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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

JAGUNÇOS E CORONÉIS NO CONGRESSO NACIONAL



No texto anterior, comparei o deputado Eduardo Cunha ao Capeta. Mas como uma coisa puxa a outra, lembrei do personagem Rosiano Hermógenes que chegou a fazer pacto com o Demo. Acho que Cunha não é o Demo, mas fez pacto com ele. E não estou brincando. Pelo que me contam seus atos e expressões são únicos entre os viventes que se misturam entre nós. O cabra é maligno. Na cadeia rabisca, rabisca, rabisca e faz seus advogados, um batalhão, cutucar o STF com vara curta; e, de tabela, o homem das leis, Sérgio Moro.
Quem ganhará essa batalha, a justiça ou a injustiça?
E como uma coisa puxa a outra, lembrei também do julgamento ocorrido na trama de Grande Sertão: Veredas, quando o chefe maior da jagunçada, Joca Ramiro, sentencia o jagunço vencido Zé Bedelo à liberdade.
Para formar a trama do seu livro, o mineiro Guimarães Rosa embrenhou-se nos sertões da sua terra, tangendo boi e boiada, ao lado de verdadeiros vaqueiros. O livro foi lançado em 1956, há exatos sessenta anos.
Num tempo recente, a gente nordestina sofria na unha dos coronéis, que imprimiam leis próprias, faziam e desfaziam. Era Deus no céu e eles na terra ardente do Nordeste. Os últimos mandatários da linhagem coronelesca sumiram na década de 1970. O último foi Chico Heráclito, que morreu em 74. Um ano antes, morrera Veremundo Soares.
O "coroné" Veremundo era filho de um padre, Joaquim, nascido em 1878.
Os pernambucanos Chico Heráclito e Veremundo Soares mandavam em gente e gado, como diria o compositor e cantor paraibano Geraldo Vandré.
Veremundo fez de tudo na sua terra, Salgueiro. Só não casava, nem batizava, mas receitava tudo quanto era remédio para qualquer tipo de dor. Sua fama de curandeiro também era grande, tanto que o presidente Rodrigues Alves conferiu-lhe a patente de capitão da Guarda Nacional. Capitão, mesmo. Capitão como Virgolino Ferreira, o Lampião, que ganhou patente idêntica das mãos do padre Cícero Romão.
Lampião e Veremundo não se bicavam.
Ali por 1926, Veremundo Soares juntou a sua jagunçada à polícia de Pernambuco para caçar o famoso bandoleiro do Sertão. Não deu em nada essa caça, mas o bico entre os dois "capitães" cresceu ao ponto de Veremundo cortar caminho toda vez que ia a Recife para fazer negócios com as autoridades políticas da época. Ele fazia isso para evitar encontro com o cangaceiro. Se os dois se topassem, era morte certa.
No começo dos anos de 1930, Lampião mandou uma carta ao "coroné". Nessa carta, o Rei do Cangaço fazia bravatas e dizia, com todas as letras, que ia virar santo para salvar meio mundo, inclusive o próprio Veremundo.
Lampião morreu no dia 28 de julho de 1938, aos 39 anos de idade.
Veremundo Soares morreu em maio de 1973, dois dias antes de completar 95 anos de idade.
No livro Dicionário Gonzagueano eu traço um rápido perfil psicológico do cantor e compositor sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento. Nesse rápido perfil, eu digo que o Rei do Baião tinha tudo para ser um "coroné" e só não o foi porque lhe faltavam cobres e jeito para a "coisa".
Veremundo levou tudo prá sua cidade e seus dependentes. Levou ladrilhos, paralelepípedos para as ruas e avenidas, postes de iluminação e eletricidade, água, telefone e um tudo mais, incluindo os primeiros veículos motorizados. Ele era amado pela maior parte da população, como o foi Luiz Gonzaga para seus conterrâneos do município de Exu, PE. Prá Exu, Gonzaga levou até agência bancária.
O coroné Veremundo foi pai dezesseis vezes com uma só mulher, oficialmente.
Luiz Gonzaga foi pai adotivo por duas vezes, de Gonzaguinha e Rosinha.
Veremundo era um cabra assanhado e não refugava rabo de saia. Era bom dançarino e inventava de compor umas "coisinhas" para levantar poeira em sala de reboco. O Rei do Baião faz uma referência a isso, clique:

 


No dia 02 de agosto deste ano andei falando sobre a trajetória de Luiz Gonzaga ao jornalista Sérgio Martins, que me levou à TV Veja. Na ocasião fiz referência ao coroné Veremundo Soares. Entre as dezenas e dezenas de netos e bisnetos, o coroné deixou um bisneto famoso: Fernando Cavendish. Muita gente me telefonou perguntando se isso era verdade, que o Fernando citado é o mesmo Fernando da CPI do Cachoeira. É. Para lembrar, clique:



Os jagunços do livro Grande Sertão: Veredas, são jagunços inventados pelo mestre das Gerais, João Guimarães Rosa. Os jagunços dos coronéis Chico Heráclito e Veremundo Soares eram jagunços de verdade, matadores, brabos como os homens da tropa de Virgolino Ferreira.
Ao dizer isso quero dizer que já não existem mais jagunços?
A jagunçada não morreu, não se extinguiu, apenas trocou de roupa e de tipo de armas.
Seria demais dizer que o Congresso Nacional acolhe jagunços de colarinho branco e coronéis? Em que situação se enquadra o ex deputado Eduardo Cunha, que parece estar dançando miudinho na frigideira do inferno?




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