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quinta-feira, 31 de março de 2022

MENTIRAS DE MILITAR

Eu já disse mais de uma vez que Kafka encontraria no Brasil o lugar ideal para desenvolver os seus textos ficcionais. Não lhe faltariam personagens, além dos muitos que criou. Fantásticos. Todos eles. E as situações em que foram encaixados, também.
Há exatos 58 anos, os brasileiros acordavam com os tanques nas ruas e soldados armados até os dentes.
Muita gente foi presa, torturada e morta, sabe-se. Todos os anos, desde 1964, somos "presenteados" com "ordens do dia" assinadas pelos comandantes das 3 forças: Exército, Aeronáutica, Marinha e pelo ministro da Defesa. Ridículas.
Neste março de 2022, não foi diferente.
O pior de tudo é que os textos chamados de ordem do dia são mentirosos.
Ontem 30, por exemplo, os comandantes do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; da Marinha, Almir Garnier Santos e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, assinaram essa pérola:
... Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo. Tudo isso pode ser comprovado pelos registros dos principais veículos de comunicação do período.
Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional.
As instituições também se fortaleceram e as Forças Armadas acompanharam essa evolução, mantendo-se à altura da estatura geopolítica do País e observando, estritamente, o regramento constitucional, na defesa da Nação e no serviço ao seu verdadeiro soberano – o Povo brasileiro.
Cinquenta e oito anos passados, cabe-nos reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares, que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular.
Pois é, como se vê, o texto aí reflete inverdades que a história jamais registrou. E nem poderia. 
Devia haver cadeia pra quem mente. Pra quem mente, simplesmente, como os autores dessa obra.
Mas enfim, o mês que ora entra é de Carnaval.

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