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sábado, 31 de dezembro de 2022

20 DIAS QUE SACUDIRAM O BRASIL (2)

A série de escândalos da era Collor começou com a deslumbrada ex-ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, trocando bilhetinhos apaixonados por baixo da mesa em reuniões de trabalho, no Palácio do Planalto, e dançando em casa de amigos o bolerão Besame Mucho, de rosto colado com o descolado ex-ministro da Justiça, Bernardo Cabral, em outubro de 1990. O romance que deixou a Nação perplexa e acabou melancolicamente numa cama de hotel em Paris, rendeu um belo samba (ainda inédito) do genial compositor paulistano Paulo Vanzolini, autor de Ronda e Volta por Cima. O samba é assim:

Minha neguinha
Hoje eu acordei disposto
Pra fazer seu gosto
Vamos nos casar

Hoje é o dia
De enfrentar a Pretoria
De na pausa ou na agonia
A gente se amarrar

E o padre e o cartório
Já estão avisados
O bifê tá contratado
Nada vai faltar

Você se pinte
Você se enfeite
Você se vista
Que eu vou dar uma passada
No dentista e volto já.

traço de Fausto Bergocce

Depois do malfadado bolerão de autoria da mexicana Consuelo Velasques, e da fuga estratégica do boto Cabral, de Paris, foi a vez de o próprio Collor soltar a franga no reveillon de 1990, em Angra dos Reis, RJ, a bordo de caríssima e sofisticada lancha do playboy Alcides dos Santos Diniz, o Cidão, um dos seus amigos do peito. Diante dessa moleza toda, o monstro da inflação resolveu despertar e pôr toda a sua maldade para fora. Azar nosso!

Com a inflação então na casa dos 20% ao mês, a ministra da Economia acabou sendo posta no olho da rua (8/5/1991) e ao País apresentada a figura desengonçada do embaixador neoliberal de mentirinha Marcílio Marques Moreira, que da noite para o dia virou ministro da Fazenda e papa da economia brasileira. Um horror! Começou, em seguida, uma onda gigantesca de privatizações varrendo o País, de cara com a Usiminas sendo entregue à iniciativa privada pela bagatela de Cr$ 709,6 bilhões, sob protesto e muito pau entre operários e engravatados em geral ( e com a presença da polícia, que efetuou várias prisões) no dia 24 de outubro de 1991. Detalhe: cena idêntica viria a ocorrer meses depois já durante o governo Itamar Franco quando, depois de muito disse-me-disse, foi anunciado ao País, mais uma vez, o leilão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de Volta Redonda, a maior fabricante de folha-de-flandres da América Latina e a mais importante usina do Continente.


A equipe ministerial é refeita.

No dia 11 de maio de 1992, pra desespero de muita gente, é posta uma bomba do tamanho de um trem no caminho do super-Collor: seu irmão mais novo, Pedro Collor, denuncia por razões pessoais o enorme esquema de corrupção comandado pela eminência parda do governo que atendia pelo nome de Paulo César Cavalcante Farias, o PC.

O bafafá deu no que deu.

A partir daí foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias. Essa CPI, chamada de CPI do PC, acabou provocando um incêndio de grandes proporções na Casa da Dinda e levando às favas, e de roldão, um jardim babilônico de US$ 2,5 milhões e 13 mil m2 de área verde, oito cachoeiras, piscina de 100m2 e um lago com 1,5 milhão de litros de água especialmente tratada etc.

O fim já estava bem próximo.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

20 DIAS QUE SACUDIRAM O BRASIL (1)


O carioca Fernando Collor de Mello elegeu-se como o mais novo presidente da República com 40 anos em março de 1990 pelo Partido Republicano Nacional, PRN. Pintou e bordou, mas teve de deixar o cargo depois de acusado de envolvimento num esquema de corrupção, por isso ganhou muitos processos e acabou “impichado”. O placar que o pôs pra fora do Planalto foi de 76 senadores a favor, 3 contra e 2 omissos. Isso no dia 30 de dezembro de 1992. Tentando desesperadamente evitar a cassação ou impedimento, Collor apresentou carta-renúncia. Não colou, pois os senadores não engoliram o blá-blá-blá do missivista. No seu lugar sentou-se o baiano Itamar Franco (1930-2011). Fez um bom governo e foi da sua equipe que saiu o presidente que o substituiu: Fernando Henrique Cardoso, criador do Real como moeda nacional. Lula o substituiu e o resto é história. O texto que se segue eu o escrevi há 30 anos como introdução do livro 20 Anos que Sacudiram o Brasil. Inédito porque, ai ai ai, esqueci de publicá-lo. Os originais foram encontrados por acaso numa das prateleiras do meu acervo junto com a capa desenvolvida pelo craque do traço Juarez Carvalho. O prefácio foi feito pelo jornalista Audálio Dantas (1929-2018). A apresentação teve a assinatura de José Nêumanne Pinto e o posfácio de Fernando Coelho. É isso.

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“A liberdade de imprensa é um direito da sociedade e, portanto, um dever do jornalista.”

Barbosa Lima Sobrinho
Presidente da Associação Brasileira da Imprensa


No curto período de 20 dias — de 29 de setembro a 18 de outubro de 1992 — o Brasil deu um arriscado giro de 180 graus no seu corpo gigante e ganhou uma nova cara. Não novíssima, mas nova; pois é certo que ainda há muito o que fazer para que o Brasil entre nos seus devidos eixos. Enfim, como bem lembrou o cantor e compositor Geraldo Vandré, num bate-papo comigo na sua casa, em São Paulo:

— O povo ainda tá de tanga na rua.

Pois é.

As bases fisiológicas que historicamente têm possibilitado o descalabro e a corrupção continuada na máquina administrativa do País (a sonegação de impostos chega à casa absurda dos US$ 50 bilhões por ano, segundo as estimativas mais otimistas) continuam firmes e sólidas como nunca. Nesse particular, a imprensa continua deitando e rolando, vendendo jornal e faturando ibope. E só. De todo modo, porém, é muito cedo para se saber com precisão a real dimensão e importância da mudança em si só inédita e histórica (na forma e no conteúdo) no Brasil e em todo o mundo. Não vale citar o caso de Carlos Andrés Pérez, presidente derrubado pelo Senado venezuelano, sob a acusação de embolsar algo em tomo de US$ 17 milhões do erário público.

Essa mudança entre nós começou com estudantes de cara-pintadas protestando contra o governo nas ruas. Culminou primeiro com a aprovação do pedido de impeachment (por corrupção) contra Collor na Câmara dos Deputados e sua posterior renúncia à Presidência da República exatos dois meses depois quando o Brasil começava a respirar mais aliviado das muitas humilhações até então sofridas.

A renúncia não foi aceita e o pedido de impeachment foi avante.

A queda do presidente Fernando Collor não foi, a rigor, surpresa para ninguém. Era esperada sim, pois nem o Brasil e nem os brasileiros mais simples suportavam mais ler ou ouvir falar a respeito de tantas denúncias de assaltos à luz do dia ( e/ou à calada da noite) aos cofres públicos, apresentadas diariamente pela imprensa nacional e estrangeira, envolvendo o nome exatamente de quem foi eleito para moralizar e pôr o País no caminho da prosperidade, do respeito e do desenvolvimento industrial, como exaustivamente era prometido pelo então candidato do PRN em modernoso e aventureiro discurso durante a sua fulminante e vitoriosa campanha à presidência da República.

O governo Collor — encerrado definitivamente no dia 30 de dezembro de 1992 — colecionou em pouco mais de dois anos uma vergonhosa série de escândalos de todos os tipos, incluindo o incrível e criminoso sequestro da poupança dos brasileiros (infelizmente aprovado pelo Senado, não nos esqueçamos) e das aplicações legais no mercado financeiro.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

PELÉ, UMA LENDA NA TERRA E NO CÉU


 
Clique na imagem, para ler
O mundo acaba de perder aquele que foi o maior craque de futebol de todos os tempos: Pelé, aos 82 anos de idade.
O mineiro de Três Corações Edson Arantes do Nascimento, Pelé,  acaba de morrer de câncer às 15:56hs no Hospital Albert Einstein. Nesse hospital ele se achava internado desde o último 29 de novembro, há exatamente um mês.
Pelé começou sua carreira no Santos. Tinha 15 anos de idade em 1955 quando pra todos os efeitos marcou seu primeiro gol. Foi contra o Corinthians de Santo André,  SP. Dois anos depois o técnico Feola o levou para integrar o time que representaria o Brasil na Suécia. E foi lá, na Copa de 58, que ele mostrou a que vinha. 
Pelé marcou uma porrada de gols. o milésimo ele o marcou em João Pessoa, em confronto com o Botafogo paraibano. LEIA: PELÉ, 80 ANOS
Em texto publicado na edição de 8 de março de 58, na Revista Manchete Esportiva, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues chamou pela primeira vez Pelé de Rei. Confiram: MEU PERSONAGEM DA SEMANA
"Todo mundo já esperava a morte de Pelé, mas ao acontecer isso todo mundo ficou surpreso. Um choque!", disse pesaroso o cartunista Fausto Bergocce. "Inacreditável!", acrescentou. 
Eu, particularmente, nunca fui torcedor do Santos. Não desconheço, porém, que Pelé foi desse time o maior jogador. E também das seleções de 1958 e 1970. Insuperável. Com ele em Campo, o impossível saía dos seus pés. 
Vocês aí assistiram o filme Pelé Eterno?
Pelé Eterno é um filme do diretor Aníbal Massaini, que me convidou pra auxiliá-lo na escolha da trilha sonora. Fiz isso. No acervo do Instituto Memória Brasil, IMB, se acham centenas de músicas que tratam de Pelé. O filme de Massaini abre com uma música do paraibano Jackson do Pandeiro: Rei Pelé.
Pelé chegou a meter-se na política, mas sem disputar nenhum cargo eletivo. Explico e lembro: FHC criou o Ministério dos Esportes e o convidou para assumí-lo. História. 
Lá em cima tem jogo. Grandes craques lá estão. Garrincha, por exemplo. 
Como Pelé não há outro. E dificilmente haverá.
Curiosidade: Pelé compunha, tocava e cantava. Existem também muitas músicas sobre ele.
Pelé chegou a cantar com Elis Regina e Jair Rodrigues.
 
 

BRASÍLIA EM POLVOROSA

 A tarde de terça-feira de 29 de dezembro de 1992 fervia, em Brasília. Como hoje, quinta.

Naquele dia de exatos 30 anos atrás o carioca boçal Fernando Collor de Mello era posto entre a cruz e a espada. Sobre ele pesavam acusações de corrupção. PC Farias, seu testa de ferro fazia tudo para encher os bolsos de dinheiro público. 

Hoje 29 policiais federais foram a campo em sete Estados com 32 mandados de prisão e de busca e apreensão. A ordem foi dada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes. O alvo tinha a ver com os responsáveis pelo quebra-quebra geral na noite de 12 último após a diplomação de Lula como novo presidente da República. 

Na tarde de 29 de dezembro de 1992 Collor encaminhou ao Senado carta em que anunciava a renúncia do cargo de presidente. Foi lida e tal. Logo após foi aberta no Senado a sessão que resultaria em impeachment e suspensão dos direitos políticos por oito anos. Isso já na madrugada de 30.

No final da manhã de hoje Lula anunciou os dezesseis nomes que ainda faltavam para formar o grupo de 37 ministérios do governo que iniciará no próximo dia 1º. 

A propósito da posse de Lula milhares de policiais civis e militares, estaduais e federais, estarão mobilizados e atentos para agir diante de qualquer movimento suspeito.

Lula ainda não decidiu se vai desfilar em carro aberto ou não. 

Há 30 anos, logo após a queda de Collor, escrevi o livro 20 Dias que Sacudiram o Brasil. Não foi publicado. Os originais desse livro foram achados num lugar qualquer do Instituto Memória Brasil, IMB. Tem textos de apresentação, prefácio e posfácio dos colegas jornalistas José Nêumanne, Audálio Dantas (1929-2018) e Fernando Coelho. 

Voltarei ao assunto.



quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

LULA: O DIA DA POSSE ESTÁ PERTO

 De fato, são muitas as expectativas em torno da posse do novo presidente do governo que está se formando. 

As barracas e sei lá o que dos bolsonaristas aloprados armadas em torno do QG do Exército em Brasília estão sendo desmontadas. Menos mal.

Lula ainda não decidiu se vai desfilar no carro chique que o governo americano deu ao governo brasileiro tempos atrás. Opa! Eu disse isso?

O carro em questão, um Rolls Royce, foi comprado pelo governo brasileiro e inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas em 1953. Custou a bagatela de 420 mil dólares. A informação é do jornalista e escritor Lira Neto, um dos biógrafos de Vargas.

O novo comandante do Exército já foi escolhido, Júlio César de Arruda.

Há expectativas vibrantes para o anúncio dos 16 nomes que faltam para formar o grupo de 37 ministérios do que será o terceiro governo de Lula. Extraoficialmente, falam-se às escancaras que Simone Tebet já foi indicada para ocupar a pasta do Planejamento. Ana Moser e Marina Silva deverão ser respectivamente as titulares dos Esportes e do Meio Ambiente. 

O Ministério dos Esportes foi criado no governo de FHC. O seu primeiro titular foi o mineiro Edson Arantes do Nascimento, mundo afora mais conhecido como Pelé.

Pelé, eterno rei da bola, está há 29 dias internado no hospital Albert Einstein. 

Há muitas expectativas em torno de Pelé.  Está com câncer que vem se agravando a cada dia. Tomara que fique bom, curado do maldito tumor que o vitima. 

Enquanto isso, atenção: o tal que afunhenhou o Brasil deverá ir para o raio que o parta amanhã 29. Dizem às escancaras que ele, sim aquele, aquele mesmo comparado ao capeta aqui na Terra, vai passar uns dias em Orlando (EUA) e em seguida afogar mágoas e lágrimas nos braços daquele outro. Sei não, não sei mesmo, mas acho que os dois têm um caso. Que caso é esse, não sei.

Atenção, atenção de novo: está descartada a possibilidade de Bolsonaro passar a faixa presidencial a Lula.

Só uma vez um presidente, um ex, deixou de passar a tal faixa. Foi Figueiredo,  o general que detestava o cheiro de povo e adorava, digamos, o afago dum cavalo. Eu, hein!

Enquanto isso, discretamente, o Centrão faz da moita seu lar.

JOVEM PAN 

Hoje 28 liguei a Pan e ouvi o Jornal da Manhã. Os comentaristas de mesa estavam sumidos. Hummm.

No horário não escutei o Morning Show, por que hein? Detalhe: na hora, pouco antes talvez, escutei uma voz impostada dizendo que a Pan é uma rádio do caralho, que só dá notícia verdadeira e coisa e tal. Nada de apoiar golpe e golpista, disse ainda o locutor. Então tá, né?

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

EXPECTATIVAS NO AR DE BRASÍLIA

 Há uma grande expectativa no Brasil.

Para o bem ou para o mal, sempre houve expectativa no Brasil. 

Oficialmente, Lula toma posse do cargo de presidente no próximo domingo 1°.

A posse do novo presidente já está cercada de grandes expectativas. E tensão. Esperam-se cerca de 350 mil pessoas na solenidade de posse em Brasília. Muitos chefes de governo, incluindo o rei da Espanha, deverão comparecer ao ato.

Milhares de policiais, incluindo todo o contingente de segurança do Distrito Federal, estarão a postos e atentos a quaisquer situações que possam parecer estranhas no domingo que vem.

Agora há pouco, ali pelas 11, o governador do DF, Ibaneis Rocha, e os futuros ministros Flávio Dino (Justiça) e José Múcio Monteiro(Defesa), concederam coletiva de Imprensa para falar sobre o esquema de segurança. Falaram da prisão do terrorista George não sei o quê e se Lula vai ou não desfilar em carro aberto. As pessoas de bom senso acham que não deve.

Repórteres quiseram saber de Ibaneis, Dino e José Múcio se os aloprados bolsonaristas que ocupam a área dos quarteis serão postos pra correr antes ds posse de Lula ou não. No ar ficou a interrogação. 

Há também muita expectativa em torno do anúncio dos nomes que faltam para formar o quadro de ministros/ministérios.

Se vou à Brasília?

Não, não vou à Brasília. 

JOVEM PAN

Liguei hoje de manhã a rádio Jovem Pan e não achei o noticiário polêmico que desenvolve. No lugar, só música estrangeira. O que houve com esse noticiário, hein?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (56)

'Pronto! Pode falar', disse Maria apertando um botão do seu celular. 

Calma, calma. Eu não sou robô. Ainda não, pelo menos. 

Maria caiu na risada, dizendo ironicamente: "Ah! Eu tinha me esquecido desse detalhe".

A fala provocou uma risada geral entre os botões.  Barrica: "Na verdade eu nunca pensei que seu Assis fosse um robô, mas ahora é hora de pensar nisso". Zilidoro: "É mesmo! Seu Assis fala de tudo com propriedade. Está sempre atualizado. Ligado em tudo. Parece saber de tudo. Nunca vi ninguém assim. A Maria brincou, mas acho que ela tem alguma razão no que diz".

O que é isso, pessoas? Vocês endoidar? Estão indo longe demais! Eu sou gente. Em mim bate um coração já bastante cansado, diga-se. Deixem de onda!

Essa foi a primeira vez que Assis adentrou a casa levando consigo uma mulher, jovem, bonita e engraçada. Apresentando-a disse que a conheceu em Oxford. Brasileira, nascida em Minas Gerais, Josefina Sebastiana Carolina Dora Flor Maria de Sapucaí especializou-se em História Geral dos Povos e no estudo de línguas árabes, incluindo a língua de Cristo, aramaico. "Virge Nossa Sinhora do céu! Que mulher é essa?", espantou-se sem dissimular o botão Zoião. "Cala boca, deixa o homem falar", disse num cutucão o poeta Zilidoro.

Pois bem, pessoal, Josefina é conhecida em boa parte no mundo como Flor Maria. Nos meios universitários, de Londres principalmente, há muitos que a chamam simplesmente My Flower. "Puxa vida, assim tão nova e já é isso tudo?", pensou em voz alta, estupefato, o Mané. "Uma mulher assim não sabe cuidar de uma casa, não sabe cuidar de filhos... eu hein! Tô fora!", disse o desabusado Lampa num muxoxo. 

O que Lampa falou, e como falou, provocou a reação de todos, que em uníssono o repreenderam: "Machão! Machão! Machão!".

De fato. A observação de Lampa além de lamentável, é triste e indefensável sob qualquer aspecto. Eu procurei seus olhos, mas ele os escondeu. Quando eu já ia mudar de assunto, Lampa levantou-se acabrunhado: "Dona Flor, me desculpe. A minha vida foi sofrida. Nunca estudei, nunca entrei numa escola, mas nunca matei ninguém. Dizem que matei, mas é mentira. Se eu fosse mais novo, eu pediria pra senhora me ensinar. Eu admiro muito o seu Assis e Zilidoro. De novo, dona Flor, lhe peço desculpas pelas besteiras que eu disse".

Ao dizer o que disse, acomodou-se no seu tamborete. A casa encheu-se de palmas. Lampa pareceu emocionado. Devagarzinho tirou o punhalzinho da cinta e com ele, cabisbaixo, passou a cutucar as unhas.

Maria achou graça e desculpou Lampa. Depois disse estar curiosa e entusiasmada com os nomes que o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva tem apresentado para ajudá-lo a governar. Entre esses, muitas mulheres. 

Antes de se retirar do ambiente ao lado de Maria, Assis disse que ele e todos os brasileiros de bem estão torcendo pra que tudo dê certo para o governo que se inicia domingo, dia 1°.

Jão e Zé convidaram os presentes para um cafezinho. 

domingo, 25 de dezembro de 2022

JESUS SEMPRE FOI UM CARA NEGRO. PONTO (2, FINAL)


Era uma espécie de banco central, o que se chamava de templo.
No tal templo trocavam-se moedas de diversas espécies e lugares. Esse templo era dirigido por judeus de alto gabarito. E foram esses que pegaram Jesus e o entregaram a Pilatos que lavou as mãos e deu no que deu.
No geral, e a rigor, comparo Jesus a Antônio Conselheiro.
Conselheiro, beato, saiu dos cafundós do Ceará para brigar contra os poderosos da sua época. E aí, lascou-se. Resultado: 25 mil mortos em Canudos, BA.
Nisso tudo até aqui contado, há algo que me encanta: Jesus, a contragosto dos discípulos, recebeu um dia um grupo de crianças no Jardim das Oliveiras. Justificando a sua vontade teria dito "Vinde a mim crianças".
Agora, meu amigo, minha amiga, imagine Jesus loiro de olhos azuis no Egito.
Naquele tempo, no tempo de Jesus, havia tudo quanto não presta, que nem hoje. Figuras como o rei Salomão eram de grande importância. Temidos. Salomão era negro. O rei Davi, também. Por que não se fala disso?
Existem centenas, milhares, de livros, discos, muita coisa que trata de Jesus e seus discípulos.
Os discípulos eram uma espécie de segurança de Jesus.
Jesus não nasceu em Belém, nasceu em Nazaré.
Nazaré era uma vilinha de nada pegada à Palestina.
E o Natal, hein?
Em dezembro daqueles tempos era um mês de festejos pagãos.
O cristianismo foi adotado como religião, digamos assim, no século 4 pelo Imperador Constantino.
O calendário gregoriano... Bom, essa é outra história. Sem falar da violência comum naqueles tempos. Escravidão, inclusive. Analisando bem, pouco mudou até aqui.
Na segunda parte do século 19 o baiano Castro Alves pegou para si a bandeira da abolição e gerou a obra-prima O Navio Negreiro, cuja a 4ª parte foi musicada pelo pernambucano Jorge Ribbas. Assim:

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!...


Foto de Flor Maria.
Ilustração do cartunista Fausto Bergocce.

sábado, 24 de dezembro de 2022

JESUS SEMPRE FOI UM CARA NEGRO. PONTO (1)


Maria, Maria! Veja isso, Maria!, foi dizendo entusiasmado Zelatiel das Flores à mulher que na sala ajeitava umas tranqueiras referentes ao período natalino. E ela: Oi, oi. Endoidou?.
Zelatiel fez que não ouviu, talvez tenha ouvido, mas entusiasmado, com o celular na mão, disse que acabara de ler uma coisa bonita.
Maria, por uns momentos, parou de mexer nas tranqueiras e encarando o maridão, perguntou: Quem é esse cara a quem você se refere?.
Zelatiel fez que não ouviu e começou a ler com voz impostada:

Oh! Deus teu filho é negro
E tem de ti a semelhança
Dos que nascem em África
No rastro da esperança

Tu sabes, e muito bem,
Que isso dá discussão:
Há brancos que se recusam
A ver num negro seu irmão

Lamentável! Lamentável!
Impróprio para cristãos:
Se somos todos iguais
Por que não somos irmãos?

Hummm... Gostei, gostei. Esse é o cara a quem você se refere? Poxa, muito bom, perguntou já opinando a Maria de Zelatiel. E ele: Sim, ele é o cara!.
E a conversa foi seguindo por aí, entre perguntas e exclamações.
Zelatiel começou a dizer à mulher que não conhecia pessoalmente o autor do poema, mas o acompanhava na imprensa. Disse que os textos dele publicados no newsletters Jornalistas&Cia, por exemplo, fogem da obviedade ululante.
E é por isso, mulher, que você aparentemente gostou dele e sem o conhecer. E quer ver?
Jesus não era branco, não era loiro, era negro.
Não existe loiro de olhos azuis no Oriente Médio.
Não está na Bíblia, mas Jesus tinha menos de 1,70m de altura. Seus cabelos eram curtos e a barba, aparada. Era pessoa aparentemente normal. Era do campo. Agricultor. Talvez analfabeto, mas um dia achou de brigar com o establishment. E aí lascou-se.
Viu Maria, viu Maria?
De fato, o mundo todo guarda na memória a figura de Jesus loiro, magro, de olhos azuis e gostoso, penando de braços abertos numa cruz.
Olha, Maria, o que o cara ainda escreveu:
Na Bíblia há muitas informações a respeito do tempo antigo. Desgraceiras a dar com pau, muitas orgias.
Nem anjos escaparam da sede sexual dos tarados de Sodoma e Gomorra.
Isso é o que diz o velho Testamento.
Você está acompanhando isso, Maria?
Sim, Zelatiel.
Pois é, no velho Testamento há coisas do arco da velha.
Confesso, Zeca, que nunca li a Bíblia. Mas acho que vou deixar minha preguicite de lado e me ocupar dessa tarefa. Na Bíblia há todas essas putarias a que você se refere?
Sim, Maria. A Bíblia é um livro incrível. Nesse livro tem poema, tem romance, tem crônica, tem tudo o que você possa imaginar. Belíssimo. Veja de novo o que o nosso amigo escreveu:
Ninguém sabe quando nasceu e morreu Jesus Cristo.
Lucas, Mateus e Marcos falam de Jesus nos seus textos. Pra mim, eles são jornalistas do tempo antigo. Dão informações a respeito de Jesus. Incompletas, é verdade. Mas está lá: Jesus tinha uns 30 anos de idade quando foi preso, torturado e morto pregado numa cruz por romanos.
Aos 12 ou 13 anos de idade, Jesus encantou sábios em Jerusalém. E foi em Jerusalém que ele botou pra quebrar ao expulsar, na porrada, marreteiros que vendiam bugigangas em torno do que a Bíblia chama de templo.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

É NATAL, O RECOMEÇO DE UNTUDO.

Mais um ano está chegando ao fim. Antes tem o Natal, causo renovador no calendário gregoriano. Antes até, mas é o que temos. É o que temos.
Grande Sertão: Veredas, do mestre mineiro Guimarães Rosa, um João de um tamanho sem fim, traça uma história pra lá de fabulosa. Há cousas e novidades a cada parágrafo. Sem exagero. João era gigante. Maior do que um pé de coco, dum centenário jequitibá, dum pé de cedro e coisa e tal. Madeira de lei, de dar em doido.
João Guimarães Rosa é a união de universos. Quer duvidar? Duvide, não!
À página 658, ele diz com suas palavras derramadas no mar do Sertão. Assim: 

A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.
Pois é, a vida é um eterno recomeço.
A respeito desse João, atirei o meu pensar numa folha de papel em branco. Saiu isto:

Nonada não é nada
Nas veredas do Sertão
Nonada é apenas
Começo de confusão
Prá macho que nasce frouxo
pedindo a padre perdão

Nonada não é nada
É um sim, talvez um não
É Hermógenes morrendo
No meio dum furacão
É Joca Ramiro vingado
Com muito sangue no chão

Nonada não é nada
É bendito, é oração
É padre puxando reza
Na frente de procissão
Convencendo o pecador
A fazer bem ao seu irmão

Nonada não é nada
Nem é tiro de canhão
É começo de conversa
De gente forte do Sertão
Inventada por um cabra
De nome chamado João


O belíssimo Sertão: Veredas, publicada em 1956, é pra ser lido por todo mundo. Até por quem já o leu.
Na primeira página desse livro, o autor mostra com todos os olhos, pernas e braços, a que veio. Encantado, inventei de gravar o que senti. Ouça:


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

VIDA É ARTE. VIVA A ESPERANÇA!

O dia 22 de dezembro de 2022 marca um dia importante para a vida brasileira. Pra quem gosta do Brasil. Pra quem gosta de arte. E pra quem gosta de música.
No dia 19 de fevereiro de 1908 nasceu, no Rio de Janeiro, Henrique Foréis Domingues.
Esse Henrique Foréis tinha uma atração fundamental, uma atração incrível, pelo Brasil.
Foréis inventou de acrescentar um nome ao sobrenome que não tinha: Almirante.
Henrique Foréis Domingues era um Almirante sem ser, que nem o Capitão Furtado.
Meu Deus, como o Brasil é bonito!
No dia 22 de dezembro de 1980, Deus carregou Almirante pra fazer lá em cima festa com ele. Ai, ai.
Eu digo essas coisas, essas palavras, à Anninha.
Anninha é uma menina linda, cujo o nome de batismo é Anna Clara da Hora.
Viver é coisa boa.
A esperança e a vida são palavras que nos rejuvenescem.
Aproveitando isso, aqui quero mandar um beijo pra Maria.
Almirante foi grandão. Leia: ALMIRANTE, A GRANDE PATENTE DO RÁDIO
Lula não é músico nem artista de coisa nenhuma, mas Lula é um nome que dá esperança à música e tudo mais que tem a ver com a arte.

TESÃO É VIDA!

Não eram nem 11hs da manhã de hoje 22 quando a presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleise Hoffman, começou a ocupar o microfone em Brasília pra falar a respeito da conclusão dos trabalhos de transição de governos.
 Bolsonaro, uma besta, está deixando o Brasil em pandarecos, dizendo que não há nenhum brasileiro passando fome. 
Isto tudo está re-gis-tra-do. É documento para a história. 
A equipe de transição,  coordenada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, mostrou as loucuras que o presidente que está saindo cometeu nos últimos quatro anos. Contra nós. Na surdina, na sacanagem. Coisa de feladaputa.
Ai de nós! 
Lula falou bonito no evento aberto por Hoffman. Falou de solidariedade, compreensão, essas coisas que de certo modo nem nos lembramos mais.
A página da desgraceira escrita malamanhadamente por Bolsonaro está sendo virada. Não quer dizer, porém, que a história não a registre.
Lula falou forte, falou bem.
A esperança do Brasil está toda depositada em Luís Lula da Silva. E ele disse que aos 77 anos de idade está se sentindo como um jovem de 30, com tesão de 20.
Lula é negociante político. Começou na sua fala agradecendo aos presidentes do Senado e da Câmara por terem tido participação decisiva na aprovação da PEC da transição. Importantíssimo. E agradeceu também aos presidentes dos partidos políticos que se juntaram a ele no decorrer da última campanha política. 
E nessa fala foi ele falando de nomes que formarão o seu ministério. 
Pra minha alegria Anielle Franco, irmã de Marielle, foi anunciada por Lula como titular do Ministério da Igualdade Racial. 
Marielle Franco foi uma brasileira pobre, negra, bissesual que inventou de estudar. Virou socióloga. Mais: seguiu em frente defendendo os direitos humanos de todos os sexos. Apaixonou-se pela política e virou vereadora. Era demais. O resto, Bolsonaro talvez deva saber.
Jesus Cristo era pobre, negro e fodido, mas essa é outra história. 
Ninguém precisa ser petista pra achar que Lula é do caralho!
A cabeça de Lula como cidadão e político tem algumas parecenças com algumas cabeças paraibanas. Sou de lá. 
Eu, de minha parte, devo dizer que do alto de meus não sei quantos anos vivo de tesão. 
Tesão me move. Sem tesão nada sou. 
Um beijo, Maria!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

HOJE É DIA DE ELOMAR E ALTAMIRO CARRILHO


Há exatos 85 anos nascia, nas beiradas do Rio Gavião, na Bahia, o arquiteto que virou violonista, cantor e compositor Elomar Figueira Mello.
Filho de Ernesto e Eurides, Elomar nasceu na casa da fazenda do pai e da mãe. Fez vestibular pra Geologia, mas terminou optando por Arquitetura, que concluiu em 1964. Quatro anos depois estreou no mercado fonográfico um compacto simples.
Eu conheci Elomar ali por volta de 1978, quando descobri o LP Das Barrancas do Rio Gavião. O texto de apresentação, inserido na contracapa, trazia a assinatura do poeta Vinícius de Moraes. Dizia:

... Assim é Elomar Figueira de Mello: um príncipe da caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos reis-cavalheiros e menestréis errantes e que culminou na época de Elizabeth, da Inglaterra; e do cancioneiro do Nordeste, com suas toadas em terças plangentes e suas canções de cordel, que trazem logo à mente os brancos e planos caminhos desolados do sertão, no fim extremo dos quais reponta de repente um cego cantador com os olhos comidos de glaucoma e guiado por um menino - anjo a cantar façanhas de antigos cangaceiros ou 'causos' escabrosos de paixões espúrias sob o sol assassino do agreste...

Já escrevi vários textos sobre Elomar, por Vinícius chamado de Menestrel. Leia: O POPULAR E O ERUDITO EM ELOMAR • ELOMAR E A SUA OBRA DE LOUVOR A DEUS • AINDA ELOMAR E A CULTURA BRASILEIRADEU BODE NO JOGOELOMAR CRIA FESTIVAL DA ÓPERA BRASILEIRA.
Elomar nasceu no dia 21 de dezembro de 1937 e, no dia 21 de dezembro de 1924, nascia no, Rio de Janeiro, um dos maiores flautistas do Brasil: Altamiro Carrilho.
Também já escrevi bastante a respeito de Altamiro. Leia: ALTAMIRO CARRILHO AGORA É SAUDADE • ALTAMIRO REGE PÚBLICO NO SESC10 ANOS SEM ALTAMIRO CARRILHO.

VISITA É COISA BOA

Ontem 20 a minha casa ficou mais alegre com a presença dos amigos Fausto e Vitor Nuzzi. Fausto é um grande chargista e Nuzzi autor de grandes livros. É dele, por exemplo, Geraldo Vandré - Uma Canção Interrompida (Kuarup, 2018). A prosa foi ótima, começou por voltas das 15h e terminou à boca da noite. Falamos de tudo um pouco: política, futebol, literatura, charge, pintura e tal. E molhamos o bico, que ninguém é de ferro. Aí na foto, o registro.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O BRASIL FICA MENOR COM A MORTE DOS GRANDES

No ano de 1915 nasceu, no Rio de Janeiro, aquele que seria chamado por todos que gostam de boa música de O Cantor das Multidões. Orlando Silva, que veio ao mundo num dia como hoje 20 de dezembro, deixou uma obra magnífica como intérprete. A sua voz era, digamos, de pluma. Como de pluma era a voz do cantor paraibano Roberto Luna.
Naquele distante 1915 nasceu também o pernambucano de Macuparana Rosil de Assis Cavalcanti.
Rosil foi um compositor de extrema importância para o que podemos chamar de "música nordestina".
Luiz Gonzaga, o rei do baião, gravou muita coisa bonita de Rosil. Véio Macho, por exemplo.
O professor de música da Universidade Estadual da Paraíba Jorge Ribbas e eu compusemos uma coisinha para Rosil. Ouça:
 

NÉLIDA PIÑON

A escritora Nélida Piñon morreu sábado 17 em Lisboa, aos 85 anos de idade. Ela foi a primeira presidente da Academia Brasileira de Letras, ABL.
O corpo de Nélida foi sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

CARLOS BRICKMANN

Sábado 17 morreu também, em São Paulo, o colega jornalista Carlos Brickmann. Tinha 78 anos. Foi vítima de falência múltipla dos órgãos. Era uma pessoa maravilhosa e muito bem humorada. Inteligente, inteligentíssimo, fazia amizades com muita rapidez. Eu o conheci há uns 30 anos. Chegou a participar de um programa que apresentei na Rádio Trianon. O corpo de Brickmann foi sepultado no domingo 18, no Cemitério Israelita do Butantã, na Capital paulista.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A COPA DO CRAQUE FAUSTO. NOTA DEZ!

Tudo começou em 1930, quando o Uruguai abateu a Argentina pelo placar de 4 x 2.
A Argentina ganhou a Copa em 1978 e 1986, sagrando-se tricampeã ontem 18 no tórrido Catar. Resultado: 4 x 2 nos pênaltis, depois de empatar no tempo regulamentar e na prorrogação.
Essa foi, na opinião geral, o Mundial mais incrível da história. Pois houve surpresas de todo lado. Pela 1ª vez, por exemplo, o Senegal se fez participante como participante também se fez a seleção de Marrocos.
Nunca uma seleção africana chegou tão longe.
Os marroquinos botaram pra quebrar.
"Esperava-se mais, muito mais, da nossa Seleção", diz o quase sempre silencioso cartunista paulista Fausto Bergocce. Ainda Fausto: "O Tite e seus meninos pisaram na bola, decepcionando milhões e milhões de brasileiros que nem eu".
É verdade que o gol do atacante Richarlison foi memorável. Mas ficou nisso. Esperava-se mais, como frisou Fausto.
Foi espantosa a participação de Lionel Messi e também a participação de Mbappé, que sagrou-se artilheiro da Copa do Mundo por sua seleção, da França. Superou Pelé, nesse quesito. E olha que o francês tem apenas 23 anos de idade. Não é preciso ter bola de cristal para prever que o futuro de Mbappé será totalmente coroado de êxito. 
Mbappé é imbatível. 
Fausto acompanhou passo a passo todas as principais partidas. Fez, nada mais nada menos, 53 maravilhosas ilustrações.
É para Fausto que dedico hoje este espaço.
Senegal, um dos 54 países do Continente africano tem uma música extraordinária. Curiosidade: Há alguns anos os senegaleses gravaram de modo especial a toada-baião Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Ouça: 
 


Os sul-coreanos, que também participaram da Copa deste 22, fizeram uma belíssima releitura de Asa Branca: https://www.youtube.com/watch?v=5pnStf2iojY
 
Estreia do Brasil com golaço do Richarlison

 
Primeira vitória africana na Copa por Senegal


O craque Mbappe grande velocista do time da França

Saída melancólica do Brasil diante da Croácia

Marrocos, grande surpresa na Copa

Lionel Messi levando a Argentina na final

Grande final com a Croácia ficando na terceira colocação

A grande final com vitória Argentina de Messi

domingo, 18 de dezembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (55)

 "Olha lá, olha lá, olha lá. Puta que pariu! Olha, olha, empatou! 2 x 2!", descontrolado Lampa bateu na mesa ainda acrescentando: "Caralho!".
Todos os olhos da casa voltaram-se ao botão Lampa. E ele, suando às bicas: "O que foi? O que foi? Nunca me viram?".
Foi nesse momento que pus os pés na casa. 
Olhei Lampa nos olhos, e ele: "Desculpe, chefe. O jogo tava ganho pra nós...".
De novo todos os olhares se voltaram à Lampa. E ele, meio incômodo, sussurrou: "Desculpem amigos, desculpem. O Brasil perdeu e passei a ver na seleção argentina a nossa seleção. O Tite e o Neymar são dois grandes felasdaputa! E tem mais. Eu soube que o Richarlison fez uma suruba com três mulheres antes de disputar a semifinal  da Copa. É muita irresponsabilidade".
"Eu também li isso em algum lugar", disse Barrica. O irmão Biu, acrescentou: "Eu li e ouvi notícia dando conta do que o Lampa falou".
Mané, Jão e Zoião quietos estavam, quietos ficaram.
Lamentável, lamentável, eu disse.
Quebrando o próprio silêncio, Zilidoro falou: "Pois é, tudo errado! A imprensa internacional deu notícia revelando que futebolistas brasileiros, incluindo o Fenômeno, comeram carne com ouro em Catar...".
"Puta que pariu!!!", Lampa irritou-se definitivamente sacando o punhal e o enfiando com força na mesa. E grunhindo: "Vou pegar esses caras!".
"Olha lá, olha lá, olha lá. De novo, empatou: 3 X 3. Agora, pênaltis", interrompeu o papo Mané.
"Agora é que eu quero ver", disse provocando Zoião. E Mané: "Cala boca, cara!".
Seguiram-se momentos periclitantes, de silêncios gritantes. Messi abriu o placar: 1 X 0.
 Mbappé, foi o primeiro de sua seleção a fazer o que Messi fez. Empatou: 1 X 1. 
Zilidoro pediu a palavra pra dizer o seguinte: "Essa história o mundo todo já sabe. Agora tem aquele detalhe. Foi o Montiel que provocou o pênalti que levou a Argentina a morrer de infarto..." 
É verdade, eu disse. E foi o Montiel que chutou o gol que deu vitória à Argentina. 
Uma coisa, chefe. Na primeira Copa, em 1930, o Uruguai ganhou enfiando quatro tentos na sacola da Argentina. O resultado foi 4 X 2. Curioso, não?".
Antes de dar ponto final nessa nossa conversa, eu quero compartilhar com vocês a informação de que o cantor, compositor e instrumentista Jarbas Mariz jogou bola na adolescência e por pouco não se profissionalizou no Náutico, de Recife, PE. E pra minha alegria ouvi hoje a minha filha Clarissa dizer que eu posso estar perfeitamente pronto pra entrar em campo e trazer, para o Brasil, a taça tão desejada de hexacampeão. 
Numa boa, acho que a Clarissa tem razão. 

CANTOR BOM DE BOLA × JOGADOR BOM DE MÚSICA (2.2, FINAL)

Louca pelo Corinthians, Inezita gravou música e tal. Um dia chegou a chamar o craque Sócrates para cantar no seu programa Viola Minha Viola. Curiosidade: em 1981, Sócrates gravou um LP intitulado Casa de Caboclo (RCA Victor). Nesse disco ele canta clássicos. Uns dez anos depois participou, junto com Osmar Santos, de uma faixa do disco Aquarela, de Toquinho. Muito bom. A música que interpreta é Corinthians do Meu Coração.
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, paraense, chegou a fazer poesia e a compor músicas. Guardo alguns poemas inéditos dele, escritos de próprio punho.
Papete e Osvaldinho da Cuíca compuseram e gravaram um samba para o Corinthians que se tornou clássico: Vai Corinthians.
Paulinho Nogueira, antigo professor de violão de Toquinho, compôs uma jóia para homenagear o Timão depois de duas décadas sem títulos: Meus Vinte Anos, Ai Corinthians!
O caboclinho querido Silvio Caldas, cantor de voz poderosíssima, era palmeirense roxo. Claro, enalteceu o Palmeiras em música gravada em disco: Tarantela em Verde e Branco e Arrancada Heroica.
O cantor e compositor Moacir Franco é palmeirense, mas um dia não resistiu e gravou uma música em homenagem ao botafoguense Garrincha. Título: Balada n° 7.
Num ano qualquer da década de 70 o humorista Chico Anísio criou o personagem Coalhada. Tipo Bozó, manja?
 
Na fatídica partida que desclassificou por pênaltis a Seleção brasileira de futebol no Catar, no dia 9/12/22, faltou o goleiro Coalhada, saca?
Quanto a mim devo dizer que nunca disputei nenhuma partida de futebol importante para a vida nacional, mas isso não quer dizer que não fui bom jogador de bola de gude, bola de meia e peteca. Confesso: nunca errei uma peteca na cabeça de um corno adversário. Também devo dizer que tive razoável atuação no futebol de salão e de campo, meio Coalhada, hic!
Em 2026, voltarei ao assunto.


Foto e reproduções Flor Maria e Anna da Hora.
Ilustração do cartunista Fortuna (1931-1994).

sábado, 17 de dezembro de 2022

CANTOR BOM DE BOLA × JOGADOR BOM DE MÚSICA (2.1)

Definitivamente: música e futebol é um lance que combina muito.
É ginga, ritmo, swing, baile… Essas palavras encaixam-se perfeitamente no repertório musical e no futebolístico.
Futebol é dança, espécie de balé.
E música, hein?
Ary Barroso foi um dos mais prolíficos compositores da nossa música popular. Era um chato, dizem. Mas o fato é que foi importante. Deixou uma obra extremamente significativa. Foi um dos primeiros a ter música gravada em outras línguas. Começou compondo no gênero, digamos, caipira. Alinhou-se ao samba e gerou um gênero: exaltação, samba exaltação.
Dominguinhos, de batismo José Domingos de Morais, tinha tudo pra ser nada. Mas um dia, aos oito anos de idade, teve a felicidade de ser visto por Luiz Gonzaga já rei. Foi no interior de Pernambuco, a terra de ambos. O tempo passou e Gonzaga findou por adotar, musicalmente, aquele menino.
Ary era desesperadamente flamenguista e Dominguinhos, botafoguense.
O detalhe é que, fugindo à regra, Ary nunca compôs uma música para seu time. Dominguinhos, idem. Curiosidade: Dominguinhos chegou a bater bola com seu ídolo, Mané Garrincha (1933-1983). "Os dois chegaram a virar amigos", lembra a sua ex-companheira Anastácia.
O compositor e cantor Ari Lobo, de Belém do Pará, foi um artista que deixou muitas músicas bonitas. É dele, por exemplo, a música No Balanço do Garrincha. Ari deixou cerca de 400 músicas, entre as quais Eu Vou pra Lua e Menino Prodígio.
A cantora Elza Soares pra Garrincha gravou: Alegria do Povo.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, deixou uma infinidade de músicas bonitas. Entre elas, Asa Branca.
Há coisas curiosas em torno de Asa Branca, de matriz folclórica. Pois é, de matriz folclórica.
Uma vez perguntei a Gonzaga qual a origem de Asa Branca. Isso porque eu sabia que o povo mais simples de Pernambuco e Paraíba já cantarolava essa música. Leia sua resposta, clicando: ODE A LUA.
Em outubro de 2013, levei à cena no Centro Cultural dos Correios, RJ, a história de Gonzaga. Pra me ajudar na tarefa convidei Ricardo Cravo Albin, Oswaldinho do Acordeon, entre outros.
Filho do baiano Pedro Sertanejo, o carioca Oswaldinho jogou pelada na adolescência. Era o xodó do pai, que queria porque queria vê-lo sanfoneiro. A primeira música que ensinou ao filho foi Asa Branca. E era só chegar uma visita em casa, que o pai o chamava para tocar a "bendita música". O menino ficou traumatizado. Saiba o motivo:

Papete, Paulinho Nogueira e a cantora Inezita Barroso eram fãs de carteirinha do Corinthians, como fãs de carteirinha desse time são Osvaldinho da Cuíca, Tom Zé e mais mundo e meio.Tom Zé fez uma interessante canção para o ex-meio-campista Neto, de batismo José Ferreira Neto. Esse Neto, da safra de 66, é paulista de Santo Antônio de Posse. E tem uma língua enorme, ferina. Para tanto, basta ouví-lo no rádio e TV Bandeirantes.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

MATUSALÉM VAI AO INSS

 
Fui dormir ontem pensando no homem, vejam só!
Fui dormir pensando em Matusalém. E como uma coisa puxa outra, pensei nos brasileiros com mais de 100 anos. São muitos.
Segundo dados do IBGE, já passa de 20 mil o número de brasileiros e brasileiras que flanam por aí. Flanar é voar, embora essa palavra não conste no dicionário da nossa língua. Origem francesa, mas essa é outra história.
Fui dormir pensando em Matusalém.
Enquanto eu dormia, também sonhava.
Sonhei vendo Matusalém diante de um funcionário do Instituto Nacional do Seguro Social, INSS. Diante do burocrata, Matusalém pergunta o que é preciso pra uma pessoa se aposentar. O burocrata olha pra ele e diz: "Primeiro, antes de tudo, tem de ter mais de 60 anos de idade".
Atualmente, no Brasil, há cerca de 22 milhões de homens e mulheres aposentados. Pessoas que trabalharam, que deram o sangue, pelo Brasil. Entre essas não há nenhuma mais velha do que o goiano Andrelino Vieira da Silva, pai de 7 filhos e avô muitas vezes.
Andrelino completou 121 em fevereiro deste ano de 2022.
A primeira instituição, no Brasil, a dar atenção aos trabalhadores de idade foi o Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS). Isso em 1923, no governo de Artur Bernardes.
O burocrata de plantão, perguntou a idade e Matusalém respondeu: "Eu vou fazer 969 anos".
Pois é, Andrelino é na figura de Matusalém uma pedra no sapato do INSS.
Matusalém era avô de Noé, aquele da barca que salvou um monte de animais.
Ah! Sim: Adão, de Eva, morreu com 130 anos de idade.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

FORRÓ É SAÚDE E LONGEVIDADE

Luiz Gonzaga gostava de uma ceverjinha... Com o Assis
Setenta...
Hmmm... Bom, nos dedos: oitenta, noventa, cem, cento e dez, cento e vinte...
Pois é, falta 50 aninhos pra o papai aqui chegar lá. É muito tempo, não é?
No meu caso, no meu caso mesmo, os dias tem no mínimo 48 horas. Demoram a passar. É o que eu acho.
Setenta... Hmmm...
Quando o Rei do Baião nasceu, o goiano de Anicuns Andrelino Vieira da Silva já tinha 11 anos de idade e fazia o que todo mundo do campo faz: cuidar da lavoura e da vida.
Luiz Gonzaga, quando menino/adolescente, também cuidou da lavoura metendo aqui e acolá a enxada no chão. E nas horas vagas, digamos assim, observava o pai Januário ajeitando sanfona. Gostava do que via e não deu outra: trocou a enxada pela sanfona, a contragosto da mãe Santana.
O que é que há em comum entre Andrelino e Gonzaga, hein?
Andrelino gosta de forró até hoje, forró que foi inventado pelo Rei do Baião.
O que mais? 
Andrelino, além de forró, é chegado a uma boa cachacinha.
Gonzaga sempre gostou de cachaça, de uma boa cachacinha, mas um dia encheu a cara e pensou fazer diabruras contra o pai da jovem que amava. E aí deu zebra: o pai e a mãe pegaram-no pra valer. Foi uma surra dos infernos! E foi assim que Gonzaga deixou de beber cachaça, mas uma cervejinha e um conhaquezinho sempre caíam bem no seu gogó.
Dançando o que dança e bebendo o que bebe, Andrelino vai chegar à idade de Matusalém.

CAMINHADA DO FORRÓ

No próximo sábado 17, às 15h, forrozeiros de todas as idades e sexos sairão da Praça Manoel da Nóbrega em caminhada festiva por ruas do Centro histórico. Esperam-se cerca de 200 forrozeiros tocando zabumba, triângulo, sanfona, o escambau. Fortalecendo a caminhada estarão as cantoras e cantores Fatel Barbosa, Luís Wilson, Dantas do Forró, Cacá Lopes, Trio Virgulino, Neide Gara-pé, Maria Fulô, Valentina Guillén e a rainha de todos os forrozeiros: Anastácia. À frente da tropa, o "espalhabrasa" Zé Geraldo.
Para fazer o seu dia mais alegre, clique:

FUTEBOL: DOMINGO TEM NOVO TRICAMPEÃO MUNDIAL

 
Gostei. Jogaram que nem gigantes. Estou falando dos marroquinos ontem 14, num estádio do Catar. Esperava mais e menos da França. Mas os franceses são bons. São bi. Bicampeões, entenda-se.
Os franceses jogam domingo 18 contra "los hermanos argentinos".
A parada vai ser das melhores, a partir das 16h. O duelo, bom duelo, será Messi x Mbappé. Messi nasceu em Rosário e Mbappé, Paris. O pai é camaronês e a mãe, argelina.
Pouco antes de o jogo Marrocos x França, o amigo Peter Alouche telefona pra perguntar por quem eu iria torcer. Resumi: a França vai ganhar de 2 a 0 e disputar o mundial do futebol com a Argentina. A princípio ele não entendeu, mas uma meia hora depois caiu na risada. "É, se acontecer você estará de parabéns", disse.
Após o jogo, que resultou no 2 a 0 para os franceses, o craque do cartum Fausto telefona pra dizer que gostou do jogo e que esperava, de fato, a final entre Argentina e França. "Essa parada será dos nossos hermanos", disse e meia hora depois nos mandou a charge acima.
Sábado 17, a partir do meio dia, marroquinos e croatas disputaram o 3º lugar da Copa.
De Marrocos x França sairá, de qualquer modo, o Tricampeão de futebol.
O Brasil é Penta e pra lembrar, clique:
 

DERROTA DA SELEÇÃO

A imprensa mundial continua repercutindo o churrasco banhado a ouro deglutido por craques e ex-craques da Seleção brasileira, no Catar. Foi uma farra. Nada contra farra. Ando na linha do Lula: um churrasquinho e uma ceverjinha, num feriado ou fim de semana, não faz mal. É bom. Uma festinha como fez o Neymar anteontem na sua casinha no Rio, também não faz mal. Né não? E chega de choro, gente! 
Hmm... Agora, cá pra nós, quem come ouro, faz o quê no dia seguinte?

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

HOJE É O DIA DA ÓPERA

Auto, Opereta e Ópera são gêneros que se cruzam na literatura e na música. O Auto tem mais a ver com o popular, como a Opereta.
A Ópera, grosso modo, é a arte de contar uma história cantada com vários personagens, da mesma maneira que é também desenvolvida a Ópera Popular.
Ópera Popular não é Auto.
O português Gil Vicente foi o maior representante dos textos identificados como Autos.
Foi na Alemanha do século 17 que o gênero operístico surgiu e de lá foi parar na Inglaterra. Para espalhar-se Europa afora foi, como diz o popular: dois palitos!
O gênero está vivo até hoje.
O italiano Verdi, figura exemplar do mundo da música erudita, deixou uma obra imortal. Como imortal é, também, a obra do brasileiro Carlos Gomes.
Carlos Gomes estreou no campo operístico em 1861, mais precisamente no dia 4 de setembro de 1861, no Teatro Lyrico Fluminense, Rio de Janeiro. Título da ópera: A Noite do Castelo.
Descoberto pelo imperador Pedro II, Carlos Gomes foi estudar música na Itália. Tudo pago. Quer dizer, mais ou menos. Ele comeu o pão que o Diabo amassou na Itália. Casou-se, teve filhos e passou grandes necessidades. Mas essa é outra história.
Antes de Carlos Gomes, a ópera deu seus primeiros passos no século 18.
O padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), que tocava tudo quanto era instrumento, fez algumas coisas parecidas com ópera. Depois dele e antes de Carlos Gomes, o paulista Elias Lobo (1834-1901) compôs, em 1860, A Noite de São João.
Em 1958, no Teatro Municipal de São Paulo, o maestro Armando Berlardi regeu orquestra e gravou, integralmente pela primeira vez, O Guarani.
Em 1986, foi a vez do maestro Benito Juarez reger a orquestra Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas e gravar, também integralmente, a obra-prima de Carlos Gomes.
Em 1976, por não ter o que fazer, escrevi e a Editora Nacional publicou o livrinho O Brasileiro Carlos Gomes.
 

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

HOJE É O DIA DO CEGO

Todos os dias são dias importantes. Mas há determinados dias que a gente considera mais importante que os outros. Hoje, por exemplo, é o Dia do Cego.
No dia 13 de dezembro de 1912 nasceu em Exu, PE, um menino a que os pais dariam o nome de Luiz Gonzaga do Nascimento.
Luiz Gonzaga, que se tornaria o rei do baião, nasceu exatamente há 100 anos.
Já famoso e correndo o Brasil de ponta a ponta, Gonzaga sofreria dois grandes acidentes de carro. Um em Santos, SP, e outro na cidade do Rio de Janeiro. O resultado disso foi a perda do olho direito.
Num tempo já distante, uma jovem estuprada e morta por algozes. Nome: Luzia.
Hoje é o dia de Santa Luzia, a padroeira dos cegos.
Eu conheci muitos cegos e cegas na minha vida, mas em nenhum momento imaginei que eu faria parte dessa enorme legião de pessoas que não veem com os olhos.
Perdi meus olhos em 2014, em consequência de descolamento de retina. Mas a vida continua. A gente vai se equilibrando aqui e ali. E assim, desse jeito, vi ser possível ver com a memória. Já escrevi bastante a respeito. Ouça:
 
 
O tema cego/cegueira é bastante comum no nosso repertório musical.
Luiz Gonzaga, ele mesmo, gravou várias músicas falando de cego. A última ele compôs ao lado do violeiro mineiro Téo Azevedo: Padroeira da Visão.
E à Santa Luzia andei também fazendo uns versos. Ouça: 

 

LEIA MAIS: A CEGUEIRA NÃO É O FIM DEPOIS DE FICAR CEGO, ASSIS ÂNGELO LUTA PARA DIGITALIZAR ACERVO A CULTURA SOB UM NOVO OLHAR ASSIS ÂNGELO, CEGO HÁ SETE ANOS, LANÇA CORDÉIS SOBRE A PANDEMIA

PARA CRIMINOSOS HÁ LEI

O mundo tá pegando fogo, diria hoje o meu querido amigo e conterrâneo Sivuca. Pegando fogo, mesmo.
O povo mongol está na rua brigando por dias melhores, tendo como pano de fundo a inflação que anda corrompendo o povo de lá, da Mongólia.
A Mongólia é a terra de Gengis Khan (±1162-1227), político e assassino histórico, criador do Império Mongol e responsável por suas expansões na Ásia e Europa.
Na Ucrânia, o povo está morrendo vítima da violência russa.
Na África do Sul e países em volta, o pau tá comendo.
No Oriente Médio, os poderosos de plantão continuam perseguindo a população e matando. No Irã, ai, ai ai...
Na Sérvia...
Em Brasília, odientos bolsonaristas invadiram as ruas ontem 12 decididos a por o Brasil de cabeça pra baixo. Até um índio aloprado, que andou fazendo vídeos convocando cachorros loucos para impedir a diplomação do novo presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva.
Os radicais de Bolsonaro nada mais são que terroristas. E pra terroristas, criminosos, assassinos, há remédio: A Lei.
O silêncio de Bolsonaro é apoio e estímulo para os seus seguidores fazerem o que estão fazendo.
Eles querem derrubar a Democracia brasileira, mas não conseguirão.
O Brasil civilizado está atento a tudo que acontece em sua volta.
Sim é certo que o sanfoneiro Sivuca diria: O mundo está pegando fogo!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

DEPOIS DA DIPLOMAÇÃO, A POSSE: 1° DE JANEIRO

O discurso de 15 minutos de Lula, agora há pouco, em Brasília, leva mais esperança aos brasileiros e brasileiras que votaram ou não no presidente eleito no último  30 de outubro. 
No seu discurso Lula falou dos ataques violentos que a nossa democracia tem sofrido nos últimos quatro anos.
Houve momentos em que Lula não segurou e pôs pra fora, em lágrimas, as suas emoções. 
Lula lembrou que Deus existe exatamente porque o levou ao cargo de presidente pela terceira vez. Lembrou que não teve oportunidade de estudar formalmente para adquirir o diploma universitário. Mas pra ele é uma alegria muito grande o fato de ter se diplomado mais uma vez como presidente pelo TSE.
Depois da claríssima fala de Lula foi a vez de o presidente do TSE, Alexandre de Morais, discursar ressaltando as dificuldades que a Justiça enfrentou para levar a cabo o processo eleitoral. Política não se faz com ódio, disse. E disse também que as pessoas que cometem crime não ficarão impunes, responderão à Justiça no momento oportuno. 
À solenidade de diplomação de Lula compareceram os presidentes da Câmara, Senado e STF. História. 
A diplomação do presidente eleito encerra o processo legal eleitoral deste ano de 2022. Isso quer dizer que o pernambucano Luís Inácio Lula da Silva é, agora, o trigésimo nono presidente da República Federativa do Brasil. 
Lula assumirá o cargo de presidente no próximo dia 1° de janeiro.

LULA RECEBE HOJE DIPLOMA DE PRESIDENTE

O processo legal eleitoral deste ano da graça de 2022 termina hoje 12, em Brasília, quando o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva será diplomado pelo TSE, no Congresso.
O esquema de proteção a Lula e ao vice, Alckmin, desde já é intenso e rigoroso. Policiais identificados como tais e à paisana foram escalados às centenas.
Os bolsonaristas ditos raízes estão em estado de euforia maléfica, torcendo e lutando para que tudo dê errado. Mas esses bolsonaristas perderam, para o bem do Brasil.
A posse de Lula como presidente da República está prevista para o próximo dia 1º de janeiro.
À posse de Lula são esperadas pelo menos 300 mil pessoas, incluindo representações estrangeiras e chefes de governos. Caso Bolsonaro não compareça à solenidade, para transmitir a faixa presidencial, nada demais ocorrerá. 
A faixa presidencial, como tal conhecemos, foi criada por decreto do marechal presidente Hermes da Fonseca. Isso no dia 21 de dezembro de 1910. Hermes foi o primeiro a usar a simbólica faixa.
Até hoje apenas o general presidente João Figueredo se recusou a passar a faixa para o sucessor, no caso o maranhense José Sarney.
A diplomação de Lula como presidente da República ocorrerá às 14h.

ENQUANTO ISSO...

No Congresso começa a articulação para criar o cargo de senador vitalício. 
Essa bondade visa proteger Bolsonaro dos processos que responderá ao perder a imunidade. Há quem ache que, cedo ou tarde, ele cairá nas garras da Lei. Pois é, também acho.

Presidente também morre
De morte matada ou não
Lugar de quem não presta
É lá no fundo da prisão!
 
A cadeia te espera 
Presidente matador 
Quem apanha hoje é caça
Amanhã é caçador

domingo, 11 de dezembro de 2022

CANTOR BOM DE BOLA × JOGADOR BOM DE MÚSICA (1)

A relação entre música e futebol é antiga, como antiga é a relação entre futebol e músicos. Em resumo: não é de hoje que artistas fazem música pra futebolista e futebol. E não é de hoje também que futebolistas deixam o futebol pela música.
No final dos anos de 1940, os paraibanos Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda deixaram, respectivamente, o Botafogo e o Treze Futebol Clube para seguirem a carreira de compositor e cantor.
Do Botafogo, de João Pessoa, Jackson era goleiro.
Do Treze de Campina Grande, Genival foi atacante em várias posições.
Há muitas histórias curiosas no campo do futebol.
Línguas irresponsáveis diziam à boca pequena que Manezinho Araújo, o rei da embolada, gostava muito de jogar pelada. Até aí tudo bem. O detalhe é que tais línguas diziam ainda que Manezinho entrava em campo como dono da bola e uma faquinha inocente presa à cintura.
Quanta maldade!
Que Manezinho gostava de futebol, isso eu sei. A prova é que nos legou a embolada Futebol na Roça.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, não carregava faquinha na cintura. Porém, sempre há um porém, mandava no jogo. A prova, para quem duvida, está na música Lá Vai Pitomba. É engraçada, como Siri Jogando Bola.
Anastácia, a rainha do forró, achou graça quando eu disse uma vez que Gonzaga gostava de futebol. Ela: "Ele gostava mesmo era de pelada". E não é a mesma coisa? E ela: "Te liga, Assis! Quando falo pelada, falo de pelada mesmo! De mulher pelada, entende?".
Na verdade, na verdade, os mais próximos ao rei do baião dizem que se ele não fosse estéril teria tido filhos suficiente para formar uma população do tamanho do município de Exu, onde nasceu.
Anastácia entra para a história do futebol como a primeira mulher a compor e a cantar uma música para a Seleção brasileira. Foi em 1970, quando o Brasil ganhou o Tri, no México. Título: Bola na Rede.
Não são poucos, na verdade são quase todos os cantores e compositores que têm abordado o futebol como tema de carreira e obra. Chico Buarque, por exemplo.
Em 1978, Chico criou um time só para si e seus amigos: Politheama, que tem sede no Centro Recreativo Vinícius de Moraes, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro.
Todo mundo sabe, mas quem não sabe já é tempo de saber que Chico é torcedor absolutamente fanático do Fluminense. O cantor Ciro Monteiro chegou a tentar cooptá-lo para o Flamengo. Chico respondeu com uma música: Ilmo. Sr. Ciro Monteiro Ou Receita Pra Virar Casaca De Neném.
Da mesma maneira que há muitos e muitos compositores e cantores apaixonados por futebol, o contrário pode ser dito e confirmado. Exemplo: Zico, o Galinho de lances inesquecíveis no Flamengo, chegou até a gravar disco junto com Fagner.
Em 1982, o meio-campista Júnior entrou em estúdio e gravou o samba Voa Canarinho. A ideia era embalar a Seleção brasileira de futebol. Deu certo. Vendeu 650 mil cópias. Entusiasmado, gravaria depois três LPs.
Júnior toca vários instrumentos de percussão, incluindo pandeiro.
Em maio de 2010 eu o entrevistei para o livro A Presença do Futebol na Música Popular Brasileira. Leia um trecho:

Assis — Na família tem outro profissional de futebol?
Júnior — Profissionalmente só o meu irmão mais novo, que jogou por algum tempo na Portuguesa, do Rio. O meu pai (Leovegildo Lins Gama) foi ponta-esquerda amador. Os amigos dizem que ele era muito bom.

Assis — O escritor Guimarães Rosa, autor de Grande Sertões: Veredas, dizia que todo ser inteligente era paraibano ou nascia em Minas Gerais, e como torcedor teria de ser Flamengo. É isso?
Júnior — Generosidade dele, mas eu me encaixo mais ou menos nesse formulário, né?

Assis — O Flamengo foi o time da sua vida. Mil novecentos e setenta…
Júnior — Eu só joguei no Flamengo, no Brasil. De 1974 até 1984. Voltei em 1989 e fui até 1993. Fora isso, três anos de Torino e dois anos de Pescara, na Itália.

Assis — Como a música entrou na sua vida?
Júnior — A música e o futebol são dois “embaixadores” do Brasil em qualquer parte do mundo. Eu nasci escutando música. Meu bisavô era um artesão de violino. Aprendi a tocar pandeiro vendo e ouvindo o meu tio Valter, irmão da minha mãe, tocar nas rodas de samba, quando eu tinha a idade de nove, dez anos. Eu não consegui tocar instrumentos de cordas e praticamente obriguei o meu filho Rodrigo a aprender a tocar violão, cavaquinho, banjo. A música está sempre me acompanhando [...].

Assis — Qual foi a primeira vez que você entrou num estúdio de gravação…?
Júnior — A primeira vez foi em 1978. Mas pra valer mesmo foi em 1982, com Alceu Maia. Foi ele quem me fez gravar “Voa Canarinho”. A última vez foi no ano passado, com Tereza Cristina no Samba Social Clube, cantando uma música do Paulo César Pinheiro e do Moacyr Luz. Foi um privilégio, inclusive, porque a música que gravamos (“Samba Bom de Bola”) fala de futebol e música. Faz essa analogia, música e futebol.


Pois é, há muitas histórias interessantes no mundo do futebol.
Em 1982, o compositor Max Nunes e o humorista Jô Soares criaram um personagem cri cri chamado Zé da Galera. Esse Zé torrava a paciência do técnico Telê Santana. Queria, porque queria, que Telê enchesse a seleção de pontas: ponta-esquerda, ponta-direita ...
É isso e muito mais.

Foto por Flor Maria.

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