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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

UMA VIAGEM AO TEMPO, NO SESC SANTANA


Logo mais, às 16 horas, estarei falando a respeito da instalação Roteiro Musical da Cidade de São Paulo na área de Convivência II do Sesc Santana, à avenida Luiz Dumont Villares, 579, sobre o resultado de uma pesquisa que desenvolvo há duas décadas sobre a música feita para esta chamada Terra da Garoa, aniversariante do dia.
A mostra, inaugurada ontem à noite com coquetel para convidados (na foto Peter Alouche, autor, com o violeiro Téo Azevedo, da toada São Paulo de Todos Nós) tem por finalidade mostrar que é possível contar a história de uma cidade – ou de um país – pela via da música, o que, embora óbvio, nunca foi feito.
Nos diversos espaços da instalação, o visitante terá certamente muito do que gostar.
No espaço “Arena”, por exemplo, será possível ouvir trechos de entrevistas com artistas feitas e levadas ao ar nos programas de rádio que apresentamos ao longo do tempo em São Paulo, hoje preservadas pelo Instituto Memória Brasil, IMB.
Nas “Janelas”, há destaque a personalidades como Paulo Vanzolini, Inezita Barroso e Alberto Marino, a movimentos musicais e levantes armados como a Revolução Constitucionalista de 1932, que teve no campineiro Guilherme de Almeida o seu grande poeta/herói.
No “Túnel”, além de originais e reproduções, há curiosidades.
Compositores e intérpretes daqui e de fora têm cantado a capital de tudo quanto é jeito, gêneros e ritmos, desde sambas e batuques a dobrados, marchas e pagodes; valsas, choros e forrós; baiões, xotes e lambadas; toadas, modinhas e maxixes, tangos, emboladas, corridos, polcas e rancheiras.
Loas à cidade em que nasceram a Jovem Guarda, o Tropicalismo e os festivais de música, e também QG do baião segundo seu criador, Luiz Gonzaga, se acham espalhadas nos martelos e redondilhas dos artistas improvisadores do Nordeste, como Sebastião Marinho e Andorinha, e do Sul, como Gildo de Freitas e Teixeirinha; nas chulas, lundus e fandangos e nas batidas inconfundíveis do pop-rock e do heavy metal.
Blues, reggaes e ragtimes são outros estilos notados nos temas à Sampa.
Anhangüera, do compositor alagoano Hekel Tavares, para orquestra, coros e solistas sob argumento de Marta Dutra e texto de Murilo Araújo, é um dos mais belos poemas sinfônicos já feitos para a cidade fundada por Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, em 1554.
Com versos do carioca Fagundes Varela, o paulistano Francisco Mignone também deixou marca numa música de concerto para a cidade.
O manauara Cláudio Santoro fez o mesmo.
Idem o maestro Erlon Chaves e seu parceiro Mario Fanucchi.
DJs e MC´s que se multiplicam nas zonas Sul e Norte da megalópole não esquecem a temática.
Enfim, nas obras em referência – cerca de três mil –, há citações a ruas, avenidas, parques e pontes; estádios de futebol, bairros, praças e ônibus; camelôs, favelas e filas de banco; delegacias, HC, bares e chuvas – e enchentes – fora do tempo; fábricas, construções e buzinas; o metrô, a garoa, hoje sem graça; igrejas, largos e vilas; escolas de samba, Martinelli e Copam; Masp, USP, museus e monumentos; heróis, paisagens e rios; trabalho, trabalho, trabalho e hinos e odes para agremiações esportivas como Corinthians, São Paulo e Palmeiras.
Tudo ou quase tudo da cidade, sua gente e seu cotidiano tem sido abordado desde o século 18 nas obras de artistas que vão de DJ Hum a Thaíde, passando por Mano Brow, Rappin Hood, Emicida, Sabotage, Criolo e Negra Li; Cornélio Pires, Adoniran Barbosa, Mário Zan, Geraldo Filme, Germano Mathias, Jarbas Mariz, Edvaldo Santana, Costa Senna e Osvaldinho da Cuíca; Ary Barroso, Sílvio Caldas, Nélson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Mário Albanese, Tom Jobim, Hermeto, Papete, Gil, Caetano e Vinicius, que uma vez caiu na besteira de dizer que São Paulo é o túmulo do samba.
Na longa lista de obras dedicadas à Sampa, também chamada de Capital Bandeirante, Terra dos Bandeirantes, Terra da Garoa e Paulicéia – a mais populosa do planeta, depois de Mumbai e Délhi, na Índia; Istambul, na Turquia; e Karachi, no Paquistão –, aparecem tragédias como o incêndio no edifício Andraus, em 1972, e o massacre na Casa de Detenção, em 1992.
São Paulo é grande até no número de obras em seu louvor.
Essa constatação começa a se confirmar em 1990, quando o editor do D.O. Leitura – antigo suplemento cultural do Diário Oficial do Estado de São Paulo –, Wladimir Araújo, nos pediu para escrever um texto sobre o tema até então inédito em livros, jornais e revistas.
De início colhemos duzentos e poucos títulos, como o samba Ronda, do paulistano Paulo Vanzolini; o tango Estação da Luz, do paulista de Jaú Herivelto Martins, com o carioca David Nasser; canções do paraense Billy Blanco, como O Céu de São Paulo e Grande São Paulo; o chorinho Cidadão Paulistano, do capixaba Carlos Poyares; o blues São Paulo Zero Grau, do piauiense Jorge Mello; e São São Paulo, Meu amor, do baiano Tom Zé, vencedor do IV Festival da Música Popular Brasileira em 1968.
O texto foi publicado no referido suplemento em fevereiro de 1991, em duas páginas.
Depois disso, achei partituras e notas em periódicos já extintos.
O Correio Paulistano, edição de 6 de agosto de 1862, noticiou a existência de um álbum intitulado Melodias Paulistanas, formado por 12 peças para canto e piano, de autoria do padre Mamede José Gomes da Silva, diretor do Liceu Paulistano e amigo de Antônio Carlos Gomes, o mais importante compositor operístico das Américas, autor de um hino aos estudantes de Direito do Largo de São Francisco: À Mocidade Acadêmica, com letra de Bittencourt Sampaio.
Mas antes de Mamede José e Carlos Gomes, houve quem louvasse a inspiradora cidade: os religiosos Calixto e Anchieta Arzão, em Missa a São Paulo, com data de 1750.
Em 1823, o músico Bento Maurício Arcade compôs Águas do Anhembi.
Numa frase?
Esta é uma biografia musical da cidade de São Paulo.
Tomara que gostem.

PS - Em seguida ao nosso bate-papo, às 18 horas, estarei no teatro do mesmo Sesc ao lado de Inezita Barroso.

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