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domingo, 22 de agosto de 2021

SÉRGIO REIS, UM CANTOR SEM NOÇÃO?

A primeira vez que entrevistei Sérgio Reis foi em 1978. Bom papo, boas histórias. Ex-estrela da Jovem Guarda. Um dos seus maiores sucessos, foi Coração de Papel.
Com o fim da Jovem Guarda, movimento musical comandado por Roberto Carlos, Sérgio Reis foi levado pelas mãos de Tony Campello à ceara sertaneja.
Serjão, assim chamado pelos mais próximos, gravou centenas de músicas. 
Inesperadamente há pouco dias, o artista abriu a boca em apoio total ao presidente Bolsonaro. Foi além, no apoio. Chegou a ameaçar o presidente do Senado e os ministros do STF. 
As ameaças de Serjão deixaram chocados seus amigos artistas, como Guarabyra(da dupla Sá e Guarabyra), Guilherme Arantes, Maria Rita e até Zé Ramalho, entre outros.  Zé foi mais longe, impedindo-o de usar a gravação de Admirável Gado Novo que fizera para integrar o novo disco do intérprete de Menino da Porteira.
A fala de Sérgio Reis foi um suicídio. Musical, mais suicídio.
Jorge Ribbas e eu andamos compondo uma modinha para Bolsonaro:



EU E MEUS BOTÕES (6)

Vocês estão abafando. Todo mundo está falando de vocês. Até o Richard Muniz, um cartunista paraibano. Trabalhei com nos anos de 1970, no extinto jornal O Norte."Poxa, você é vivido hein patrão", disse com toda simplicidade Mané. "O patrão não é brinquedo, não", emendou Zé. "Vocês são uns bobos, o seu Assis já conheço de longa data", amostrou-se Jão. Vamos parar com isso, propus.

O cantor e compositor Cacá Lopes tem dito que gosta de todos os meus botões, especialmente Lampa. "O que?", espantou-se o desabrido Lampa. E no seu estágio normal, passou a cutucar as unhas com o punhal.

Zoião disse que tem ouvido e lido alguns comentários sobre si próprio e companheiros. "Que eu sou dos bons sou", afirmou sem nenhuma modéstia.

Lado a lado os irmãos Biu e Barrica apenas comentaram, em uníssono: "É isso aí, gente!".

Atento, mas até aqui em silêncio, Zilidoro comentou ironicamente: "esse Biu e esses Barrica são uns convencidos, patrão"! E emendou: "eu não quero dizer mais nada. Quero apenas que o patrão, que sabe tudo, conte-nos a história do folclore. Até porque hoje 22 de agosto é o dia dos folclore".

Confesso que fui pego de surpreso, de calças curtas. Mas, enfim, lá vai:


O POVO É SÁBIO

Quem já não ouviu falar que “agosto é mês de desgosto”?
Pois é, esta é só uma das milhares e milhares de frases carimbadas pela boca do povo.
E esta aqui: “quem cochicha, o rabo espicha”.
Claro, esta serve para todos nós peregrinos do céu e da terra: “quem tem boca vai à Roma”.
Tem outra que diz: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo”. Aliás, outro dia uma amiga me contou que certa vez inventou de bater boca com uma senhora que o tempo parece ter esquecido de levar e boca vem e boca vai, as duas findaram por se desentenderem completamente. A amiga então lhe dirigiu essa velha frase do folclore. Resposta:
-Você tá pensando que eu sou o que, uma cavala?
A minha amiga riu muito e apaziguadora apenas disse:
-Eu estou lhe provocando só porque eu gosto de ouvir a senhora falar, e como fala!
Hoje é o Dia Internacional do Folclore, que os países civilizados certamente comemoram.   
A palavra folclore é uma palavra que ainda não tem nem duzentos anos. Ela surgiu da curiosidade de um arqueólogo inglês chamado William John Thoms (1803–1885).
Um dia, Thoms enviou uma longa carta à redação da revista de Atheneu, de Londres. Nessa carta ele demonstrava toda a curiosidade que nutria em torno das coisas que o povo fala e faz. Coisas que têm a ver com anedotas, histórias infantis, cantigas, rezas mágicas, pragas e tudo mais que tem a marca anônima e indelével do povo.
Pois bem, o conjunto de todas essas coisas vindas, surgidas, criadas, por obra e graça do popular, têm a ver com folk-lore, de origem anglo-saxônica. Em tradução livre e espontânea: folclore vem a ser nada mais nada menos do que ciência do povo.
O meu querido Luiz da Câmara Cascudo detestava a expressão folk-lore.
Cascudo –que bela palavra como sobrenome para um ser tão importante para o Brasil- foi um dos nossos mais importantes e o mais prolífico estudiosos do saber popular. Deixou cerca de 150 títulos publicados, dos quais cerca de 10 ou 15 podem se achar por aí.
Aprendi muito com o mestre Cascudo. O folclore é de fato uma ciência de suma importância para a compreensão da vida. Toda inteligência passa pelo saber do povo.
Há uns cinco séculos, outro cidadão inglês e também de nome William, no caso, Shakespeare, inventou de passar todo seu tempo a escrever histórias; histórias. Do povo para o povo.
Pois bem, grosso modo, podemos afirmar que toda obra de Shakespeare é baseada no tesouro em que se encerra a sabedoria popular. E o que fez Shakespeare, antes e depois, fizeram outros grandes nomes da literatura e música que não morrem. Bach, também fez isso, por exemplo.
O folclore é tão importante que até faz parte do imaginário de mestres da música erudita como o húngaro Béla Bartok (1865-1945).
Em 1923, Bartok decidiu compor uma obra em homenagem às cidades que deram o nome de Budapeste. E de sua mente privilegiada saiu a Suíte das Danças. Nessa música o autor expõe, a partir do imaginário, o que seria na sua visão, folclore.
Entre nós, brasileiros, Tom Jobim, Zé Dantas, Luiz Gonzaga e tantos e tantos, foram céleres beber na fonte imorredoura da sabedoria do povo.
Asa Branca e Assum Preto são boas amostras disso, cá entre nós.
Viva o folclore brasileiro!

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