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quinta-feira, 27 de março de 2014

A REVOLTA DOS MARINHEIROS

Ontem fez 50 anos que os marinheiros brasileiros se levantam em terra contra o que eles identificavam como desmandos, perseguições à categoria etc.
A deflagração da revolta foi na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro.
Até então vivíamos em clima de relativa democracia.
Vivíamos.
Lembrando: a nossa Constituição não garantiu - como deveria - a posse imediata do vice-presidente João Goulart como presidente da República em 1961, após a estrondosa renúncia de Jânio Quadros.
Na ocasião ele se achava na China, é verdade, mas isso não era razão para que se tornasse o imediato sucessor de Jânio.
Ele só virou presidente do Brasil depois de uma costura política que mudou o sistema político, de presidencialista para parlamentarista.
O ano de 1964 começa, portanto, em 1961.
Mas nesse mês de março há 50 anos, o caldeirão Brasil fervia, de Norte a Sul.

CIRCO
Hoje é o Dia do Circo, que foi criado em comemoração ao palhaço Piolin.
Piolin, de quem falo no livro A MENINA INEZITA BARROSO, era um cidadão paulista, de Ribeirão Preto, nascido no dia 27 de março de 1897.
Mário de Andrade o adorava.
Sim, ele era palhaço. De profissão.
 

quarta-feira, 26 de março de 2014

JOAN BAEZ E VANDRÉ, O ENCONTRO

No último fim de semana eu conheci em São Paulo uma das mulheres mais incríveis do mundo, a norte-americana Joan Chandos Baez.
Joan nasceu no distrito nova-iorquino de Staten Island e essa foi a segunda vez que ela veio à capital paulista para cantar.
A primeira foi em 1981, quando o general João Figueiredo a proibiu de cantar em território nacional. Mas mesmo assim ela cantou e cantou bonito fora do palco do teatro da PUC a canção Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré.
Centenas de estudantes a acompanharam em coro, tornando o acontecimento inesquecível.
Domingo e segunda-feira passados, depois de se apresentar em Buenos Aires, Montevidéu e Santiago, Joan voltou a cantar a canção de Vandré junto com o público que lotou o Teatro Bradesco, na zona Oeste da cidade.
O ponto alto foi a presença de Vandré no palco, emocionando muita gente.
Sim, sem dúvida, foram profundamente marcantes as apresentações de Joan Baez em São Paulo. Primeiro por sua elegância, talento e categoria ímpares de intérprete incontestável da canção popular, depois pela presença histórica do autor de Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores.
Na primeira noite, Vandré subiu ao palco e ficou calado enquanto a sua música era cantada por todos.
Na segunda noite ele subiu ao palco e, para surpresa geral, declamou com emoção e firmeza trechos de um poema que fez para homenagear São Paulo, cidade que o acolheu no início dos anos de 1960.
Esse poema, Soberana, é inédito.
Após a declamação ele ainda surpreendeu a plateia ao deixar um recado na forma de praga e desabafo para os algozes dos tempos da ditadura militar que levaram o Brasil à escuridão por duas décadas inteiras e mais um pouco http://www.youtube.com/watch?v=ThIqzq60Y8s:
- Pra quem pensava que podia me calar, aquele silêncio de não se aguentar!  
Essa frase eu ouvira dele horas antes na minha casa, mas não imaginei que ele fosse pronunciá-la no palco.
Pois é, Vandré continua absolutamente surpreendente. Tanto, que no primeiro instante não acreditei que ele estivesse falando sério quando no início deste mês me telefonou do Rio de Janeiro pedindo para que eu promovesse esse encontro com Joan, que me disse em entrevista que fiz para o meu programa de rádio que vai gravar Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores.
Também perguntei se podemos esperar em breve um álbum intitulado Joan Baez e Geraldo Vandré Juntos. Ela disse que só depende dele.
Ao nosso lado, enigmaticamente, ele apenas riu.
Aguardemos.

segunda-feira, 24 de março de 2014

VANDRÉ, DITADURA E JOAN BAEZ

Há exatos 50 anos, quando o Brasil mergulhava na escuridão da ditadura militar, que duraria 21 anos, o cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré lançava à praça o primeiro dos seus cinco LPs, Geraldo Vandré, pela etiqueta Audio Fidelity, já extinta.
Antes, ele estreara em discos de 78 voltas por minuto.
O LP Geraldo Vandré n 2008, de 1964, já trazia um repertório com títulos que se tornariam clássicos (ao lado).
A obra do famoso autor paraibano não é extensa, mas é intensa.
Ontem no início da noite a cantora norte-americana Joan Baez cantou no palco do Teatro Bradesco, do Bourbon Shopping São Paulo, no bairro paulistano de Perdizes, a guarania Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, uma espécie de hino da resistência civil dos anos de chumbo vividos no Brasil.
Embora convidado para cantar, o autor permaneceu de pé, respeitosamente, ao lado da artista, ouvindo em silêncio a sua interpretação e a reação de alegria e surpresa da plateia que lotava todos os 1.456 poltronas do teatro, que tem cerca de 700m2.
Eu estava lá, assistindo da cochia, e depois do espetáculo perguntei:
- Você se emocionou, Geraldo?
Ele olhou pra mim e mentiu:
- Não.

sábado, 22 de março de 2014

O RÁDIO DE HOJE E MORAES SARMENTO

Nos últimos meses tenho me tornado um compulsivo ouvinte de rádio, navegando por todas as ondas e escapado milagrosamente de me afogar be0las, embora mais das vezes morra de tédio e raiva.
No correr desses mergulhos dá pra perceber sem demora que as AM e FM se equiparam no nível, péssimo, de programação que apresentam e que beiram o insuportável.
O que dizer, por exemplo, dos horários ditos pastorais com figurinhas carimbadas como o cavernoso Davi Miranda fazendo, aos berros, a cabeça dos miseráveis em desespero?
Esses enganadores poderiam facilmente ser enquadrados em diversos artigos do Código Penal por prometerem o imponderável a seus amalucados e ingênuos seguidores.
A música brasileira perde feio para a música dos gringos no dial FM; no AM, então...
E o jornalismo, hein?
Ainda feito com base no noticiário impresso e no que se posta na Internet, o jornalismo do rádio encontra alguma salvação na Pan, Band, Estadão e CBN, com entradas frequentes chatas de repórteres dando informações sobre o trânsito sempre louco de Sampa.
Diga-se de passagem: as entrevistas em estúdio da Pan são quase sempre muito boas e comprometidas pela coloração partidária as opiniões dos colunistas políticos, entre os quais o cabeção Reinaldo Azevedo, sempre disposto a falar de tudo, até do sexo dos anjos.

MORAES SARMENTO
Hoje faz 16 amos da morte do radialista campineiro Moraes Sarmento (acima, comigo na foto), famoso por sua posição radical a favor da nossa boa música popular. Ele nasceu no dia 14 de dezembro de 1922.
Sarmento começou a carreira no rádio aos 15 anos de idade, na Educadora de Campinas.
Por um desses inexplicáveis acasos da vida, fui eu quem ocupou o seu horário na Rádio Capital AM, de São Paulo, com o programa São Paulo Capital Nordeste, no ar por mais de seis anos.

HAROLDO BARBOSA
O radialista carioca Haroldo Barbosa, de batismo Ary Vidal, teria feito ontem 99 anos de idade. Ele chegou a desenvolver várias atividades profissionais, além de radialista. Ele iniciou no rádio em 1933, na Philips. Foi compositor de sucesso e amigo de Noel Rosa e Wilson Batista. Entre suas músicas mais conhecidas se acham De Conversa em Conversa e Barnabé, curiosa expressão que identifica até hoje o funcionário público de baixa renda, digamos assim.

quarta-feira, 19 de março de 2014

MEIO CONTO QUASE NADA

... E tinha um bom coração!
Sim, era de bom coração a pessoa que fazia até pé de pimenta murchar.
Bastava ela pegar na planta, que a planta não resistia, murchava e morria.
Era mulher e até bonita, daquelas branquinhas sardentas, metida, provocativa que só.
Era fogosa.
No norte das Gerais não tinha quem não a conhecesse.
Havia quem a achasse meio gente, meio bruxa.
E um dia ela casou-se e teve uma penca de filhos.
As meninas, umas mais bonitas do que as outras.
Os meninos pareciam ter azougue nos olhos e faziam sucesso entre as moçoilas.
E um dia ela murchou e morreu.
Ninguém chorou.

terça-feira, 18 de março de 2014

IGNORÂNCIA E GUERRA-PEIXE

O petropolitano Cesar Guerra-Peixe completaria hoje 100 anos de idade, mas até este momento, a data e o personagem, não mereceram nenhuma referência no rádio ou televisão. Os jornais também amanheceram mudos quanto ao assunto, como as revistas de fim de semana.
Somos mesmo umas bestas.
Enquanto continuarmos assim o Brasil será de todos, menos nosso.
Que pena.
Guerra-Peixe foi um dos maiores artistas que já tivemos.
Ele começou a carreira com sete anos de idade, tocando bandolim, aos oito violino, aos nove piano e depois tudo quanto é de corda e outros instrumentos, em seguida virou compositor, maestro, tudo.
Grade Guerra!
E nós aqui batendo palmas para o lepo lepo.
Que tristeza!
Sim, o Brasil oficial não conhece e nem liga para o Brasil das artes e dos artistas.

domingo, 16 de março de 2014

O FENÔMENO DO ABANDONO

Este é o último domingo de verão deste ano de 14.
Por estas bandas de cá do Sudeste não caíram do céu as águas que um dia levaram o soberano maestro Tom Jobim a, digamos, se inspirar numa simples moda do povo, Água do Céu, para gerar a bossa famosa Águas de Março. "É chuva de Deus, é chuva abençoada/É água divina, é alma lavada", diz a letra - e a melodia - que não é do Tom, mas essa é outra história.
Na região Norte, em Rondônia principalmente, tem chovido horrores. Lá o número de vítimas já passa dos 100 mil.
O Rio Madeira (acima), por exemplo, já subiu perto dos 20 metros acima do seu nível, cobrindo cidades e matando gente e peixes.
Essa tragédia de excesso de chuvas no Norte me faz lembrar a tragédia secular da seca no Nordeste, que um dia, em 1877, fez o imperador dom Pedro II prometer vender até a última joia da Coroa para pelo menos amenizar sofrimento das vítimas.
A seca daquele tempo fez pelos menos 500 mil almas, deixando insepultos e à mercê dos urubus os seus corpos.
Claro, a coroa permaneceu intacta brilhando sobre a coroa do rei, que segundo os compêndios era um cara justo e sensível, estudado, sabedor das coisas do seu reinado.
Muitas outras grandes estiagens se repetiram em 32, que fez o poeta popular Patativa do Assaré compor sem plágio a obra-prima A Morte de Nanã; 79, que quase levou às lágrimas o general de ferro João Batista de Figueiredo, que detestava cheiro de povo; 85...
Em 1985, choveu tanto no Nordeste que o Nordeste quase se acaba.
Chico, Fagner, Gonzaga, Gonzaguinha, Gil, Jobim e outros artistas se juntaram para gravar um disco cuja renda se reverteu às vítimas.
Nesse mesmo ano, Michael Jackson e outros se juntaram com o mesmo propósito para atender as vítimas da seca na África, que matou uma quantidade enorme de pessoas, incluindo mulheres e crianças.
O projeto brasileiro se chamou Nordeste, Já http://www.youtube.com/watch?v=g4Om94w_61g.
O projeto estrangeiro se chamou USA and Africa, com a música We Are The World.
O projeto brasileiro não deu certo porque as emissoras de rádio do Brasil só tocaram, e à exaustão, a música dos gringos.
Você sabe por que as secas e as enchentes ainda são um fenômeno no Brasil?

sábado, 15 de março de 2014

MATANÇA DE JUMENTOS

A Ciência e a Arqueologia provam que o homem moderno nasceu na África.
Na África também nasceu o jumento, que o rei do baião Luiz Gonzaga chamava de “nosso irmão”.
Mas esse animal, referido no Evangelho de Mateus (2, 13-18) como meio de fuga de Jesus, Maria e José para o Egito, está sendo abandonado nas ruas e estradas do interior do Brasil, e não só do Nordeste.
O que se faz com o jumento é maldade.
Num trecho da letra O Jumento é Nosso Irmão, de 1967 (LP O Sanfoneiro do Povo de Deus, RCA), dizem os autores Gonzaga e José Clemente:

O jumento sempre foi
O maior desenvolvimentista
Do sertão...
Ajudou o homem na vida diária
Ajudou o homem...
Ajudou o Brasil a se desenvolver,

Arrastou lenha...
Madeira, pedra, cal, cimento, tijolo, telha
Fez açude, estrada de rodagem,

Carregou água pra casa do homem,
Fez a feira e serviu de montaria
O jumento é nosso irmão...

E o homem em retribuição o que lhe dar?
Castigo, pancada, pau nas pernas, pau no lombo,
Pau no pescoço, pau na cara, nas orelhas...


A ideia agora é abatê-los e levá-los  à mesa em pratos finos e ao calor das grelhas de churrasco.

sexta-feira, 14 de março de 2014

CONEXÃO REPÓRTER E IMB

Carlos Massa, o Ratinho de Silvio Santos, foi o personagem central do programa Conexão Repórter, levado ao ar anteontem à noite pelo SBT.
O programa tem a assinatura do experiente Roberto Cabrini, que aparece aí na foto junto comigo e Luciana Freitas, mais Osvaldo Vitta, o Colibri; e Sinval de Itacarambi Leão, diretor-fundador da Revista Imprensa.
Embora bem feito etc., essa edição do Conexão não deixou de parecer um release ou matéria encomendada.
Nada contra que se saiba que Ratinho tem grana saindo pelo ladrão, que é marido exemplar, que é filho exemplar, que é pai exemplar e exemplar amigo dos amigos exemplares frequentemente brindados com churrascos e cantorias nas suas fazendas no interior de São Paulo e no Paraná.
O público merece, não é mesmo?
Mas, cá pra nós, eu trocaria o perfil do Ratinho no Conexão por uma reportagem no mesmo Conexão sobre o Instituto Memória Brasil, como já fizeram a TVT https://www.youtube.com/watch?v=HBA2G_7jepI, a TV Brasil https://www.youtube.com/watch?v=nYDbO1ln6vk e a TV Mega https://www.youtube.com/watch?v=pIwkiRBTnUA, além das revistas Bravo http://bravonline.abril.com.br/materia/reliquias-sonoras e Brasil.

quarta-feira, 12 de março de 2014

O SAMBA EM LIVRO

Artistas Negros da Música Popular e do Rádio é o título do novo livro (ao lado, reprodução da capa) da jornalista paulistana Thaís Matarazzo, que será lançado sábado 15, em tarde festiva na Casa de Portugal, ali na Avenida da Liberdade, 602, a partir das 15h30.
Resultante de demorada e cuidadosa pesquisa, o livro é um mergulho na história pouco conhecida do samba em São Paulo, especialmente no que se refere a personagens que deixaram uma obra ainda carente de apreciação e reconhecimento, caso de Vassourinha, Henricão, Risadinha e Chocolate.
A respeito do livro de Thaís, André Domingues, autor de Caymmi Sem Folclore (2009) e coautor de Batuqueiros da Paulicéia (2009), com Osvaldinho da Cuíca, escreveu o seguinte:
A ainda obscura história do samba de São Paulo recebe mais um luminoso facho de luz nesta obra da jornalista e pesquisadora Thaís Matarazzo . Nela, vidas de humildes batuqueiros são contadas com o mesmo cuidado de quem fala sobre um papa ou um imperador. É uma inversão interessante: no lugar de milagres e batalhas, ficam registradas as batucadas, os cordões, as escolas de samba, os programas de rádio. É um livro que chama a atenção, sobretudo, pela narrativa rica em detalhes. Detalhes que, de um lado, refletem uma busca quase obsessiva da autora pela verdade dos acontecimentos passados; de outro lado, iluminam muitas outras histórias que ainda esperam – quase imploram! – por serem contadas”.

SINVAL DA GAMELEIRA
Há pouco, recebi do compositor e cantador mineiro Téo Azevedo a notícia da morte do sanfoneiro e construtor de rabecas Sinval da Gameleira (acima, com Téo), vítima ontem, à tarde, de um fulminante ataque do coração no momento em que chegava em casa, em Alto Belo, no norte de Minas, onde o conheci há uns dez anos, talvez mais. Sinval, que deixa dois filhos, era nascido na beira do Rio das Pedras, um berço de artistas populares de Minas. O seu nome de batismo era Sinval Alves Botelho e tinha cerca de 50 anos de idade.

RODOLFO COELHO
Na quarta 19 de março de 1919, nascia em Rio Largo,
em Alagoas, provavelmente o mais profícuo autor de folhetos de cordel no Brasil,
Rodolfo Coelho Cavalcanti.
Rodolfo desapareceu da convivência humana no dia 7 de outubro de 1985, vítima de atropelamento, em Salvador, BA. Fica o registro.

terça-feira, 11 de março de 2014

ZÉ DANTAS, REFERÊNCIA GONZAGUEANA

Hoje neste espaço eu ia falar sobre a atuação de alguns profissionais da opinião, como José Nêumanne Pinto no rádio, jornal e TV; Joseval Peixoto e Alexandre Garcia, no rádio e TV; Reinaldo Azevedo no rádio e internet; Clóvis Rossi, no jornal; e outros.
Mas não, acabo de me lembrar do grande brasileiro que foi o pernambucano, de Carnaíba, José de Sousa Dantas Filho, mais conhecido por Zé Dantas ou Zedantas, grafia de que ele muito gostava.
Zé Dantas, que além de compositor era médico, partiu para a eternidade no dia 11 de março de 1962.
Ele se achava no Rio de Janeiro quando isso aconteceu.
Dentre os mais de 50 parceiros que teve, Luiz Gonzaga encontrou em Zé Dantas e Humberto Teixeira os seus maiores referenciais.
Humberto e Luiz deram forma ao baião, em 1946.
Zé Dantas e Luiz deram forma ao forró, em 1949.
Como expressão, o baião já existia antes de Humberto e Luiz.
O forró, também.
A história é comprida, contarei depois.
Repito: Humberto e Zédantas são os maiores referenciais musicais de Luiz, embora a história tenha destacado mais o nome de Humberto, injustamente.
Na reprodução do selo discográfico acima, o primeiro registro do ritmo forró.

segunda-feira, 10 de março de 2014

OPINIÃO E PONTO DE VISTA

Esse negócio de “politicamente correto” entendo como uma espécie de tábua de salvação para quem vê na cautela extrema um meio cínico, preguiçoso e covarde de sobrevivência sem riscos.
Não, não tem a ver com a fala daquele personagem do Rosa no Grande Sertão, o Riobaldo.
Tem a ver com oportunismo, safadeza e puxa-saquismo mesmo, na expressão popular e mais corrente nesse nosso cotidiano selvagemente globalizado, onde cultura é palavrão e educação é confundida com subserviência de modo puro e simples.
Os malefícios provocados pela prática do não opinar são muito maiores do que opinar.
No primeiro caso, a massa encefálica do sujeito tem o seu processo de desenvolvimento natural estancado.
Isso é péssimo; e para recuperá-lo depois, hein?
A ciência ainda não sabe exatamente quanto utilizamos do nosso cérebro, mas é certo que se o estimularmos ele se desenvolverá melhor.
Daí não ser difícil crer que um cidadão esclarecido, de ideias próprias, é cidadão que enriquece a si mesmo e ao seu país, inclusive por provocar debates sociais e abrir clareiras no aqui agora e para o tempo que vem depois.
Opinião e ponto de vista são as mesmas coisas.

domingo, 9 de março de 2014

AS FLORES NÃO MORREM

Laura Alouche deixou este mundo hoje por volta das 9 horas, após permanência no Hospital Santa Paula, na zona Sul da capital paulista. Mas ela preparou-se antes, espiritualmente, e foi sem pressa para os braços de Deus.
O padre Ramirez, da Igreja São Judas Tadeu, lhe deu a extrema unção.
Laura gostava de flores e de fazer comida árabe para os amigos.
Nascida na terra encantada e cheia de magia dos faraós, das mil e uma noites, ela um dia trocou o Egito pelo Brasil e aqui formou uma enorme legião de amigos (ao lado) e fãs.
Era adorada.
De uma família de mais seis irmãos, Laura falava com fluência várias línguas e era considerada uma excelente profissional da tradução.
Durante anos ela contribuiu para o sucesso da gravadora e editora musical Fermata do Brasil, onde conheceu e ajudou a inúmeros artistas em início de carreira.
O seu corpo foi sepultado nas colinas do Gethsêmani, sob uma garoazinha fina que cobria silenciosa e discretamente os mais de 100 mil m2 do cemitério.
As flores não morrem; elas são uma continuidade diária e eterna de si próprias, como a esperança.
Viva Laura!

sábado, 8 de março de 2014

BLOCOS DE CARNAVAL E CIDADANIA

Cena 1:
É terça de carnaval e o Minhocão, no centro da capital paulista, treme ameaçando cair com milhares de foliões felizes da vida. Um deles perde os óculos. A informação é rapidamente passada e repassada e em poucos minutos ele passa de mão em mão e chega ao dono, míope.

Cena 2:
Na Vila Madalena, zona Oeste da capital paulista, pequenos grupos com seus próprios carrinhos ou o que valha, coolers como chamam os gringos, portando cervejas, se misturam à multidão. De repente uma das pessoas desses grupos esbarra num folião e perde desculpas, mil desculpas.

Cena 3:
Uma voz feminina, forte, reboa no ar: “Somos da paz, queremos a paz e a alegria é a palavra de ordem, agora. Quem veio aqui para roubar, para fazer o mal suma!”.

Estes três casos ocorreram durante a brincadeira de blocos de carnaval nas ruas da cidade de São Paulo neste ano de 2014; o último com o afro Ylu Oba de Min, que reúne cerca de duas dezenas de milhar de foliões, predominantemente mulheres.
O contraponto desses três casos foram outros três ocorridos na Vila Madalena, onde a boemia quase sempre leva à embriaguez e a atos de irresponsabilidade como os registrados na delegacia de polícia da região.
Mais de um milhão de pessoas, incluindo crianças e famílias inteiras, engrossaram este ano os blocos que chegaram a se duplicar na capital do mundo, São Paulo.
A leitura que se tem, é: os paulistanos estão espontaneamente reconquistando as ruas para se divertir.
E isso é bom, e isso é cidadania.
Viva a paz e alegria de viver!

quinta-feira, 6 de março de 2014

LIXEIROS E SOCIEDADE

É absolutamente justa a paralização dos garis no Rio de Janeiro, por melhores condições de trabalho e aumento da merreca que ganham como salário. Fizeram bem, sim, em parar para chamar a atenção de todo mundo e mostrar, assim, a importância social que têm e o injustificável desmerecimento público por seu labor.
O serviço de coleta de lixo no Brasil data do tempo do Império.
A primeira pessoa que se dispôs profissionalmente a cuidar do nosso lixo foi o francês Pedro Aleixo Gary, daí a origem do nome que identifica os homens - e mulheres - que recolhem diariamente o lixo que a sociedade gera e põe na rua.
Em São Paulo, as mulheres que limpam a cidade são denominadas de margaridas.
A expressão, criada com o início da construção do Metrô, nos anos de 1970, lembra a flor, a mulher e também o gari.
Em homenagem a esses profissionais anônimos a nossos olhos, que trabalham quase como sombras, algumas poucas músicas foram compostas (clique abaixo). A mais conhecida é a de Adoniran Barbosa, http://www.youtube.com/watch?v=Q-9tcWzb55s.
Paris já foi considerada a cidade mais suja do mundo. Lá o serviço de limpeza urbana só se efetivou em 1919.
Nesse serviço, Londres foi pioneira.
A nota dissonante nessa história toda é que há quem humilhe esses nobres trabalhadores.
No réveillon de 2009, o apresentador de TV Boris Casoy envergonhou a classe dos jornalistas e todos os brasileiros ao fazer um grave comentário na Bandeirantes, ao vivo, contra os garis http://www.youtube.com/watch?v=0H9znNpeFao, mas ele pagou por isso na Justiça em decisão proferida pelo juiz da 8ª Câmara de Direito Privado de São Paulo.
Você sabe quanto ganha um gari? E um deputado?
Você conhece alguma rua com o nome de um gari, e de um deputado, senador, governador, presidente...?
http://www.youtube.com/watch?v=E0mOHo9lRmo

quarta-feira, 5 de março de 2014

VIVA INEZITA BARROSO!

Inezita Barroso, de batismo Ignez Magdalena Aranha de Lima, nasceu numa quarta-feira de cinzas há exatos oitenta e nove anos e um dia completados hoje.
Você sabia que fui eu quem escreveu o primeiro livro (acima) sobre ela?
Pois é, Inezita merece todas as honras, todas as glórias por ser, definitivamente, uma brasileira completa, que ama e canta a sua terra e a sua gente.
Quer saber mais?
Clique:
http://www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular12.pdf 


segunda-feira, 3 de março de 2014

O PAPA E O PALAVRÃO

O papa Francisco é normal, isto é: humano.
Viva o papa!
Ontem na hora do Angelus o meu xará argentino pronunciou de modo errado uma palavra de origem italiana e acabou por dizer um palavrãozinho, coisa do tipo "carajo" ou "cazzo".
Se cada um de nós não acumular riquezas para si mesmo, mas colocá-las ao serviço dos outros, neste c..., neste caso, ele corrigiu rapidamente, “a Providência de Deus torna-se visível neste gesto de solidariedade".
A fala do papa me fez lembrar alguns artistas que falavam palavrões a torto e a direito para melhor se expressar, como a atriz Dercy Gonçalves e a cantora Isaurinha Garcia.
Tem hora que um palavrãozinho faz bem, e está provado; tanto que meu amigo Mário Souto Maior – que já está no céu – chegou a escrever um dicionário (acima) sobre o tema.
Eu, cá com meus botões, ficou imaginando que expressão o papa Francisco pronuncia quando dá uma topada.

domingo, 2 de março de 2014

RC E LEPO LEPO!

O caldeirão fervente do besteirol musical continua gerando sucessos relâmpagos e descartáveis, naturalmente.
Mais uma vez, as tranqueiras chegam da Bahia e atendem pelo nome geral de furdunço e lepo lepo.
Furdunço é um movimento cultural que agrega tendências musicais, definem os inspirados foliões baianos entre um esquindô e outro.
Para lepo lepo, bem, os sábios de plantão da costa baiana ainda não encontraram uma definição, digamos, politicamente correta, em que pudesse se encaixar a palavra cultura, por exemplo; mas não é difícil imaginar do que se trata.
Lepo lepo é... 
Clique:
https://www.youtube.com/watch?feature=share&v=AHVS5DW434g&app=desktop

É UMA BRASA!
Sintonizado na Jovem Pan, ouvi que o velho monarca da outrora jovem guarda embolsou um cachê de R$ 25 milhões para fazer um comercial para a TV em que mente, dizendo que parou de comer carne (acima). Essa grana equivale a um edifício de 13, opôs!, andares de 138m2 no bairro paulistano do Itaim ao custo de R$ 1,8 milhão, que é quanto custa um apartamento da sua imobiliária.
Numa boa?
Eu faria esse anúncio pela metade do cachê e ainda ajudava os pobres da minha rua, HAHAHHA.   

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