Em
fevereiro de 1808, Dom João VI e sua família se achavam em terras brasileiras.
Fugidos, em decorrência de ameaça de invasão a Portugal por Napoleão, o que se
efetivou em dezembro daquele ano.
Dom
João permaneceu por cá durante treze anos, voltando a sua terra após a morte de
Napoleão, em 1821.
Neste
2016, faz exatamente duzentos anos que João VI foi coroado rei do Brasil.
Por
que lembro isso?
Antes
de mais nada, porque fevereiro é quase
sempre o mês do carnaval. Mas o carnaval no Brasil antecede a presença da
família real na nossa terra.
Em
pesquisa que desenvolvi na Biblioteca Pública do Porto, em Portugal, descobri
que o Entrudo chegou ao Brasil nos começos do século XVIII. O Entrudo é a forma
mais primitiva do que viria a se chamar carnaval.
Em
1808, Portugal era na sua decadência um país completamente dependente das
riquezas do Brasil. Era muito lixo, lixo de todo tipo atirado nas ruas, nas
calçadas. Daí, talvez, a “inspiração” ou origem do Entrudo por lá trazido pra
cá. Os “foliões” praticantes do Entrudo atiravam sujeira, incluindo excrementos
nas pessoas.
Em
1840, a coisa começa a mudar nas ruas do Rio de Janeiro, sede da corte. Grandes
bailes eram feitos nos palácios e nos sítios ou fazendas da aristocracia. O
primeiro baile de carnaval, por exemplo, data desse tempo. Os cordões e blocos
vêm em seguida. O Entrudo permaneceria por mais algum tempo. Isso é história.
Por
falar nisso, o governo está anunciando drásticas mudanças no currículo escolar.
Drásticas mesmo. Os luminares da República estão excluindo desse currículo os
autores portugueses, por exemplo. Estão excluindo a história clássica. Nada da
Grécia, nada de Roma, nada de Portugal.
Se
criminosamente for efetivado esse currículo, nossas futuras gerações deixarão
de saber quem foram Eça de Queiroz, Camões, Pessoa, Antero de Quental,
Branquinho da Fonseca, Camilo Castelo Branco, só para citar alguns. Ficarão
também sem saber nada de nada sobre a Desgarrada, que aqui transformamos em
poesia de repente, de improviso; e Literatura de Cordel...
Há
alguns anos, eu disse em entrevista ao Jornal The Guardian, de Londres, da importância
da Literatura de Cordel na Europa e no Brasil. Claro, citei Camões, os decassílabos
de Camões, maravilhosos! Aqui mesmo no Brasil temos grandes cordelistas como os
paraibanos Silvino Piraua e Leandro Gomes de Barros.
Essa
história de mudar o currículo escolar é muito séria. Não se pode mudar um
currículo desse porte de uma hora para outra. Parece que se faz isso tudo a
calada da noite, propositalmente. Por que se faz isso? Não se pode por num
currículo escolar a ideologia de um partido político, isso é crime.
No
Brasil de hoje ainda há mais de 12% de analfabetos completos e algo em torno de
25% de analfabetos funcionais.
Para
onde vamos?
Dom
João VI veio para o Brasil e voltou para a sua terra, onde morreu.
A
herança portuguesa no campo cultural é rica, muito rica.
O
que será do brasileirinho que está chegando?
Ai,
de nós!
Assim,
em 2006 proferi palestra de encerramento de um seminário no Congresso
Nacional. Na ocasião, propus que a música voltasse ao currículo escolar. A proposta
foi aceita e virou lei, uns dois anos depois, mas essa lei até hoje não foi
devidamente aprovada. Fui procurar saber e lá em Brasília me disseram que não
há pessoal capacitado para a matéria.
É
o fim do mundo, ou do Brasil.
Amanhã,
nos Sambódromos do Rio e de São Paulo tem mais desfiles de Carnaval.
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