão catastróficos como frequentemente ocorre em outros ares.
Na nossa terra, de milhões de quilômetros quadrados, tem de tudo e mais um pouco. Tem água doce a granel, minérios de todos os tipos, florestas incríveis como a Amazônia e uma gente bem humorada e trabalhadora. Sem falar na fauna. Não há terremotos, nem vulcões a nos assustar. O campo movediço fica por conta dos políticos ávidos por fama e poder.
No riachinho que banha a nossa terra, o Atlântico, tem peixe bom pra valer, baleia que canta com graça e até tubarão voador, como já nos provou mestre Luiz Gê. Não há tsunamis no nosso mar que já gerou um cantor próprio: Dorival Caymmi, autor de belíssimas canções chamadas "praieiras".
Pois é, o Brasil é rico em tudo.
Foi aqui que nasceu um dos mais antenados craques do traço em quadrinhos: Líbero Malavoglia, o cara que deu estampa a um herói fora da lei batizado Vira Lata.
O Vira Lata nasceu da imaginação de Paulo Garfunkel, como já vimos.
Líbero, leitor voraz de grandes roteiristas e quadrinistas estrangeiros como Hugo Pratt e Crepax,  conheceu Paulo, o Magrão, praticamente por acaso. Isso já foi dito, o que não foi dito é que o personagem de Magrão não despertou interesse imediato do quadrinista. O interesse veio depois. Líbero: "Não foi amor à primeira vista, não. Quando li as primeiras cenas, achei que tinha muito sangue correndo e que talvez não fosse pra mim esse trabalho. Só depois  quando tentei fazer é que vi que eu podia sim, representar uma violência real de nossa sociedade".
No papo ping-pong que segue abaixo Líbero preenche a curiosidade dos leitores revelando, inclusive, seu amor pelos quadrinhos e a influência que recebeu de mestres estrangeiros da área que hoje ele próprio domina.
Após citar J. Carlos, Jaguar, Ziraldo, Angeli, Glauco e Laerte, Líbero confessa que não tem acompanhado passo a passo a produção dos quadrinistas nacionais.
As histórias "estreladas" pelo Vira Lata trazem momentos especiais com Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Noel Rosa e Dorival Caymmi.
O médico paulistano Drauzio Varella tem participação interessantíssima em várias partes da história do Vira Lata.


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ASSIS ANGELO: Sabemos que você gosta muito dos traços de Hugo Pratt e do Crepax. Pergunto: em quem ou em que você se inspirou para dar cara e corpo ao Vira-Lata? Bastaram as referências do roteirista Magrão?
LÍBERO MALAVOGLIA: Salve Assis! O Pratt foi uma inspiração para além do desenho. Foi a primeira vez que os quadrinhos se mostraram pra mim como literatura. A “Balada do Mar Salgado“ é na verdade um romance aventureiro da primeira metade do século xx que poderia ter sido escrito pelo Joseph Conrad ou pelo Jack London (que inclusive aparece em uma das aventuras do Corto Maltese). Corto, o personagem principal da maioria de suas histórias é praticamente um alter ego do autor, ele mesmo um aventureiro. O curioso é que conheci esses desenhos muitos anos antes de me encantar por esse personagem, quando lia ainda criança outras histórias do Pratt no Corriere dei Piccolli, suplemento juvenil semanal do Corriere della Sera (que meu pai trazia). Essa maravilhosa revista vinha impressa em quatro, três e duas cores! Um luxo! E foi lá na verdade que me apaixonei por quadrinhos. Foi lá que conheci Hugo Pratt, Sergio Toppi…um monte de autores…e Jean Giraud, o Moebius. Pratt, Moebius e o Jack Kirby da Marvel foram minhas influências fortes. Eles me apresentavam universos inteiros desde a desobediência/rebeldia política até a psicodelia. Quando penso de onde veio a cara do Vira Lata, acho que veio desse arquétipo do rebelde que a gente vê no Corto Maltese misturado com o desejo de representar a miscigenação do povo brasileiro. O Indígena, o negro, o caboclo, tinham que estar presentes na cara e no corpo do herói. Isso já vinha do texto do Magrão, mas foi muito bom criar esse nosso “rosto”. Crepax não foi uma influência direta, mas me socorri no erotismo do Milo Manara, porque não é fácil desenhar corpos entrelaçados!

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

DITADURA É UMA PRAGA!

(...) Libertemo-nos daquele que nos domina
Na miséria traga-nos o teu reino de justiça
E igualdade sopra como o vento a flor do precipício
Limpa como fogo o cano do meu fuzil 

No próximo dia 16, completam-se 50 anos do sequestro e morte do cantor, compositor e violonista chileno Victor Jara.
A obra de Jara é muito bonita, toda voltada aos problemas provocados pelo homem na terra. 
A Justiça é sonho na obra "jariana".
Vejo semelhança ideológica na obra de Victor Jara e do brasileiro Geraldo Vandré.
Certa vez, perguntei a Vandré se conhecera Jara. Sim, ele disse. Lembrou, porém, que não chegaram a se tornar grandes amigos. Não houve tempo, mas ocasionalmente encontravam-se na "Peña de los Parra", espécie de barzinhos frequentados por artistas em Santiago, Chile. Eram de Isabel e Ángel Parra.
Jara tinha 40 anos de idade quando foi sequestrado, torturado e morto pela tropa de assassinos do ditador Augusto Pinochet.
O general de brigada chileno Hernán Chacón enfiou um tiro no peito, ou sei lá onde, e caiu mortinho da Silva no chão. Foi terça-feira 29, diante de soldados destacados para prendê-lo e levá-lo pra cadeia, onde deveria cumprir pena de pelo menos 25 anos.
A decisão de prender Chacón foi dada segunda-feira 28 pelo STF chileno.
Porém é bom que se diga que o militar não matou-se simplesmente porque tinha a mente pesada. Fez isso por covardia, para não enfrentar o cárcere.
Último manuscrito de Victor Jara
A pena a Chacón proferia pelo STF do Chile foi consequência de processos que pesavam contra ele por ter sequestrado, torturado e assassinado o cantor, compositor e violonista Victor Jara.
Jara foi sequestrado cinco dias após o golpe militar que apeou do poder o presidente Salvador Allende e pôs no seu lugar o milico estrelado Augusto Pinochet. Isso ocorreu exatamente no dia 11 de setembro de 1973. Allende foi assassinado nesse dia e durante 17 anos seguidos o Chile viveu sob o símbolo da ditadura.
A ditadura Pinochet sequestrou, torturou e deixou muitos cidadãos e cidadãs desaparecidos.
Jara além de uma obra engajada, reunida em quatro CDs numa edição especial, deixou muitos admiradores órfãos.
Pouco antes de ser assassinado com uma saraivada de 44 tiros, Victor Jara conseguiu a duras penas escrever aquele considerado seu último texto que logo depois seria declamado e musicado por muitos artistas. Entre esses León Gieco, Ángel Parra e o norte-americano Pete Seeger. Ouça:
 
 


UMA CANÇÃO INACABADA

O último texto poético de Victor Jara inspirou o título do livro Uma Canção Inacabada, da jornalista e dançarina Joan Alison Turner, sua viúva. Nesse livro há muita coisa desconhecida em torno do artista e fotografias inéditas. Curiosidade: uma das canções mais famosas de Jara, Te Recuerdo Amanda, foi composta em homenagem à filha. No Chile se acha a sede da Fundação Victor Jara criada por Joan, hoje com 96 anos de idade.

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