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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (44)

"Lula! Lula! Lula! Lula, lá!!!", disse desandado com toda a força dos pulmões o aparentemente pacato Biu.
A fala-grito de Biu chamou a atenção imediata de todos. "Você tá doido?", cutucou forte o irmão Barrica. Zoião, com aqueles zoiões, caiu na risada e disse: "Gostei, gostei! O Biu tem razão. O caminho político/eleitoral leva-nos ao Lula. Lula lá! Domingo é Lula lá!!!". Mané, de braços cruzados soltou um pum. E nem disfarçou. Todos apertaram o nariz e Jão esculhambou: "Seu feladaputa!".
Calma, calma. Peidar faz parte da vida.
"Certo. Tudo bem, mas não precisa fazer isso aqui diante da gente. A gente não merece isso. A gente tem que ter educação", disse Jão. Zé o apoiou, batendo palmas: "Isso mesmo! Isso mesmo! A gente tem que se respeitar".
Bom, pessoal, domingo 2 é dia de eleição. O Brasil precisa mudar para melhor e domingo é o dia. Concordo plenamente com o Biu. Aqui tem algum bolsonarista...? 
Zilidoro levantou-se pedindo palavra: "Claro que aqui não tem nenhum louco querendo morrer, querendo ditadura militar. Somos pobres, mas limpos. Somos cidadãos, seu Assis. Aproveito o momento pra dizer o seguinte: vamos votar domingo dia 2, mas é importante não sairmos de casa vestindo roupa da cor vermelha ou das cores da bandeira brasileira. As nossas cores foram sequestradas, como outro dia disse o craque do cartum Fausto Bergocce. Não podemos aceitar provocação de quem quer que seja!".
O alagoano Zé, que não é muito chegado a questões políticas, disse que há muito foi decepcionado pela política. Lembrou que a sua terra deu o primeiro militar golpista: Deodoro da Fonseca, marechal. Lembrou que o segundo marechal presidente do Brasil foi Floriano Peixoto. Floriano também era alagoano. Lembrou também que Alagoas deu outro presidente: Fernando Collor. Disse, de cara amarrada, que o Collor roubou, roubou e roubou e por isso foi obrigado a renunciar. Foi obrigado, ressaltou, a deixar a cadeira de presidente no dia 2 de outubro de 1992. 
"Puxa vida! O Zé sabe muita coisa! Eu não sabia que o Zé sabia tanta coisa", disse exaltado o caboclo Barrica.
Em silêncio, Zé levantou-se do tamborete em que estava e foi até a geladeira.
Cada dia mais eu me orgulho de vocês. A política faz parte da nossa vida. Infelizmente há muito político safado, ladrão. Safado e ladrão se acham em todas as profissões. Na medicina, no jornalismo... E no Clero! E no Clero! 
Acompanhei pela TV o último debate político deste ano de 2022. Muita baixaria! O Coiso mentindo, mentindo, mentindo o tempo todo. E na maior cara de pau. Mentiu, mentiu, mentiu! Baixaria total! E teve ainda aquele padreco cujo o nome eu nem sei. Peço licença pra chamar aquele padreco de feladaputa. "Eu sei. Eu sei o Lampa diria a mesma coisa", falou o sempre bem comportado Zilidoro.
Para minha surpresa, os meus botões se levantaram batendo palmas. E o Zé: "É isso mesmo! É isso mesmo! A gente vai votar pelo bem do nosso país. Domingo dia 2 é o nosso dia, é o dia da liberdade. Domingo vai ser o dia em que nós todos diremos um basta à esculhambação! O Lula vai estar na presidência da República de novo. O mundo tá de olho. De olho no Lula e de olho em nós, brasileiros. O Brasil e nós merecemos o melhor que a vida pode dar".
Olhando assim de soslaio captei lágrimas caindo do olhos de Zoião. 
Entusiasmado, Barrica levantou-se e disse: "Concordo com tudo que ouvi até agora. O debate da Globo terminou no começo da madrugada. Vi e ouvi tudo. Vibrei quando Simone Tebet respondeu ao prepotente Bolsonaro. Esse aí, o Coiso, tentou desmoralizar Mara Gabrilli acusando o PT de ter matado Celso Daniel. E Simone disse simplesmente: por que você não pergunta ao Lula? Ele tá aqui. Ao dizer o que disse Simone tascou um carimbo de 'covarde' na cara feia do Coiso".
"Eu gostei da Simone, foi ótima! A Soraya também deu troco ao Coiso, quando o chamou 'Nem-nem', simplesmente porque nem estuda, nem trabalha. É vagabundo. Lascou-se!", disse por sua vez Mané.
Bom, abraços. Hoje é sexta e amanhã é sábado. Vou dar um pulinho no hospital para ver como está o Lampa. "O Lampa tá em coma e os médicos muito pessimistas", falou Mané. Barrica balançou a cabeça concordando com o que disse Mané. Biu passou a mão no rosto. Zilidoro falou do carinho que tem por Lampa: "Ele é o que é. Lampa é grosso, deseducado, mas é sincero".
Lembrei que setembro está findando e que o mês de setembro é o mês em que surgiu o rádio no Brasil. Aproveitei pra dizer que costumo fazer uma musiquinha aqui e ali ao lado de grandes artistas, como Jarbas Mariz. Antes de dizer o que estou dizendo, Jão disse que tem ouvido muitas referências a minha pessoa no rádio e na televisão. Na TV, ele disse, viu o jornalista Renato Lombardi falar coisas bonitas sobre mim. Agradeci dizendo que Lombardi é suspeito. Eu e Lombardi somos amigos de velha data. Trabalhamos no Estadão, eu como chefe de Reportagem Política e ele como repórter da Editoria Policial. 
O Jão ainda disse que leu um texto sobre mim escrito pelo colega jornalista Flávio Tiné. Disse e foi lendo, sem nem pedir licença:

Dia 27, ele faz 70 anos e vamos festejar condignamente, mesmo sem Tinhorão, Audálio e outros que se foram. Quem sabe Vandré dê o ar de sua graça, ou José Hamilton Ribeiro. Com certeza nosso personagem não os verá mas deverá reconhecer a voz de antigos companheiros e artistas que um dia entrevistou.
O Instituto Memória Brasil, que reúne acervo de grande valia e é também sua casa, será invadido por amigos e amigas. Assis não os verá, mas ouvirá tudo. Seus amigos relembrarão quem é ele, que veio da Paraíba para São Paulo com o mesmo talento dos nordestinos que um dia invadiram o Sul Maravilha para nos orgulhar.
Francisco de Assis Ângelo ficou cego já cinquentão, depois de ver de perto, amar, entrevistar e conhecer pessoalmente a nata da MPB e da Cultura nacional. Durante anos colaborei com ele sem o conhecer pessoalmente. Falávamos ao telefone. Como assessor de imprensa do HCFMUSP eu o ajudava intermediando incontáveis entrevistas e reportagens na TV Globo, onde ora produzia, entrevistava ou escrevia.
Até que ele me procurou queixando-se da vista, que andava falhando aqui e ali.
Para resumir, a Oftalmologia diagnosticou glaucoma, em estado avançado. Várias cirurgias depois, ele estaria completamente cego. Aquilo que começara como inocente embaço, tornou-se cegueira irreversível. Acionados por mim, os mais competentes especialistas não conseguiram contornar o problema. Hoje, Assis Ângelo não vê sequer os carros que passam sob a janela do apartamento onde mora só mas nunca está sozinho, graças à presença diária de filhas, amigas e amigos. À tardinha, quando o sol se esconde por detrás dos prédios da Alameda Eduardo Prado, deita numa rede e apela ao celular para contatar alguém de sua intimidade. Fala e chora. Chora e fala.

Pra encerrar, sugeri ouvirmos O Samba do Rádio: 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (43)

Como vai o Lampa?, perguntei. "Quem esteve ontem no hospital acompanhando os movimentos dos médicos entorno de Lampa foi o Mané", disse Zoião. Zé acrescentou: "A gente continua se revezando no hospital". E Jão: "O cabra tá ruim. A situação dele não é boa, não". Eu, coçando o queixo: Hmmm... Ele continua desacordado? "Sim, infelizmente Lampa continua desacordado e respirando através de máquinas", informou Biu. 
A situação de Lampa está péssima, como péssima está a situação do Brasil. Bom pessoal, torçamos pelo bem de Lampa. Torçamos pelo bem do nosso País. Quero aproveitar o momento para apresentar a vocês o colega jornalista Manoel Dorneles e o maestro Júlio Medaglia.
"Muito bom, muito bom! O Dorneles tem a ver com o presidente Vargas?", perguntou Barrica. E Zilidoro: "Prazer, prazer. É um prazer conhecer pessoalmente o maestro Júlio Medaglia. Eu o conheço só através do rádio e da televisão. Sou fã de carteirinha do maestro".
"Obrigado, Zilidoro. Eu também já ouvi falar muito a seu respeito. O Assis me fala muito de você", disse o maestro Medaglia.
"Eu perguntei mas não ouvi a resposta sobre se o jornalista Dorneles tem alguma ligação familiar com o presidente Getúlio Vargas", cobrou Barrica.
Manoel Dorneles sorriu e agradeceu a cobrança feita pelo botão Barrica. E disse: "Diretamente, não. Mas indiretamente, quem sabe, há algum elo entre nós".
O jeito de falar de Dornelles arrancou risadas entre os botões.
Zoião, o mais à vontade, lembrou que domingo 2 é dia de o Brasil mudar para melhor: "O Coiso que está aboletado na cadeira de presidente afunhenhou o nosso País. O Brasil tá no buraco! O Brasil não aguenta mais o Coiso. O lugar do Coiso é a caixa-prego, o inferno, lugar de onde nunca deveria ter saído!".
Diante do desabafo de Zoião, o polido Zilidoro emendou: "Do jeito que as coisas andam, estamos todos chegando ao fim. Zoião tem razão, o Brasil está afunhenhado!".
Pra tudo tem remédio. Existem remédio pra tudo quanto é doença. Sim, o Brasil está doente. E não tem essa de procurar terceira via. Não dá tempo. A gente bota o Lula lá e o Haddad cá, em São Paulo. No Senado a gente bota o Aldo Rebelo, na Câmara federal o Alfredinho... "Pra Estadual a gente bota a Najara...", interrompeu Biu. Perguntei: Quem é Najara? E ele: "Najara é uma professora muito simples, moradora do município de Taboão da Serra". Hmmm... "O professor de história Marco Antônio Villa é candidato a deputado federal, o sinhô gosta dele seu Assis?", perguntou Jão.
"Domingo 2 é dia de votação e vamos votar muito bem. O nosso povo está ligado e sofrendo muito com tudo que ora se passa no País. Aliás hoje depois das 10 da noite vai haver um debate na Globo reunindo  um monte de trolhas, incluindo o cafajeste que ora ocupa a cadeira mais importante da empresa Brasil. Lula estará lá. E, nós também", disse Zilidoro acrescentando: "E um detalhe curioso,  de acordo com o calendário católico, domingo dia 2 é o Dia dos Anjos da Guarda. E hoje 29 é o Dia dos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel. Mas o que eu quero dizer é o seguinte: li no jornal, vi na Internet, ouvi no rádio e tv muita gente falando de um certo senhor que acaba de completar 70 anos de idade. Esse certo senhor tem um nome: Assis Angelo. Li textos muito bonitos a seu respeito. Textos, por exemplo, escritos pelos jornalistas Flávio Tiné e Fernando Coelho". E sem pedir licença, em voz alta começou a ler o texto do Coelho:
 
Assis Angelo é meu compadre. Não foram poucas as nossas viagens a tantas pautas da vida. É o maior especialista da atualidade em todas as músicas do Brasil. Desconheço quem conheça música popular brasileira mais do que ele. Repórter aguçado e completo. Trabalhamos juntos na Tv Globo. Acordei o inoxidável jornalista dezenas de vezes, quando ele comandava a assessoria de imprensa do Metrô de São Paulo, e ele nunca faltou com explicações sobre problemas no sistema. Estivemos juntos, em 1978, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, quando Lula assumiu a presidência, naquela histórica greve que mudou o olhar brasileiro sobre o trabalho nas fábricas. Eu, pela Rádio Globo, ele, pela Folha de S. Paulo. Cantamos juntos com Nélson Cavaquinho numa tarde enrugada de frio, no Hotel Jaraguá, centro de São Paulo. Depois de vários goles no cafofo do bar Mutamba. Fomos buscar o rouco Nélson, de outra feita, na Toca da Angélica, atrasado que o poeta estava para o show com Clementina de Jesus na Sala Funarte, em Sampa. Assis me apresentou para o inesquecível Patativa do Assaré. Não consigo somar em quantos botecos deixamos uma prosa carregada de nordestinidade. Acho que Geraldo Magela, do Consulado Mineiro, tem um diário das nossas frugais bebedeiras crepusculares naquelas mesas consagradas ao sabor das Geraes. Gonzagão, o Lua, amigo do Assis, ganhou uma biografia sensível, o maestro Carlos Gomes, também. O apartamento do Assis é um arquivo vivo de discos, partituras e sabedoria musical. O único espaço disponível, ele dorme, num catre de vigor, esperança e largo sorriso paraibano. Cego há alguns anos, por precipitação insana do destino, Assis Angelo enxerga a alma do mundo. Éramos amigos inseparáveis de Audálio Dantas, o encantador de coragem na resistência à ditadura militar. Por concessão deles, sou amigo dele e do monumental poeta e jornalista José Nêumanne Pinto, ambos da Paraíba. Assis é uma enciclopédia de vida, e, por falta de espaço, escrevi um bilhete de amor ao amigo de décadas. Parabéns, velho.
 
Zilidoro, você me deixa encabulado dizendo essas coisas todas. Acudindo-me na hora certa falou o maestro Júlio Medaglia: "Bobagem, Assis. Bobagem. Eu já passei por isso. Estou na casa dos 80. Estou sabendo que o cartunista Fausto também está adentrando na casa dos 70. Você está com ótimas companhias nessa casa. Você vai ver, vai ter tempo suficiente pra saber quem mora nessa casa. A minha casa, a de 80, mora o querido Geraldo Vandré. Mora muita gente boa. É bom morar na casa dos 70, dos 80...".
"Elogio faz bem à saúde. Geralmente os elogios são mentirosos mas como tais, verdadeiros", filosofou a meu favor o amigo Manoel Dorneles.
Agradeci a Júlio e a Manoel pelas palavras de incentivo e dei por encerrada a nossa conversa.
"E o Lampa, quando é que o sinhô vai visitá-lo?", perguntou Barrica. Amanhã, respondi. "Eu andei fazendo umas continhas, seu Assis. O sinhô acaba de viver 840 meses, 3.650 semanas e mais de 25.000 dias. Pois é, setentão!", disse o botão Zé,  se levantando da cadeira. Palmas.
Pra me deixar ainda mais encabulado, o botão Zé inventou de dizer que entre os amigos que foram me abraçar pelo aniversário estava o alagoano Aldo Rebelo, que cantou de improviso junto com o poeta repentista Sebastião Marinho. E o vídeo, a prova do crime, ele exibiu. Este:

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

POIS É, ADENTREI À CASA DOS 70

Não estava programado, não estava na agenda essa história de comemoração dos meus setentinhas. Fazer o que, hein?
Confesso que foi uma noite muito bonita a noite de ontem 27.
A chuva foi um detalhe inesperado e marcante da noite de 27.
Fiquei besta que nem um besta.
Rodeado de amigos, dei graças à vida. 
Entre tantas pessoas lindas estiveram comigo cortando bolo, tomando cana e vinho, os radialistas Carlos Silvio e Luís Wilson. Jornalistas como Cilene Soares e sua irmã Cida, Flávio Tiné e o editor querido do newsletter Jornalistas&Cia, Eduardo Ribeiro. Repentistas da grandeza do meu conterrâneo Sebastião Marinho. Antes, telefonemas de Wilson Baroncelli e Wilson Seraine, esse lá das terras piauienses. 
Zé Neumanne e sua deusa Isabel ligaram entre chuvas, raios e trovões dizendo da impossibilidade de chegarem para um abraço.
Entre os amigos presentes o embolador Castanha sem Cajú, o cantor e compositor Jarbas Mariz, meu parceiro musical em três ou quatro títulos incluindo O Samba do Rádio; Cadú e Gregory, do grupo de samba paulistano Gato com Fome; as manas mineirinhas Célia e Celma, o maestro Júlio Medaglia, o cantor Raimundo José, a cantora e compositora rainha do forró Anastácia, o cantor e compositor filho de Gonzaguinha, Daniel; a produtora musical Carolina Albuquerque, a Carol; o cantor Júnior, o mestre do cartum Fausto Bergocce, o poeta Moreira de Acopiara, o professor de ginástica Anderson Gonzaga, Maria Tereza minha secretária pra tudo, a vizinha Flávia que ficou encantada com a performance do cantador Marinho; a paulista de Taubaté Lúcia Agostini e o inusitado cantador de pérolas improvisadas Aldo Ribeiro 123 para Senado.
Pois é: Aldo foi ministro disso e daquilo do governo petista Lula e Dilma, antes presidente da Câmara dos deputados. Um cabra de respeito! Cidadão bom de copo. Alagoano. Autor de vários livros e prefaciador de Além do Grito — A grande aventura épica do surgimento da Nação brasileira, do jornalista gaúcho José Antônio Severo.
E de repente, de repentemente, eis que surge como num passe de mágica o baiano de Nova Soure Darlan Zurc que, pomposamente, trouxe dois exemplares da mais pura água que passarinho não bebe. Foi recebido com palmas. Diz que o atraso deveu-se ao dilúvio que cobria São Paulo e regiões próximas. 
De formação Zurc é historiador. Tem livros publicados e tal. 
O evento teve a batuta da minha querida filha Ana Maria, que trouxe a tiracolo seu companheiro Geremias Manoel.
O evento ganhou mais brilho com a presença inesperada de Flor Maria.
Ah, sim! Ia me esquecendo: antes disso tudo vieram para um abraço a querida jornalista Sylvia Jardim e a sua assistente Renata, acompanhadas de uma equipe de filmagem. O lance foi a gravação da minha participação num filme que Sylvia está dirigindo. Nem sei o título, mas deve ser coisa boa.
Ao sair, Luiz Wilson chamou-me a um canto dizendo que o amigo Alfredinho está concorrendo a um espaço na Câmara Federal. Na urna eletrônica aparecerá o seu número: 1389.
Pois é, pessoal, descobri que alegria é felicidade andam juntas depois dos 70.
Nas fotos aí o registro da minha primeira noite na casa dos 70. Quero mais!


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (42)

Perguntei: Olá pessoal. Bom dia a todos, tudo bem?. "Sim, bem. Estamos bem, menos o Lampa", disse Barrica, acrescentando: "O mano Biu está no hospital, estamos nos revezando. Sábado lá ficou Zé e no domingo Jão".
"É, parece grava o estado de saúde de Lampa", achou Mané. "Foi muita porrada que ele levou", emendou Zoião.
No seu canto, após beber um copo de suco de maracujá, Zilidoro opinou: "Precisamos identificar os caras que bateram no Lampa. Isso não se faz, é covardia o que fizeram com ele".
A situação de polarização política está a cada dia crescendo. Isso não é bom. "E não é mesmo, seu Assis", concordou o alagoano Zé.
O cerco está fechando no terreiro bolsonarista. O terreiro é terreno minado, mas o bom senso da maioria deverá prevalecer e o bem vencerá o mal. Barrica, com os olhos inchados de uma noite mal dormida, expandiu seu olhar em 360º e fez "Hmmm... Sei não".
Informei que ainda há muitos eleitores indecisos, segundo as pesquisas de opinião. Zilidoro: "Até agora, do começo do ano pra cá, já foram realizadas mais de 2 mil pesquisas de opinião...". Pra ser exato, Jão levantou a voz interrompendo a fala de Zilidoro, "Este ano já foram realizadas 2.030 pesquisas de opinião, e pelo menos mais 30 deverão ser divulgadas até sábado".
Poxa! Vocês estão afinados. "É preciso que estejamos todos afinados, bem informados", garantiu Jão. "Isso mesmo!", concluiu Zilidoro o raciocínio interrompido minutos antes.
Perguntei se acompanharam no SBT o debate entre candidatos a presidência. "Eu não, eu estava acompanhando a movimentação dos médicos em torno de Lampa", disse Jão.
Bom pessoal, a propaganda política termina na próxima quinta 29. Mesmo dia do debate que a Globo fará. O último antes do eventual segundo turno. Se acontecer o segundo turno, a propaganda será reiniciada no dia 7 de outubro. Nesse dia ficaremos sabendo dos atletas que defenderão as cores da seleção brasileira de futebol no Catar, eu disse.
Ao dar por encerrada nossa fala, fui interrompido por Mané: "Seu Assis, o que o sinhô achou do jogo do jogo da seleção feminina do Corinthians?". Achei ótimo, respondi. As meninas foram um show de damas. São Tetra Campeãs. E que Lampa saia dessa, o mais breve possível. "Sim, vamos rezar!", disseram todos, um tanto tristes.

domingo, 25 de setembro de 2022

CENSO DO IBGE FAZ O RETRATO DO BRASIL (2, FINAL)

Questões políticas impediram a realização do Censo demográfico em 1910 e 1930.
Em 1970, ano da realização do 8° recenseamento, os agentes do IBGE registraram o total de 93 milhões de habitantes. Esse censo deu o que falar, especialmente porque a Seleção Brasileira de Futebol papou o tricampeonato no estádio Azteca, no México. (confira vídeo acima)
A Seleção de 70 foi a melhor de todas, até aqui. Se Pelé já era grande, o rei da bola, com o Tri ficou maior. Bom, mas essa é outra história.
Não custa dizer, e é sempre bom dizer, que o Censo demográfico é de importância fundamental para que saibamos das belezas e misérias que habitam o nosso País. E o que o Censo nos dá é, sempre, um retrato minucioso das nossas realidades.
Em 2006, o IBGE publicou num grosso e primoroso volume a história do século 20. Título: Estatísticas do Século XX. Nessa obra se acha um apanhado geral de tudo que ocorreu no referido período. Nessa obra se acha uma bela entrevista com o economista paraibano Celso Furtado (1920-2004), feita pelo ex-presidente do IBGE (2004-2011) Eduardo Pereira Nunes. Já na primeira resposta à pergunta de Pereira Nunes, Furtado responde: “[...] O Brasil continua sendo uma constelação de regiões de distintos níveis de desenvolvimento, com uma grande heterogeneidade social, e graves problemas sociais que preocupam a todos os brasileiros”.
A entrevista completa pode ser acessada aqui.
Não custa lembrar que o Censo de 2010 trouxe à tona a realidade "do Brasil brasileiro", como diria o compositor e instrumentista mineiro Ary Barroso.
Os pesquisadores de campo identificaram, em 2010, cerca de 46% de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência.
Os cegos totais, aqueles para quem os olhos nada enxergam, aproximavam-se da casa do milhão.
Há poucos dias recebi a visita de um agente do IBGE. Queria saber tudo de mim e tudo de mim eu lhe disse. Disse-lhe primeiramente que perdi a visão total depois de uma série de cirurgias. Descolamento de retina foi a causa que me deixou na escuridão, depressivo e afunhenhado. A CEGUEIRA NÃO É O FIM
Existem poucas músicas que tratam do Censo demográfico. Na verdade eu conheço só uma, aquela que a portuguesinha Carmen Miranda gravou no dia 27 de setembro de 1940 e lançada três meses depois. Autoria: Assis Valente. Gênero: Samba. Título: Recenseamento, gravada nos estúdios da Odeon.
A cantora potiguar Ademilde Fonseca também gravou em LP, 1989, o samba de Valente. Ouça as duas versões e diga qual a melhor:


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 24 de setembro de 2022

CENSO DO IBGE FAZ O RETRATO DO BRASIL (1)

Em setembro de 1872, por decisão do imperador Pedro II, recenseadores foram a campo com o propósito de revelar o Brasil real daquela época.
Em setembro de 2022, a contragosto do presidente Bolsonaro, recenseadores se acham em campo com o mesmo propósito de 1872.
O levantamento feito por determinação de Pedro II chamou-se Recenseamento da População do Império do Brasil. A conclusão foi que havia mais homens do que mulheres. Os brancos somavam 38% dos quase 10 milhões de habitantes. Negros e pardos giravam em torno de 58%. E o índice de analfabetismo se achava na Lua.
O atual Censo demográfico começou no dia 1° de agosto, como em 1º de agosto começou o Recenseamento de 1872. Mera coincidência. Os primeiros já saíram, são estes:
IBGE divulga primeiro balanço da coleta do Censo Demográfico 2022. Na manhã de hoje (30/08), o total de população recenseada era de 59.616.994. Até 29 de agosto, 58.291.842 pessoas haviam sido contadas em 20.290.359 domicílios. Desse total, 36,51% estavam na região Nordeste, 35,51% no Sudeste, 11,87% no Sul, 9,44% no Norte e 6,67% no Centro-Oeste. Considerando os 452.246 setores censitários urbanos e rurais do país, 38,4% estão sendo trabalhados. O estado mais adiantado em termos de percentual de setores trabalhados é o Rio Grande do Norte (53%) e o Mato Grosso (21,81%) tem o menor percentual. Já foram contados 450.140 de indígenas (0,77%) e 386.750 quilombolas (0,66%). Dos domicílios, 2,3% se recusaram a responder, percentual que ainda deve ser reduzido até o final da operação. Estão em campo atualmente 144.634 recenseadores, 78,8% do total de vagas disponíveis.
É importantíssimo o recenseamento de um país.
Um recenseamento registra, de modo minucioso, a realidade de um país. Com esses dados em mãos, o governo tem plenas possibilidades de trabalhar para o futuro. Quer dizer: de planejar políticas públicas a favor da população, inclusive no setor agropecuário.
No governo militar que tinha Costa e Silva como um de seus poderosos de plantão eram distribuídas propagandas em disco de 78 RPM. Num desses discos podia-se ouvir um artista popular dizendo:

Planta, planta lavrador
Com toda disposição
Pois terás a garantia
Do governo da Nação


O atual censo, o 13°, é de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE.
O IBGE foi criado em maio de 1936, na gestão de Getúlio Vargas.
O censo de 1872 foi o primeiro e único do Império.
Já na fase da República houve recenseamento em 1890, 1900, 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (41)

Olá pessoal, tudo bem? Estou sentindo a falta de alguém aqui. Cadê o Lampa?
Meus botões olharam-se e confirmaram: "É mesmo, cadê o Lampa?".
Fui dizendo que o dia está bonito, mesmo com um sol de geladeira. No rigor, o primeiro dia de primavera deste tumultuado ano de 2022. Perguntei se todos tinham visto o resultado da nova pesquisa Datafolha. "Eu vi, eu li, o Lula continua firme como candidato a vencer no primeiro turno", disse Zilidoro.
"Ainda acho cedo cravar o papo de que Lula já ganhou", opinou Barrica. "É, acho que é preciso tomar cuidado com o andor. O andor é de barro", disse Biu. "Ei! O filósofo aqui é o Zilidoro!", falou o botão Zé.
Zilidoro riu, quietinho.
"Aparentemente as ruas estão calmas. E tomara que permaneçam assim", disse Jão. E Mané emendou: "O pessoal do Bulsa tem mais é que ficar quieto. E se perder, enfiar a viola no saco e sumir", falou Zoião.
De repente ouviu-se o ranger de porta. Todos olharam em direção ao local de onde vinha o ruído, o ranger de dobradiças. Era Lampa. Com a cara meio inchada, com hematomas. Estava com uma muleta, arrastando-se, uma perna engessada e ao cumprimentar os colegas mostrou que havia avarias na boca. "O que é isso, Lampa?",  todos perguntaram. 
Mancando, Lampa entrou na casa pedindo licença para se sentar. Todos o ajudaram. Ele estava desarmado, sem seu inestimável punhalzinho. Sentado no seu banquinho, explicou: "Ontem quando saí daqui na minha bicicleta, fui agarrado por uns felasdaputa que me bateram covardemente... Eram caras que eu queria impedir de entrar aqui. Eu não ia votar no Lula, mas agora eu vou!".
"Calma, calma Lampa. Todo dia todo mundo bate em alguém. A violência mata e fere ou fere e mata", disse Zilidoro.
O bom Mané endossou a fala de Zilidoro e disse: "O importante Lampa, é que você está vivo. E isso é tudo". 
É fato que vivemos um momento difícil, angustiante. O Brasil se acha numa enrascada. A sorte, digamos assim, é que o STF e o TSE estão atentos. Tomara que nada de pior nos aconteça. O dia 2 de outubro está chegando, com calma vamos encontrar o caminho para salvaguardar a Democracia e tal. Ninguém vive bem sem liberdade, educação, saúde e trabalho. 
Zilidoro pede a palavra, levantando a mão: "Vamos mudar um pouquinho de assunto? Não sou baiano, sou paulistano. Isso todo mundo sabe, o que todo mundo não sabe é que sempre nutri uma grande admiração por um baiano chamado Heitor dos Prazeres. Esse Heitor foi sambista e pintor. Dos maiores".
"Por que você tá dizendo isso, Zilidoro?", perguntou Mané. Mané é paraibano. "Ora, ora, Heitor dos Prazeres é uma legenda no campo da cultura popular brasileira. Ele nasceu no dia 23 de setembro de 1898, mesmo ano do nascimento do jornalista e estudioso da cultura popular Luís da Câmara Cascudo".
Muito bem, seu Zilidoro. E quando foi que Heitor dos Prazeres morreu?
"Fácil, fácil seu Assis, o grande Heitor morreu no ano em que Chico Buarque e Geraldo Vandré empatavam com as músicas A Banda e Disparada. Isto é, em 1966".
Poxa! Estou muito orgulhoso de você, Zilidoro. Aliás estou sempre orgulhoso de vocês todos, a cada dia a nossa conversa fica mais bonita, rica.
De repente o som de um baque. Era Lampa que caía do tamborete, desacordado. 
"Lampa desmaiou! Lampa desmaiou! Vamos levar Lampa para o hospital! Vamos gente!", acudiram todos.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (40)

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"Oxente! O que é que você está fazendo aí de pé com essa cara feia e de braços cruzados?", perguntou surpreso o botão Mané a Lampa. Como resposta, ouviu: "'Tô aqui cuidando pra impedir a entrada de bolsonaristas".
Mané acomodou-se no seu canto, juntando-se aos demais amigos de conversa.
Pessoalmente, também achei esquisita aquela postura de Lampa. E confesso que não entendi o que ele quis dizer com "'Tô aqui cuidando pra impedir a entrada de bolsonaristas".
Zilidoro foi o último a entrar. Lampa olhou prum lado, olhou pro outro, passou a mão no cabelo, espirrou e acomodou-se no seu tamborete.
Eu: Lampa, ao que me consta, aqui entre nós não há nenhum bolsonarista. A propósito vamos todos votar no melhor candidato pra governar o nosso País e o presidente que se acha ora lá em Brasília não atende aos anseios do nosso povo. Bolsonaro é do mal, é destruidor, é uma pessoa que não merece confiança de gente que é gente. O atual presidente quebrou o País. Ele é negacionista.
Zilidoro: "Pois é, o tal capitão é a favor da morte. Ele lutou contra a vacina e foi a favor do vírus que se transformou em Covid-19. Ele quer muita gente armada, pois quer contar com essa gente para engrossar o seu time de capetas".
Quieto, Lampa ouvia tudo em silêncio enquanto cutucava as unhas com o seu inefável punhal.
"Concordo com tudo que seu Assis falou e concordo também com tudo que falou Zilidoro e acrescento: o Brasil não aguenta mais quatro anos com o Bolsonaro", disse Barrica apoiado pelo irmão Biu.
"Essa conversa tá ficando chata. Essa conversa tá chata", interrompeu o botão Jão. E Zé: "A primavera está chegando. É hoje, logo depois das 10 da noite".
Zoião bateu palmas e disse: "Pra mim, a primavera é a melhor estação do ano".
Jão discordou dizendo que a melhor estação é o verão. E justificou: "É no verão que os nossos olhos brilham mais, especialmente quando estamos na praia".
Zilidoro lembrou que o cantor e compositor Gonzaguinha nasceu no primeiro dia da primavera. E disse mais: "O seu Assis foi amigo de Gonzaguinha e Gonzagão, ele fez ótimas entrevistas com o pai e o filho...".
Mané contou que chegou a ler uma entrevista que fiz com Gonzaguinha e que foi publicada numa das revistas da Editora 3. Mexendo na Internet através do celular, ele começou a ler em voz alta:
Moleque de rua, peralta, arteiro como ninguém. Sempre foi e será. Ainda bem. É carioca, casado; tem 35 anos e dois filhos, Fernanda e Daniel. Ângela é sua amiga-amante-mulher-companheira. Gosta disso. Adora a vida, repudia a morte e luta pela paz da forma como pode: cantando, compondo e falando das mazelas do seu tempo e da dor do seu povo. O seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, mas podem chamá-lo Gonzaguinha, simplesmente.
Depois de ler em voz alta um trecho da entrevista, Mané disse que já estava compartilhando o meu blog com os amigos. Agradeci.
Zé perguntou se eu conheci o violonista Dilermando Reis. Eu disse que não, que não o conheci, mas sei da sua importância para a nossa música popular. Perguntei por que me fazia essa pergunta e ele: "É que hoje é aniversário de nascimento do Dilermando. Ele nasceu em 1916 e morreu em 1977".
Os meus botões estão in-su-por-tá-veis! É muita sabência! 
Cabisbaixo, ainda cutucando as unhas, Lampa apenas ouvia.
"Seu Assis, o sr. ficou sabendo das diabruras do Bolsonaro em Londres e no Plenário da Organização das Nações Unidas?", perguntou Zilidoro. Respondi que sim e que um juiz do TSE proibiu o uso de imagens em que o presidente aparece lá fazendo campanha política. 
De repente Lampa deu um pulo, enfiou o punhal nos quartos e saiu apressado. Ao mesmo tempo, todos perguntaram: Pra onde você vai, Lampa, com tanta pressa? Lampa parou, voltando-se: "Vou pra Brasília!".
Fazer o que em Brasília, Lampa?, perguntei. "Quero ter uma conversinha com esse sujeito que vocês tão falando aí". E nada mais disse, abriu a porta e foi-se.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (39)

"Que vergonha! Que vergonha! Que vergonha, seu Assis!", o bom Mané diz gritando, esbaforido, acrescentando: "Não é possível! Não é possível! Um presidente da República do nosso país dizer o que disse em Nova Iorque".
"É verdade! Eu não acreditei no que estava vendo na televisão: um presidente de um país tão grande e bonito como o nosso, falar o que falou num boteco em Nova Iorque", disse quase gritando, nervoso, o pacato Zé. Jão, por sua vez, balançou a cabeça decepcionado: "Pois é, que vergonha!".
Enquanto esses meus botões falavam, Lampa cabisbaixo cutucava as unhas com seu punhalzinho de estimação. Num momento qualquer, ele fez: "Hmmm... Hmmmrrr!".
Zoião deu uma geral em 360º e cutucou Biu, baixinho: "Sei não, sei não, acho que o Lampa tá tramando alguma coisa. Eu nunca vi esse cabra tão esquisito".
Biu olhou Zoião e baixinho respondeu: "Pois é, pois é, eu acho que você tem razão. O Lampa tá até mudando de cor, que nem um camaleão".
Barrica escutou a fala de Zoião e Biu, passou a mão na cara e espirrou. Depois, disse: "Vocês estão certos. Olha, olha! O Lampa tá se mexendo. Não tô gostando disso".
Pessoalmente, achei lamentável o comportamento do presidente da República lá na casa do Tio Sam. E mim mesmo perguntei: Como é que a mais importante autoridade do Brasil vai a um boteco comer churrasco e pronuncia um discurso mixuruca, trepado numa cadeira?
Antes que eu me estendesse o meu poeta predileto Zilidoro disse: "Um horror, um horror! Decepcionante! O cara vai pra Londres fazer campanha política no rastro de um velório e sepultamento de uma rainha e esculhamba com o candidato mais pontuado a ocupar o seu cargo no Planalto. Um horror! Um horror! Como é que pode!? Esse sujeito aí ainda ameaçou chutar o pau da barraca caso não ganhe no 1º turno com a diferença de pelo menos 60% dos votos do eleitor brasileiro. E isso tudo no plenário da ONU, que ele transformou em palanque de campanha política! É o fim da picada. E sabe o que eu acho mais, seu Assis? Acho que esse cara deveria é estar respondendo a processos criminais, pois o que ele tem feito contra nós, brasileiros, não é brincadeira não".
Lampa, num movimento rápido, olhou nos olhos de Zilidoro, levantou-se do tamborete e com força enfiou o punhal no lugar onde estava sentado. E num rompante, com sua voz tronitoante, desabafou: "Porra!".
No canto onde se achava, Barrica deu um pulo assustado: "Caralho!".
Calma, calma, Lampa! Calma Barrica, não é assim que a gente deve se comportar. O nosso péssimo presidente é o que é, não tem salvação. 
"Ele, o tal aí, não tem salvação mesmo, não. Mas nós temos. E vamos provar isso escolhendo alguém que possa levar o Brasil pra frente, com categoria, no próximo dia 2 de outubro", disse o poeta Zilidoro.
Respirei fundo, mudando de assunto. E perguntei: Alguém aqui já ouviu falar em Waldir Azevedo?
Barrica levantou a mão e falou: "Waldir Azevedo foi um artista de grande importância para a música instrumental brasileira. É dele o famoso baião Delicado".
O insuspeito botão Zé, abriu sorriso e disse: "Waldir, grande Waldir! Eu não o conheci, mas sei que o seu Assis o conheceu. E até o entrevistou".
Hmmm... Eu adoro o chorinho Delicado. A propósito, não custa lembrar que ele partiu há 42 anos, no dia 20 de setembro de 1980. Acho que agora é hora de a gente encerrar essa prosa nervosa ouvindo o Waldir. Que tal, hein?

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (38)

"Seu Assis! Seu Assis!", entrou esbaforido na casa o bom botão Mané.
O que ocorre? Você viu uma assombração por aí, Mané?
"Não, não, assombração coisa nenhuma! Eu vi agora na TV o louco do presidente Bolsonaro aproveitando a onda que tem provocado a morte da rainha Elizabeth para fazer política pessoal e partidária em Londres. Ele juntou um monte de fanáticos para esculachar seu principal oponente, o Lula, e pedir votos. Diz que vai ganhar no primeiro turno...", explicou seu estado assombrado o bom Mané, logo interrompido por Zilidoro: "O cabra é sem noção, Mané!".
"Esse sujeito aí precisa é de um corretivo", resmungou do seu tamborete o Lampa, cutucando as unhas com seu inseparável punhalzinho.
"É, pelo jeito não tem jeito. O Bulsa é sujeito perigoso e uma vergonha para o Brasil", disse Barrica. E Biu: "Eu concordo com o mano Barrica. O sujeito aí é uma vergonha nacional e nunca na nossa história houve alguém tão desqualificado comandando o Brasil".
"Seu Assis, o que é que o Sr. tá achando disso tudo?", perguntou-me o até então silencioso Jão. Respondi dizendo que os brasileiros que pensam e que querem um bom futuro para o nosso país, encontrarão a maneira mais adequada de tirar o Sr. presidente do cargo que ocupa. Esse caminho leva às urnas.
Zé e Zoião bateram palmas e Zilidoro, mexendo em seu celular, achou uma música intitulada Presidente Sem Noção: "É interessante essa música, é uma modinha. Vamos cantar juntos?" https://www.youtube.com/watch?v=o_uShAkXk54
Isso aqui tá virando uma festa. Estou gostando.
O tema Bolsonaro continuou despertando a atenção, para minha surpresa, até do circunspecto Lampa:
"É, o Brasil tá meio esquisito, chefe. O sinhô conhece isso: Presidente também morre/De morte matada ou não/Lugar de quem não presta/É lá no fundo da prisão!".
E Zilidoro: "Isso aí eu conheço, é do seu Assis". 
"Eu também conheço, eu também conheço! Fala até da Covid-19. É uma porrada!", falou entusiasmado de lá do fundo da casa o insuspeito Zoião. Para minha surpresa, Barrica levantou a mão dizendo que também conhecia o poema. E sem delongas, começou:

Já não são quinhentas mortes
Já não são quinhentas mil
A desgraça toma corpo
No coração do Brasil

Não são mortes naturais
As mortes de Silvas e Bragas
São mortes provocadas
Por vírus, pestes e pragas

Praga viva inda mata
Homem, menino e mulher
Mata completamente
Do jeito que o bicho quer

Maldito Coronavírus
Que pega e mata gente
O Brasil está morrendo
Nas garras do presidente

Presidente também morre
De morte matada ou não
Lugar de quem não presta
É lá no fundo da prisão!

A cadeia te espera 
Presidente matador 
Quem apanha hoje é caça
Amanhã é caçador

Meio sem jeito, fui encerrando a roda de conversa perguntando se alguém sabia quem foi Zequinha de Abreu. E Zilidoro, na ponta da língua: "Zequinha foi um paulista de Passa Quatro, autor do belíssimo chorinho Tico-Tico no Fubá. Ele nasceu em 19 de setembro de 1880 e morreu em 1935. Deixou uma bela obra. Ele nasceu no mesmo ano em que morreu o carioca Joaquim Antônio da Silva Callado: 1880".
Poxa vida, estou orgulhoso de você, Zilidoro. Você sabe que foi Carmen Miranda a primeira cantora a gravar Tico-Tico no Fubá?
E Zilidoro: "Sei, sim. Sei também que Charlie Parker também gravou essa música. Eu adorei a gravação dele, de 1951".

domingo, 18 de setembro de 2022

CARLOS GOMES: A GLÓRIA NO TREM DO ESQUECIMENTO (2, FINAL)

A história de Carlos Gomes é uma história tumultuada, de altos e baixos, a começar do assassinato da sua mãe Fabiana Maria Cardoso Gomes (1816-1844). Ela tinha 28 anos de idade e foi morta a facadas e tiros. O assassino não foi preso e as suspeitas do crime recaíram no marido, que à época agarrou-se ao álibi de que enquanto a mulher era morta, estava ausente de casa jogando baralho com amigos.
Maneco Músico tinha, à época, 51 anos de idade e era pai de 26 filhos.
Essa história já foi contada por mim e pelo romancista mineiro Rubens Fonseca (1925-2020), no livro O Selvagem da Ópera.
No livro O Brasileiro Carlos Gomes, lançado pela Companhia Editora Nacional em 1987, eu faço uma biografia sobre o autor campineiro. A respeito, o compositor e maestro cearense Eleazar de Carvalho (1912-1996) escreveu de próprio punho: "Parabéns a Assis Ângelo por reviver o tempo passado e, como observou Roberto Machado, o tempo original, absoluto, idêntico à eternidade, que só a arte pode proporcionar".
Eleazar regeu algumas das principais orquestras do mundo e foi um dos professores da Juilliard School de Nova York. Fora isso foi diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica de São Paulo, OSESP, e criador do Festival de Inverno de Campos do Jordão.
E o jornalista e poeta Fernando Coelho escreveu: "O Brasil é o país da mentira. E do esquecimento. É
só ver o que fazem com a Música Popular Brasileira, entre outras coisas. Ainda bem que o jornalista Assis Ângelo, teimoso que é, com este livro sobre Carlos Gomes, vai continuar incomodando os que insistem em empastelar a nossa memória".
Em matéria de página inteira, o tabloide Il Corriere destacou o esquecimento do maestro Carlos Gomes na edição de 21 de setembro de 1987.
Durante muito tempo, é fato que Carlos Gomes recebeu pedradas da parte de seus patrícios. Entre esses, alguns maiorais da famosa Semana de Arte de 22. Atacou Oswald de Andrade, por exemplo: "Carlos Gomes é horrível. Todos nós o sentimos desde pequeninos. Mas como se trata de uma glória da família, engolimos a cantarolice toda do Guarani e do Schiavo, inexpressiva, postiça, nefanda. E quando nos falam do absorvente gênio de Campinas, temos um sorriso de alçapão, assim como quem diz: - É verdade! Antes não tivesse escrito nada... Um talento!" (Jornal do Commercio, São Paulo, 12 de fevereiro de 1922).
A obra de Carlos Gomes é extensa. Ele escreveu peças do repertório popular como lundus, polcas,
mazurcas, modinhas e hinos, além de missas e cantatas. Dentre as óperas que assinou Il Guarany foi a que lhe deu mais prestígio. No decorrer dos anos de 1870 essa ópera correu mundo.
Em 1914, o tenor italiano Enrico Caruso gravou em Nova Iorque, EUA, uma parte da famosa ópera baseada no livro homônimo de José de Alencar: Sento una Forza Indomita. Aliás, são inúmeras as gravações dessa ópera nas línguas mais diversas. A primeira gravação completa em disco ocorreu no Brasil em 1959. O autor dessa façanha foi o paulistano do Brás Armando Belardi (1898-1989). Essa gravação sairia na versão CD, numa caixa, em 1993. Dois anos depois, na Alemanha, seria a vez do maestro brasileiro John Neschling entrar no circuito regendo a ópera que virou também uma caixinha. Nessa versão, o tenor Plácido Domingo interpreta o parceiro de Ceci, Pery.
Mais de uma centena de livros conta a história do filho de Maneco Músico.
O compositor e maestro campineiro Antonio Carlos Gomes morreu doente e pobre em Belém do Pará, no dia 16 de setembro de 1896, exatos 100 anos antes de Eleazar de Carvalho. Tinha 60 anos de idade.

LEIA MAIS: ALBERTO NEPOMUCENO, 100 ANOSCARLOS GOMES: FILHO DE UMA TRAGÉDIAFRANCISCO SIMPLESMENTE

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 17 de setembro de 2022

CARLOS GOMES: A GLÓRIA NO TREM DO ESQUECIMENTO (1)

Numa conversa qualquer em que o tema seja música ou músicos brasileiros eruditos, o nome que logo vem à mente é o do compositor e maestro carioca Heitor Villa-Lobos, autor das Bachianas em que se acha O Trenzinho do Caipira. Numa forçação de barra, digamos assim, pode surgir outro nome: Antonio Carlos Gomes. E talvez também a soprano Bidu Sayão, até porque foi homenageada e desfilou em carro alegórico da Beija-Flor no carnaval de 1995. Morreria em 1999, com 97 anos de idade.
São muitos os artistas brasileiros atuantes no campo da música erudita, desde sempre. O primeiro deles foi o padre José Maurício Nunes Garcia que sabia tudo e mais um pouco a respeito do assunto.
Além de Villa-Lobos, Carlos Gomes e José Maurício, outros como Francisco Mignone, Guerra-Peixe, Alberto Nepomuceno, Francisco Braga, Alexandre Levy, Cláudio Santoro e Radamés Gnattali deixaram sua marca nesse campo. Mas a memória está sempre a negar fogo.
Carlos Gomes, um paulista da região de Campinas, muito cedo enveredou pelo fabuloso mundo da música. Ele ainda se achava nos primeiros anos da adolescência quando começou a tocar na bandinha marcial do pai Manoel José Gomes (1792-1868), popularmente chamado Maneco Músico. Com 13, 14 anos, já fazia música em pauta. Um dia, na bandinha do pai, foi visto pelo imperador Pedro II que na ocasião visitava sua cidade. Aquilo foi marcante e desde então o menino Tonico, como era chamado Carlos, começou a sonhar alto imaginando-se estudante de música no Rio de Janeiro, então capital do Império.
Antes de trocar Campinas pelo Rio, o jovem Carlos Gomes passou uma temporada na Capital paulista onde conheceu estudantes de Direito do Largo de São Francisco.
Corria o ano de 1859 e é dessa época o hino à Mocidade Acadêmica. É também dessa época a modinha Quem sabe?, com letra de seu amigo Bittencourt Sampaio. Essa modinha foi e continua sendo gravada por muita gente, inclusive Inezita Barroso (1925-2015). A letra é esta:

Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento

Quisera saber agora
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento

Quem sabe? Se és constante
Se, ainda, é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento

Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste o juramento

Quem sabe? Se és constante
Se, ainda, é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento

Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto

Suspiros, angustias, dores
Suspiros, angustias, dores
São as vozes, são as vozes
São as vozes do meu canto

Quem sabe? Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto

Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Suspiros, angustias, dores
São as vozes, São as vozes do meu canto

Quem sabe? Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto


O cartunista Fausto e eu estamos fazendo um livro com charges e textos, sobre encontros fictícios entre grandes artistas do Brasil. Inezita e Carlos Gomes são dois dos personagens que escolhemos para o livro, que se chamará Histórias de Esquina.


Já no Rio de Janeiro, estudando no Conservatório de Música, Carlos Gomes ganhava admiração de colegas e professores. Em 1861, compôs sua primeira ópera: A Noite do Castelo. Dois anos depois usufruía de uma bolsa de estudos concedida pelo Imperador, na Itália. E na Itália conheceu a fama com a ópera Il Guarany, que estreou na noite de 19 de março de 1870 no Teatro Alla Scala de Milão. O grande Giuseppe Verdi estava presente. Encantado com a atuação de Gomes, declarou a um repórter da Gazzeta Ferrarese: "Esse jovem começa por onde eu termino".
Carlos Gomes ganhou fama, mas não ganhou dinheiro com Il Guarany. Motivo: vendeu os direitos autorais ao primeiro editor musical que lhe apareceu à frente.
A ópera que mais dinheiro deu a Antonio Carlos Gomes foi Salvador Rosa, que estreou na noite de 21 de março de 1874, em Gênova. Essa ópera, desenvolvida em quatro atos, foi dedicada a André Rebouças.
Il Guarany é baseada no livro O Guarani do escritor cearense José de Alencar. É da linha indianista. Trata do romance entre a filha de um fidalgo português (Ceci) e de um indígena da tribo dos guaranis (Peri). Essa ópera estreou no Brasil no dia 2 de dezembro de 1870.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (37)

"Que frio dos infernos é esse, seu Assis!", falou tremendo e todo encolhido o mano de Biu, Barrica. "Eu já não tô aguentando, é um frio dos infernos!", repetiu Barrica. O mano Biu concordou: "O frio aqui em São Paulo tá muito mesmo. Ouvi no rádio agora pouco que hoje a temperatura máxima será de 16ºC".
Achei graça no modo como Barrica falou. Mas até onde eu sei, até onde dizem, no Inferno não tem frio.
O bom Mané, por sua vez, disse: "É, o frio tá grande. Mas tem uma solução: ou a gente se agasalha ou molha o bico pra esquentar o corpo".
Lupícino
Zilidoro, todo agasalhado, disse: "O Mané tá falando bonito. Deve ser o efeito do frio". Sentado num tamborete, Lampa mostrava indiferença ao assunto. Cutucando as unhas com seu inestimável punhal, só olhava para um canto e pra outro sem levantar a cabeça. Jão fazia que não via, mas via. E falou: "Seu Assis, o sinhô não tá com frio, não?".
Claro que estou com frio, mas estou bem agasalhado...
"Eu ontem à noite tomei um negocinho antes de dormir. E dormi feito um santo, feito um inocente, seu Assis", contou Zoião.
Zé pediu a palavra para perguntar se eu já ouvi falar no gaúcho de Porto Alegre Lupicínio Rodrigues. Sim, respondi. E ele: "O Lupi compunha muito bem e cantava melhor ainda! Pois cantava com a alma. Eu gosto de muita coisa que ele fez, especialmente Nervos de Aço".
Foi a vez de Zilidoro meter a colher na conversa: "Nervos de Aço foi uma música que Lupi fez depois de traído por uma mulher a quem ele amava muito. Essa mulher foi vista nos braços de outro pelo próprio Lupi".
Lupicínio, foi minha vez de falar, nasceu em 16 de setembro de 1914 e morreu no dia 27 de agosto de 1974. Por muito tempo a sua carreira de artista ficou travada, ameaçada pela Bossa Nova e o Tropicalismo. Mas Caetano Veloso incumbiu-se de salvar Lupi, gravando Felicidade. A partir da gravação de Caetano, artistas como Bethânia, Gal Costa e tantas e tantos gravaram e regravaram grandes títulos do compositor.
"Seu Assis, seu Assis! Lembrei-me agora que foi também num 16 de setembro que morreu o maior compositor operístico das Américas. Ele se chamava Carlos Gomes", disse Zilidoro. E eu: Muito bem, muito bem Zilidoro. E você sabia que um amigo meu também morreu num 16 de setembro? Era cartunista. 
Fortuna 
"Cartunista? Deixe-me ver... Não, não lembro. Não sei. Quem é, quem foi?", quis saber nosso poeta de plantão Zilidoro.
De repente, pra surpresa geral, Lampa levantou a cabeça dizendo: "Outro dia eu vi no jornal que o patrão aí chegou a escrever um livro sobre esse tal de Carlos Gomes".
Eu ri, não tinha outro jeito e acrescentei: É verdade, escrevi um livrinho sobre nosso querido compositor e maestro Carlos Gomes. E o amigo cartunista fez um cartum muito bonito anunciando o lançamento desse livro. O livro chamou-se O Brasileiro Carlos Gomes e o cartunista em questão tinha por nomeJosé Reginaldo de Azevedo Fortuna, ou Fortuna simplesmente.
"Esse Fortuna nasceu no Maranhão?", quis saber Barrica. Respondi afirmativamente. Foi a vez de Biu também falar: "Esse Fortuna tem a ver com os irmãos escritores Aloísio e Arthur de Azevedo?".
Não, não. A curiosidade fica apenas no nome Azevedo que os três tinham. E a coincidência é que todos nasceram em São Luís, MA.
Enquanto eu falava, Zilidoro mexia no celular. E de repente, disse "Eureka!". Ele acabara de localizar a capa do livro que escrevi sobre Carlos Gomes e o convite de lançamento feito pelo querido Fortuna. É isso. E um bom dia a todos!

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O BRASIL SEM GAYA HÁ 35 ANOS

Não custa lembrar: hoje 15 faz 35 anos do desaparecimento do compositor e maestro paulista de Itararé Lindolpho Gaya (1921-1987).
Eu conheci o maestro Gaya no começo dos anos de 1980, quando o cantor e compositor Taiguara a ele me apresentou.
A história do maestro Gaya começa em 1942, quando começou a tocar piano em programas de calouros na Rádio Transmissora, RJ.
As primeiras músicas gravadas por Lindolpho Gaya foram Morrer Sem Ter Amado e Último beijo, ambas de Zequinha de Abreu, em 1951.
Um dos últimos trabalhos do maestro Gaya são os arranjos que fez para o último LP de Taiguara: Canções de Amor e Liberdade (Continental; 1984).
Outro dia, na TV Cultura, eu e o amigo Flávio Tiné andamos falando a respeito de Taiguara. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

HOJE É DIA DE ISMAEL SILVA

O carioca Ismael Silva é uma lenda.
Ismael Silva, mais do que uma lenda, é um nome importantíssimo para a cultura sambista do Brasil. Foi ele quem criou a primeira escola de Samba: Deixa Falar.
A vida de Ismael foi uma vida atribulada. Ele nasceu no dia 14 de setembro de 1905. Era brigão, mesmo franzino. Metido, como se diz na minha terra paraibana, João Pessoa.
O samba ainda não existia quando já existia Ismael. 
Os primeiros sambas, as primeiras músicas já letradas de Ismael, foram gravadas por Chico Alves. O tempo deu a Chico o título de Rei da Voz.
Curioso com minhas palavras ditas sobre Ismael, o amigo Wallace pergunta: "Assis, é verdade que o Ismael era gay?".
Bobagem, bobagem Wallace, as pessoas são o que são. E o que tem a ver uma coisa com a outra? Nada, não é? A grandeza do Ismael Silva não se mede por seu comportamento. Mas sim, ele era gay. Nenhum problema quanto a isso. Quem revelou esse comportamento de Ismael foi um dos mais importantes estudiosos da nossa história, José Ramos Tinhorão (1928-2021). Tudo na vida engrandece a vida do cantor e compositor Ismael Silva. Maravilhoso sob todos os aspectos. E, como eu disse: foi ele quem criou a primeira escola de samba. O resto é detalhe.
Wallace é paulista de Guarulhos. E hoje ele veio acompanhado de uma amiga Saara, estagiária de Fisioterapia (UNINOVE) na UBS Santa Cecília.
Saara é uma mulher nascida no município de Jardim do Ciridó. Fica lá no Rio Grande do Norte, terra de Luís da Câmara Cascudo, informalmente meu professor. E curiosa como Wallace, Saara pergunta: "Assis, Luís da Câmara Cascudo é mesmo do Rio Grande do Norte?". Respondi que sim, de Natal. Frequentei muito a casa de Câmara Cascudo, na Matias Ayres, RN. Foi um grande brasileiro, autor de 150 títulos. 
Nenhum estudioso da cultura popular brasileira foi tão importante quanto o mestre Cascudo.
De boca aberta, Wallace pergunta: "Qual a música mais bonita de Ismael Silva, Assis?". Respondi que há muitas músicas bonitas de Ismael. Particularmente eu gosto de Se Você Jurar. A letra é essa:
 
Se você jurar que me tem amor
Eu posso me regenerar
Mas se é para fingir, mulher
A orgia assim não vou deixar

Muito tenho sofrido
Por minha lealdade
Agora estou sabido
Não vou atrás de amizade

A minha vida é boa
Não tenho em que pensar
Por uma coisa à-toa
Não vou me regenerar

A mulher é um jogo
Difícil de acertar
E o home como um bobo
Não se cansa de jogar

O que eu posso fazer
É se você jurar
Arriscar a perder
Ou desta vez então ganhar
 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

CARLOS GOMES CONTINUA ESQUECIDO


Há 35 anos eu publicava pela Companhia Editora Nacional o livro O Brasileiro Carlos Gomes. A ideia era alcançar leitores em formação. Não sei se o alvo foi alcançado, de qualquer modo o livro ganhou grande repercussão na Imprensa. O jornal Il Corriere, edição de 21 de setembro de 1987, publicou matéria de página inteira, destacando a barreira do esquecimento que separa Gomes do Brasil. Ele recebeu muitas pedradas de intelectuais que participaram da semana de arte moderna de 1922. Triste. Lamentável, mesmo. Leia o que publicou Il Corriere:



HERÓDOTO TEM NOVO LIVRO NA PRAÇA

Paulistano da safra de 1946, Heródoto Barbeiro é um dos nomes mais representativos e queridos do rádio brasileiro. Está na área há muito tempo. Foi um dos criadores da rádio CBN, passou pela TV Cultura e outros veículos da Imprensa de São Paulo. "É bacharel, licenciado, pós-graduado e mestre em História pela USP (Universidade de São Paulo), onde lecionou durante 12 anos. É também inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, em São Paulo", aponta o seu vasto e rico currículo.
Heródoto Barbeiro, carinhosa e reconhecidamente chamado de Professor pelos colegas, é daquelas pessoas que, com talento e graça, encanta a todos à primeira vista. É bom papo, é bom sujeito, marcante por onde passa.
Autor de muitos livros, Heródoto Barbeiro apresenta o jornal da Record News desde maio de 2011. Faz podcasts, faz textos pra blog e pra jornais. Antenado, está sempre atento às alegrias e mazelas da vida. O jornalismo está nele como nele está o jornalismo.
O mais novo livro de Heródoto, 100 anos do Rádio no Brasil (Ed. Lafonte), traz a assinatura de mais dois colegas: Nilo Frateschi e Fernando Vítolo (acima, com o radialista Carlos Silvio).
No próximo dia 1° de outubro Heródoto Barbeiro vai estar no programa Paiaiá na Conectados, apresentado por Carlos Sílvio. Bom papo, quem perder é bobo.

domingo, 11 de setembro de 2022

O RÁDIO GANHA HINO EM RITMO DE SAMBA (2, FINAL)

Em 1919, ano que os pernambucanos reivindicavam para si a instalação do rádio, o carioca Chico Alves fazia sua primeira gravação em disco. Título da música, uma marcha: Pé de Anjo, de autoria do compositor Sinhô.
Naquele mesmo ano de 19, nascia em Santana do Livramento, RS, Antônio Gonçalves Sobral. Esse Antonio viria a se tornar o primeiro cantor Rei do Rádio: Nelson Gonçalves.
O curioso nessa história toda é que até agora, 100 anos passados, ninguém teve a ideia de compor um hino em homenagem ao Rádio.
Em 1936 João de Barro, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro compuseram a marcha Cantores do Rádio, que foi gravada pela primeira vez, na Odeon, pelas irmãs Carmen e Aurora Miranda no dia 18 de março daquele ano de 36.
Hoje em dia é comum as emissoras de rádio venderem horários.
É comum também as emissoras abrirem espaço para programas temáticos.
Há programas longevos que tratam especificamente de gêneros musicais. Na Rádio USP, por exemplo, há um programa dedicado ao samba, há 40 anos. Título: O Samba Pede Passagem, apresentado por Moisés da Rocha. Ainda na USP há o programa Vira e Mexe, de forró, apresentado pelo paulistano Paulinho Rosa. Na Rádio Imprensa FM 102,5 há o programa Pintando o Sete, também de forró, apresentado pelo pernambucano Luiz Wilson. Esse programa já dura 15 anos, como 15 anos dura também Vira e Mexe.
Em Teresina, PI, o professor universitário de física Wilson Seraine apresenta todos os sábados o programa A Hora do Rei do Baião, que já dura 15 anos e é todo dedicado a Luiz Gonzaga e a sua obra. Ele diz:
“Não lembro bem da primeira vez que ouvi um rádio, mas sei bem que ouvi várias vezes na infância com os moleques nordestinos nas ruas do subúrbio de Realengo, no RJ, donde saí para o meu Piauí aos 12 anos. Depois, ao longo da vida, não ouvia muito. Mas, um dia um amigo me convenceu a apresentar um programa sobre as coisas do Nordeste. Luiz Gonzaga inclusive. Resumo, lá se vão 15 anos do programa – A HORA DO REI DO BAIÃO, na FM Cultura de Teresina. Nunca mais largo esse vício, o rádio me fisgou de vez”.
Em Recife, PE, pela Rádio Universitária, é apresentado diariamente o programa Forró, Verso e Viola. Apresentador: Ivan Ferraz, que também é compositor e cantor com um compacto, nove LPs, 11 CDS e um DVD na bagagem.
É inegável a importância do rádio em qualquer lugar do mundo.
No Brasil, o rádio ajudou a enterrar a República Velha e a criar o lamentável Estado Novo (1937-1945) de Getúlio. Ajudou também no fortalecimento da Democracia, antes e depois da ditadura militar (1964-1985).
Há até uma rádio, no Brasil, cuja programação é toda direcionada ao jornalismo: CBN, levada ao ar pela primeira vez em outubro de 1991. À época, um de seus criadores foi o jornalista Heródoto Barbeiro, autor do livro 100 anos de Rádio no Brasil (Ed. Lafonte).
Eu, da minha parte, lembro aos desavisados que há muito estou fora do "dial". Ah! Sim: iniciei a carreira de jornalista e radialista no jornal O Norte e na Rádio Correio da Paraíba, em João Pessoa, PB.
Bom, por não ter o que fazer, compus uma letra e convidei o craque Jarbas Mariz para melodia-la. Título: O Samba do Rádio.

Uma caixinha mágica
Faz o mundo se ligar
Dessa caixa sai a voz
De quem tem o que falar

Sobre tudo conta a voz
Que tem sempre o que contar
Pra saber o que se passa
Basta fazê-la falar

Ligada a caixa fala
Toca e canta sem parar
Fora isso diz a hora
Pra ninguém se atrasar

Variadas formas tem
Essa bela invenção
Que cabe bem certinho
Até na palma da mão

O autor dessa magia
Foi o padre brasileiro
Roberto Landell de Moura
Famoso no mundo inteiro

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
Charge de Fausto Bergocce

sábado, 10 de setembro de 2022

O RÁDIO GANHA HINO EM RITMO DE SAMBA (1)

Para radialistas e especialistas em radiodifusão o dia 7 de setembro é o Dia do Rádio no Brasil, mas a data é questionada por pesquisadores do tema em Pernambuco, PE.
Segundo pesquisadores da terra de Capiba, grande compositor e pianista reinventor do frevo, no dia 6 de abril de 1919 um grupo de amadores diletantes do telégrafo fundou a Rádio Clube de Pernambuco. Na ocasião foi instalada uma geringonça que permitia a transmissão de voz a pouca distância. Era o rádio chegando em Pernambuco de modo amadorístico.
No estrangeiro, o italiano Marconi patenteava o que afirmava ser invenção sua. Pegou.
Em São Paulo, SP, o padre cientista Roberto Landell de Moura queimava as pestanas fazendo cálculos e cálculos e testes direcionados a mais uma de suas investidas no mundo encantado da Ciência. O objetivo, desafio mesmo, era transmitir a voz humana através de fios e tal.
Os esforços do padre Landell não receberam atenção nem compreensão de ninguém, nem dos membros da sua congregação. Achavam-no louco e até feiticeiro. Se a Inquisição ainda estivesse em voga, Landell teria certamente ardido em chamas numa fogueira qualquer.
No Brasil corria o ano de 1881.
Por meios próprios, sem apoio econômico ou político, Landell de Moura conseguiu patentear suas pesquisas em torno do rádio nos EUA. Mas já era tarde e, assim, Guglielmo Marconi levou todos os créditos e aplausos como inventor do rádio.
No dia 7 de setembro de 1922, realizava-se no Rio de Janeiro uma exposição multifacetada para lembrar e comemorar o primeiro centenário da independência do Brasil. Marconi foi convidado e lá esteve. Uma antena transmissora foi instalada no Corcovado e, como num passe de mágica, habitantes de Niterói,
Petrópolis e adjacências, além das capitais fluminense e paulista, ouviram extasiados o presidente Epitácio Pessoa proferir laudatório discurso sobre o evento.
No ano seguinte, 1923, o cientista Roquette Pinto juntava-se a amigos e fundava a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, oficialmente considerada a primeira emissora de rádio do Brasil.
A Rádio Sociedade tinha como programação música de boa qualidade, erudita e popular.
Antonio Carlos Gomes e Sinhô, de batismo João Batista da Silva, foram os primeiros compositores a terem obras executadas pela Rádio.
Era tudo feito de forma precária, amadorística.
Roquette Pinto usava muito o microfone da sua emissora para ler notas sobre artes e música, publicadas nos jornais da época. Talvez tenha sido ele o inventor do radiojornalismo. É meio esquisito dizer isso, mas a possibilidade não pode ser afastada.
Antes de 1930, as emissoras foram se multiplicando no Rio e em outros lugares.
Em 1926, surgiu a primeira rádio "comercial" do País: a Mayrink Veiga.
Logo após a tomada do poder por Getúlio Dornelles Vargas, as emissoras de rádio foram autorizadas por decreto para faturar com comerciais. A propósito: foi no governo Vargas que surgiu o programa A Voz do Brasil, no começo chamado Programa Nacional e A Hora do Brasil.
A Voz do Brasil é o programa de rádio mais antigo do mundo. Foi criado em 22 de julho de 1935, por um cara chamado Armando Campos. Esse Campos vinha a ser amigo de infância de Vargas.
Em 1936, Roquette Pinto doou a Rádio Sociedade para o Ministério da Educação e Cultura, MEC.
A Rádio MEC está no ar até hoje com programação voltada à cultura.
No mesmo ano de 36, precisamente no dia 12 de setembro, era inaugurada a Rádio Nacional.
A Nacional marcou época na radiodifusão, no Brasil. Seus estúdios eram amplos, modernos, e funcionavam no prédio do jornal A Noite, localizado na praça Mauá, RJ.
Todos os grandes artistas da época passaram pela Nacional. Inclusive os humoristas.
A Rádio Nacional era riquíssima no item humor com Castro Barbosa, inclusive.
Em janeiro de 2003, o jornalista Paulo Perdigão lançava à praça o livro PRK-30, contando a história da Rádio Nacional e os artistas que por lá passaram. Detalhe: Esse livro traz dois importantíssimos CDs com trechos de vários programas apresentados na Nacional.
E não custa lembrar que a primeira radionovela no Brasil foi apresentada na Rádio Nacional. Título: Em Busca da Felicidade, do cubano Leandro Blanco. Essa mesma novela iria, em 1965, para a televisão. No caso, a extinta Excelsior.
Nos fins de 1937, começaram os concursos para "eleger" as cantoras mais admiradas. Foi assim, no começo de 1938, que a cantora Linda Batista virou a primeira Rainha do Rádio. As quatro seguintes foram: Dircinha Batista, Marlene, Emilinha Borba e Ângela Maria.
Linda Batista ficou como "rainha" durante quase 11 anos.
Emilinha Borba era a favorita, a preferida, da Marinha. E Marlene, a cantora do Exército.
Ângela Maria foi a "rainha" que mais recebeu votos na história dos concursos do gênero: 1,5 milhão. Ângela era, para Getúlio Vargas, a melhor cantora do Brasil. Foi ele quem a apelidou de Sapoti.
Atualmente existem mais ou menos 10 mil emissoras de rádio no Brasil, metade delas comunitárias.
Os tempos hoje são, claro, bem diferentes dos tempos de ontem.
Hoje tudo parece correr na velocidade dos raios.
A rádio, diziam, que estava com os dias contados com a chegada da televisão no Brasil, ocorrida no dia 18 de setembro de 1950. Coisa nenhuma, rádio e TV deram-se as mãos e continuam vivendo muito bem. Detalhe: entre os anos de 1940 e 1950 havia no país a Revista do Rádio e Radiolândia, que destacavam os artistas e apresentadores do rádio. E existia também revistas abordando temas ligados à rádio e a TV.
O rádio está na TV e a TV, no rádio.
E agora tem o Podcast chegando e, pelo jeito, pra ficar.
Fora isso, tem as rádios Web, como a rádio Conectados. Nessa rádio o baiano Carlos Silvio apresenta, ao vivo, o programa Paiaiá na Conectados. Sobre a sua relação com o rádio, diz o apresentador:
“Como nasci e vivi até os meus 21 anos na roça, lá no Paiaiá (Bahia), sem luz elétrica e o luxo da televisão, o meu companheiro sempre foi o rádio. O rádio de pilha. Ao chegar na maior cidade do País, São Paulo, em busca de uma vida melhor, o amor pela comunicação me levou para o maravilhoso mundo do rádio. Jamais imaginaria ser indicado ao Prêmio Melhores do Rádio, pela APCA. O rádio é, para mim, o veículo de comunicação mais importante e com o advento da internet, deu mais vida ao que jamais morrerá. Viva o rádio!”.

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