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sábado, 6 de maio de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (13)

Quem viveu uma ditadura militar terá sempre o que dizer.
Os militares, apoiados pelos poderosos civis de plantão, tomaram de assalto a nossa Democracia. Foi na virada de 31 de março de 1964.
Os brasileiros ainda dormiam quando os primeiros blindados invadiram as ruas da capital fluminense.
Além de prisões, torturas, desaparecidos e mortes, o governo dos generais, na marra, calou a boca de todo mundo. Os artistas foram os primeiros a serem silenciados.
Os chamados artistas "cabeça" como Chico, Caetano, Gil e Vandré foram imediatamente perseguidos. Trajando roupas femininas Vandré conseguiu na surdina escapar e exilar-se mundo afora, primeiro no Chile.
Artistas chamados "bregas" como Odair José e até Genival Lacerda não escaparam da sanha dos militares.
O forró Severina Xique Xique, de João Gonçalves e do próprio Genival, já estava bombando nas rádios do Nordeste quando a bem comportada família cearense botou o bedelho no meio e fez de tudo para que a música fosse oficialmente vetada. Isso em 1975.
Em 1973 a Censura caiu de pau na peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra. As músicas da obra, quase todas, foram mutiladas.
Na canção Não existe Pecado ao Sul do Equador (abaixo), que anos depois seria gravada por Ney Matogrosso, o corte ocorreu nos versos "Vamos fazer um pecado safado/Debaixo do meu cobertor". Bobagem.
Bobagem também ocorreu em 1982, quando os idiotas da Censura vetaram as duas últimas faixas do lado B do LP de estreia dos roqueiros da banda Blitz. As faixas vetadas, Cruel Cruel Esquizofrenético Blues e Ela Quer Morar Comigo na Lua em que constavam as expressões "puta que pariu" e "bundando", além de um trocadilho besta feito em torno da palavra "peru", saíram propositadamente arranhadas impossibilitando sua audição natural.
Isso ocorreu, como se vê, três anos antes do ciclo militar expirar. Curiosidade: em 1983 as duas faixas vetadas do LP da Blitz foram lançadas à praça num compacto simples. Sem problema nenhum. E também nenhum problema ocorreu quando lançadas em fita K7, em 1982.
Essa história ganhou as páginas do livro As Aventuras da Blitz, em 2009, e dez anos depois o documentário Blitz, o Filme.

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