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quinta-feira, 20 de abril de 2017

DE CUÍCA DE SANTO AMARO A SAUDADE DO FUTURO

Os amantes da sétima arte que vivem em São Paulo, Rio, Brasília e Campinas não podem  reclamar, pois são mais de cem os filmes que estão sendo exibidos na nova edição do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. São filmes, muitos deles, exibidos em primeira mão ou avant prèmiére, como diria o intelectual de formação francesa Peter Alouche. Entre os filmes nacionais há curtas médias e longas metragens, como Cuíca de Santo Amaro e mais dois que contam a história da Violeira Helena Meireles e do compositor maranhense João do Vale (1934-1996).
Eu conheci de perto Helena Meireles e João do Vale. Cheguei a fazer um trabalho com Helena, a pedido do amigo Kid Vinil, que está internado desde ontem num hospital da capital paulista. João do Vale era uma figura incrível, uma artista muito inspirado.
O que há em comum entre Cuíca, de batismo José Gomes, Helena e João?
Em comum entre esses três artistas, o talento. Além do talento, o fato de não terem frequentado bancos escolares. João conta isso na bela composição Minha História. Ouça:


 Helena, que nasceu em 1924 e morreu em 2005, trabalhou durante muito tempo nos cabarés da vida.Sofreu muito e jamais escondeu seu passado pobre e triste. Antes de gravar seus únicos quatro cedês no estúdio da extinta gravadora Eldorado, ela recebeu o aval de qualidade de uma revista de rock norte americana. Pois é.


Cuíca nasceu na cidade de Salvador, BA, em 1907. Ficou conhecido como Cuíca de Santo Amaro pelo fato de gostar muito da cidade de Santo Amaro da Purificação, berço de Manuel Pedro dos Santos. Manuel entrou para a história da música popular brasileira como o primeiro cantor profissional. Mas essa é outra história.
Cuíca fez de tudo e mais um pouco na vida. Foi até cobrador de ônibus, mas destacou-se na Bahia como cordelista e grande provocador. Ele era um cara sem papas na língua. Tirava sarro de tudo e de todos e adorava encher o saco dos poderosos de plantão. Era também um desbocado e não escolhia a hora prá soltar palavrões. Mas era muito engraçado, e dele o povo todo gostava por suas ironias e tiradas cômicas. Nos trajes era parecido com o cantador paraibano Zé Limeira, chamado de O Poeta do Absurdo. Cuíca, como Limeira usava óculos escuros e vestimenta multicor. Cuíca morreu em 1964, dois meses antes do golpe militar.


O festival de Cinema É Tudo Verdade foi criado há uns 20 anos pelo crítico Amir Labaki. Através do filme Saudade do Futuro, de Cesar Paes e Marie Clémence, participei desse festival. O filme, de produção franco-brasileira foi baseado num livro meu, A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo. Detalhe: esse filme, que nunca foi lançado comercialmente no Brasil, pode ser solicitado pela Laterit Production, clique: www.laterit-productions.com.


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