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sábado, 4 de março de 2017

AINDA ASA BRANCA, 70 ANOS



Um país que tem no campo popular artistas do naipe de Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa, Ary Barroso, Luiz Gonzaga; e no campo erudito Carlos Gomes, Villa-Lobos e Eliezer de Carvalho, tem é que bater palmas pra Deus por ter escolhido o Brasil como esse país. E é claro que além desses nomes, há muitos e muitos outros.
Amanhã, domingo, marca o dia de nascimento de Heitor Villa-Lobos, autor das famosíssimas bachianas. No conjunto dessa obra, se acha o Movimento 4, que tem a ver completamente com um pedaço do Nordeste: Caicó, no Rio Grande do Norte. Mas não é do Villa que eu quero falar neste momento. Eu quero falar, de novo, de Asa Branca.
Asa Branca é música de origem folclórica, estilizada por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Sobre essa música, originalmente gravada no ritmo de toada-baião, muito já se falou e de todas as formas.   
Originária do folclore, em torno dessa música também já se constituiu, digamos, uma espécie de folclore. Após a sua gravação, na noite de 3 de março de 1947, no Rio, os integrantes do Regional do Canhoto fizeram uma “procissão” no estúdio carregando velas e pires, “pedindo” esmolas para os autores da música. O motivo disso? Simples: é que nenhum dos músicos acreditava que Asa Branca pudesse voar do estúdio e ganhar o mundo. Eles diziam que essa música era música de cego e pobre em tudo, inclusive na harmonização chancelada por Teixeira, que, afinal, além de compositor, era músico.
A Asa Branca já foi cantada e decantada em livros, folhetos de cordel, e cantoria de poeta repentista, em todo canto. Ela mesma já serviu de tema musical, dezenas e dezenas de vezes, por autores diferentes. Entre eles, Sara Brasil. Até nome de estrada já ganhou em Pernambuco. E tudo começou com o velho Januário, lembrado no filme Gonzaga, de Pai pra Filho, de que participei como consultor musical.
A história da asa branca, a famosa ave migratória, eu contei em poucas linhas no texto de ontem. Ela é importantíssima para os observadores do tempo, chamados de profetas da chuva, e todas as demais pessoas que gostam de aves etc.
Três anos depois de gravar a toada que ganharia o mundo, o Rei do Baião, em parceira com seu conterrâneo Zé Dantas, gravaria A Volta da Asa Branca, que também entrou para o leque de seus sucessos.
Em 1968, o agitador cultural do Rio de Janeiro, Carlos Imperial, anunciou de forma espalhafatosa no programa que apresentava na TV Rio que The Beatles acabara de gravar Asa Branca. Balela. Mas isso serviu para o artista sair do ostracismo a que fora atirado pelos meninos da Bossa Nova, do Iê, Iê, Iê, do Tropicalismo e festivais.
João Gilberto acabou compondo e gravando uma música que intitulou Meu Baiãozinho...
Roberto Carlos botou na cabeça um chapéu de couro e pousou para a capa da revista Intervalo...
Caetano Veloso, em Londres, gravou Asa Branca...
Geraldo Vandré, além de gravar Asa Branca, gravou também Boiadeiro...
Há muitas histórias ainda pra se contar sobre Luiz Gonzaga e sua obra constituída de 625 títulos. Ah! No espetáculo que produzi e apresentei no Centro Cultural dos Correios, do Rio de Janeiro, Oswaldinho do Acordeon conta com graça uma história sobre Asa Branca.
A Asa Branca já voou em muitos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, Demis Roussos e David Byrne deram sua versão sobre ela. E na Rússia...

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Em 2007, eu reuni vários cordelistas e poetas repentistas para desenvolver estrofes sobre o clássico Asa Branca. Essas estrofes saíram no folheto (capa ao lado), pela Editora Luzeiro.


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