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domingo, 18 de setembro de 2022

CARLOS GOMES: A GLÓRIA NO TREM DO ESQUECIMENTO (2, FINAL)

A história de Carlos Gomes é uma história tumultuada, de altos e baixos, a começar do assassinato da sua mãe Fabiana Maria Cardoso Gomes (1816-1844). Ela tinha 28 anos de idade e foi morta a facadas e tiros. O assassino não foi preso e as suspeitas do crime recaíram no marido, que à época agarrou-se ao álibi de que enquanto a mulher era morta, estava ausente de casa jogando baralho com amigos.
Maneco Músico tinha, à época, 51 anos de idade e era pai de 26 filhos.
Essa história já foi contada por mim e pelo romancista mineiro Rubens Fonseca (1925-2020), no livro O Selvagem da Ópera.
No livro O Brasileiro Carlos Gomes, lançado pela Companhia Editora Nacional em 1987, eu faço uma biografia sobre o autor campineiro. A respeito, o compositor e maestro cearense Eleazar de Carvalho (1912-1996) escreveu de próprio punho: "Parabéns a Assis Ângelo por reviver o tempo passado e, como observou Roberto Machado, o tempo original, absoluto, idêntico à eternidade, que só a arte pode proporcionar".
Eleazar regeu algumas das principais orquestras do mundo e foi um dos professores da Juilliard School de Nova York. Fora isso foi diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica de São Paulo, OSESP, e criador do Festival de Inverno de Campos do Jordão.
E o jornalista e poeta Fernando Coelho escreveu: "O Brasil é o país da mentira. E do esquecimento. É
só ver o que fazem com a Música Popular Brasileira, entre outras coisas. Ainda bem que o jornalista Assis Ângelo, teimoso que é, com este livro sobre Carlos Gomes, vai continuar incomodando os que insistem em empastelar a nossa memória".
Em matéria de página inteira, o tabloide Il Corriere destacou o esquecimento do maestro Carlos Gomes na edição de 21 de setembro de 1987.
Durante muito tempo, é fato que Carlos Gomes recebeu pedradas da parte de seus patrícios. Entre esses, alguns maiorais da famosa Semana de Arte de 22. Atacou Oswald de Andrade, por exemplo: "Carlos Gomes é horrível. Todos nós o sentimos desde pequeninos. Mas como se trata de uma glória da família, engolimos a cantarolice toda do Guarani e do Schiavo, inexpressiva, postiça, nefanda. E quando nos falam do absorvente gênio de Campinas, temos um sorriso de alçapão, assim como quem diz: - É verdade! Antes não tivesse escrito nada... Um talento!" (Jornal do Commercio, São Paulo, 12 de fevereiro de 1922).
A obra de Carlos Gomes é extensa. Ele escreveu peças do repertório popular como lundus, polcas,
mazurcas, modinhas e hinos, além de missas e cantatas. Dentre as óperas que assinou Il Guarany foi a que lhe deu mais prestígio. No decorrer dos anos de 1870 essa ópera correu mundo.
Em 1914, o tenor italiano Enrico Caruso gravou em Nova Iorque, EUA, uma parte da famosa ópera baseada no livro homônimo de José de Alencar: Sento una Forza Indomita. Aliás, são inúmeras as gravações dessa ópera nas línguas mais diversas. A primeira gravação completa em disco ocorreu no Brasil em 1959. O autor dessa façanha foi o paulistano do Brás Armando Belardi (1898-1989). Essa gravação sairia na versão CD, numa caixa, em 1993. Dois anos depois, na Alemanha, seria a vez do maestro brasileiro John Neschling entrar no circuito regendo a ópera que virou também uma caixinha. Nessa versão, o tenor Plácido Domingo interpreta o parceiro de Ceci, Pery.
Mais de uma centena de livros conta a história do filho de Maneco Músico.
O compositor e maestro campineiro Antonio Carlos Gomes morreu doente e pobre em Belém do Pará, no dia 16 de setembro de 1896, exatos 100 anos antes de Eleazar de Carvalho. Tinha 60 anos de idade.

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Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

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