Descobri Lobato no correr dos meus primeiros 20 anos. E comecei pelo começo, lendo Urupês.
Urupês, palavra indígena que significa algo como espinho, reúne contos publicados em periódicos literários. A primeira edição é de 1914. Interessantíssimo. Trata da vida interiorana de São Paulo. Quer dizer, ali pelos finais do século 19, quando tudo ou quase tudo era mato. Tipo fazendão.
Monteiro Lobato virou fazendeiro após herdar fortuna de um parente ilustre. Não foi, à rigor, um fazendeiro exemplar.
O conto que abre Urupês tem como título Os Faroleiros. O narrador deste conto corrompe o chefe dos faroleiros, calando seu bico com alguns tostões. E aí segue a história envolvendo um cara que teve a mulher "roubada" por um "amigo". Chamava-se Maria Rita. Essa Rita, mulher assanhada, deixaria o cara que a "roubou" por um outro cara, que com ele partiu sabe-se lá pra onde.
Os principais personagens desse conto são: Cabrea e Gerebita.
Cabrea, que é chamado de louco por Gerebita, acaba na ponta da faca. O corpo foi atirado aos tubarões.
O terceiro conto é de sangrar o coração. Uma senhora tem uma filha que lhe dá uma neta. Essa neta é o xodó da avó, que passa os primeiros 15 anos tecendo um vestido pra lhe dar quando noivasse. Esse vestido, uma beleza, é todo costurado com recortes de roupas vestidas um ano antes pela garota.
Esse conto de Lobato tem por título A Colcha de Retalhos.
A avó da menina é uma certa Joaquina, de 70 anos. A filha de Joaquina chama-se Ana, que ama a filhinha Pingo d'Água.
Pra desespero da família, a pequena Pingo d'Água é abusada por um cabra safado. E aí acaba-se tudo.
Pois é, a obra do grande escritor Monteiro Lobato tem também histórias adúlteras e de violência.
O criador de Narizinho e demais personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo morreu em 1948, um ano depois de José Lins do Rego lançar o romance Eurídice. Essa também é uma história pra lascar.
Em 1948 foi criado o Estado de Israel, que teve entre seus criadores o embaixador brasileiro Graça Aranha.
E Israel está em guerra, matando inocentes palestinos: homens, mulheres e crianças.
Curiosidade: em 1954, Zé Lins visitou países do Oriente Médio. Entre esses países, Israel. Queria entender a cultura de lá. Essa visita resultou no livro Roteiro de Israel.
Bom, por enquanto chega.