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domingo, 24 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (63)

Paris, 6/8/1973, AP - "Marthe Richard, a ex-vereadora de Paris que, em 1946, pregou a extinção dos bordéis na França, disse ontem que mudou de opinião e que agora acredita que a verdadeira libertação da mulher deve incluir, até mesmo,o direito de ganhar a vida como prostituta.
A prostituição não é ilegal na França, mas a exploração de bordéis é punida com severas penas de prisão, por uma lei que tem, exatamente, o nome de Marthe Richard, atualmente com 84 anos.
Numa entrevista a uma emissora de rádio, a sra. Richard disse que os bordéis deveriam ser reabertos e autorizados a funcionar livremente, como na Alemanha Ocidental: a lei que tem meu nome é obsoleta, disse ela, acrescentando: durante toda a minha vida lutei não contra a prostituição, mas sim pela libertação da mulher. E, em 1973, a liberdade da mulher exige que ela seja autorizada a fazer de seu corpo o que bem entender".
"Até aí, tudo bem", disse-me um delegado, no Deic.
"Lógico", emendou outro, "a gente também vive num país livre”.
DELEGADO UM — Agora, o que não pode acontecer é você, junto com a sua senhora ou irmã, ou amiga, ou namorada, sair à rua e se defrontar com os escândalos que essas mulheres aprontam.
DELEGADO DOIS — Um cidadão de bem não pode passar pela avenida São João, por exemplo, sem receber uma pilhéria, uma "cantada". Meu Deus do céu, em que tempos estamos!
DELEGADO UM — Então, é por isso que a Polícia se vê obrigada a efetuar a recolha de prostitutas.
DELEGADO DOIS — E de travestis. Os travestis são mais escandalosos que as prostitutas.
DELEGADO UM — E perigosos. Acho que o confinamento seria uma forma, uma solução para o problema da prostituição em São Paulo. A própria Polícia seria beneficiada com isso, uma vez que o trabalho de vigilância, de investigação, se concentra numa determinada área. Confinamento. 
Procuramos o secretário Enio Viegas, da Segurança Pública, para falar sobre o assunto. Ele, no entanto, desculpou-se dizendo que estava muito ocupado e que entrássemos em contato com o delegado geral de Polícia, Tácito Pinheiro Machado (1926-2005).

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

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