Seguir o blog

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

HOJE É O DIA DO REI DO BAIÃO

O dia 13 de dezembro foi todo de alegria e festa na humilde casa de longo e fértil quintal, erguida na fazenda Caiçara, Exú, PE, habitada por Ana de Jesus e Januário José dos Santos; ela doméstica e da roça e ele sanfoneiro e afinador de foles. O motivo da alegria foi a chegada do segundo dos nove filhos que o casal teria ao longo do tempo. O recém nascido, Luiz, se tornaria o mais inspirado e famoso tocador de sanfona de Pernambuco e do Brasil todo.
A história de Luiz Gonzaga do Nascimento é uma história muito bonita, comum e muito bonita. Era um menino aparentemente igual a todos os meninos do seu tempo, mas o que o fazia diferente era a sua cara redonda de lua e as brincadeiras de que participava junto com a molecada da fazenda, que pertencia aos ricos Alencares.
O jovem Luiz tinha dezessete anos quando fugiu de casa, depois de levar uma pisa dos pais, por desobediência doméstica, essa história é contada no filme Gonzaga: De Pai Prá Filho, do qual participo como consultor musical. Ele serviu o exército em Minas e Piauí.

"Eu participei de um monte de revolução: a de 30, a de 32 e outras mais, Brasil afora, inclusive no Mato Grosso", ele me disse em entrevista que publiquei em 1978 no extinto suplemento dominical Folhetim do paulistano Folha de S.Paulo, justificando que não matara ninguém, sequer dera um tiro de revólver, fuzil ou espingarda. "Eu era corneteiro, mô fio!".

Assis Angelo, Luiz Gonzaga e o padre João Câncio em foto de 1978


Sanfoneiro autodidata, Luiz Gonzaga era também um grande melodista. No seu repertório, constam o total de 626 músicas por ele gravadas. Dessas, apenas 51 aparecem como sendo de sua autoria. Isso mostra que ele era um artista que abria mão das suas composições para destacar a obra de outros compositores, iniciantes inclusive. Claro, ele compôs em parceria com muita gente boa, com Humberto Teixeira, por exemplo, ele dividiu a parceria em 20 clássicos. Com Zé Dantas, o dobro disso. O pernambucano João Silva foi quem mais assinou músicas com o Rei do Baião: 56.
Uma vez lhe perguntei como e quando surgiu o apelido de Rei. Depois de gargalhar ele respondeu: "Sou o Rei do Baião, do Xote, do Forró, do Xaxado e das Marchinhas Juninas".
A obra de Luiz Gonzaga está espalhada em todos os quadrantes brasileiros e em boa parte do mundo, em francês, em Inglês, alemão, holandês, espanhol, japonês e até em Rapanui, que é a língua oficial da Ilha de Páscoa.

Assis com folhetos do
cordelista Paulo de Tarso

Sobre ele, o Rei de tantos ritmos, há mais de 40 livros publicados e centenas de folhetos de cordel, além de mais de 500 músicas compostas e gravadas em sua  homenagem. Eu escrevi o terceiro: Eu Vou Contar Prá Vocês. Depois publiquei Dicionário Gonzagueano, de A a Z; e Lua Estrela, Baião A História de Um Rei, esse último em 2011, pela Cortez Editora. E já pela metade, estou concluindo Luiz Gonzaga, o Divisor de Águas da Música Brasileira e em Paris deixei iniciado um documentário prá cinema sobre o grande sanfoneiro. Também escrevi um poema que foi musicado por Oswaldinho do Acordeon. Esse mesmo poema eu gravei no cedê Salve Gonzagão, produzido pelo cantador mineiro Téo Azevedo e vencedor do Grammy latino, em 2013.
Há uns anos, eu convenci a deputada paraibana Luiza Erundina a apresentar um projeto na Câmara Federal, criando
o dia Nacional do Forró. Esse projeto foi aprovado e chancelado pelo então presidente da república Luiz Inácio da Silva.
Hoje, portanto, é dia do nascimento do Rei do Baião e dia Nacional do Forró. Ah! Hoje também é o dia de Santa Luzia. Essa santa era a santa de devoção do filho famoso de Ana e José Januário. Ele nasceu vendo 100%, mas no começo dos anos 60, sofreu um acidente de carro, em Santos, SP, e perdeu a luz do olho esquerdo.
Eu não sofri nenhum acidente de carro, mas perdi a visão dos dois olhos, e daí, né? Mas escrevi um Prece a Santa Luzia, prá mim, para Luiz e para todos os cegos do mundo, clique:

 


TRECHOS

Luiz Gonzaga o Rei do Baião

Autor: ARIEVALDO VIANA

Eu admiro o cangaço
Apesar da violência
Dos engenhos o bagaço
Porque a minha vivência
Tem sido neste sertão
Pesquisando Lampião
Patativa e Conselheiro
Cultura que não se esmaga
E ouvindo Luiz Gonzaga
Nosso maior sanfoneiro


No município de Exu
Divisa com o Ceará
Nos sertões do Pajeú
Do Juazeiro pra lá
Nasceu este nordestino
Artista desde menino
Cantando xote e baião
Dia 13 de dezembro
De doze, inda me lembro
Nasceu o Rei do Baião

POSTAGENS MAIS VISTAS