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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

ÍNDIO, VIDA E PÁSSARO. TUDO É NATUREZA

Nestes tempos loucos, de tristeza, solidão e desespero; de carestia de respeito ao próximo e violência; de devastação da natureza, do meio ambiente e tudo mais, não custa lembrar que o dia 10 de agosto marca o nascimento do primeiro e mais importante poeta romântico do Brasil: Antonio Gonçalves Dias, maranhense de Caxias.
Gonçalves Dias (1823-1864) era filho de um português e de uma mestiça brasileira, de poucos recursos. Mesmo assim, os pais se esforçaram e conseguiram enviá-lo à Coimbra. Corriam os anos de 1840. Em 44, por alí, Dias retornou ao Brasil com um diploma de Direito debaixo do braço. Não parou em sua terra, foi direto tentar a vida como advogado na capital do Império.
No Rio, atuando como jornalista no Diário do Comércio, logo ganhou fama que cresceu ao publicar o livro Primeiros Poemas.
Meu amigo, minha amiga, você conhece a Canção do Exílio? É assim:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


A Canção do Exílio é o poema mais plagiado da nossa história.
A obra de Gonçalves Dias enaltece o índio, o amor, a vida e os pássaros. Pequena, mas densa. De altíssimo nível e toda distribuída nos livros Primeiros Cantos, Segundos Cantos e Últimos Cantos.
É no Primeiros Cantos que se acha Canção de Exílio.
Pois é, Gonçalves Dias falou muito dos índios brasileiros.
Pouca gente, mesmo quem frequentou ou frequenta os bancos escolares, lembra ou diz de bate-pronto o belo poema Juca Pirama.
Juca Pirama é um poema desenvolvido em dez Cantos. No enredo um jovem tupi aparece passeando nas matas com o pai cego. Um dia, sem o pai, o jovem é capturado por índios inimigos. Antropófagos. Esses índios costumavam comer os inimigos valentes, guerreiros, para deles ganharem força. Era o que pensavam. Os covardes eram humilhados e soltos. O jovem tupi capturado foi enquadrado como covarde. O pai não gostou e entregou o filho aos inimigos, que o devoraram.
Hoje é politicamente incorreto chamar índio de índio.
Gonçalves Dias e José de Alencar estariam fritos e simbolicamente engolidos pelos patrulheiros de plantão.
Téo Azevedo e eu, e também Caetano Veloso, podemos ser considerados politicamente incorretos. Téo e eu compusemos, há uns 20 anos, a música O Índio. Um Índio é a música de Caetano.
José de Alencar, indianista de primeira hora, deixou três livros falando desse assunto. Todos belos. Destaco O Guarani, que em 1870 ganharia uma belíssima versão operística levada à cena no teatro Ala Scalla de Milão, pelo paulista de Campinas Antonio Carlos Gomes.
Dia 9 de agosto é o Dia Internacional dos Indígenas. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas, ONU, em 1995.
A população indígena, no Brasil, não chega hoje nem a um milhão. Pena.
Como Gonçalves Dias, Alencar falou na sua obra de índio, amor, vida e pássaros.
No Brasil existem hoje cerca de 1900 espécies de aves, 240 das quais se acham em processo galopante de extinção.
Desde 2002, o Brasil tem como símbolo o sabiá.
Há vários tipos de sabiás. O que virou símbolo, tem por "sobrenome" laranjeira.
O Sabiá laranjeira é lindo.
Eu gosto de tudo quanto é pássaro. Nunca matei, nem prendi um pássaro em gaiola.
No meu tempo de moleque safado em terras paraibanas, eu fingia caçar com meus pares igualmente safados, moleques. Saíamos armados de baladeira ou bodoque, mas nenhum bichinho da natureza era vítima das nossas eventuais más intenções.
Fui crescendo, fui crescendo e cada vez mais gostando de passarinhos. O beija-flor me encanta.
Catalogados, existem mundo afora cerca de 320 espécies de beija-flor. Só no Brasil, 84. E por não ter o que fazer, fiz:

Voa voa passarinho
Passarinho beija-flor
Leva leva no teu bico
Um beijo pra meu amor

Meu amor está dormindo
Um sono reparador
Voa voa passarinho
E diz a ela por favor
Que sem ela sou jardim
Despetalado, sem cor

O meu sonho, passarinho
Passarinho beija-flor
É viver agarradinho
Nos braços do meu amor



Ilustração por Fausto Bergocce
Na literatura e na música brasileira, os pássaros são personagens frequentes. Os mais visíveis são o Sabiá, a Bem-te-vi, a Asa Branca, Assum Preto, a Acauã.
O baião Sabiá, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, é uma obra-prima.
Em 1995, John Dalgas Frisch e seu filho Christian publicaram uma jóia: Jardim dos Beija-flores, todo em papel couchê.
Dalgas Frisch foi o cara que aventurou-se na Amazônia e gravou centenas de cantos de passarinhos, incluindo o Uirapurú. Essas gravações renderam cinco LPs, compactos e viraram CDs, depois. À época, 1962, o presidente norte-americano John Kennedy (1917-1968) chegou a expressar, por escrito, suas impressões sobre a fabulosa façanha empreendida por Dalgas.
Eu cheguei a levar Dalgas Frisch para entrevista no programa São Paulo Capital Nordeste, que durante anos apresentei na rádio Capital AM 1040. À época, ele estava lançando um bonito relógio de parede com pássaros marcando hora.
Em 1991, o capixaba Augusto Ruschi publicou Aves do Brasil em pranchas ilustradas por Etienne Demonte e Yvonne Demonte. Pérola.
Ruschi (1915-1986) formou-se em engenharia agronômica em 1940. Depois, especializou-se em Botânica. No correr da vida acumulou muitos cursos, chegando a integrar a Academia Brasileira de Ciências.
Antonio Gonçalves Dias morreu afogado aos 41 anos de idade, quando o navio em que viajava naufragou na costa do Maranhão.
Ouça Canção do Exílio, com Paulo Autran:

 
Foto e Reproduções Flor Maria e Anna da Hora

EU E MEUS BOTÕES (31)

Seu Assis, seu Assis, começou quase gritando o Zoião: "O sinhô acompanhou a entrevista do maldito Bolsonaro no canal Flow Podcast, conduzido por Igor Coelho?".
Antes que eu abrisse a boca, Mané pegou a deixa de Zoião bradando: "Um horror! Um horror! Como é que pode um presidente da República dizer tanta mentira na Internet?".
Zé, nervosíssimo, falou: "Meu Deus, meu Deus! O Brasil está afunhenhado, quebrado, lascado!".
Quando eu tentei dizer alguma coisa, em resposta a Zoião, Barrica do canto onde se achava não se controlou e falou quase berrando: "Esse Bolsonaro é um feladaputa!".
Calma, calma, pessoal...
"Calma coisa nenhuma, seu Assis! O que esse sujeito está fazendo de mal ao Brasil, e aos brasileiros, está fora de contexto. Fora de tudo!", falou Biu.
Biu, como se sabe, é um cabra tranquilo, de pouco falar. E lá vem ele de novo: "Seu Assis, eu nunca ouvi tanta mentira saída de um sujeito só. Esse Bolsonaro aí é um horror. É cabra que não presta. E quem gosta dele também não presta. É um feladaputa, como disse o mano Barrica".
Rabiei os olhos e dei de cara com Lampa, que me olhava enquanto cutucava as unhas com seu punhal de estimação. 
Pela primeira vez, aqui na casa do meu experiente poeta Zilidoro, notei Jão assim meio encafifado. Ele olhou pra mim e falou: "Seu Assis, é tanto absurdo que meu ouvido guardou que fico até sem jeito de dizer o que quero dizer. A minha finada vó, dona Zilda, ensinava que ninguém deve mentir. Que mentira só faz mal a quem diz e a quem ouve. O nosso presidente é um sujeito desqualificado. Completamente desqualificado, sem noção. Ele é perigoso. As suas maluquices são por ele elaboradas...".
"É isso mesmo, Jão. Você tem razão. Você é muito observador. Você está analisando perfeitamente o comportamento desse cara. Você tem razão quando diz que ele é perigoso. A entrevista que ele deu a Igor Coelho, do canal Flow Podcast, foi toda recheada de absurdos, de mentiras. Mas ainda bem que os jornalistas das grandes empresas preocupadas com o destino de nosso País estão fazendo o que deviam fazer. Ou seja: identificar ponto a ponto as mentiras, ou Fake News, ditas no vídeo que durou mais de 5 horas. É incrível o poder que tem Bolsonaro de mentir. Ele mente o tempo todo! Ele mistura tudo. Com o perdão da palavra, ele é um escroto!", desabafou o sempre calmo e sensato Zilidoro.
O Lampa, lá do seu canto, meteu a colher na conversa: "Sei não, sei não, mas acho que vou ter trabalho este mês. Se não neste mês, em setembro...".
Eu quis saber por que em setembro o Lampa teria ou terá trabalho: Que tipo de trabalho, Lampa?
Barrica se antecipou e quase ao mesmo tempo o seguiram Zoião, Biu, Zé e Jão: "Lampa quer matar!".
Levantei a mão e pedi calma, dizendo que não é esse o caminho. O caminho é a verdade e as urnas. Ninguém deve matar ninguém, o que deve morrer é a mentira. Ninguém tem o direito de mentir para ganhar adeptos e votos nas urnas. As urnas do TSE são invioláveis. E é nas urnas que deveremos matar a mentira, votando corretamente e trazendo à luz as verdades históricas. Chega de Fake News! O Brasil precisa de presidente que governe. E que resolva os nossos problemas, incluindo os problemas provocados pela fome.
"Chefe, o sinhô é muito direitin. Gente que não presta, não presta. Eu, na verdade, nunca matei ninguém. Quem mata é Deus, eu só dou uns furinho na barriga de quem não presta!", falou amuado o desengonçado Lampa.
Pessoal, eu disse, o Brasil é um país fantástico. Eu amo o meu País...
Antes que eu concluísse meu pensamento, os meus botões disseram em uníssono: "Eu amo o Brasil! Eu amo o Brasil!".
Calmo, Zilidoro falou pausadamente: "Nós a-ma-mos o nosso País. E por amar nosso País, por ele lutamos. Mas quero deixar no ar a pergunta que me incomoda: Por que as pessoas não leem mais, não leem livros? E não se informam corretamente? Na leitura, na educação, se acha muita coisa importante. Precisamos ler, ler e ler! Nunca é tarde para ler. A leitura é o caminho da verdade, como é a educação de modo geral".
De repente os meus botões, todos, bateram palmas endossando a compreensão de Zilidoro.
"É, Zilidoro tem razão. E o sinhô, também. Ninguém deve matar ninguém. O que deve morrer é a mentira. Gente que não presta por si só se destrói", diz com a voz clara, pela primeira vez, o cabra Lampa. E eu o aplaudi porisso.
Zoião, que abriu essa conversa, disse que acompanhou minuto a minuto a entrevista de Bolsonaro ao Flow Podcast. E concluindo, disse: "Sugiro que leiam o que os jornalistas escreveram sobre as falas mentirosas de Bolsonaro".
"Correto, correto!", apoiou Mané.
Só uma coisa a mais, interrompeu Jão: "Os jornalistas são fantásticos. Fazem um trabalho extraordinário, separando a mentira da verdade". Concordei. Só tinha a concordar com meus botões nesta manhã de 10 de agosto de 2022.
Quando eu falei 10 de agosto, Zilidoro pediu licença pra dizer o seguinte: "Foi no dia 10 de agosto de 1823 que nasceu, no Maranhão, o poeta Antônio Gonçalves Dias. É desse poeta a famosa Canção do Exílio. Gonçalves Dias, na sua obra, falou do índio, da vida, dos pássaros. Ele falou de amor, falou da natureza. Sugiro que leiam Gonçalves Dias".
Boa, boa, Zilidoro! Você acaba de me dar a ideia de escrever ainda hoje um texto especial sobre esse grande poeta romântico que foi Gonçalves Dias. É isso, pessoal. Nossa roda de conversa está encerrada e até outro dia.

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