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sábado, 31 de dezembro de 2022

20 DIAS QUE SACUDIRAM O BRASIL (2)

A série de escândalos da era Collor começou com a deslumbrada ex-ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, trocando bilhetinhos apaixonados por baixo da mesa em reuniões de trabalho, no Palácio do Planalto, e dançando em casa de amigos o bolerão Besame Mucho, de rosto colado com o descolado ex-ministro da Justiça, Bernardo Cabral, em outubro de 1990. O romance que deixou a Nação perplexa e acabou melancolicamente numa cama de hotel em Paris, rendeu um belo samba (ainda inédito) do genial compositor paulistano Paulo Vanzolini, autor de Ronda e Volta por Cima. O samba é assim:

Minha neguinha
Hoje eu acordei disposto
Pra fazer seu gosto
Vamos nos casar

Hoje é o dia
De enfrentar a Pretoria
De na pausa ou na agonia
A gente se amarrar

E o padre e o cartório
Já estão avisados
O bifê tá contratado
Nada vai faltar

Você se pinte
Você se enfeite
Você se vista
Que eu vou dar uma passada
No dentista e volto já.

traço de Fausto Bergocce

Depois do malfadado bolerão de autoria da mexicana Consuelo Velasques, e da fuga estratégica do boto Cabral, de Paris, foi a vez de o próprio Collor soltar a franga no reveillon de 1990, em Angra dos Reis, RJ, a bordo de caríssima e sofisticada lancha do playboy Alcides dos Santos Diniz, o Cidão, um dos seus amigos do peito. Diante dessa moleza toda, o monstro da inflação resolveu despertar e pôr toda a sua maldade para fora. Azar nosso!

Com a inflação então na casa dos 20% ao mês, a ministra da Economia acabou sendo posta no olho da rua (8/5/1991) e ao País apresentada a figura desengonçada do embaixador neoliberal de mentirinha Marcílio Marques Moreira, que da noite para o dia virou ministro da Fazenda e papa da economia brasileira. Um horror! Começou, em seguida, uma onda gigantesca de privatizações varrendo o País, de cara com a Usiminas sendo entregue à iniciativa privada pela bagatela de Cr$ 709,6 bilhões, sob protesto e muito pau entre operários e engravatados em geral ( e com a presença da polícia, que efetuou várias prisões) no dia 24 de outubro de 1991. Detalhe: cena idêntica viria a ocorrer meses depois já durante o governo Itamar Franco quando, depois de muito disse-me-disse, foi anunciado ao País, mais uma vez, o leilão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de Volta Redonda, a maior fabricante de folha-de-flandres da América Latina e a mais importante usina do Continente.


A equipe ministerial é refeita.

No dia 11 de maio de 1992, pra desespero de muita gente, é posta uma bomba do tamanho de um trem no caminho do super-Collor: seu irmão mais novo, Pedro Collor, denuncia por razões pessoais o enorme esquema de corrupção comandado pela eminência parda do governo que atendia pelo nome de Paulo César Cavalcante Farias, o PC.

O bafafá deu no que deu.

A partir daí foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias. Essa CPI, chamada de CPI do PC, acabou provocando um incêndio de grandes proporções na Casa da Dinda e levando às favas, e de roldão, um jardim babilônico de US$ 2,5 milhões e 13 mil m2 de área verde, oito cachoeiras, piscina de 100m2 e um lago com 1,5 milhão de litros de água especialmente tratada etc.

O fim já estava bem próximo.

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