A cantora Carmélia Alves |
No auditório da rádio Jornal do Commercio em Recife, PE, fez uma apresentação histórica interpretando baiões e tudo mais. Foi em novembro de 1950. Fez um pot-pourri e saiu na boca do povo. Não demorou e Luiz Gonzaga, que emplacava um sucesso atrás do outro a partir do Rio, a chamou de rainha do baião e até simbolicamente a coroou como tal.
Não custa lembrar que Carmélia gostava de ouvir rádio e de cantar imitando até nos trejeitos a portuguesinha Carmen Miranda.
Carmélia, de batismo Carmélia Alves Curvello, tinha uns 17 anos de idade quando a princípio sem os pais saberem passou a frequentar auditórios e programas de calouros que se multiplicavam nas emissoras de rádio do Rio. Passou em todos até no Estrada de Jacó ou algo parecido, comandado pelo invocado mineiro Ary Barroso.
Em 1943 Carmélia gravou o primeiro disco: um 78rpm com as músicas Quem Dorme no Ponto é Chofer, de Assis Valente; e Deixei de Sofrer, de Horondino Silva e Buco do Pandeiro. Essa informação não acha na discografia da música brasileira (78rpm) e até onde sei em livro nenhum. Curiosidade: o referido disco foi todo produzido de modo independente com o flautista Benedito Lacerda à frente. Os cantores Chico Alves, Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro e a divina Elizeth Cardoso formaram um coro para acompanhar a brilhante estreante. O disco foi independente, está claro?
Mesmo fazendo bonito nos programas de calouro, Carmélia não conseguiu encantar de imediato os bam-bam-bans das gravadoras.
Carmélia deixou a casa dos pais três meses depois de conhecer o paulista José Andrade Vilela Nascimento Ramos, com quem se casou no dia 27 de junho de 1944. Tempos de guerra e de dificuldades em todo canto, inclusive no Brasil.
Carmélia cantou em quase todos os cassinos do Brasil, antes e depois de ficar famosa.
O presidente à época era o gaúcho Getúlio Vargas, substituído pelo marechal Dutra e por ordem da mulher Carmela achou por proibir o jogo de cassino no Brasil. Fato que mexeu profundamente com a vida dos artistas da época.Eu conheci Carmélia Alves num ano qualquer da década de 1990. Viramos amigos. Ela frequentava a minha casa e eu a dela em Teresópolis, RJ. Fui lá várias vezes. Ora sozinho, ora com o sanfoneiro cearense Cezar do Acordeon, com quem cheguei a dividir parceria numa música em homenagem à Carmélia. Homenagem em vida, né?
Tive ótimos papos com o marido da Carmélia. Vozeirão, voz bonita. Jimmy Lester além de cantar tocava vários instrumentos e produzia shows na vida. Sua carreira como cantor não durou muito. Porque não quis. Gravou bons discos, boas músicas. Gosto de Jangada, canção do maestro Hervê Cordovil e do radialista Vicente Leporace, gravada em 1952. Foi nesse ano em que eu nasci na capital paraibana. Ele trocou sua carreira para dedicar-se a sua mulher. Escreveu e dirigiu vários espetáculos dela no Brasil e no exterior. "Jimmy foi meu único homem. Minha vida com ele foi muito bonita, muito boa. Fomos marido e mulher durante 54 anos", disse-me uma vez Carmélia.
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