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quinta-feira, 31 de março de 2022

DITADURA MILITAR: TRISTE LEMBRANÇA

Milico, ilustração de Fausto Bergocce

Tudo começou numa madrugada de abril.
Nunca é tarde, digo e repito, para lembrar que 64 começou em 61, com a renúncia de Jânio. ÓBVIO, DITADURA NUNCA MAIS
Depois da renúncia, Jânio seguiu na vida pública e acabou como prefeito da maior e mais importante cidade do Brasil: São Paulo. E no seu lugar, assumiu o sãoborjense João Belchior Marques Goulart, o Jango. JÂNIO, RENUNCIA: 60 ANOS
Os anos de 1960 foram tumultuados em boa parte do mundo. Guerras pipocaram aqui e ali. Revoltas e revoluções, também.
À época os EUA pagavam pecados no Vietnã. Um jornalista brasileiro, José Hamilton Ribeiro, foi pra lá. Foi cobrir a guerra. O FAZENDEIRO ZÉ HAMILTON, EM MINAS
Isso, especificamente, em 1968.
Por aqui movimentos populares pipocavam, na cidade e no campo.
O Araguaia, lá pros lados de Tocantins, TO, virava campo de guerra.
Era a primeira vez que brasileiros faziam treinamento de guerrilha na China para confrontar e derrubar o governo militar, iniciado em 1964. Não deu. Muita gente foi presa, torturada e morta.
O cearense Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967) foi o primeiro general a assumir o cargo de presidente do ciclo militar. E foi, também, o primeiro presidente do Brasil a morrer na queda de um avião. Antes dele, nenhum.
O segundo general a ocupar o cargo de presidente foi o gaúcho Artur da Costa e Silva (1899-1969), que um dia teve um ataque no coração e foi-se.
O terceiro a ocupar o mesmo cargo, o de presidente, foi o general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985). Esse foi o mais violento, o que sabia de tudo que rolava nos porões da ditadura e calava passivamente.
O quarto general a assumir a presidência da República, no ciclo militar, foi o gaúcho Ernesto Beckmann Geisel (1907-1996). Esse era, declaradamente, a favor da tortura.
O quinto e último general desse ciclo foi o carioca João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), aquele que antes de pedir pra ser esquecido dizia gostar mais do ccheiro do cavalo do que do cheiro do
povo. Merecia ter levado um coice.
Entre uma coisa e outra, ali em 1969, houve um hiato: a morte de Costa e Silva.
A morte desse Costa gerou a formação de uma Junta.
Essa Junta foi formada por Augusto Rademaker, Aurélio Tavares e Márcio de Sousa Melo, e durou de 31 de agosto a 30 de outubro.
Há uma vasta literatura sobre o ciclo militar que estendeu-se por 21 anos, terminando em 1985.
Muita coisa aconteceu até a democracia voltar a imperar no território brasileiro.
O primeiro político a ganhar o cargo de presidente, após o golpe militar, foi o mineiro Tancredo de Almeida Neves (1910-1985).
Antes de ser eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo participou de movimentos que visavam a queda do regime sangrento, de chumbo. Entre esses movimentos, o das Diretas Já.
O golpe de 64, que resultou no governo militar, ficou marcado por censura à Imprensa, cassação de políticos e fechamento do Congresso Nacional. Mais: perseguição, prisão, tortura e morte.
Muitos brasileiros foram exilados no período, entre eles Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré. Muitos protestos ocorreram no país antes das Diretas Já.
Em 1968, a cantora e atriz Vanja Orico colocou-se diante de veículos do Exército. O protesto de Vanja correu mundo.
Clique na imagem para visualizar melhor o texto
Nem todos os artistas, porém, foram perseguidos pelos donos do poder à época. Exemplo: Raul Gil.
Em agosto de 1997, entrevistei Raul Gil para a Agência Brasileira de Reportagens, ABR, empresa da qual eu era colunista. Essa entrevista foi publicada em vários jornais, entre os quais o Jornal da Bahia.
Na madrugada de 8 de dezembro de 1980 a sede da ABR, na rua Dr. Homem de Melo, Perdizes, SP, foi alvo de um atentado que resultou em destruição.
Pra entender o que aconteceu no decorrer do ciclo militar, fundamental é ler livros como A Ditadura Envergonhada, de Elio Gaspari (Companhia das Letras, 2002).
O napolitano e comunista de carteirinha em 1962, Gaspari, nascido em 1944, escreveu uma obra completa sobre tudo que aconteceu no decorrer da ditadura militar, desde 1964.
Se foi amigo dos generais ou não, isso não tem importância.
A importância do Gaspari está na obra que escreveu, em 5 volumes.
Gaspari conta bastidores do poder que nos ferrou. Entrevistou todo mundo, durante horas e horas.
Ele conta da importância de Heitor Aquino Ferreira e Golbery do Couto e Silva. Detalhe: Golbery nunca foi general, mas sim tenente-coronel.
Heitor e Golbery foram de extrema importância para Geisel no comando da Presidência.
Pois então, como acho, vale a pena ler livros para, no mínimo, entendermos a nossa história. Recente, até. O começo é este: As duas guerras de Vlado Herzog, Audálio Dantas (Civilização Brasileira, 2012); Linha Dura no Brasil, de Daniel Drosdoff (Global, 1986); 1978: A Hora de Enterrar os Ossos, de Carlos Rangel (1978); Veja Sob Censura, Maria Fernanda Lopes Almeida (Jaboticaba, 2008) e 1964: A conquista do Estado, René Armand Dreifuss (Vozes, 1981).
Paulo Francis, que conheci de perto na Folha, era um cara cheio de ondas. Boa praça.
Uma vez lhe perguntei se de fato lia todos os livros que comentava. E com aqueles óculos enormes, cheios de graus, ele apenas ria: “Isso não tem importância”.
Era franco, ou quase.
A respeito do livro de René Armand Dreifuss, Francis foi claro: Não li e não gostei, é uma massaroca de mais de 800 páginas.
Além desses livros até aqui citados, há muitos outros cuja leitura só ilustrará o leitor sobre as mazelas que os brasileiros viveram naquele período sombrio em que os militares faziam e desfaziam.
Que isso nunca mais aconteça.
Recomendo a leitura de todos os livros aqui citados, incluindo mais estes:
  • Ditadura: o que resta da transição, de Milton Pinheiro;
  • 1964: O golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a Ditadura Militar no Brasil, de Angela Maria de Castro Gomes e Jorge Luiz Ferreira
  • Ditadura e Democracia no Brasil: Do golpe de 1964 à constituição de 1988, de Daniel Aarão;
  • A Casa da Vovó, Marcelo Godoy;
  • 1964: O Golpe, Flávio Tavares;
  • Marighella, Mário Magalhães;
  • Tortura: A história da repressão política no Brasil, Antonio Carlos Fon;
  • Jornalismo de Guerrilha, Rivaldo Chinem.
  • E o Livro Negro da Ditadura Militar, Divo Guisoni; com capa do artista gráfico Elifas Andreato.
Elifas, que morreu no dia 29 deste mês, assinou a capa do Livro Negro da Ditadura Militar e deixou uma obra incrível pra que se entenda o que foi de fato o golpe militar de 64.

Foto e reproduções: Flor Maria e Anna da Hora.

LEIA MAIS: DITADURA NUNCA MAIS!DITADURA NUNCA MAIS! (2)A DEMOCRACIA NÃO VESTE FARDAUM ARTISTA DE BEM COM TORTURADORES

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