A Semana não foi tudo que se diz.
Na verdade a Semana foi, digamos, um festival ou salão de múltiplas expressões artísticas, incluindo exposição de quadros, declamações e música.
O evento, que teve lugar no Teatro Municipal de São Paulo, foi aberto com uma palestra do maranhense de São Luís Graça Aranha (1868-1931), à época um nome bastante conhecido das letras e da diplomacia brasileira.
Foi Graça, autor do livro Canaã (1902), o cara incumbido de arrecadar grana, entre cafeicultores, para a realização do que ficou conhecida como a Semana de Arte Moderna ou Semana de 22.
Essa semana foi feita quase toda por jornalistas: Graça Aranha, Ronald Carvalho, Afonso Schmidt, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e até Plínio Salgado.
Plínio, paulista de São Bento do Sapucaí, entrou para a história como o criador do movimento político Ação Integralista. Era da direita radical.
Retrato de Graça Aranha |
Oswald foi um marqueteiro e tanto.
A ideia da Semana não partiu dos paulistanos. Partiu do jovem pintor carioca Di Cavalcanti (1897-1976).
À época, Di tinha 25 anos incompletos. E teria dito a Mário, ou a Oswald, de Andrade: “Está na hora de fazermos um grande evento artístico pra chamar atenção das pessoas”.
O evento contou com a exposição de uma centena de quadros, 20 e pouco dos quais assinados por Anita Malfatti (1889-1964).
Mário de Andrade e Tarsila do Amaral no traço de Fausto Begocce |
Lobato é o autor do personagem Jeca Tatu e de Narizinho, que deu início às histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo.
Muita gente pensa que Tarsila do Amaral (1886-1973) participou da Semana, mas não. Na ocasião ela se achava em Paris. Aliás, foi em Paris que ela conheceu Oswald, com quem se casaria em 1926.
Entrevista de Menotti Del Picchia a Assis Ângelo |
A Semana de Arte Moderna tinha por objetivo, segundo dizem, romper com as tradições inovando a arte brasileira. Conversa!
A Semana não quebrou tradição alguma.
A Semana foi um evento de pouca repercussão e sem nenhuma importância, a rigor. Foi apenas um movimento de jovens insatisfeitos com o momento em que viviam. Um momento de tensão, de pressão política. O presidente da República era, não custa lembrar, o paraibano Epitácio Pessoa.
Não foi a Semana de 22 um evento direcionado ao povo. Mas de elite para elite.
Alguns nomes que participaram da Semana entrariam para a história independentemente da Semana.
Em maio de 1984 publiquei uma matéria de 2 páginas no extinto suplemento literário D.O. Leitura, de São Paulo, com o último dos participantes daquela Semana: Menotti Del Picchia (1892-1988). Na entrevista, o autor de Juca Mulato diz, com todas as letras, que “Mário de Andrade era um gênio”. Diz também coisas curiosas como acreditar em fantasmas, embora não cresse em reencarnação, que gostava de Mozart e de poetas como Cassiano Ricardo.
Capa da revista Klaxon e Charge de Belmonte. |
Menotti Del Picchia teve uma vida agitada na imprensa paulistana. Foi redator chefe, por exemplo, dos jornais Tribuna de Santos, A Gazeta e Diário da Noite.
No dia 15 de maio de 1922, logo após a realização da Semana, começou a circular em São Paulo a revista Klaxon. No expediente, entre os colaboradores, se achavam Guilherme de Almeida, Mário e Oswald de Andrade.
Em suma, a Semana de 22 não serviu praticamente pra nada, até porque a cultura popular (expressão maior do povo, de qualquer povo) esteve completamente ausente da programação.
E pensar que Mário de Andrade foi o autor da belíssima moda Viola Quebrada, hein?
O chargista Belmonte (Benedito Carneiro Bastos Barreto, 1896-1947) foi um dos muitos críticos da Semana de 22.
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