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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

20 DIAS QUE SACUDIRAM O BRASIL (1)


O carioca Fernando Collor de Mello elegeu-se como o mais novo presidente da República com 40 anos em março de 1990 pelo Partido Republicano Nacional, PRN. Pintou e bordou, mas teve de deixar o cargo depois de acusado de envolvimento num esquema de corrupção, por isso ganhou muitos processos e acabou “impichado”. O placar que o pôs pra fora do Planalto foi de 76 senadores a favor, 3 contra e 2 omissos. Isso no dia 30 de dezembro de 1992. Tentando desesperadamente evitar a cassação ou impedimento, Collor apresentou carta-renúncia. Não colou, pois os senadores não engoliram o blá-blá-blá do missivista. No seu lugar sentou-se o baiano Itamar Franco (1930-2011). Fez um bom governo e foi da sua equipe que saiu o presidente que o substituiu: Fernando Henrique Cardoso, criador do Real como moeda nacional. Lula o substituiu e o resto é história. O texto que se segue eu o escrevi há 30 anos como introdução do livro 20 Anos que Sacudiram o Brasil. Inédito porque, ai ai ai, esqueci de publicá-lo. Os originais foram encontrados por acaso numa das prateleiras do meu acervo junto com a capa desenvolvida pelo craque do traço Juarez Carvalho. O prefácio foi feito pelo jornalista Audálio Dantas (1929-2018). A apresentação teve a assinatura de José Nêumanne Pinto e o posfácio de Fernando Coelho. É isso.

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“A liberdade de imprensa é um direito da sociedade e, portanto, um dever do jornalista.”

Barbosa Lima Sobrinho
Presidente da Associação Brasileira da Imprensa


No curto período de 20 dias — de 29 de setembro a 18 de outubro de 1992 — o Brasil deu um arriscado giro de 180 graus no seu corpo gigante e ganhou uma nova cara. Não novíssima, mas nova; pois é certo que ainda há muito o que fazer para que o Brasil entre nos seus devidos eixos. Enfim, como bem lembrou o cantor e compositor Geraldo Vandré, num bate-papo comigo na sua casa, em São Paulo:

— O povo ainda tá de tanga na rua.

Pois é.

As bases fisiológicas que historicamente têm possibilitado o descalabro e a corrupção continuada na máquina administrativa do País (a sonegação de impostos chega à casa absurda dos US$ 50 bilhões por ano, segundo as estimativas mais otimistas) continuam firmes e sólidas como nunca. Nesse particular, a imprensa continua deitando e rolando, vendendo jornal e faturando ibope. E só. De todo modo, porém, é muito cedo para se saber com precisão a real dimensão e importância da mudança em si só inédita e histórica (na forma e no conteúdo) no Brasil e em todo o mundo. Não vale citar o caso de Carlos Andrés Pérez, presidente derrubado pelo Senado venezuelano, sob a acusação de embolsar algo em tomo de US$ 17 milhões do erário público.

Essa mudança entre nós começou com estudantes de cara-pintadas protestando contra o governo nas ruas. Culminou primeiro com a aprovação do pedido de impeachment (por corrupção) contra Collor na Câmara dos Deputados e sua posterior renúncia à Presidência da República exatos dois meses depois quando o Brasil começava a respirar mais aliviado das muitas humilhações até então sofridas.

A renúncia não foi aceita e o pedido de impeachment foi avante.

A queda do presidente Fernando Collor não foi, a rigor, surpresa para ninguém. Era esperada sim, pois nem o Brasil e nem os brasileiros mais simples suportavam mais ler ou ouvir falar a respeito de tantas denúncias de assaltos à luz do dia ( e/ou à calada da noite) aos cofres públicos, apresentadas diariamente pela imprensa nacional e estrangeira, envolvendo o nome exatamente de quem foi eleito para moralizar e pôr o País no caminho da prosperidade, do respeito e do desenvolvimento industrial, como exaustivamente era prometido pelo então candidato do PRN em modernoso e aventureiro discurso durante a sua fulminante e vitoriosa campanha à presidência da República.

O governo Collor — encerrado definitivamente no dia 30 de dezembro de 1992 — colecionou em pouco mais de dois anos uma vergonhosa série de escândalos de todos os tipos, incluindo o incrível e criminoso sequestro da poupança dos brasileiros (infelizmente aprovado pelo Senado, não nos esqueçamos) e das aplicações legais no mercado financeiro.

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