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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

MULHERES: NA REALIDADE E NA FICÇÃO (4)



Joana e Lucinda disputavam a pau o coração do viúvo João Batista. 

Joana tinha 38 anos de idade quando atendeu a um anúncio de jornal para trabalhar numa casa como governanta. Era decidida e convictamente virgem. Nesse ponto, agia com total discrição. Parecia feliz.

Lucinda era mais nova de idade do que Joana. Casou-se com 17 anos, por exigência do pai. O seu par era um oficial da Marinha lá do lugar onde nasceu. Ficou viúva aos 28 anos de idade.

Joana logo ganhou a confiança de João, o autor do anúncio no jornal. 

João era um viúvo podre de rico. Tinha dois sobrinhos que não viam a hora do tio bater as botas.

Essa história classificada como conto, A Melhor das Noivas, foi publicada no Jornal das Famílias em 1877. O autor, Machado de Assis. 

As noivas nessa história referidas, não eram formalmente noivas.

Joana era uma pobre diabo, sem eira nem beira nem lugar sequer pra cair. 

Lucinda, por sua vez, era uma remediada de classe média. Seu sonho era brilhar nos salões das noites burguesas. Joana, ao contrário, sonhava ter apenas as atenções de João, como mulher. 

A obra de Machado de Assis é, basicamente, um espelho da sociedade canalha que tão de perto observou e viveu. Politicamente, Machado pode ser hoje entendido como um intelectual de esquerda. 

Os sobrinhos de João Batista ficaram a ver navios. 

Lucinda, que apostou o que não podia, ficou só, pois não deu certo o plano que engendrara: casar-se com o viúvo João, setentão e dele herdar a grana com a qual realizaria seu desejo de ser estrela nas noites de frivolidades. 

Ah! Sim: João Batista casou-se com Joana e com ela foi feliz durante 200 anos, pelo menos...

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