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sexta-feira, 29 de março de 2013

HOJE É DIA DE PAIXÃO E ZÉ DA LUZ

Caso ainda estivesse conosco, o paraibano de Itabaiana Severino de Andrade Silva, de alcunha Zé da Luz, faria hoje 99 anos de idade. Ele foi um dos mais inspirados poetas do Brasil, tão grande quanto o seu conterrâneo pré-modernista Augusto dos Anjos, nascido há 120 anos a se completar em abril próximo, dia 20. Augusto foi um erudito e Zé da Luz um poeta popular de graça e sensibilidade incomuns, como bem nos mostra em As Flô de Puxinanã, resultado de paródia que fez numa ano qualquer dos 30 do poema As Flô de Gerematáia, de Napoleão de Menezes, constante do seu livro Brasil Caboclo:
 

Três muié ou três irmã,
Três cachôrra da mulesta,
Eu vi num dia de festa,
No lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais ribusta
Era mermo uma tentação!
Mimosa flô dos sertão
Qui o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
Tinha uns ói qui ô! Mardição!
Matava quarqué critão
Os oiá déssa minina!

Os ói dela paricia
Duas istrêla tremendo,
Se apagando e se acendendo
Em noite de ventania!

A tercêra, era a Maroca.
Cum um cóipo munto má feito.
Mas, porém, tinha nos peito
Dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
Quando ela passou pru eu,
Minhas venta se acendeu
Cum o chêro vindo dos bicho!

Eu inté, me atrapaiava,
Sem sabê das três irmã
Qui eu vi im Puxinanã,
Quaá era a qui mi agradava...

Inscuiendo a minha cruz
Prá sair desse imbaraço,
Desejei morrê nos braços
Da dona dos dois cuscús!!! 

É dele também o poema constante do livro O Sertão em Carne e Osso Ai! Sesse!...:

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse!?
Mas porém, se acontecesse
Qui São Pêdo não abrisse
As portas do céu e fosse,
Te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse,
Prá qui eu me arrezorvesse
E a minha faca puxasse,
E o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
Tarvez qui nós dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virge tôdas fugisse!!!
 

Zé da Luz morreu no Rio de Janeiro, no dia 12 de fevereiro de 1965.

SEXTA DA PAIXÃO

A Semana Santa na tradição católica culmina na Sexta da Paixão, sem carne vermelha à mesa.
O tempo é de Pascoa; Pascae e Paska, em latim e grego.
De passagem, de ressurreição de Cristo e renovação da vida é a data.
Foi em latim, língua quase morta, que Bento 16 confessou a um grupo de visitantes, no Vaticano, que estava cansado e iria deixar o Papado.
Um choque sentido no mundo todo, mas a confissão passaria batida se uma assessora de imprensa de lá não soubesse a língua.
A cultura popular registra abundantemente o martírio de Cristo até sua crucificação.
Do cordelista José Pacheco da Rocha são estes versos, do folheto Os Sofrimentos de Jesus Cristo:

DENTRO DO LIVRO SAGRADO

São Marcos com perfeição
Nos faz a revelação
De Jesus crucificado
Foi preso e foi arrastado
Cuspido pelos judeus
Por um apóstolo dos seus
Covardemente vendido
Viu-se amarrado e ferido
Nas cordas dos fariseus.


Ontem à noite, em Santana do Parnaíba, SP, à beira do rio Tietê, um grupo de atores foi bastante aplaudido pela encenação da Paixão de Cristo.
O mais recente CD das mineiras Celia e Celma, Lembrai-vos, traz o poema Estava a Mãe Dolorosa (Stabat Mater), do século 13, de autoria atribuída ora ao papa Inocêncio (c.1160-1216), ora ao frade franciscano Jacopone da Todi (c.1230-1306) musicado por desconhecidos ao longo do tempo e que a agora a dupla recuperou. Ei-lo:

Estava a mãe dolorosa

Junto ao pé da cruz, chorosa
Enquanto o filho pendia
Mãe de Jesus transpassada
De dores ao pé da cruz
Rogai por nós, rogai por nós
Rogai por nós a Jesus
Oh, quão triste e quão aflita
Se viu a sempre bendita
Mãe de nosso Redentor
A qual chorava e gemia
Porque as penas crués via
De Jesus seu doce amor
Viu mais, depois de açoitado
Foi em uma cruz pregado
Jesus, seu filho inocente
Viu mais, seu Jesus querido
Despedaçado e ferido
Morrer por nós cruelmente
Dai-me ó mãe, fonte de amor
Parte dessa vossa dor
Para eu convosco chorar.
...
Acima, detalhes de folhetos de cordel de Tarcísio Pereira, Apolônio Alves e Abraão Batista.

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