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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O BRASIL AINDA TEM JEITO. VIVA O BRASIL!


Dois mil e dezenove foi-se embora levando tristeza, deixando saudade e esperança no peito de quem quer viver.
Li, isto é, ouvi muitos livros e discos no ano que passou.
Entre os discos que ouvi, quatro me chamaram atenção. São eles:
Canta Inezita, Mirianês Zabot canta Gonzaguinha, Anastácia - Daquele Jeito! e Prêmio Grão de Música 2019.
Canta Inezita é um CD produzido por Thiago Marques Luiz e lançado pela exigente Kuarup. O disco que tem a participação de As Galvão, Maria Alcina, Consuelo de Paula e Claudio Lacerda, é formado por 15 faixas do repertório da grande interprete paulistana Inezita Barroso (1925-2015). A primeira, segunda e terceiras faixas, respectivamente Engenho Novo (Henckel Tavares), Viola Quebrada (Mário de Andrade) e Ronda (Paulo Vanzolini), são interpretadas com muita categoria por Consuelo de Paula.
Nesse disco a destacar, também, a interpretação de Claudio Lacerda em Cuitelinho (Antonio Xandó / Vanzolini), Poeira (Luiz Bonan / Serafim Gomes) e Menino da Porteira (Teddy Vieira / Luizinho).
Maria Alcina com o vozeirão que Deus lhe deu nos emociona e faz rir com a interpretação que dá, por exemplo, à moda Marvada Pinga (Ocheicis Laureano). Ela canta também, com firmeza e alegria, Prenda Minha, Balaio (Paixão Cortês / Barbosa Lessa) e De Papo pro Ar (Olegário Mariano / Joubert de Carvalho), essa última em companhia das Galvão.
As Galvão, um símbolo feminino da moda caipira, cantam Cheiro de Relva (Dino Franco / José Fortuna) e Beijinho Doce (Nhô Pai), lançado originalmente por Irmãs Castro em 1945.
O disco termina com todos cantando o clássico paulistano Lampião de Gás, valsa de Zica Bergami.
Os arranjos das músicas aqui reunidas são assinados pelo craque Paulo Serau.
Curiosidades: Na origem, Cuitelinho foi recolhida por Vanzolini como se pertencesse ao folclore da região Norte. Enganou-se, pois tinha autor. E a esse autor Vanzolini devolveu, por iniciativa própria, todo o dinheiro que até então o ECAD tinha arrecadado. Ainda sobre Vanzolini tenho a dizer que na Marvada Pinga constam duas quadras de sua autoria.
Ouça Engenho Novo com Consuelo de Paula: https://youtu.be/XiiI4Omsnaw
Outro disco que o Brasil deveria já estar aplaudindo a muito tempo é Mirianês Zabot canta Gonzaguinha - Pegou um Sonho e Partiu. Esse disco, aliás, teria forçosamente de ser identificado e fortalecido pelo subtitulo que aparece na capa. Trecho, inclusive, do samba Com a Perna no Mundo.
Das interpretes que eu ouvi debruçarem-se sobre a obra de Gonzaguinha, Mirianês é um destaque natural. E aqui não vem comparação com nenhuma das cantoras que já interpretaram Gonzaguinha.
Bem escolhido foi o repertório que forma esse disco, que tem 12 faixas, incluindo faixa bônus. Começa com a canção Maravida e segue com Sangrando, Desenredo (G.R.E.S. Unidos do Pau Brasil), Comportamento Geral, Feliz, Espere por Mim Morena, Um Sorriso nos Lábios, Galope e Caminhos do Coração.
A produção musical e os arranjos desse disco são de Oswaldo Bosbah. E não custa dizer que a voz de Claudette Soares é molho à parte desse disco. Ela e Mirianês interpretam De Volta ao Começo, obra prima do filho postiço do rei do baião, Luiz Gonzaga. Ia-me esquecendo: Esse disco completa-se com o samba de roda até a então inédito Vidas Idas, de autoria de Mirianês e Oswaldo Bosbah.
Particularmente, gostei muito da interpretação dada a Galope. Ouça: https://youtu.be/pU1fSRgP_-0
Daquele Jeito é o mais recente CD da rainha do forró, Anastácia. Traz 16 faixas, incluindo uma bônus que dá título ao disco. Todas as faixas são de sua autoria. Uma melhor do que a outra. E não custa lembrar que Anastácia é a mais inspirada compositora do Nordeste. Começou a gravar, ela própria, em 1962.
Centenas de interpretes brasileiros e até estranheiros da Itália, França, México,  já a gravaram.
Quase todos os título de Daquele Jeito são inéditos.
Anastácia acaba de voltar de um giro por Portugal e está preparando um novo CD com convidados especiais, entre os quais Alceu Valença e Chico César. A produção é de Zeca Baleiro, novo parceiro.
Essa nova produção fará parte da programação dos 80 anos de Anastácia.
Para lembrar ouça a primeira gravação de Eu só Quero um Xodó, com Marinês. Clique: https://youtu.be/bpG1YrGzcW4
Nestes tempo bicudos em que já não se valoriza tanto a cultura popular é com grata satisfação que ouço o CD Prêmio Grão de Música 2019, que traz 15 faixas com interpretes novos e tarimbados como Marlui Miranda (Rio Araguaia) e Rolando Boldrin (Eu, a Viola e Deus).
O disco começa com Wilson Dias, bem afinado, cantando Boi Brasil. Emociona. A maioria dos nomes que aparecem nessa nova edição do Grão de Música não se escuta nas emissoras de rádio. Pena, pois há entre eles ótimos interpretes, como Josyara (Rora de Colisão), Sarah Moraes (Valsa da Saudade) e Márcia Tauil (Bagunça no Balaio).
No geral, o disco é ótimo. O que precisa, mesmo, é de divulgação. Num tempo em que o presidente da república põe em prática um plano de destruição da cultural popular é saudável e bom aplaudir projetos como esse Prêmio Grão de Música. Assim, de grão em grão, o Brasil pode crescer no campo da cultura popular.
A inciativa desse projeto deve-se à paraibana Socorro Lira, compositora e cantora de talento excepcional. É dela, também a direção geral e coordenação de produção. A identidade visual e arte desse disco traz a chancela de Elifas Andreato.
Como eu disse, o CD Prêmio Grão de Música 2019, abre com Boi Brasil. Ouça: https://youtu.be/Cnlii2VWU_c

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