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domingo, 19 de fevereiro de 2023

CARNAVAIS DAS PANDEMIAS DE ONTEM E DE HOJE (2, FINAL)

Eu sempre procurei ouvir artistas que enriquecem ou enriqueceram a nossa música popular.
Em fevereiro de 1990 publiquei entrevistas no Jornal de Brasília. Foram três. A primeira foi com João de Barro, o Braguinha, autor de clássicos do carnaval. É dele Touradas em Madri. é dele também, junto com Pixinguinha a pérola Carinhoso. A segunda foi com Zé Keti autor da última grande marcha-rancho Máscara Negra, com Pereira Matos. A terceira foi com Nássara. É dele e Haroldo Lobo a marchinha Alá-lá-ô, tornada clássica desde o seu lançamento em 1941.
Uma vez, fazendo pesquisa na biblioteca pública do Porto, deparei-me com uma notícia publicada num velho jornal português dando conta de que as primeiras manifestações carnavalescas no Brasil ocorreram bem no início do século 17. Notícia pequena, curtinha.
Uma notinha aqui, outra ali em jornais encontrados na Biblioteca Nacional dão conta de que o carnaval por aqui surgiu timidamente. Primeiramente em ambientes fechados. Bailes e tal. O primeiro desses bailes acorreu em 1840, no Rio. E foram se multiplicando e chegaram às ruas. O Zé Pereira saiu numa espécie de bloco do Eu Sozinho, batendo bombo.
Em 1899, à compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga coube a façanha de assinar a primeira marchinha de carnaval, Ó Abre Alas, que teria trechos gravados em disco da Casa Edison. A gravação completa porém só seria feita em 1972, pelas irmãs Linda e Dircinha Batista.
A primeira escola de samba de que se tem notícia é Deixa Falar, de 1928. A mais antiga, ainda em atividade, é a Portela que sai este ano de 2023 contando a sua história de 100 anos com o enredo O Azul Vem do Infinito.

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Na década de 70 era comum ouvir-se a expressão "som universal". Sempre bem humorado, Capiba mandou ver: "Som universal é peido!".
O carnaval tem sido ao longo do tempo objeto dos mais variados estudos. À respeito, muitos livros já foram publicados. Mas faltava um que tratasse de publicações periódicas, como jornais e revistas. E aí, em 2000, o jornalista e historiador José Ramos Tinhorão (1928-2021) teve publicado pela Hedra o livro A Imprensa Carnavalesca no Brasil, cuja leitura recomendo.
Muitas coletâneas em disco, abordando a temática, também foram lançadas à praça. Entre essas Sempre Carnaval, caixa que traz seis LPs e um encarte contando um pouco da história do chamado “tríduo momesco”.

CARNAVAL DE BILAC

A crônica é um gênero jornalístico surgido na segunda parte do século 19. O jornalista, poeta e contista carioca Olavo Bilac (1865-1918) foi um craque nesse campo. Entre 1898 e 1908, ele publicou semanalmente no jornal Gazeta de Notícias crônicas que seriam publicadas no livro Ironia e Piedade, em 1916. Nesse livro ele publica a deliciosa Carnaval. Começa assim, à pág. 119:
Mascarados, sede bemvindos ! — diz em Romeu e Julieta o velho Capuleto — já houve um tempo em que eu também me mascarava, para murmurar amáveis lisonjas ao ouvido das mulheres bonitas !» Quasi todos os velhos cariocas podem dizer o mesmo, porque no Rio de Janeiro o Carnaval já foi a grande festa da cidade, a festa que congregava no mesmo delírio todas as classes e todas as idades.
Muita gente séria, antigamente, suspirava todo o anno pela chegada d'essa época feliz.
É que havia logares a que não podia ir, sem grave escândalo, o burguez prudente. [...]


Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

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