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sábado, 15 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (7)

Depois de Zéfiro as bancas de revista foram inundadas por quadrinhos de sacanagem feitos aos milhares, talvez milhões. Os títulos, como as histórias, explícitos.
Tinha historinha sacana pra tudo quanto é gosto. Exemplo é Pra onde a vaca vai o boi vai atrás, título claramente inspirado na bobagem brega de João da Praia, pseudônimo do paulista Antônio Zacarias (1950-1989). Trata de uma jovenzinha gostosa e um macho em ponto de bala. Ele, peão da fazenda do pai dela, vê-se "obrigado" a realizar as fantasias da moçoila. O pai desconfia e dá de garra de uma garrucha decidido a pôr fim à safadeza dos dois.
A Internet acabou com isso tudo, possibilitando aos admiradores e seguidores de Onã cenas em movimento e tal. Mais picantes, pois.
Onã é um personagem bíblico usado pela igreja para proibir sexo anal e masturbação, tomando-o como exemplo dessa prática tão comum em todos os tempos.
Ah! Sim: em São Paulo e no Rio de Janeiro há logradouros com os nomes de Angelo Agostini e Carlos Zéfiro.
Em 1996 a cantora Marisa Monte levou a público o CD intitulado Barulhinho Bom em homenagem a Zéfiro, que deixou como herança pelo menos 600 catecismos. Esse disco, um CD, foi lançado à praça brasileira sem nenhum problema. No lançamento, foram distribuídos alguns títulos do Zéfiro.
Nos EUA o mesmo disco de Marisa Monte recebeu como carimbo na capa uma tarja como censura. Isso na terra considerada o berço e exemplo de liberdade. Ora veja! Até o título foi traduzido para A Great Noise.Agostini e Zéfiro têm sido personagens de interesse do mundo acadêmico.
Em 2013 a então mestranda Érika Cardoso, da Universidade Federal Fluminense, apresentou num simpósio realizado no Rio Grande do Norte trabalho que desenvolvia sobre Zéfiro. Título: “O pornógrafo ingênuo — Carlos Zéfiro entre a História e a memória”.
Lá pras tantas ela lembra a antropóloga Maria José Silveira, segundo a qual “Na prática Carlos Zéfiro foi um autêntico precursor do feminismo, no que o feminismo tem de bom, já que seus catecismos evidenciam que as mulheres têm prazer, sabem tomar iniciativas, sempre revestem de paixão o ato sexual e que, com raras exceções, as narrativas nos catecismos não dão espaço ao moralismo”. Recomendo a leitura: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364259543_ARQUIVO_ARTIGOANPUH.pdf


Também já foram escritos e publicados pelo menos 4 livros sobre o endeusado personagem. O primeiro A Arte Sacana de Carlos Zéfiro, organizado por Joaquim Marinho, com pequenos textos analíticos assinados por Roberto da Matta, Sérgio Augusto e Domingos Demasi; e o segundo Os Alunos Sacanas de Carlos Zéfiro, também assinado por Marinho. O terceiro, O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, de Otacílio d’Assunção. E o mais recente, de 2018, O Deus da Sacanagem: a Vida e o Tempo de Carlos Zéfiro. Autor: Gonçalo Junior.
Fora isso há documentários sobre Zéfiro e Agostini. Em 2020, o cineasta Carlos Tendler lançou o filme Em Busca de Carlos Zéfiro. Em 2013, Bira Dantas rodou o documentário Desvendando Ângelo Agostini ou 30 Anos da AQC.

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