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segunda-feira, 7 de abril de 2025

OS CAMINHOS DA INCLUSÃO, NA TV CULTURA




Dados colhidos pelo IBGE em 2010 davam conta de que havia no Brasil pouco mais de 500 mil pessoas vivendo completamente cegas, isto é: sem um pingo de luz nos olhos. 
Passado pois 15 anos, não sabemos quantas pessoas se acham na escuridão. 
Os dados de 2010 indicavam também que a região com maior número de cegos totais era o Nordeste. 
Historicamente, cegos existem desde sempre. E famosos, como o poeta grego Homero. São dele os clássicos Ilíada e Odisseia, que contam histórias gigantes da Antiguidade. Haver com Troia. Detalhe: Troia é posterior a Homero... Bom, deixa pra lá!
Até hoje tem chovido cegos à granel, na Terra.
Em tempos mais recentes, entraram para a história da literatura cegos ou mais ou menos cegos como o romancista James Joyce (Ulysses), Aldo Huxley (Admirável Mundo Novo) e Jorge Luís Borges (O Aleph).
Borges sofreu descolamento de retina quando tinha já uns 50 anos de idade. Sem nada enxergar, ditou seus textos a sua mulher Maria Kodama, até morrer em 1986.
Pois é, a vida lá atrás continuou  como  continuará até os fins dos tempos. Óbvio, tão óbvio como nascer e morrer. 
A sociedade, seja em que tempo for, continuará pendendo para um lado e para o outro. Sempre haverá brigas e tudo mais. Não haverá ser perfeito, seja homem seja mulher ou bichos do mato.
Sempre haverá tempo para reflexão. 
Depois de amanhã quarta 9, às 22 horas, a TV Cultura SP levará ao ar o longa documentário Vem Comigo, os caminhos da inclusão. A direção é da jornalista Sylvia Jardim. Ela diz:
"Esperamos que esse seja apenas o início da jornada deste trabalho que mostra que todos nós, seres humanos, almejamos praticamente as mesmas coisas".
A obra trata do dia a dia e das dificuldades de pessoas que conquistam espaços na sociedade hoje dita moderna. Excelente, bom de ver e de ouvir. 
Entre as pessoas que se deixam gravar se acham uma dançarina surda, um programador sem braços, um atleta cadeirante...  Bom, e um jornalista escritor metido a besta, que sou eu. 

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (177)


Ao cantar o que acaba de cantar, Zé da Luz inesperadamente de todos chama a atenção para a figura alta, esguia, com ar irônico e despachada que acaba de chegar à roda de cantoria. Durante muito tempo encheu o saco de muita gente e do clero, inclusive. Só não foi excomungado porque o papa do seu tempo estava provavelmente de pileque, ou soltando palavras de amor no ouvido de alguma beata. Oliveira e Marinho ofereceram suas violas ao mesmo tempo ao ilustre visitante, que sorriu. Pegou a viola de Oliveira e começou:


As excelências do cono

é ser bem grande, e papudo,

apertado, bordas grossas,

chupão, enxuto, e carnudo.


Com cachopinha de gosto

em cama de bom colchão, 

nos peitinhos posta a mão, 

e o pé no fincapé posto:

ajuntar rosto com rosto, 

dormir um homem seu sono, 

acordar, calcar-lhe o mono

já quase ao gorgolejar,

então é o ponderar 

As excelências do cono.


Eu na minha opinião,

segundo o meu parecer,

digo, que não há foder, 

senão cono de enchemão;

porque um homem com Sezão,

inda sendo caralhudo,

meterá culhões, e tudo,

e assim mostra a experiência, 

que do cono a excelência

É ser bem grande, e papudo.


É também conveniente, 

que não tenha o parrameiro 

a nota de ser traseiro, 

e que seja um tanto quente:

que às vezes mui facilmente 

são tais as misérias nossas,

que havemos mister as moças

para regalo da pica

com cono de pouca crica,

Apertado, bordas grossas.


Mas a maior regalia,

que no cono se há de achar,

para que possa levar

dos conos a primazia

(este ponto me esquecia)

para ser perfeito em tudo,

é nunca se achar barbudo,

por dar bom gosto ao foder,

como também deve ser

Chupão, enxuto, e carnudo.


Ao findar o último verso cantado, Gregório inclina-se um pouco com a viola nas mãos em agradecimento à chuvarada de palmas e hurras que lhe são dirigidas por todo mundo. Oliveira toma pra si a palavra. Diz, entusiasmadíssimo, que Gregório é sem dúvida um mestre na arte da cantoria: 

— O cantador Gregório nos dá uma aula de graça, saber e espontaneidade discursiva e poética. Abriu o baião com um mote, glosou tudo bonitamente em décimas de cantador.

O entusiasmo contagia todo mundo que, em coro, pede aos gritos que Gregório continue. Sem se fazer de rogado, põe a viola no peito e recomeça:


É este, o que chupa e tira

vida, saúde, e fazenda,

e se hemos falar verdade

é hoje o Amor desta era.

Tudo uma bebedice,

ou tudo uma borracheira,

que se acaba ao dormir, 

e co dormir se começa. 

O Amor é finalmente 

um embaraço de pernas, 

uma união de barrigas,

um breve tremor de artérias. 

Uma confusão de bocas, 

uma batalha de veias, 

um reboliço de ancas,

quem diz outra coisa é besta.


Novas palmas enchem de alegria o ambiente. 

Mocinha de Passira, quieta até agora, aproxima-se do cantador para parabenizá-lo e abraçá-lo com fervor. Puxa-o pelo braço e o leva até à churrasqueira, onde já se acham Jarbas, Julio, Jorge, Mário, Dorneles e Jessier Quirino.

Enquanto isso, Cajú e Castanha pegam de novo seus pandeiros e começam contando lorotas pra emendar num gancho de putaria:


Eu vou mostrar a diferença

Nesse meu repente nobre

Da mulher do corno rico

Pra mulher do corno pobre


A mulher do corno rico

Transa em motel de luxo

Pede só bebidas finas

No conforto rela o bucho

Numa cama bem fofinha

Deita e rola com o urso


A mulher do corno pobre

Transa mesmo é no mato

Sai mordida de formiga

De mosquito e carrapato

É que o danado do urso

Não pode pagar um quarto


A mulher do corno rico

Usa perfume francês

A calcinha é de renda

Troca todo dia três

Camisinha de primeira

Ela exige do freguês


A mulher do corno pobre

Usa perfume fuleiro

A calcinha é de algodão

E fica nela o mês inteiro

A camisinha que conhece

É de tripa de carneiro


A mulher do corno rico

Vive ganhando presente

É vestido, é sapato

É casaco, é corrente

Quando ganha carro zero

Ela fica bem mais quente


A mulher do corno pobre

Essa ai não ganha nada

Ao contrário ela leva

É sopapo, é porrada

Leva murro, leva tapa

Pra ficar mais assanhada


A mulher do corno rico

Tem babá, tem motorista

Só frequenta lugar fino

Tem cartaz com colunista

Muitas vezes com o urso

Sai em foto de revista


A mulher do corno pobre

Coitadinha passa mal

Anda só de coletivo

Só frequenta chaparral

Só é vista com o urso

Em folha policial


A mulher do corno rico

Todo ano faz cruzeiro

Agarrada com o urso

Se diverte no estrangeiro

Do coitado do marido

Ela esbanja o dinheiro


A mulher do corno pobre

Também sai pra passear

Agarrada com o urso

Por aí vai turistar

Na ilha do Maruim

Vai tomar banho de mar

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