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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

HISTÓRIAS DE CACHAÇA E CACHACEIROS


 Foi o português Martim Afonso de Souza, o primeiro cara a trazer de fora nós de cana e plantá-los nas férteis terras brasileiras. Primeiro ali no lugar onde foi fundada a primeira cidade do Brasil, São Vicente, litoral paulista. Depois, em Pernambuco e Bahia.
O cultivo ininterrupto de cana foi, no nosso primeiro momento histórico, a fonte principal de renda. Isso deve-se à iniciativa da Coroa Portuguesa, que rica ficou mais rica.
A cana tem origens fincadas na Ásia.
Por muito tempo, o Brasil exportou derivados da cana para Europa e outras partes do mundo. Isso despertou a cobiça dos holandeses.
Por um breve tempo, os espanhóis deram ordens a Portugal e à Holanda.
A Holanda livrou-se da Espanha, conquistando a independência em 1581.
E aí o pau cantou.
Os holandeses invadiram o Brasil, primeiro por Pernambuco, em 1630. Índios e portugueses os puseram para correr...
A história é comprida e boa.
Depois da farra da cana veio a farra do ouro, iniciada no século XVIII em Vila Rica, MG. Foi lá que Tiradentes perdeu a cabeça.
A cana dá muita coisa: açúcar refinado, rapadura, mel, puxa puxa, balaio, bolsa, cachaça e muito tombo, hic!
Anualmente o Brasil exporta cerca de três bilhões de litros de cachaça. Cada litro é comprado por um dólar e vendido lá fora por 20, 30 dólares.
Cerca de 75% da produção alcoólica é industrializada e o restante é produzido de modo artesanal.

A cachaça é conhecida por mais de 150 nomes: aguardente, cana, caninha, branca, branquinha, jurema, moça branca, a mardita, bicha louca, birita, amarelinha,  jiribita, pinga... Aliás, o Vandré me apresentou uma quadrinha muito da bonitinha, feita por não se sabe quem, que diz:

Jiribita, jiribita
Tu me puxas, eu te puxo
Tu bates comigo no chão
Eu bato contigo no bucho

Zé Limeira, o poeta do absurdo, também deu suas cipoadas prá falar de cachaça:

Água de cana é cachaça
Concha pequena é cuié
Língua de véia é desgraça
Bicho danado é muié.

Cachaça e cachaceiro estão em tudo que é lugar, do Oiapoque ao Chuí.
São poucas as pessoas, homens ou mulheres, que não molhem o bico com a branquinha. Uns e outras molham o bico abertamente, mas há quem beba ou molhe o bico escondido.
Abertamente eu e o misto de cantor e humorista Mussum tomamos algumas, prá falar melhor da vida. Fizemos o mesmo com Martinho da Vila que sempre preferiu uma boa moça bonita a um escocês metido à besta. Com Chico Buarque, tomamos Whisky. Com o rei do bolero, Roberto Luna, não tomamos todas porque algumas tinham que ficar pro outro dia. Branquinha. Com o cabra bom Vital Farias e o bode Elomar, nada substituiu a jurema. 
Uma vez Luiz Gonzaga tomou um porre e armou-se de uma faca peixeira e foi tomar satisfação com o pai da garota que ele amava. Ele tinha uns dezessete anos de idade e por causa disso levou uma surra dos pais que jamais esqueceu. E fugiu de casa para virar o grande artista que virou. Que bela surra! Que bons pais teve Gonzaga! Essa história aparece no filme Gonzaga De Pai para Filho e na entrevista que ele me deu e publiquei no extinto suplemento dominical Folhetim, do jornal Folha de S.Paulo. O tempo passou e ele rompeu a jura. O culpado fui eu.
Pois é,  a cachaça provoca muitas histórias, umas boas e outras nem tanto.
Um músico amigo meu pegou pela primeira vez um vôo do Rio para São Paulo, num porre daqueles, e a certa altura passou a exigir que se abrissem as portas para ele descer. 
O artista não foi obedecido.
A cachaça está na literatura e em todas as artes.
Na música tem muita coisa legal.
A paulistana Inezita Barroso gravou uma pérola, garfada do folclore:

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