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domingo, 11 de dezembro de 2022

CANTOR BOM DE BOLA × JOGADOR BOM DE MÚSICA (1)

A relação entre música e futebol é antiga, como antiga é a relação entre futebol e músicos. Em resumo: não é de hoje que artistas fazem música pra futebolista e futebol. E não é de hoje também que futebolistas deixam o futebol pela música.
No final dos anos de 1940, os paraibanos Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda deixaram, respectivamente, o Botafogo e o Treze Futebol Clube para seguirem a carreira de compositor e cantor.
Do Botafogo, de João Pessoa, Jackson era goleiro.
Do Treze de Campina Grande, Genival foi atacante em várias posições.
Há muitas histórias curiosas no campo do futebol.
Línguas irresponsáveis diziam à boca pequena que Manezinho Araújo, o rei da embolada, gostava muito de jogar pelada. Até aí tudo bem. O detalhe é que tais línguas diziam ainda que Manezinho entrava em campo como dono da bola e uma faquinha inocente presa à cintura.
Quanta maldade!
Que Manezinho gostava de futebol, isso eu sei. A prova é que nos legou a embolada Futebol na Roça.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, não carregava faquinha na cintura. Porém, sempre há um porém, mandava no jogo. A prova, para quem duvida, está na música Lá Vai Pitomba. É engraçada, como Siri Jogando Bola.
Anastácia, a rainha do forró, achou graça quando eu disse uma vez que Gonzaga gostava de futebol. Ela: "Ele gostava mesmo era de pelada". E não é a mesma coisa? E ela: "Te liga, Assis! Quando falo pelada, falo de pelada mesmo! De mulher pelada, entende?".
Na verdade, na verdade, os mais próximos ao rei do baião dizem que se ele não fosse estéril teria tido filhos suficiente para formar uma população do tamanho do município de Exu, onde nasceu.
Anastácia entra para a história do futebol como a primeira mulher a compor e a cantar uma música para a Seleção brasileira. Foi em 1970, quando o Brasil ganhou o Tri, no México. Título: Bola na Rede.
Não são poucos, na verdade são quase todos os cantores e compositores que têm abordado o futebol como tema de carreira e obra. Chico Buarque, por exemplo.
Em 1978, Chico criou um time só para si e seus amigos: Politheama, que tem sede no Centro Recreativo Vinícius de Moraes, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro.
Todo mundo sabe, mas quem não sabe já é tempo de saber que Chico é torcedor absolutamente fanático do Fluminense. O cantor Ciro Monteiro chegou a tentar cooptá-lo para o Flamengo. Chico respondeu com uma música: Ilmo. Sr. Ciro Monteiro Ou Receita Pra Virar Casaca De Neném.
Da mesma maneira que há muitos e muitos compositores e cantores apaixonados por futebol, o contrário pode ser dito e confirmado. Exemplo: Zico, o Galinho de lances inesquecíveis no Flamengo, chegou até a gravar disco junto com Fagner.
Em 1982, o meio-campista Júnior entrou em estúdio e gravou o samba Voa Canarinho. A ideia era embalar a Seleção brasileira de futebol. Deu certo. Vendeu 650 mil cópias. Entusiasmado, gravaria depois três LPs.
Júnior toca vários instrumentos de percussão, incluindo pandeiro.
Em maio de 2010 eu o entrevistei para o livro A Presença do Futebol na Música Popular Brasileira. Leia um trecho:

Assis — Na família tem outro profissional de futebol?
Júnior — Profissionalmente só o meu irmão mais novo, que jogou por algum tempo na Portuguesa, do Rio. O meu pai (Leovegildo Lins Gama) foi ponta-esquerda amador. Os amigos dizem que ele era muito bom.

Assis — O escritor Guimarães Rosa, autor de Grande Sertões: Veredas, dizia que todo ser inteligente era paraibano ou nascia em Minas Gerais, e como torcedor teria de ser Flamengo. É isso?
Júnior — Generosidade dele, mas eu me encaixo mais ou menos nesse formulário, né?

Assis — O Flamengo foi o time da sua vida. Mil novecentos e setenta…
Júnior — Eu só joguei no Flamengo, no Brasil. De 1974 até 1984. Voltei em 1989 e fui até 1993. Fora isso, três anos de Torino e dois anos de Pescara, na Itália.

Assis — Como a música entrou na sua vida?
Júnior — A música e o futebol são dois “embaixadores” do Brasil em qualquer parte do mundo. Eu nasci escutando música. Meu bisavô era um artesão de violino. Aprendi a tocar pandeiro vendo e ouvindo o meu tio Valter, irmão da minha mãe, tocar nas rodas de samba, quando eu tinha a idade de nove, dez anos. Eu não consegui tocar instrumentos de cordas e praticamente obriguei o meu filho Rodrigo a aprender a tocar violão, cavaquinho, banjo. A música está sempre me acompanhando [...].

Assis — Qual foi a primeira vez que você entrou num estúdio de gravação…?
Júnior — A primeira vez foi em 1978. Mas pra valer mesmo foi em 1982, com Alceu Maia. Foi ele quem me fez gravar “Voa Canarinho”. A última vez foi no ano passado, com Tereza Cristina no Samba Social Clube, cantando uma música do Paulo César Pinheiro e do Moacyr Luz. Foi um privilégio, inclusive, porque a música que gravamos (“Samba Bom de Bola”) fala de futebol e música. Faz essa analogia, música e futebol.


Pois é, há muitas histórias interessantes no mundo do futebol.
Em 1982, o compositor Max Nunes e o humorista Jô Soares criaram um personagem cri cri chamado Zé da Galera. Esse Zé torrava a paciência do técnico Telê Santana. Queria, porque queria, que Telê enchesse a seleção de pontas: ponta-esquerda, ponta-direita ...
É isso e muito mais.

Foto por Flor Maria.

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